julho 15, 2010

Capítulo 25 - A JUSTIÇA DE DEUS

Capítulo 25 - A JUSTIÇA DE DEUS

Introdução

1. O Cristo em ti não habita em um corpo. Entretanto, Ele está em ti. E conseqüentemente não podes estar dentro de um corpo. O que está dentro de ti não pode estar fora. E é certo que não podes estar à parte do que está bem no centro da tua vida. O que te dá vida não pode estar abrigado na morte. E tu também não podes. Cristo está dentro de uma moldura de santidade cujo único propósito é que Ele possa se tornar manifesto para aqueles que não O conhecem, que Ele os possa chamar para que venham a Ele e o vejam ali onde imaginavam que estivessem os seus corpos. Então, os seus corpos desaparecerão para que eles possam emoldurar a Sua santidade em si mesmos.

2. Ninguém que carregue Cristo em si mesmo pode deixar de reconhecê-Lo em toda parte. Exceto nos corpos. E enquanto a pessoa acredita que está em um corpo, onde pensa que está, Ele não pode estar. E assim O carrega sem saber e não O torna manifesto. E assim não O reconhece onde Ele está. O filho do homem não é o Cristo ressurgido. Entretanto, o Filho de Deus habita exatamente onde ele está e caminha com ele dentro da sua santidade, tão visível quanto o seu especialismo que se demonstra dentro do seu corpo.

3. O corpo não necessita de cura. Mas a mente que pensa ser um corpo está, de fato, doente! E é aqui que Cristo demonstra o re­médio. O Seu propósito envolve o corpo em Sua luz e o preenche com a santidade que se irradia a partir Dele. E nada do que o corpo diz ou faz deixa de manifestá-Lo. Para aqueles que não O conhecem, o corpo O leva com gentileza e amor para curar as suas mentes. Tal é a missão que o teu irmão tem para ti. E tal tem que ser a tua missão para com ele.


I. O elo com a verdade

1. Não pode ser difícil realizar a tarefa que Cristo designou para ti, pois Quem a realiza é Ele. E ao realizá-la aprenderás que o corpo meramente parece ser o meio de realizá-la. Pois a Mente é a Sua. E, portanto, tem que ser a tua. A Sua santidade dirige o corpo através da mente una com Ele. E tu te manifestas para o teu irmão santo, assim como ele para ti. Aqui está o encontro do santo Cristo Consigo Mesmo; não há diferenças a serem percebidas entre os aspectos da Sua santidade, que se encontram, se unem e O erguem até Seu Pai, íntegro e puro e digno do Seu Amor eterno.

2. Como podes manifestar o Cristo em ti exceto olhando para a santidade e vendo-O lá? A percepção te diz que tu te manifestas no que vês. Olha para o corpo e irás acreditar que estás nele. E todo corpo que olhas te lembra de ti mesmo: o teu pecado, o teu mal e, acima de tudo, a tua morte. E, acaso, não desprezarias aquele que te diz isso, e não irias buscar a sua morte em vez da tua? A mensagem e o mensageiro são um só. E tens que ver o teu irmão como a ti mesmo. Emoldurado no seu corpo, verás o teu pecado, no qual estás condenado. Estabelecido na sua santidade, o Cristo nele proclama que Ele é como tu.

3. A percepção é uma escolha do que queres ser, o mundo no qual queres viver e o estado no qual pensas que a tua mente estará contente e satisfeita. Ela escolhe aonde pensas que está a tua segurança de acordo com a tua decisão. Ela te revela a ti mesmo como gostarias de ser. E ela é sempre fiel ao teu propósito, do qual nunca se separa e nunca testemunha coisa alguma, por mais vagamente que seja, que o propósito na tua mente não sustente. A percepção é uma parte daquilo que é o teu propósito contemplar, pois os meios e o fim nunca são separados. E assim aprendes que aquilo que parece ter uma vida à parte, não tem nenhuma.

4. Tu és o meio para Deus; não separado, não com uma vida à parte da Sua. A Sua vida está manifestada em ti que és o Seu Filho. Cada aspecto de Si Mesmo está emoldurado em santidade e pureza perfeita, em amor tão celestial e tão completo que só deseja poder liberar tudo aquilo que contempla para si mesmo. A sua radiância brilha através de cada corpo para o qual ele olha e limpa toda a escuridão que está nele transformando-a em luz, simplesmente olhando para o que está depois da escuridão, para a luz. O véu é erguido através da sua gentileza e nada esconde a face de Cristo de quem a contempla. Tu e o teu irmão estão diante Dele agora, para permitir que Ele ponha de lado o véu que parece mantê-los separados e à parte.

5. Já que tu acreditas que estás separado, o Céu se apresenta a ti como se fosse separado também. Não que ele o seja na verdade, mas para que o elo que te foi dado para unir-te à verdade possa chegar a ti através de algo que compreendes. Pai, Filho e Espírito Santo são como Um só, assim como todos os teus irmãos se unem como um na verdade. Cristo e Seu Pai nunca foram separados e Cristo habita dentro da tua compreensão, na parte de ti que com­partilha a Vontade do Seu Pai. O Espírito Santo liga a outra par­te – o diminuto, louco desejo de ser separado, diferente e especial – com o Cristo, para fazer com que a unificação fique clara para o que é realmente um. Nesse mundo, isso não é compreendido, mas pode ser ensinado.

