julho 15, 2010

Capítulo 17 - O PERDÃO E O RELACIONAMENTO

Capitulo 17 - O PERDÃO E O RELACIONAMENTO SANTO

I. Trazendo as fantasias à verdade

1. A traição do Filho de Deus se passa apenas em ilusões e todos os seus “pecados” não são senão a sua própria imaginação. A sua realidade é para sempre sem pecado. Ele não precisa ser perdoado, mas desperto. Nos seus sonhos, ele traiu a si mesmo, a seus irmãos e a seu Deus. No entanto, o que é feito em sonhos não é realmente feito. É impossível convencer o sonhador de que isso é assim, pois sonhos são o que são devido à ilusão de realidade que lhes é própria. Só no despertar está a liberação total em relação a eles, pois só então vem a ser perfeitamente evidente que não tiveram em absoluto qualquer efeito sobre a realidade e não a mudaram. Fantasias mudam a realidade. Esse é o seu propósito. Elas não podem fazer isso na realidade, mas podem fazê-lo na mente que quer que a realidade seja diferente.

2. Assim sendo, só o teu desejo de mudar a realidade é amedrontador, pois através do teu desejo pensas que realizaste o que desejas. Essa estranha posição, em certo sentido, reconhece o teu poder. Entretanto, por distorcê-lo e por dedicá-lo ao “mal”, também faz com que seja irreal. Não podes servir a dois senhores que te pedem coisas conflitantes. O que usas na fantasia, negas à verdade. Por outro lado, o que dás à verdade para que ela o use para ti, está a salvo da fantasia.

3. Quando afirmas que tem que haver uma ordem de dificuldades em milagres, tudo o que queres dizer é que há certas coisas que queres manter longe da verdade. Acreditas que a verdade não pode lidar com elas apenas porque queres mantê-las à parte da verdade. Muito simplesmente, a tua falta de fé no poder que cura toda a dor surge do teu desejo de reter alguns aspectos da realidade para as fantasias. Se apenas reconhecesses o que isso faz com a tua apreciação do todo! O que reservas para ti mesmo, tiras Daquele Que quer liberar-te. A não ser que o devolvas, é inevitável que a tua perspectiva da realidade seja deformada e incorreta.

4. Enquanto quiseres que isso seja assim, a ilusão de uma ordem de dificuldades em milagres permanecerá contigo. Pois estabeleceste essa ordem na realidade, dando um pouco dessa realidade a um professor e um pouco a outro. E assim aprendes a lidar com uma parte da verdade de uma maneira e com a outra parte de outra. Fragmentar a verdade é destruí-la, tornando-a sem significado. Ordens de realidade constituem uma perspectiva sem compreensão, um quadro de referências para a realidade ao qual ela não pode ser realmente comparada de forma alguma.

5. Pensas que podes trazer verdade a fantasias e aprender o que a verdade significa a partir da perspectiva das ilusões? A verdade não tem significado na ilusão. O quadro de referência para o seu significado tem que ser ela mesma. Quando tentas trazer a verdade às ilusões, estás tentando fazer com que as ilusões sejam reais e estás tentando mantê-las, justificando a tua crença nelas. Mas dar ilusões à verdade é permitir à verdade ensinar que as ilusões são irreais e assim permitir que escapes delas. Não reserves nenhuma idéia separada da verdade ou estabeleces ordens de realidade que necessariamente te aprisionam. Não há ordem na realidade, porque tudo nela é verdadeiro.

6. Que estejas voluntariamente disposto, então, a dar tudo o que retiveste fora da verdade Àquele Que conhece a verdade e em Quem tudo é trazido à verdade. A salvação da separação tem que ser completa, ou não será de forma alguma. Não te preocupes com nada, exceto com a tua disponibilidade para ter isso realizado. Ele o realizará, não tu. Mas não te esqueças disso: quando te perturbas e perdes a paz da tua mente porque um outro está tentando resolver os seus problemas através da fantasia, estás recusando-te a perdoar a ti mesmo por essa mesma tentativa. E estás mantendo a ambos afastados da verdade e da salvação. À medida em que o perdoas, devolves à verdade o que estava sendo negado por ambos. E verás o perdão onde o tiveres dado.


II. O mundo perdoado

1. Tu és capaz de imaginar quão belos parecerão para ti aqueles a quem tiveres perdoado? Em nenhuma fantasia jamais viste nada tão belo. Nada do que vês aqui, dormindo ou acordado, chega perto de tamanha beleza. E coisa alguma valorizarás como essa, nem nada será tão precioso. Nada do que lembras, que tenha feito o teu coração cantar com alegria, jamais te trouxe sequer uma pequena parte da felicidade que ver isso vai te trazer. Pois verás o Filho de Deus. Contemplarás a beleza que o Espírito Santo ama contemplar e pela qual Ele agradece ao Pai. Ele foi criado para ver isso para ti até que aprendesses a vê-lo por ti mesmo. E todo o Seu ensinamento leva a ver isso e a dar graças com Ele.

2. Essa beleza não é uma fantasia. É o mundo real, brilhante e limpo e novo, com tudo cintilando debaixo do sol aberto. Nada está oculto aqui, pois todas as coisas foram perdoadas e não existem fantasias para esconder a verdade. A ponte entre aquele mundo e esse é tão pequena e tão fácil de atravessar, que não poderias acreditar que ela é o ponto de encontro de mundos tão diferentes. No entanto, essa pequena ponte é a coisa mais forte que, de algum modo, toca esse mundo. Esse pequeno passo, tão mínimo que escapou à tua atenção, é um passo largo através do tempo até à eternidade, indo além de tudo o que é feio até à beleza que vai encantar-te e que nunca cessará de te maravilhar pela sua perfeição.

3. Esse passo, o menor passo jamais dado, é ainda a maior realização de todas no plano de Deus para a Expiação. Tudo o mais é aprendido, mas isso é dado, completo e totalmente perfeito. Ninguém, a não ser Aquele Que planejou a salvação, poderia completá-la assim. O mundo real, em sua beleza, tu aprendes a alcançar. Fantasias são desfeitas e nada nem ninguém permanece ainda preso a elas e pelo teu próprio perdão estás livre para ver. No entanto, o que vês é apenas o que fizeste com a bênção do teu perdão. E com essa bênção final do Filho de Deus sobre si mesmo, a percepção real, nascida da nova perspectiva que ele aprendeu, cumpriu o propósito que tinha.

4. As estrelas desaparecerão na luz e o sol que abriu o mundo à beleza se desvanecerá. A percepção não terá significado quando tiver se tornado perfeita, pois todas as coisas que tiverem sido usadas para o aprendizado não mais terão qualquer função. Nada jamais mudará; nem ocorrerão os deslocamentos, nem as nuances, nem as diferenças, nem as variações que fizeram com que a percepção fosse possível. A percepção do mundo real será tão breve que mal terás tempo para agradecer a Deus por ela. Pois Deus dará o último passo prontamente, quando tiveres alcançado o mundo real e estiveres pronto para Ele.