6. O Espírito Santo serve ao propósito de Cristo em tua mente, de modo que o objetivo do especialismo possa ser corrigido onde está o erro. Como o Seu propósito é ainda uno com ambos, o Pai e o Filho, Ele conhece a Vontade de Deus e o que é realmente a tua vontade. Mas isso é compreendido pela mente que se percebe una, ciente de que é una e assim vivenciada. É função do Espírito Santo ensinar-te como é vivenciada essa unificação, o que tens que fazer para que ela seja vivenciada e aonde deves ir para fazer isso.

7. Tudo isso leva em consideração o tempo e o espaço como se fossem distintos, pois enquanto pensas que parte de ti é separa­da, o conceito de uma unicidade unida como um só não tem significado. Está claro que uma mente tão dividida nunca poderia ser o professor de uma Unicidade Que une todas as coisas dentro de Si Mesma. E assim, O Que está dentro dessa mente e de fato une todas as coisas tem que ser o seu Professor. No entanto, Ele tem que usar uma linguagem que essa mente possa compreender, na condição na qual ela pensa que está. E Ele tem que usar todo o aprendizado para transferir ilusões à verdade, tomando todas as idéias falsas quanto ao que tu és e conduzindo-te para além delas, para a verdade que está além das ilusões. Tudo isso pode ser muito simplesmente reduzido ao seguinte:

O que é o mesmo não pode ser diferente, e o que é uno não pode ter partes separadas.


II. Aquele que te salva das trevas

1. Não é evidente que aquilo que os olhos do corpo percebem te enche de medo? Talvez penses que lá achas uma esperança de satisfação. Talvez tenhas fantasias de atingir alguma paz e satisfação no mundo conforme o percebes. Entretanto, tem que ser evidente que o resultado não muda. Apesar das tuas esperanças e fantasias, sempre resulta o desespero. E não há exceção, nem nunca haverá. O único valor que o passado pode ter é aprenderes que ele não te deu nenhuma recompensa que gostarias de manter. Pois só assim estarás disposto a abandoná-lo e a deixar que ele desapareça para sempre.

2. Não é estranho que ainda alimentes alguma esperança de satisfação proveniente do mundo que vês? Em todos os aspectos, em qualquer momento, em qualquer lugar, nada além da culpa e do medo têm sido a tua recompensa. Quanto tempo precisas para te dar conta de que a chance de alguma mudança nesse aspecto dificilmente vale o adiamento da mudança que poderia resultar em um final melhor? Pois uma coisa é certa: o modo como tu vês, e vês há muito tempo, não oferece nenhum ponto de apoio no qual possas basear as tuas esperanças futuras e nenhuma sugestão que tenha qualquer sucesso. Colocar as tuas esperanças onde não há esperança tem que fazer com que sejas sem esperança. No entanto, esse estado de desesperança é a tua escolha, enquanto buscas esperança onde nunca é possível achá-la.

3. Não é verdade, também, que achaste uma esperança à parte disso, um cintilar – inconstante, vacilante, mas ainda assim vaga-mente visto – de que a esperança é garantida em bases que não estão nesse mundo? No entanto, o teu desejo de que elas possam ainda estar aqui, ainda te impede de desistir da tarefa sem esperança e sem recompensa que tu te colocaste. Pode fazer sentido manter uma crença fixa em que existe algum motivo para se continuar a perseguir o que sempre fracassou, com a justificativa que de repente essa coisa será bem-sucedida e trará o que nunca trouxe antes?

4. Esse passado fracassou. Fica contente por ele ter desaparecido da tua mente e já não obscurece o que lá está. Não tomes a forma pelo conteúdo, pois a forma não passa de um meio para o conteúdo. E a moldura não passa de um meio para manter o quadro erguido, de modo que possa ser visto. Uma moldura que esconda o quadro não tem propósito. Não pode ser uma moldura se é ela que vês. Sem o quadro, a moldura é sem significado. Seu propósito é mostrar o quadro e não a si mesma.

5. Quem pendura uma moldura vazia em uma parede e se põe diante dela em profunda reverência como se uma obra-prima es­tivesse lá para ser vista? Entretanto, se vês o teu irmão como um corpo, é apenas isso o que fazes. A obra-prima que Deus colocou nesta moldura é tudo o que há para ser visto. O corpo a mantém por algum tempo, sem obscurecê-la de forma alguma. Apesar disso, o que Deus criou não necessita de moldura alguma, pois o que Ele criou, Ele sustenta e emoldura dentro de Si Mesmo. A Sua obra-prima, Ele te oferece para que vejas. E preferes olhar a moldura ao invés dela? E absolutamente nada ver do quadro?