5. O mundo real é atingido simplesmente pelo perdão completo do velho, desse mundo que vês sem perdão. O Grande Transformador da percepção empreenderá contigo uma cuidadosa investigação da mente que fez esse mundo e descobrirá para ti as razões aparentes de o teres feito. Na luz da razão real que Ele traz, na medida em que o segues, Ele te mostrará que não existe absolutamente nenhuma razão aqui. Cada ponto que a Sua razão toca ressurge com beleza e o que parecia feio na escuridão da tua falta de razão é repentinamente liberado para a formosura. Nem mesmo aquilo que o Filho de Deus fez na insanidade poderia deixar de ter uma centelha oculta de beleza que a gentileza não pudesse liberar.

6. Toda essa beleza erguer-se-á para abençoar a tua vista à medida em que olhas para o mundo com olhos que perdoam. Pois o perdão literalmente transforma a visão e permite que vejas o mundo real se aproximando quieta e gentilmente através do caos, removendo todas as ilusões que tinham distorcido a tua percepção e a fixado no passado. A menor das folhas vem a ser algo maravilhoso e um tufo de grama um sinal da perfeição de Deus.

7. Do mundo perdoado, o Filho de Deus é facilmente erguido ao seu lar. E lá ele tem o conhecimento de que sempre descansou ali em paz. Mesmo a salvação tornar-se-á um sonho e sumirá da tua mente. Pois a salvação é o fim dos sonhos e com o término dos sonhos, ela não terá mais significado. Quem, desperto no Céu, poderia sonhar que jamais houvesse qualquer necessidade de salvação?

8. Quanto queres a salvação? Ela te dará o mundo real, que palpita pronto para te ser dado. A ânsia do Espírito Santo para dar-te isso é tão intensa que Ele não quer esperar, embora espere com paciência. Vai de encontro à Sua paciência com a tua impaciência em relação a qualquer adiamento do teu encontro com Ele. Sai contente para te encontrares com o teu Redentor e caminha com Ele em confiança para fora desse mundo e para dentro do mundo real da beleza e do perdão.


III. Sombras do passado

1. Perdoar é meramente lembrar apenas os pensamentos amorosos que deste no passado e aqueles que te foram dados. Todo o resto tem que ser esquecido. O perdão é uma lembrança seletiva, que não se baseia na tua própria seleção. Pois as figuras feitas das sombras que queres tornar imortais são “inimigas” da realidade. Que estejas disposto a perdoar o Filho de Deus por aquilo que ele não fez. As figuras das sombras são as testemunhas que trazes contigo para demonstrar que ele fez o que não fez. Porque as trazes contigo, tu as ouvirás. E tu, que as manténs pela tua própria seleção, não compreendes como vieram à tua mente e qual é o seu propósito. Elas representam o mal que pensas que te foi feito. Tu as trazes contigo somente com o fim de poderes retribuir o mal com o mal, esperando que o seu testemunho faça com que sejas capaz de pensar em outra pessoa como a culpada e não ferir a ti mesmo. Elas falam com tanta clareza a favor da separação que ninguém que não estivesse obcecado em manter a separação poderia ouvi-las. Elas te oferecem as “razões” pelas quais deverias entrar em alianças não-santas para dar apoio às metas do ego e fazer dos teus relacionamentos testemunhas do poder egótico.

2. São essas figuras das sombras que querem fazer com que o ego seja santo em teu modo de ver e te ensinar que o que fazes para mantê-lo a salvo é realmente amor. As figuras das sombras sempre falam a favor da vingança e todos os relacionamentos nos quais elas entram são totalmente insanos. Sem exceção, esses relacionamentos têm como propósito a exclusão da verdade acerca do outro e de ti mesmo. É por isso que vês em ambos o que não está presente e fazes de ambos escravos da vingança. E é por isso que qualquer coisa que te faça recordar as tuas mágoas passadas te atrai e parece passar em nome do amor, não importa quão distorcidas possam ser as associações pelas quais chegas a fazer essa conexão. E, finalmente, é por isso que todos os relacionamentos dessa natureza tornam-se tentativas de união através do corpo, pois só corpos podem ser vistos como meios para a vingança. Que os corpos são fundamentais para todos os relacionamentos não-santos é evidente. A tua própria experiência ensinou-te isso. Mas o que podes não reconhecer são todas as razões que contribuem para fazer com que o relacionamento não seja santo. Pois o que não é santo busca fortalecer a si mesmo, assim como a santidade, reunindo a si aquilo que percebe como semelhante a si.

3. No relacionamento não-santo, não é com o corpo do outro que se tenta a união, mas com os corpos daqueles que não estão presentes. Pois mesmo o corpo do outro, o que já é uma percepção extremamente limitada dele, não é o foco central do relacionamento tal como é, ou seja, inteiro. O que pode ser usado para fantasias de vingança e o que pode ser associado de forma mais pronta com aquelas pessoas contra as quais realmente se busca vingança é centralizado e separado, como as únicas partes de valor. Cada passo dado no sentido de fazer, manter ou romper um relacionamento não-santo é mais um passo em direção à maior fragmentação e à irrealidade. As figuras das sombras entram mais e mais e a pessoa em quem elas parecem estar diminui de importância.

4. O tempo, de fato, não é benigno para com o relacionamento que não é santo. Pois o tempo é cruel nas mãos do ego, assim como é benigno quando é usado para a gentileza. A atração do relacionamento não-santo começa a apagar-se e a ser questionada quase que imediatamente. Uma vez formado, a dúvida necessariamente o penetra, porque o seu propósito é impossível. O “ideal” do relacionamento não-santo torna-se assim um ideal no qual a realidade do outro absolutamente não entra para não “estragar” o sonho. E quanto menos o outro realmente traz para o relacionamento, “melhor” ele se torna. Assim, a tentativa de união vem a ser uma maneira de excluir até mesmo a pessoa com quem se buscou a união. Pois ela foi feita de forma a excluir essa pessoa e unir-se a fantasias em “êxtase” ininterrupto.

5. Como pode o Espírito Santo trazer a interpretação que faz do corpo como um meio de comunicação a relacionamentos cujo único propósito é a separação da realidade? O que o perdão é, em si mesmo, permite a Ele que o faça. Se tudo foi esquecido, exceto os pensamentos amorosos, o que fica é eterno. E o passado transformado vem a ser como o presente. O passado não entra mais em conflito com o agora. Essa continuidade estende o presente aumentando a sua realidade e o seu valor na percepção que tens dele. Nesses pensamentos amorosos está a centelha da beleza que fica escondida na feiúra do relacionamento não-santo, onde o ódio é lembrado; ainda assim ela está lá, para voltar à vida à medida que o relacionamento for dado Àquele Que lhe dá vida e beleza. É por isso que a Expiação está centrada no passado, que é a fonte da separação e aonde ela tem que ser desfeita. Pois a separação tem que ser corrigida aonde foi feita.

6. O ego busca “resolver” os próprios problemas, não em sua fonte, mas onde não foram feitos. E assim busca garantir que não haverá solução. O Espírito Santo quer apenas fazer com que as Suas resoluções sejam completas e perfeitas e assim busca e acha a fonte dos problemas onde ela está e lá a desfaz. E com cada passo no Seu desfazer, cada vez mais a separação é desfeita e a união trazida para mais perto. Ele não está ,absolutamente confuso por nenhuma das “razões” em favor da separação. Tudo o que Ele percebe na separação é que ela tem que ser desfeita. Permite que Ele descubra a centelha da beleza escondida em teus relacionamentos e mostre-a a ti. A sua beleza te atrairá tanto que nunca mais estarás disposto a perdê-la de vista novamente. E permitirás que essa centelha transforme o relacionamento de tal forma que possas vê-la cada vez mais. Pois vais querê-la cada vez mais e tornar-te-ás cada vez menos disposto a permitir que ela seja escondida de ti. E aprenderás a buscar e a estabelecer as condições nas quais essa beleza pode ser vista.

7. Tudo isso farás com contentamento, se apenas deixares que Ele mantenha a centelha diante de ti para iluminar o teu caminho e torná-lo mais claro para ti. O Filho de Deus é um. A quem Deus uniu como um só, o ego não pode separar. A centelha da santidade tem que estar a salvo, por mais escondida que possa estar em qualquer relacionamento. Pois o Criador do único relacionamento não deixou nenhuma parte dele fora de Si Mesmo. Essa é a única parte do relacionamento que o Espírito Santo vê porque tem o conhecimento que só essa é verdadeira. Tornaste o relacionamento irreal e, portanto, não-santo, vendo-o onde não está e como não é. Dá o passado Àquele Que pode mudar a tua mente a respeito disso por ti. Mas, primeiro, estejas certo de que reconheces inteiramente o que fizeste o passado representar e por quê.

8. O passado vem a ser uma justificativa para se entrar em uma aliança contínua, não-santa, com o ego contra o presente. Pois o presente é perdão. Portanto, os relacionamentos que a aliança não-santa dita não são percebidos nem sentidos como se estivessem acontecendo agora. Apesar disso, o quadro de referências ao qual o presente se refere em busca de significado é uma ilusão do passado, na qual aqueles elementos que servem ao propósito da aliança não-santa são retidos e o resto abandonado. E o que é assim abandonado é toda a verdade que o passado poderia oferecer ao presente como testemunhas da sua realidade. O que é mantido só testemunha a realidade dos sonhos.

9. Ainda depende de ti escolher unir-te à verdade ou à ilusão. Mas lembra-te que escolher uma é abandonar a outra. Àquela que escolheres, atribuirás beleza e realidade, porque a escolha depende de qual delas valorizas mais. A centelha da beleza ou o véu da feiúra, o mundo real ou o mundo da culpa e do medo, verdade ou ilusão, liberdade ou escravidão – tudo é a mesma coisa. Pois nunca podes escolher a não ser entre Deus e o ego. Os sistemas de pensamento só podem ser verdadeiros ou falsos e todos os seus atributos vêm apenas do que eles são. Só os Pensamentos de Deus são verdadeiros. E tudo o que decorre deles vem do que são e é tão verdadeiro quanto o é a Fonte santa de Onde vieram.

10. Meu irmão santo, eu quero entrar em todos os teus relacionamentos e caminhar entre tu e as tuas fantasias. Permite que o meu relacionamento contigo seja real para ti e deixa que eu traga realidade à tua percepção dos teus irmãos. Eles não foram criados para permitir que ferisses a ti mesmo através deles. Eles foram criados para criar contigo. Essa é a verdade que eu quero interpor entre tu e a tua meta feita de loucura. Não fiques separado de mim e não permitas que o propósito santo da Expiação se perca para ti em sonhos de vingança. Relacionamentos nos quais tais sonhos são acalentados excluíram a mim. Deixa-me entrar, em Nome de Deus, e trazer-te a paz para que possas me oferecer a paz.


IV. Os dois retratos

1. Deus estabeleceu o Seu relacionamento contigo para fazer-te feliz e nada do que faças, que não compartilhe o Seu propósito, pode ser real. O propósito atribuído por Deus a qualquer coisa que seja é a sua única função. Devido à Sua razão para criar o Seu relacionamento contigo, a função dos relacionamentos veio a ser para sempre a de “fazer feliz”. E nada mais. Para cumprir essa função, tu te relacionas com as tuas criações assim como Deus com as Suas. Pois nada do que Deus criou está à parte da felicidade, e nada do que Deus criou quer outra coisa senão estender a felicidade como fez o seu Criador. Qualquer coisa que não cumpra essa função não pode ser real.

2. Nesse mundo é impossível criar. No entanto, é possível fazer feliz. Eu tenho dito repetidas vezes que o Espírito Santo não quer privar-te dos teus relacionamentos especiais, mas apenas transformá-los. E tudo o que isso significa é que Ele vai devolver-lhes à função que lhes foi dada por Deus. A função que tu lhes deste, claramente, não é a de fazer feliz. Mas o relacionamento santo compartilha o propósito de Deus ao invés de ter como objetivo substituí-lo. Cada relacionamento especial que fizeste é um substituto para a Vontade de Deus e glorifica a tua em vez da Sua, devido à ilusão de que elas são diferentes.

3. Fizeste relacionamentos muito reais mesmo nesse mundo. No entanto, não os reconheces porque elevaste os seus substitutos a uma predominância tal que, quando a verdade te chama, como faz constantemente, respondes com um substituto. Cada relacionamento especial que tenhas feito tem, como seu propósito fundamental, o objetivo de ocupar a tua mente de forma tão completa que não ouças o chamado da verdade.

4. Em certo sentido, o relacionamento especial foi a resposta que o ego deu à criação do Espírito Santo, Que foi a Resposta de Deus à separação. Pois embora o ego não tivesse compreendido o que tinha sido criado, estava ciente da ameaça. Todo o sistema de defesa que o ego desenvolveu para proteger a separação contra o Espírito Santo foi em resposta à dádiva com a qual Deus a abençoou e, através da Sua bênção, permitiu que ela fosse curada. Essa benção contém dentro de si a verdade a respeito de todas as coisas. E é verdade que o Espírito Santo está em íntimo relacionamento contigo, porque Nele o teu relacionamento com Deus é devolvido a ti. O relacionamento com Ele nunca foi rompido porque o Espírito Santo nunca esteve separado de ninguém desde a separação. E através Dele todos os teus relacionamentos santos foram cuidadosamente preservados para servir ao propósito de Deus para ti.