6. O Espírito Santo é a moldura que Deus colocou em torno da parte Dele que queres ver como separada. No entanto, sua mol­dura está ligada ao seu Criador, una com Ele e com Sua obra-prima. Esse é o seu propósito e tu não fazes da moldura o quadro quando escolhes vê-la em seu lugar. A moldura que Deus deu a ele apenas serve ao Seu propósito, não ao teu à parte do Seu. É o teu propósito separado que obscurece o quadro e valoriza a mol­dura ao invés dele. Entretanto, Deus colocou a Sua obra-prima dentro de uma moldura que durará para sempre, quando a tua já tiver se desmoronado no pó. Mas não penses que o quadro é destruído de forma alguma. O que Deus cria está a salvo de toda corrupção, imutável e perfeito na eternidade.

7. Aceita a moldura de Deus no lugar da tua e verás a obra-prima. Olha a sua beleza e compreende a Mente que a pensou, não em carne e ossos, mas em uma moldura tão bela quanto Ela Mesma. Sua santidade ilumina a impecabilidade que a moldura das trevas esconde e lança um véu de luz sobre a face do quadro que apenas reflete a luz que brilha a partir dele até seu Criador. Não penses que essa face foi jamais obscurecida pelo fato de a teres visto em uma moldura de morte. Deus a manteve a salvo para que pudesses olhá-la e ver a santidade que Ele deu a ela.

8. Dentro da escuridão, vê o salvador que salva das trevas e compreende o teu irmão assim como a Mente do seu Pai o revela a ti. Ele dará um passo à frente saindo das trevas quando tu o olhares e não mais verás a escuridão. As trevas não o tocaram e nem a ti, que o trouxeste para fora, para que pudesses olhar para ele. A sua impecabilidade apenas retrata a tua. A sua gentileza vem a ser a tua força e vós alegremente olhareis para dentro e vereis a santidade que tem que estar presente devido ao que contemplaste nele. Ele é a moldura na qual foi colocada a tua santidade e o que Deus deu a ele tem que ser dado a ti. Por mais que ele ignore a obra-prima dentro de si mesmo e veja apenas a moldura das trevas, ainda assim a tua única função é contemplar nele o que ele não vê. E nesse modo de ver a visão que olha para Cristo, em vez de ver a morte, é compartilhada.

9. Como poderia o Senhor do Céu não ficar contente por apreciares a Sua obra-prima? Que poderia Ele fazer senão agradecer a ti que amas o Seu Filho como Ele o ama? Não iria Ele tornar conhecido o Seu Amor por ti se tu não fazes outra coisa senão compartilhar o Seu louvor ao que Ele ama? Deus aprecia a criação como Pai perfeito que é. E assim a Sua alegria se torna completa quando qualquer parte Dele se une ao Seu louvor para compartilhar a Sua alegria. Esse irmão é a Sua dádiva perfeita para ti. E Ele fica contente e agradecido quando tu agradeces ao Seu Filho perfeito por ser o que é. E todos os Seus agradecimentos e toda a Sua alegria brilham sobre ti que queres completar a Sua alegria junto com Ele. E assim se completa a tua. Nenhum raio de escuridão pode ser visto por aqueles que querem fazer com que a alegria de seu Pai seja completa e a deles junto com a Sua. A gratidão do próprio Deus é livremente oferecida a todos os que compartilham o Seu propósito. Não é Vontade de Deus estar só. E nem é a tua.

10. Perdoa o teu irmão e não poderás separar-te dele, nem do seu Pai. Tu não precisas de perdão, pois os que são totalmente puros nunca pecaram. Dá, então, o que Ele tem dado a ti para que possas ver o Seu Filho como um só e agradece ao seu Pai como o Pai te agradece. Nem acredites que todo o Seu louvor não te é dado. Pois o que dás é Seu e dando-o, aprendes a compreender a Sua dádiva a ti. E dá ao Espírito Santo o que Ele oferece igual­mente ao Pai e ao Filho. Nada tem poder sobre ti exceto a Sua Vontade e a tua, que apenas estendes a Sua Vontade. Foi para isso que foste criado e o teu irmão contigo, sendo um contigo.

11. Tu e o teu irmão sois o mesmo assim como o próprio Deus é Um e não está dividido em Sua Vontade. E vós não podeis deixar de ter um só propósito, já que Ele deu o mesmo propósito a ambos. A Sua Vontade se unifica à medida em que vós vos unis em vontade, para que sejas completado oferecendo completeza ao teu irmão. Não vejas nele o pecado que ele vê, mas dá a ele a honra para que possas estimar a ti mesmo e a ele. A ti e ao teu irmão é dado o poder da salvação, para que o escape da escuridão para a luz seja vosso para ser compartilhado, para que possais ver como um só o que nunca foi separado nem esteve à parte de todo o Amor de Deus que é dado igualmente a ambos.