5. O ego está sempre alerta à ameaça e a parte da tua mente na qual o ego foi aceito está muito ansiosa para preservar a própria razão, tal como a vê. Ela não se dá conta de que é totalmente insana. E tens que reconhecer exatamente o que significa isso, se queres ser restaurado à sanidade. Os insanos protegem seus sistemas de pensamento, mas o fazem de maneira insana. E todas as suas defesas são tão insanas quanto o que pretendem proteger. A separação nada tem em si mesma, nenhuma parte, nenhuma “razão” e nenhum atributo que não seja insano. E a sua “proteção” é parte dela, tão insana quanto o todo. O relacionamento especial, que é a sua forma principal de defesa, portanto, não pode deixar de ser insano.

6. Agora tens apenas um pouco de dificuldade em dar-te conta de que o sistema de pensamento que o relacionamento especial protege não passa de um sistema de delusões. Reconheces, pelo menos em termos gerais, que o ego é insano. Entretanto, o relacionamento especial ainda te parece de algum modo "diferente”. Contudo, nós olhamos para ele muito mais de perto do que para muitos outros aspectos do sistema de pensamento do ego que tens estado mais disposto a abandonar. Enquanto esse permanece, não abandonarás os outros. Pois esse não é diferente deles. Retém esse e terás retido a todos.

7. É essencial reconhecer que todas as defesas fazem exatamente aquilo do qual pretendem defender. A base subjacente à sua efetividade é o fato de oferecerem o produto do qual pretendem defender. O que defendem é colocado nelas para ser mantido em segurança e à medida em que operam é isso o que trazem a ti. Toda defesa opera dando dádivas e a dádiva sempre é uma miniatura do sistema de pensamento que a defesa protege, montada em uma moldura dourada. A moldura é muito elaborada, toda guarnecida de jóias, profundamente esculpida e polida. Seu propósito é ter valor em si mesma e distrair a tua atenção daquilo que ela contém. Mas a moldura sem o retrato, tu não podes ter. As defesas operam para fazer-te pensar que podes.

8. O relacionamento especial tem a moldura mais imponente e enganadora de todas as outras defesas que o ego usa. Seu sistema de pensamento é oferecido aqui, cercado por uma moldura tão pesada e tão elaborada que o retrato é quase que obliterado por sua estrutura imponente. Na moldura são tecidas todas as espécies de ilusões fantasiosas e fragmentadas acerca do amor, dispostas com sonhos de sacrifício e auto-glorificação, entrelaçadas com fios dourados de auto-destruição. O cintilar do sangue brilha como rubis, as lágrimas são lapidadas como diamantes e resplandecem na luz tênue na qual é feita a oferenda.

9. Olha para o retrato. Não deixes a moldura distrair-te. Essa dádiva te é feita para a tua condenação e se a receberes, vais acreditar que estás condenado. Não podes ter a moldura sem o retrato. O que valorizas é a moldura, pois nela não vês nenhum conflito. No entanto, a moldura apenas é o invólucro para a dádiva do conflito. A moldura não é a dádiva. Não sejas enganado pelos aspectos mais superficiais desse sistema de pensamento, pois esses aspectos englobam o todo, completo em cada um deles. A morte está nessa dádiva cintilante. Não permitas que o teu olhar permaneça no cintilar hipnótico da moldura. Olha para o retrato e reconhece que é a morte que te é oferecida.

10. É por isso que o instante santo é tão importante na defesa da verdade. A verdade em si mesma não necessita de defesa, mas tu, de fato, necessitas de defesa contra a tua aceitação da dádiva da morte. Quando tu, que és a verdade, aceitas uma idéia tão perigosa para a verdade, ameaças a verdade com a destruição. E a tua defesa tem que ser agora empreendida para manter a verdade íntegra. O poder do Céu, o Amor de Deus; as lágrimas de Cristo e a alegria do Seu Espírito eterno são convocadas para defender-te do teu próprio ataque. Pois tu Os, atacas, sendo parte Deles e Eles têm que salvar-te pois amam a Si Mesmos.

11. O instante santo é uma miniatura do Céu, que te é enviada do Céu. É também um retrato, montado em uma moldura. Entretanto, se aceitas essa dádiva, não verás a moldura em absoluto, porque a dádiva só pode ser aceita através da tua disponibilidade para focalizar toda a tua atenção no retrato. O instante santo é uma miniatura da eternidade. É um retrato da intemporalidade, montado em uma moldura de tempo. Se focalizas o retrato, vais reconhecer que foi só a moldura que te fez pensar que era um retrato. Sem a moldura, a retrata é visto pelo que representa. Pois assim como todo o sistema de pensamento do ego está nas suas dádivas, também assim todo o Céu está nesse instante, tomado por empréstimo da eternidade e montado no tempo para ti.

12. Duas dádivas te são oferecidas. Cada uma é completa e não pode ser parcialmente aceita. Cada um é um retrato de tudo o que podes ter, visto de modos muito diferentes. Não podes comparar o seu valor comparando um retrato com uma moldura. Tens que comparar apenas os retratos ou a comparação é totalmente sem significado. Lembra-te de que é o retrato que constitui a dádiva. E só com base nisso é que estás realmente livre para escolher. Olha para os retratos. Ambos. Um é um retrato diminuto, difícil de se ver por trás das pesadas sombras de seu invólucro enorme e desproporciona1, o outro é levemente emoldurado e pende na luz, belo para ser contemplado tal como é.

13. Tu, que tanto tens tentado e ainda continuas tentando adequar o melhor retrato à moldura errada e assim combinar a que não pode ser combinado, aceita isso e fica contente: cada um desses retratos é emoldurado de forma perfeita para o que representam. Um está emoldurado para ficar fora de foco e não ser visto. O outro está emoldurado para transparecer perfeita clareza. O retrato da escuridão e da morte torna-se cada vez menos convincente à medida em que o investigas dentre seus invólucros. À medida em que cada pedra sem sentido, que parece brilhar na moldura quando está escuro, é exposto à luz, passa a ser opaco e sem vida e deixa de distrair-te do retrato. E finalmente olhas para o retrato em si mesmo, vendo afinal que, sem a proteção da moldura, ele não tem significado.

14. O outro retrato está levemente emoldurado, pois o tempo não pode conter a eternidade. Não há distração aqui. O retrato do Céu e da eternidade torna-se mais convincente à medida em que olhas para ele. E agora, através da comparação real, uma transformação de ambos os retratos pode afinal ocorrer. E a cada um é dado o seu lugar de direito quando ambos são vistas, um em relação ao outro. O retrato escuro, trazido à luz, não é percebida como amedrontador, mas o fato de que é apenas um retrato é afinal compreendido. E o que vês nele, vais reconhecer pelo que é: um retrato do que pensaste que fosse real e nada mais. Pois além desse retrata, nada verás.

15. O retrato da luz, em contraste claro e inequívoco, é transformado no que está além dele. À medida em que olhas para ele, reconheces que não é um retrato, mas uma realidade. Ele não é uma representação figurada de um sistema de pensamento, mas o Pensamento em si mesmo. O que representa está lá. A moldura se desvanece gentilmente e Deus surge na tua lembrança, oferecendo-te a totalidade da criação em troca do teu pequeno retrato, totalmente sem valor e inteiramente privado de significado.

16. À medida em que Deus ascende a Seu lugar de direita e tu ao teu, experimentarás mais uma vez o significado do relacionamento e conhecerás o que é verdadeiro. Vamos juntos ascender em paz para o Pai dando a Ele ascendência em nossas mentes. Nós tudo ganharemos por dar a Ele o poder e a glória, sem guardar nenhuma ilusão acerca de onde estão. Estão em nós, através da Sua1ascendência. O que Ele deu é Seu. Brilha em todas as Suas partes, assim como no todo. Toda a realidade do teu relacionamento com Ele está em nossos relacionamentos uns com os outros. O instante santo brilha igualmente sobre todos os relacionamentos, pois nele todos são um. Pois aqui está apenas a cura, já completa e perfeita. Pois aqui está Deus e onde Ele está só o que é perfeito e completo pode estar.


V. O relacionamento curado

1. O relacionamento santo é a expressão do instante santo na vida desse mundo. Como tudo o que diz respeito à salvação, o instante santo é um instrumento prático, que é testemunhado pelos seus resultados. O instante santo nunca falha. A sua experiência é sempre sentida. No entanto, sem expressão, ela não é lembrada. O relacionamento santo é um lembrete constante da experiência na qual o relacionamento veio a ser o que é. E como o relacionamento não-santo é um hino contínuo de ódio em honra daquele que o fez, assim também. O relacionamento santo é uma alegre canção de honra ao Redentor dos relacionamentos.

2. O relacionamento santo, um passo importante em direção à percepção do mundo real, é aprendido. É o velho relacionamento não-santo, transformado e visto de forma nova. O relacionamento santo é uma realização fenomenal de ensino. Em todos os seus aspectos, como se inicia, se desenvolve e vem a se realizar, representa a reversão do relacionamento não-santo. Sê consolado nisso: a única fase difícil é o início. Pois aqui, a meta do relacionamento é abruptamente deslocada para ser exatamente o oposto do que era. Esse é o primeiro resultado de oferecer o relacionamento ao Espírito Santo, para que Ele o use de acordo com os Seus propósitos.

3. Esse convite é aceito imediatamente e o Espírito Santo não perde tempo para introduzir os resultados práticos do pedido que Lhe é feito. De imediato, a Sua meta substitui a tua. Isso é realizado muito rapidamente, mas faz o relacionamento parecer perturbado, desunido e até mesmo bastante angustiante. A razão disso é bastante clara, pois o relacionamento tal como é, está em desacordo com a sua própria meta e é claramente inadequado ao propósito que foi aceito para ele. Em sua condição não-santa, a tua meta era tudo o que parecia lhe dar significado. Agora parece não fazer nenhum sentido. Muitos relacionamentos foram rompidos nesse ponto e a busca da antiga meta restabelecida em outro relacionamento. Pois uma vez que o relacionamento não-santo aceita a meta da santidade, nunca mais pode ser o que era.

4. A tentação do ego passa a ser extremamente intensa com essa alteração nas metas. Pois o relacionamento ainda não mudou suficientemente para que a sua primeira meta perca por completo a atração, e a sua estrutura é “ameaçada” pelo reconhecimento de que ele é inadequado para cumprir seu novo propósito. O conflito entre a meta e a estrutura do relacionamento é tão evidente que não podem coexistir. No entanto, agora, a meta não vai mudar. Firmemente estabelecida na relação não-santa, não existe outro caminho senão o de mudar o relacionamento de modo a se adequar à meta. Até que essa solução feliz seja vista e aceita como a única maneira de sair do conflito, o relacionamento pode parecer intensamente desgastado.

5. Não seria mais benigno deslocar a meta com maior lentidão, porque o contraste seria obscurecido e o ego ganharia tempo para re-interpretar cada passo lento de acordo com o seu desejo. Só um deslocamento radical no propósito é capaz de induzir a uma completa mudança de idéia a respeito da razão de ser de todo o relacionamento. À medida que essa mudança se desenvolve e é, afinal, realizada, ele cresce passando a ser cada vez mais benéfico e alegre. Mas no início a situação é vivenciada como muito precária. Um relacionamento, empreendido por dois indivíduos para os seus propósitos não-santos, repentinamente tem a santidade como sua meta. Quando esses dois contemplam seu relacionamento do ponto de vista deste novo propósito inevitavelmente ficam horrorizados. A sua percepção do relacionamento pode até mesmo vir a ser bastante desorganizada. E apesar disso, a maneira antiga de organizar a percepção já não serve ao propósito que concordaram em alcançar.

6. Esse é o momento da fé. Deixaste que essa meta fosse estabelecida para ti. Isso foi um ato de fé. Não abandones a fé agora que as recompensas da fé estão sendo introduzidas. Se acreditaste que o Espírito Santo estava lá para aceitar o relacionamento, porque não acreditarias agora que Ele ainda está lá para purificar aquilo que tomou sob Sua orientação? Tem fé no teu irmão, naquilo que apenas parece ser um momento difícil. A meta está estabelecida. E o teu relacionamento tem a sanidade como propósito. Pois agora te achas em um relacionamento insano, reconhecido como tal, à luz da sua meta.

7. Agora, o ego aconselha da seguinte forma: substitui esse por um outro relacionamento, ao qual a tua meta anterior era bastante apropriada. Só podes escapar do teu desespero livrando-te do teu irmão. Não precisas partir inteiramente, se escolheres não fazê-lo. Mas, tens que excluir as tuas principais fantasias do teu irmão para salvar a tua sanidade. Não ouças isso agora! Tem fé Naquele Que te respondeu. Ele ouviu. Não foi bastante explícito na Sua resposta? Tu não és totalmente insano agora. Podes negar que Ele te deu uma declaração das mais explícitas? Agora, Ele pede fé por um pouco mais de tempo, mesmo na desorientação. Pois isso passará e verás a justificação da tua fé emergir para te trazer uma convição resplandecente. Não O abandones agora e nem abandones o teu irmão. Esse relacionamento renasceu como um relacionamento santo.