III. Percepção e escolha

1. Na medida em que valorizas a culpa, nessa medida irás perceber um mundo no qual o ataque é justificado. Na medida em que reconheces que a culpa é sem significado, nesta medida perceberás que o ataque não pode ser justificado. Isso está de acordo com a lei fundamental da percepção: vês o que acreditas que esteja presente e acreditas que está porque queres que esteja. A percepção não tem outra lei senão essa. O resto simplesmente emana dessa lei para mantê-la e sustentá-la. Essa é a forma da percepção, adaptada a esse mundo, da lei mais básica de Deus: o amor cria a si mesmo e a nada além de si mesmo.

2. As leis de Deus não prevalecem diretamente em um mundo no qual a percepção domina, pois tal mundo não poderia ter sido criado pela Mente para a qual a percepção não tem significado. Entretanto, as Suas leis refletem-se em toda parte. Não que o mundo onde esse reflexo está seja, de fato, real. Mas apenas por­que o Seu Filho acredita que ele seja real e Ele não poderia separar-Se inteiramente da crença de Seu Filho. Ele não poderia entrar na insanidade de Seu Filho com ele, mas podia ter a certeza de que a Sua sanidade foi com ele de modo que ele não ficasse perdi­do para sempre na loucura do seu desejo.

3. A percepção se baseia na escolha; o conhecimento não. O conhecimento tem apenas uma lei porque tem apenas um Criador. Mas esse mundo foi feito por dois e eles não o vêem do mesmo modo. Para cada um, ele tem um propósito diferente e para cada um ele é um meio perfeito para servir à meta em função da qual é percebido. Para o especialismo, ele é a moldura perfeita para realçá-lo, o campo de batalha perfeito para pagar o preço das suas guerras, o abrigo perfeito para ilusões que ele quer fazer com que sejam reais. Nem uma única deixa de ser mantida em sua percepção, nem uma só deixa de ser completamente justificada.

4. Há um outro Fazedor do mundo, Aquele Que simultaneamente corrige a crença louca em que alguma coisa possa ser estabelecida e mantida sem algum elo que a retenha dentro das leis de Deus; não como a lei em si mesma mantém o universo como Deus o criou, mas de alguma forma adaptada à necessidade que o Filho de Deus acredita que tem. O erro corrigido é o fim do erro. E assim Deus protegeu Seu Filho mesmo no erro.

5. Há um outro propósito no mundo feito pelo erro, porque ele tem outro Fazedor, Que é capaz de conciliar a sua meta com o propósito do Seu Criador. Em Sua percepção do mundo, nada do que é visto deixa de justificar o perdão e tudo o que se vê através da perfeita impecabilidade. Nada surge que não encontre imediatamente o perdão completo. Nada permanece, nem por um instante, que seja capaz de obscurecer a impecabilidade que brilha imutável, além das lamentáveis tentativas do especialismo de apagá-la da mente, onde ela tem que estar para iluminar o corpo em lugar dele. As lâmpadas do Céu não estão à disposição da mente para serem vistas aonde ela quiser. Se a mente escolhe vê-las em outra parte que não seja o seu próprio lar, como se iluminassem um local onde não poderiam jamais estar, então o Fazedor do mundo tem que corrigir o teu erro para que não permaneças na escuridão onde as lâmpadas não estão.

6. Cada um aqui entrou na escuridão, no entanto, ninguém entrou sozinho. Nem precisa ficar mais do que um instante. Pois veio com a Ajuda do Céu dentro de si, pronta para conduzi-lo para fora da escuridão rumo à luz a qualquer momento. O mo­mento que ele escolhe pode ser qualquer momento, pois a ajuda está lá, apenas esperando pela sua escolha. E quando ele escolhe usar o que lhe é dado, então verá cada situação que antes imaginava como um meio para justificar a sua raiva se transformar em um evento que justifica o seu amor. Ele ouvirá claramente que os chamados para a guerra que antes escutava são realmente chamados para a paz. Ele perceberá que onde investiu o seu ataque, existe apenas um outro altar onde ele poderia ter concedido, com igual facilidade e muito maior felicidade, o perdão. E irá re-interpretar toda a tentação como apenas uma outra chance de trazer alegria a si mesmo.

7. Como é possível que uma percepção equivocada seja um peca­do? Permite que todos os erros do teu irmão nada sejam para ti além de uma chance de veres as obras Daquele Que ajuda, que te são dadas para que vejas o mundo que Ele fez em vez do teu. O quê, então, se justifica em tudo isso? O que queres? Pois essas duas perguntas são uma só. E quando as vires como uma só, a tua escolha está feita. Pois é o fato de vê-las como uma só que traz a liberação da crença em que existem dois modos de ver. Esse mundo tem muito a oferecer à tua paz e muitas chances para estenderes o teu próprio perdão. Tal é o seu propósito para aqueles que querem ver a paz e o perdão descerem sobre si mesmos e lhes oferecerem a luz.