8. Aceita com contentamento o que não compreendes e deixa que isso seja explicado a ti à medida em que percebes o propósito que opera nele para torná-lo santo. Acharás muitas oportunidades para acusar o teu irmão pelo “fracasso” do teu relacionamento, pois haverá momentos em que ele parecerá não ter propósito. Uma sensação de falta de objetivos virá te assombrar e lembrar-te-ás de todas as formas nas quais algum dia buscaste satisfação e pensaste que a tinhas achado. Não esqueças agora da miséria que realmente achaste e não inspires vida ao teu ego cambaleante. Pois o teu relacionamento não foi rompido. Ele foi salvo.

9. Tu és muito novo nos caminhos da salvação e pensas que perdeste o teu caminho. O teu caminho está perdido, mas não penses que isso é uma perda. No que é novo em ti, lembra-te de que tu e o teu irmão começaram outra vez, juntos. E toma a sua mão para caminharem juntos por uma estrada muito mais familiar do que agora acreditas. Não é certo que vais te lembrar de uma meta imutável através da eternidade? Pois escolheste apenas a meta de Deus, da qual a tua intenção verdadeira nunca esteve ausente.

10. Através da Filiação se ouve a canção da liberdade, em eco alegre à tua escolha. Tu te uniste a muitos no instante santo e eles se uniram a ti. Não penses que a tua escolha te deixará sem consolo, pois o próprio Deus abençoou o teu relacionamento santo. Une-te à benção de Deus e não retenhas a tua, pois tudo o que ele necessita agora é a tua benção, de modo que possas ver que nele repousa a salvação. Não condenes a salvação, pois ela veio a ti. E dêem boas-vindas a ela juntos, pois ela veio para unir a ti e ao teu irmão em um relacionamento no qual toda a Filiação é abençoada em conjunto.

11. Vós fizestes juntos um convite ao Espírito Santo para que Ele entrasse no vosso relacionamento. De outra forma, Ele não poderia ter entrado. Embora possas ter feito muitos equívocos desde então, fizestes também enormes esforços para ajudá-lo no Seu trabalho. E Ele não deixou de apreciar tudo o que fizestes por Ele. Ele nem sequer vê quaisquer equívocos. Tu tens sido grato deste mesmo modo para com o teu irmão? Tens consistentemente apreciado os esforços positivos e deixado de ver os equívocos? Ou a tua apreciação oscilou e passou a ser tênue diante do que parecia ser a luz dos seus equívocos? Talvez estejas agora empreendendo uma campanha para acusá-lo pelo desconforto da situação em que te achas. E por essa falta de agradecimento e gratidão, tu te tornas incapaz de expressar o instante santo e assim o perdes de vista.

12. A experiência de um instante, por mais forte que possa ser, é facilmente esquecida se permites que o tempo se feche sobre ela. Ela tem que ser mantida brilhante e amável na tua consciência do tempo, mas não encoberta dentro dele. O instante permanece. Mas tu onde estás? Agradecer ao teu irmão é apreciar o instante santo e assim permitir que seus resultados, sejam aceitos e compartilhados. Atacar o teu irmão não significa perder o instante, mas fazer com que ele seja impotente em seus efeitos.

13. Tu recebeste o instante santo, mas podes ter estabelecido uma condição na qual não podes usá-lo. Como resultado, não reconheces que ele ainda está contigo. E excluindo-te da expressão do instante santo, negaste a ti mesmo o benefício que vem dele. Reforças isso a cada vez que atacas o teu irmão, pois o ataque necessariamente te cega para ti mesmo. E é impossível negar a ti mesmo e reconhecer aquilo que foi dado e recebido por ti.

14. Tu e o teu irmão estão juntos na presença santa da própria verdade. Aqui está a meta, junto contigo. Não achas que a própria meta por si mesma arranjará com contentamento os meios para a sua realização? É exatamente essa mesma discrepância entre o propósito que foi aceito e os meios, como eles se apresentam agora, que parecem fazer-te sofrer, mas fazem o Céu contente. Se o Céu estivesse fora de ti, não poderias compartilhar do contentamento celestial. Entretanto, porque está dentro, o contentamento também é teu. Vós estais unidos em propósito, mas ainda permanecem separados e divididos em relação aos meios. No entanto, a meta é fixa, firme e inalterável e os meios certamente se adequarão, posto que a meta é segura. E vós ireis compartilhar do contentamento da Filiação por ser assim.

15. À medida em que começas a reconhecer e a aceitar as dádivas que deste tão livremente ao teu irmão, aceitarás também os efeitos do instante santo e os usarás pata corrigir todos os teus equívocos e libertar-te de seus resultados. E aprendendo isso, terás também aprendido como liberar toda a Filiação e oferecê-la dando graças com contentamento a Quem te deu a tua liberação e a Quem quer estendê-la através de ti.


VI. Estabelecer a meta

1. A aplicação prática do propósito do Espírito Santo é extremamente simples, mas é inequívoca. De fato, para poder ser simples, é preciso que seja inequívoca. Só é simples aquilo que é facilmente compreendido e para tanto é evidente que precisa ser claro. A colocação da meta do Espírito Santo é geral. Agora Ele irá trabalhar contigo para fazer com que ela seja específica, pois a aplicação é específica. Existem algumas orientações muito específicas que Ele provê para qualquer situação, mas lembra-te que ainda não reconheces que a sua aplicação é universal. Por conseguinte, é essencial a essa altura usá-las separadamente em cada situação até que possas enxergar com maior segurança além de cada uma delas, em uma compreensão muito mais ampla do que a que possuis agora.

2. Em qualquer situação na qual estejas incerto, a primeira coisa a considerar, muito simplesmente, é “O que eu quero que resulte disso? Para quê serve isso?” O esclarecimento da meta tem que estar no início, pois é isso o que vai determinar o resultado. No procedimento do ego, isso é revertido. A situação vem a ser o que determina o resultado, que pode ser qualquer coisa. A razão dessa abordagem desorganizada é evidente. O ego não sabe o que quer que resulte da situação. Ele está ciente do que não quer, mas somente disso. Ele não tem absolutamente nenhuma meta positiva.

3. Sem uma meta clara, positiva, estabelecida no ponto de partida, a situação apenas parece acontecer e não faz sentido enquanto não tiver acontecido. Então, tu a olhas em retrospectiva e tentas compor o que ela significou. E estarás errado. Não somente o teu julgamento está no passado, mas não tens nenhuma idéia do que deveria acontecer. Nenhuma meta foi estabelecida para que se pudesse alinhar os meios a ela. E agora, o único julgamento que sobra para ser feito é se o ego gosta ou não do resultado: é aceitável ou exige vingança? A ausência de um critério para o resultado previamente estabelecido faz com que a compreensão seja duvidosa e a avaliação impossível.