8. O Fazedor do mundo da gentileza tem perfeito poder para apagar o mundo da violência e do ódio que parece colocar-se entre tu e a Sua gentileza. Esse não está presente aos Seus olhos que sempre perdoam. E, portanto, não precisa estar presente aos teus. O pecado é a crença fixa em que a percepção não pode mudar. O que foi condenado está condenado e condenado para sempre, sendo para sempre imperdoável. Se, então, ele for perdoado, a percepção do pecado não pode deixar de ter sido errada. E assim a mudança se faz possível. O Espírito Santo, também, vê o que Ele vê como algo que está muito além da possibilidade de mudança. Mas na Sua visão o pecado não pode se intrometer, pois o pecado foi corrigido pelo que Ele vê. E assim ele não pode deixar de ter sido um erro, não um pecado. Pois o que ele clamava que nunca poderia ter havido, houve. O pecado é atacado pela punição e assim é preservado. Mas perdoá-lo é mudar a sua condição de erro para a verdade.

9. O Filho de Deus nunca poderia pecar, mas pode desejar o que iria feri-lo. E tem o poder de pensar que pode ser ferido. O que isso poderia ser senão uma percepção equivocada de si mesmo? Isso é um pecado ou um equívoco, perdoável ou não? Ele necessita de ajuda ou condenação? O teu propósito é que ele seja salvo ou condenado? Sem te esqueceres de que o que ele é para ti fará com que essa escolha seja o teu futuro. Pois tu a fazes agora, no instante em que todo o tempo vem a ser um meio para alcançar uma meta. Faze, então, a tua escolha. Mas reconhece que nessa escolha o propósito do mundo que vês é escolhido e será justificado.


IV. A luz que trazes contigo

1. As mentes que estão unidas e reconhecem isso não podem sentir culpa. Pois não podem atacar e regozijam-se de que seja assim, vendo sua segurança nesse fato feliz. A sua alegria está na inocência que vêem. E assim elas a buscam, porque é seu propósito contemplá-la e regozijarem-se. Todos buscam aquilo que lhes trará alegria conforme a definem. Não é o objetivo, como tal, que varia. Mas é a forma como o objetivo é visto que faz com que a escolha dos meios seja inevitável e esses estão além da esperança de serem mudados a não ser que o objetivo seja mudado. E então os meios são escolhidos mais uma vez, na medida em que o que vai trazer o regozijo é definido de outro modo e buscado de maneira diferente.

2. A lei básica da percepção poderia então ser formulada assim: “Vais te regozijar com o que vês, porque o vês para te regozijares.” E enquanto pensas que o sofrimento e o pecado vão te trazer alegria, eles lá estarão para que tu os vejas. Nada te causa dano ou é benéfico à parte do que tu desejas. É o teu desejo que faz com que uma coisa seja o que ela é nos seus efeitos sobre ti. É assim porque a escolhes como um meio de obter esses mesmos efeitos, acreditando que eles sejam os portadores do regozijo e da alegria. Mesmo no Céu essa lei prevalece. O Filho de Deus cria para trazer alegria a si mesmo compartilhando o propósito do seu Pai em sua própria criação, de tal modo que a sua alegria possa ser aumentada e a de Deus junto com a sua.

3. Tu, fazedor de um mundo que não é assim, recebe descanso e conforto de outro mundo onde habita a paz. Esse mundo trazes contigo a todos os olhos exaustos e corações cansados que olham para o pecado e repetem o seu triste refrão. De ti, pode vir o seu descanso. De ti, pode surgir um mundo que eles se regozijarão em contemplar e onde os seus corações estão contentes. Em ti há uma visão que se estende a todos eles e os cobre de gentileza e de luz. E nesse mundo de luz que se alarga, a escuridão que pensavam lá estar é empurrada para longe, até que não seja nada além de sombras distantes, longe, muito longe, para não mais ser lembrada à medida em que o sol brilha e a apaga no nada. E todos os seus pensamentos “maus”, todas as suas esperanças “pecaminosas”, seus sonhos de culpa e vingança sem misericórdia e todo desejo de ferir, matar e morrer, desaparecerão diante do sol que trazes.

4. Não queres fazer isso por Amor de Deus? E por ti mesmo? Pois pensa no que isso faria para ti. Os teus pensamentos “maus”, que no momento te perseguem, parecerão cada vez mais remotos e distantes de ti. E irão para longe, cada vez mais longe, porque o sol em ti nasceu para que, diante da luz, eles pudessem ser empurrados para longe. Eles pairam por um momento, um momento curto, em formas distorcidas muito distantes para serem identificadas e depois se vão para sempre. E à luz do sol tu permanecerás em quietude, em inocência e totalmente sem medo. E a partir de ti, o resto do que achaste estender-se-á de tal modo que a tua paz nunca possa se desfazer e deixar-te sem lar. Aqueles que oferecem paz a todos acharam uma casa no Céu que o mundo não é capaz de destruir. Pois ela é grande o suficiente para manter o mundo dentro da sua paz.