4. O valor de decidir com antecedência o que é que queres que aconteça, simplesmente está em que perceberás a situação como um meio de fazer com que isso aconteça. Farás, portanto, todos os esforços para não ver o que interfere com a realização do teu objetivo e concentrar-te-ás em tudo aquilo que te ajuda a realizá-lo. É bastante marcante que essa abordagem tem te trazido para mais perto da seleção que o Espírito Santo faz da verdade e da falsidade. O que pode ser usado para realizar a meta vem a ser verdadeiro. O que é inútil deste ponto de vista vem a ser falso. A situação agora tem significado, mas somente porque a meta fez com que ela fosse significativa.

5. A meta da verdade tem outras vantagens práticas. Se a situação é usada em favor da verdade e da sanidade, o seu resultado tem que ser a paz. E isso está bastante à margem do que seja o resultado. Se a paz é a condição da verdade e da sanidade e não pode haver paz sem elas, onde está a paz, elas têm que estar. A verdade vem por si mesma. Se vivencias a paz é porque a verdade veio a ti e verás o resultado verdadeiramente, pois o engano não pode prevalecer contra ti. Irás reconhecer o resultado porque estás em paz. Aqui, mais uma vez, vês o oposto da maneira de ver as coisas do ego, pois o ego acredita que a situação traz a experiência. O Espírito Santo sabe que a situação é como a meta a determina e é vivenciada de acordo com a meta.

6. A meta da verdade requer fé. A fé está implícita na aceitação do propósito do Espírito Santo e essa fé a tudo abrange. Onde a meta da verdade está estabelecida, lá tem que estar a fé. O Espírito Santo vê a situação como um todo. A meta estabelece o fato de que todas as pessoas nela envolvidas desempenharão o papel que têm na sua realização. Isso é inevitável. Ninguém falhará em coisa alguma. Isso parece exigir uma fé além de ti e além do que podes dar. No entanto, isso só é assim do ponto de vista do ego, pois o ego acredita em “resolver” o conflito através da fragmentação e não percebe a situação como um todo. Por conseguinte, busca partir segmentos da situação e lidar com eles separadamente, pois tem fé na separação e não na totalidade.

7. Confrontado com qualquer aspecto da situação que pareça ser difícil, o ego tentará levar esse aspecto para algum outro lugar e lá resolvê-lo. E ele parecerá ser bem-sucedido, exceto que essa tentativa conflita com a unidade e necessariamente obscurece a meta da verdade. E a paz não será vivenciada a não ser na fantasia. A verdade não veio porque a fé foi negada, sendo afastada de onde tem que estar por direito. Assim, perdes a compreensão da situação que a meta da verdade iria trazer. Pois soluções de fantasia trazem apenas a ilusão da experiência e a ilusão da paz não é a condição na qual a verdade pode entrar.


VII. O chamado para a fé

1. Os substitutos para certos aspectos da situação são as testemunhas da tua falta de fé. Demonstram que não acreditaste que a situação e o problema estavam no mesmo lugar. O problema era a falta de fé e é isso o que demonstras quando o removes da sua fonte e o colocas em outro lugar. Como resultado, não vês o problema. Se não te tivesse faltado fé em que ele poderia ser resolvido, ele teria desaparecido. E a situação teria sido significativa para ti, porque a interferência no caminho da compreensão teria sido removida. Remover o problema e colocá-lo em outro lugar é mantê-lo, pois removes a ti mesmo do problema e fazes com que ele seja insolúvel.

2. Não existe nenhum problema em nenhuma situação que a fé não resolva. Não existe nenhum deslocamento em qualquer aspecto do problema que não faça com que a solução seja impossível. Pois se deslocas parte do problema para outro lugar, o seu significado necessariamente se perde e a solução é inerente ao seu significado. Acaso não é possível que todos os teus problemas tenham sido resolvidos, mas que tenhas excluído a ti mesmo da solução? No entanto, a fé precisa estar lá, no lugar onde alguma coisa foi feita e aonde tu vês que ela foi feita.

3. Uma situação é um relacionamento, sendo a união de pensamentos. Se problemas são percebidos, isso acontece porque se julga que os pensamentos estão em conflito. Mas se a meta é a verdade, isso é impossível. Alguma idéia acerca dos corpos não pode deixar de ter se introduzida, pois as mentes não podem atacar. O pensamento relacionado aos corpos é o sinal da ausência de fé, pois corpos não podem solucionar nada. É a sua intrusão no relacionamento, um erro nos teus pensamentos sobre a situação, que vem a ser, então, a justificativa para a tua falta,de fé. Tu farás esse erro, mas não te preocupes com isso absolutamente. O erro não importa. A falta de fé trazida à fé jamais interferirá com a verdade. Mas a falta de fé usada contra a verdade sempre destruirá a fé. Se te falta fé, pede para que ela seja restaurada onde foi perdida e não busques fazer com que seja inventada para ti em algum outro lugar, como se tivesses sido injustamente privado dela.

4. Somente aquilo que tu não deste pode estar faltando em qualquer situação. Mas lembra-te disso: a meta da santidade foi estabelecida para o teu relacionamento e não por ti. Tu não a estabeleceste porque a santidade não pode ser vista a não ser através da fé e o teu relacionamento não era santo porque a tua fé no teu irmão era tão limitada e pequena. A tua fé tem que crescer para ir de encontro à meta que foi estabelecida. A realidade da meta fará surgir isso, pois verás que a paz e a fé não virão separadamente. Em que situação podes estar sem fé e ainda assim permanecer fiel ao teu irmão?

5. Cada situação em que te achas não é senão um meio de realizar o propósito estabelecido para o teu relacionamento. Se a vês como qualquer outra coisa, estarás sem fé. Não uses a tua falta de fé. Deixa que ela entre e olha para ela com calma, mas não a uses. A falta de fé é a serva da ilusão e totalmente fiel à sua senhora. Usa-a e ela te carregará diretamente às ilusões. Não fiques tentado pelo que ela te oferece. Ela interfere, não com a meta, mas com o valor da meta para ti. Não aceites a ilusão de paz que ela te oferece, mas contempla a sua oferta e reconhece que é ilusão.