5. Em ti está todo o Céu. Cada folha que cai ganha vida em ti. Cada pássaro que jamais cantou, cantará de novo em ti. E cada flor que jamais floresceu guardou o seu perfume e a sua beleza para ti. Que ambição pode superar a Vontade de Deus e de Seu Filho de que o Céu seja restaurado para aquele para quem foi criado como seu único lar? Nada antes e nada depois. Nenhum outro lugar, nenhum outro estado ou tempo. Nada além e nada mais perto. Nada mais. Em forma alguma. Nisso tu podes trazer a todo o mundo e a todos os pensamentos que nele entraram e se enganaram por um momento. De que melhor maneira poderiam os teus próprios equívocos serem trazidos à verdade, do que através da tua disponibilidade de trazer a luz do Céu contigo à medida em que caminhas para além do mundo da escuridão rumo à luz?


V. O estado de impecabilidade

1. O estado de impecabilidade é meramente isso: todo o desejo de atacar se foi e assim não há razão para perceber o Filho de Deus diferente do que ele é. A necessidade da culpa se foi por­que ela não tem propósito e não tem significado sem o objetivo do pecado. O ataque e o pecado estão ligados como uma única ilusão, cada um sendo a causa, o objetivo e a justificativa do outro. Cada um deles é sem significado por si só, mas parece tirar um significado do outro. Cada um depende do outro para qual­quer significado que pareça ter. E ninguém poderia acreditar em um a não ser que o outro fosse a verdade, pois cada um atesta que o outro não pode deixar de ser verdadeiro.

2. O ataque faz com que Cristo seja teu inimigo e Deus junto com Ele. Como podes deixar de ter medo com “inimigos” tais como estes? E como podes deixar de ter medo de ti mesmo? Pois feris­te a ti mesmo e fizeste do teu Ser teu “inimigo”. E agora tens que acreditar que tu não és tu, mas algo alheio a ti mesmo, “alguma outra coisa”, “alguma coisa” a ser temida em vez de amada. Quem iria atacar qualquer coisa que percebesse como totalmente inocente? E quem, porque deseja atacar, pode deixar de pensar que tem que ser culpado para manter o desejo, enquanto quer a inocência? Pois quem poderia ver o Filho de Deus como um ser inocente e desejar a sua morte? Cristo está diante de ti a cada vez que olhas para o teu irmão. Ele não foi embora porque os teus olhos estão fechados. Mas o que há para ver quando buscas o teu Salvador vendo-O através de olhos que não vêem?

3. Não é Cristo que vês olhando assim. E o “inimigo”, confundido com Cristo, que contemplas. E odeias, porque não existe nenhum pecado nele para que vejas. Nem ouves o seu chamado lamentoso, imutável em conteúdo, qualquer que seja a forma na qual esse chamado é feito, para que te reúnas com ele e te unas a ele em inocência e paz. E no entanto, por trás dos gritos sem sentido do ego, tal é o chamado que Deus deu a ele para que pudesses ouvir nele o Chamado de Deus a ti e responder devolvendo a Deus o que é de Deus.

4. O Filho de Deus te pede apenas isso: que tu lhe devolvas o que é devido a ele, para que possas compartilhá-lo com ele. Sozinho, nenhum dos dois o tem. Assim não pode deixar de permanecer sendo inútil para ambos. Juntos, isso dará igualmente a cada um força para salvar o outro e salvar a si mesmo junto com o outro. Perdoado por ti, o teu salvador te oferece a salvação. Condenado por ti, ele te oferece à morte. Em cada um apenas vês o reflexo do que escolhes que ele seja para ti. Se te decides contra a função que lhe é própria, a única que ele tem na verdade, estás privando-o de toda a alegria que ele teria achado se cumprisse o papel que Deus lhe deu. Mas não penses que o Céu fica perdido apenas para ele. Nem é possível recuperares o Céu a não ser que o caminho seja mostrado a ele através de ti, para que possas achá-lo caminhando ao seu lado.

5. Não é um sacrifício que ele seja salvo, pois através da sua liberdade ganhas a tua própria. Permitir que a sua função seja cumprida não é senão o meio de permitir que a tua também o seja. E assim caminhas rumo ao inferno ou rumo ao Céu, mas não sozinho. Como será bela a sua impecabilidade quando a perceberes! E como será grande a tua alegria, quando ele estiver livre para te oferecer a dádiva da visão que Deus lhe deu para ti! Ele não tem necessidade alguma senão essa: que permitas que ele tenha liberdade para completar a tarefa que Deus lhe deu. Lembrando-te apenas disso: que o que ele faz, tu fazes junto com ele. E do modo como o vês, assim defines a função que ele terá para ti até que o vejas de maneira diferente e deixes que ele seja o que Deus designou que fosse para ti.

6. Contra o ódio que o Filho de Deus pode acalentar contra si mesmo, acredita-se que Deus é impotente para salvar o que Ele criou da dor do inferno. Mas no amor que ele demonstra por si mesmo, Deus é libertado para deixar que a Sua Vontade seja feita. No teu irmão, tu vês a imagem do que acreditas que tem que ser a Vontade de Deus para ti. No teu perdão, compreenderás o Seu Amor por ti; através do teu ataque, acreditarás que Ele te odeia, pensando que o Céu tem que ser o inferno. Olha mais uma vez para o teu irmão, não sem a compreensão de que ele é o caminho para o Céu ou para o inferno, conforme tu o percebes. Mas não te esqueças disso: o papel que dás a ele é dado a ti e caminharás pelo caminho que apontaste a ele, porque esse é o teu julgamento a respeito de ti mesmo.


VI. A função especial

1. A graça de Deus descansa gentilmente em olhos que perdoam e todas as coisas para as quais eles olham falam de Deus a quem as contempla. Ele é incapaz de ver qualquer mal; nada há no mundo para ser temido e pessoa alguma é diferente dele. E as­sim como ele as ama, do mesmo modo olha para si mesmo com amor e gentileza. Ele não condenaria a si mesmo por seus equívocos assim como não quer amaldiçoar um outro. Não é um árbitro da vingança, nem alguém que puni pecados. A benignidade do seu modo de ver repousa nele mesmo com toda a ternura que oferece aos outros. Pois ele quer apenas curar e abençoar. E estando de acordo com o que Deus quer, tem o poder de curar e de abençoar todos aqueles que ele contempla com a graça de Deus sobre tudo o que vê.

2. Os olhos se habituam à escuridão e a luz brilhante do dia pare­ce dolorosa a olhos há tanto tempo acostumados com os efeitos vagos percebidos no crepúsculo. E afastam-se da luz do sol e da claridade que ela traz para aquilo que olham. A penumbra pare­ce ser melhor, mais fácil de ser vista e melhor reconhecida. De algum modo, o vago e o mais obscuro parecem mais fáceis de se olhar, menos dolorosos para os olhos do que o que é totalmente claro e sem ambigüidade. No entanto, não é para isso que servem os olhos e quem pode dizer que prefere a escuridão e afirmar que quer ver?

3. O desejo de ver chama a graça de Deus sobre os teus olhos e traz a dádiva da luz que torna a vista possível. Queres contemplar o teu irmão? Deus está contente por olhares para ele. Não é a Sua Vontade que o teu salvador não seja reconhecido por ti. Nem é Sua Vontade que o teu salvador fique sem a função que Deus lhe deu. Não deixes mais que ele seja solitário, pois solitários são aqueles que não vêem no mundo nenhuma função que possam cumprir, nenhum lugar onde sejam necessários e nenhum objetivo que só eles possam cumprir perfeitamente.

4. Tal é a benigna percepção do Espírito Santo do especialismo, o uso que Ele faz do que tu fizeste para curar ao invés de ferir. A cada um Ele dá uma função especial na salvação que só ele pode desempenhar, um papel somente dele. Nem o plano se completa enquanto ele não encontra a sua função especial e não cumpre a parte que lhe é atribuída para fazer com que ele mesmo seja completo dentro de um mundo onde reina a incompleteza.

5. Aqui, onde as leis de Deus não prevalecem de forma perfeita, ainda assim ele pode fazer uma coisa perfeita e uma escolha per­feita. E através deste ato de perfeita fé em alguém percebido como diferente de si mesmo, ele aprende que a dádiva foi dada a ele e, portanto, os dois têm que ser um só. O perdão é a única função que tem significado no tempo. E o meio que o Espírito Santo usa para traduzir o especialismo, de pecado em salvação. O perdão é para todos. Mas quando ele está em todos, está completo e todas as funções desse mundo estão completas com ele. Então, o tempo não mais existe. Entretanto, enquanto ainda se está no tempo, há muito a se fazer. E cada um tem que fazer o que lhe cabe, pois todo o plano depende da parte de cada um. Cada um tem uma parte especial no tempo, pois escolheu assim e, escolhendo assim, ele a fez para si mesmo. O seu desejo não foi negado, mas mudado em sua forma, de modo que pudesse servir ao seu irmão e a ele próprio e assim vir a ser um meio de salvar em vez de perder.

6. A salvação não é mais do que um lembrete de que esse mundo não é a tua casa. As leis que o regem não te são impostas, os seus valores não são os teus. E nada do que pensas ver nele está realmente presente de forma alguma. Isso é visto e compreendido quando cada um faz a sua parte em seu desfazer, assim como tomou parte em fazê-lo. Ele tem os meios para ambas as coisas, como sempre teve. O especialismo que ele escolheu para feri-lo Deus designou que fosse o meio da sua salvação, a partir do mesmo instante em que a escolha foi feita. Do seu pecado especial foi feita a sua graça especial. Seu ódio especial veio a ser seu amor especial.

7. O Espírito Santo necessita da tua função especial para que a Sua possa ser cumprida. Não penses que te falta um valor especial aqui. Tu o quiseste e ele te foi dado. Tudo o que fizeste pode facilmente servir bem à salvação. O Filho de Deus não é capaz de fazer nenhuma escolha que o Espírito Santo não possa empregar a seu favor e não contra ele. Só na escuridão é que o teu especialismo parece ser ataque. Na luz, tu o vês como a tua função especial no plano para salvar o Filho de Deus de todo ataque e deixar que ele compreenda que está a salvo, como sempre esteve e sempre estará tanto no tempo quanto na eternidade. Essa é a função que te é dada para o teu irmão. Toma-a gentilmente, então, das mãos do teu irmão e permite que a salvação seja perfeitamente cumprida em ti. Faze essa única coisa, para que todas as coisas te sejam dadas.