6. A meta da ilusão está tão estreitamente ligada à ausência de fé como a fé está ligada à verdade. Se te falta fé em qualquer pessoa em relação ao papel que ela desempenhará e de forma perfeita em qualquer situação antecipadamente dedicada à verdade, a tua entrega está dividida. E assim não terás tido fé no teu irmão e terás usado contra ele a tua falta de fé. Nenhum relacionamento é santo a não ser que a santidade vá com ele a toda parte. Como a santidade e a fé caminham de mãos dadas, assim a fé tem que ir a toda parte com ele. A realidade da meta fará surgir e realizará todos os milagres que forem necessários para a sua realização. Não existe nada por menor ou maior que seja, por mais frágil ou mais forte que seja, que não esteja aqui com o único objetivo de ser gentilmente posta a serviço da meta e orientada para apoiar o seu propósito. O universo servirá a ela com contentamento, como ela serve ao universo. Mas não interfiras.

7. O poder colocado em ti, em quem a meta do Espírito Santo foi estabelecida, está tão além da tua pequena concepção do infinito que não tens idéia de como é grande a força que vai contigo. E isso podes usar em perfeita segurança. No entanto, apesar de todo o poder dessa força, tão grande que vai além das estrelas e do universo que está além delas, a tua pequena falta de fé pode fazer com que ela seja inútil, se quiseres usar a falta de fé para substituí-la.

8. No entanto, pensa sobre isso e aprende o que causa a falta de fé: pensas que tens contra o teu irmão aquilo que ele fez contra ti. Mas realmente o acusas pelo que tu fizeste a ele. Não é o seu passado, mas o teu, que tens contra ele. E te falta fé nele devido ao que tu foste. Entretanto, és tão inocente quanto ao que foste quanto ele. O que nunca foi não tem causa e não está presente para interferir com a verdade. Não há causa para a falta de fé, mas há Causa para a fé. Essa Causa entrou em qualquer situação que compartilhe o Seu propósito. A luz da verdade brilha a partir do centro da situação e toca todas as pessoas a quem o propósito da situação chama. Ele chama todas as pessoas. Não há nenhuma situação que não envolva todo o teu relacionamento, em todos os aspectos e completo em cada parte. Não podes deixar nada de ti fora dele e manter a situação santa. Pois ela compartilha o propósito de todo o teu relacionamento e deriva dele o próprio significado.

9. Entra em cada situação com a fé que dás ao teu irmão, ou não terás fé no teu próprio relacionamento. A tua fé chamará os outros para compartilharem o teu propósito, assim como esse mesmo propósito convocou a fé em ti. E verás os meios, que um dia já empregaste para te conduzires às ilusões, transformados em meios para a verdade. A verdade chama para a fé e a fé abre espaço para a verdade. Quando o Espírito Santo mudou o propósito do teu relacionamento trocando o teu pelo Seu, a meta que Ele lá colocou foi estendida a todas as situações nas quais entras ou entrarás jamais. E cada situação ficou assim livre do passado que a teria tomado sem propósito.

10. Tu chamas para a fé por causa Daquele Que caminha contigo em todas as situações. Já não és mais totalmente insano e nem estás mais sozinho. Pois a solidão em Deus não pode deixar de ser um sonho. Tu, cujo relacionamento compartilha a meta do Espírito Santo, estás à parte da solidão porque a verdade veio a ti. Seu chamado para a fé é forte. Não uses a tua falta de fé contra ele, pois ele te chama para a salvação e para a paz.


VIII. As condições da paz

1. O instante santo não é nada mais do que um caso especial ou um exemplo extremo daquilo que todas as situações são destinadas a ser. O significado que o propósito do Espírito Santo deu a ele também é dado a todas as situações. Ele convoca a mesma suspensão da falta de fé, que é afastada e deixada de lado de forma que a fé possa responder ao chamado da verdade. O instante santo é o exemplo brilhante, a demonstração clara e inequívoca do significado de todos os relacionamentos e de todas as situações quando são vistos como um todo. A fé aceitou cada aspecto da situação e a falta de fé não forçou nela nenhuma exclusão. É uma situação de perfeita paz, simplesmente porque deixaste que ela fosse o que é.

2. Essa simples cortesia é tudo o que o Espírito Santo te pede. Permite que a verdade seja o que é. Não a invadas, não a ataques, não interrompas a sua vinda. Deixa que ela envolva todas as situações e te traga paz. Nem mesmo a fé te é pedida, pois a verdade nada pede. Deixa que ela entre e trará à tona e manterá para ti a fé de que necessitas para a paz. Mas não te levantes contra ela, pois contra a tua oposição, ela não pode vir.

3. Não queres fazer de cada situação um instante santo? Pois tal é a dádiva da fé, dada livremente em todo lugar onde a falta de fé é deixada de lado, sem utilidade. E então o poder do propósito do Espírito Santo está livre para ser usado em seu lugar. Esse poder instantaneamente transforma todas as situações em um meio seguro e contínuo para estabelecer o Seu propósito e demonstrar a realidade dele. O que foi demonstrado convocou a fé e a fé lhe foi dada. Agora vem a ser um fato, do qual a fé não mais pode ser afastada. A tensão de recusar fé à verdade é enorme, muito maior do que reconheces. Mas responder à verdade com fé não acarreta tensão alguma.

4. A ti, que reconheceste o chamado do teu Redentor, a tensão de não responder ao Seu chamado parece ser maior do que antes. Isso não é assim. Antes, a tensão estava presente, mas tu a atribuías a alguma outra coisa, acreditando que “alguma outra coisa” a produzia. Isso nunca foi verdadeiro. Pois o que essa “alguma outra coisa” produzia era pesar e depressão, doença e dor, escuridão e imagens vagas de terror, frias fantasias de medo e sonhos ardentes do inferno. E nada mais era senão a tensão intolerável de te recusares a dar fé à verdade e ver a sua evidente realidade.

5. Assim foi a crucificação do Filho de Deus. A sua própria falta de fé fez isso a ele. Pensa com cuidado antes de te permitires usar a tua falta de fé contra ele. Pois ele se elevou e tu aceitaste a Causa do seu despertar como tua. Assumiste a tua parte na sua redenção e agora és inteiramente responsável por ele. Não falhes para com ele agora, pois te foi dado reconhecer o que a tua falta de fé nele não pode deixar de significar para ti. A sua salvação é o teu único propósito. Vê apenas isso em todas as situações e elas serão um meio de trazer apenas isso.

6. Quando aceitaste a verdade como meta para o teu relacionamento, vieste a ser um doador da paz com tanta certeza quanto o teu Pai te deu a paz. Pois a meta da paz não pode ser aceita à parte de suas condições e tiveste fé nesta meta pois ninguém aceita algo que não acredita que seja real. O teu propósito não mudou e não mudará, pois aceitaste o que nunca pode mudar. E agora não és capaz de afastar dele nada do que ele necessita para ser para sempre imutável. A tua liberação é certa. Dá assim como recebeste. E demonstra que te elevaste muito além de qualquer situação que pudesse atrasar-te e manter-te separado Daquele a Cujo chamado tu respondeste.