VII. A rocha da salvação

1. Entretanto, se o Espírito Santo é capaz de comutar cada sentença que impuseste a ti mesmo em uma bênção, nesse caso, isso não pode ser pecado. O pecado é a única coisa em todo o mundo que não pode mudar. Ele é imutável. E da sua imutabilidade depende o mundo. A mágica do mundo é capaz de aparentar esconder dos pecadores a dor do pecado e de iludir com brilho e lábia. No entanto, todos sabem que o salário do pecado é a morte. E assim é. Pois o pecado é um pedido de morte, um desejo de tornar a fundação desse mundo tão certa quanto o amor, confiável como o Céu e forte como o próprio Deus. O mundo está a salvo do amor para todos aqueles que pensam que o pecado é possível. Nem isso vai mudar. No entanto, é possível que o que Deus não criou compartilhe os atributos da Sua criação, quando se opõe a ela em todos os aspectos?

2. Não é possível que o desejo que os “pecadores” têm da morte seja tão forte quanto a Vontade de Deus pela vida. E nem é possível que a base de um mundo que Ele não fez seja firme e segura como o Céu. Como poderia ser que o inferno e o Céu fossem o mesmo? E é possível que o que não é a Vontade de Deus não possa ser mudado? O que é imutável além da Sua Vontade? E o que pode compartilhar os seus atributos exceto ela mesma? Que desejo pode se colocar contra a Sua Vontade e ser imutável? Se pudesses te dar conta de que nada é imutável a não ser a Vontade de Deus, esse curso não seria difícil para ti. Pois é isso que não acreditas. No entanto, nada mais há em que possas acreditar, se apenas olhasses para o que isso realmente é.

3. Vamos voltar ao que dissemos anteriormente e pensar nisso com mais cuidado. Necessariamente ou Deus é louco ou esse mundo é um lugar de loucura. Nenhum dos Seus Pensamentos faz sentido algum dentro desse mundo. E nada daquilo que o mundo acredita que é verdadeiro tem qualquer significado na Sua Mente. O que não faz sentido e não tem significado é insanidade. E o que é loucura não pode ser a verdade. Se uma só crença profundamente valorizada aqui fosse verdadeira, então, qualquer Pensamento que Deus jamais teve seria uma ilusão. E se apenas um dos Seus Pensamentos é verdadeiro, então todas as crenças às quais o mundo dá qualquer significado são falsas e não fazem qualquer sentido. Essa é a escolha que fazes. Não tentes vê-la de modo diferente, nem distorcê-la em algo que ela não é. Pois só essa é a decisão que podes tomar. O resto depende de Deus e não de ti.

4. Justificar um só valor que o mundo mantenha é negar a sanidade do teu Pai e a tua. Pois Deus e o Seu Filho amado não pensam de modo diferente. E é a concordância do seu pensa­mento que faz do Filho um co-criador com a Mente Cujo Pensa­mento o criou. Assim, se ele escolhe acreditar em um único pensamento oposto à verdade, decidiu que não é o Filho de seu Pai, porque o Filho é louco e a sanidade tem que estar à parte tanto do Pai quanto do Filho. Nisso tu acreditas. Não penses que essa crença depende da forma que ela tome. Quem acha que o mundo é são sob qualquer aspecto, que ele tem justificativa para qualquer coisa que pense ou é mantido por qualquer forma de razão, acredita que isso é verdadeiro. O pecado não é real porque o Pai e o Filho não são insanos. Esse mundo não tem significado porque se baseia no pecado. Quem poderia criar o imutável se não se baseia na verdade?

5. O Espírito Santo tem o poder de mudar todo o fundamento do mundo que vês em outra coisa: uma base não insana, na qual pode basear-se uma percepção sã e um outro mundo pode ser percebido. E um mundo no qual não se contradiz nada que queira conduzir o Filho de Deus à sanidade e à alegria. Nada atesta a morte e a crueldade, a separação e a diferença. Pois aqui tudo é percebido como um só e ninguém perde para que cada um possa ganhar.

6. Testa tudo aquilo em que acreditas diante deste único requisito e compreende que todas as coisas que satisfazem a essa exigência são dignas da tua fé. Mas nenhuma outra coisa pode ser. O que não é amor, é pecado e cada um dos dois percebe o outro como insano e sem significado. O amor é a base de um mundo percebi­do como totalmente louco para os pecadores, que acreditam que o seu é o caminho para a sanidade. Mas o pecado é igualmente insano do ponto de vista do amor, cujos olhos gentis querem olhar para o que está além da loucura e descansam pacificamente na verdade. Cada um vê um mundo imutável, assim como cada um define a verdade imutável e eterna do que tu és. E cada um reflete um modo de ver acerca do que o Pai e o Filho têm que ser para fazer com que esse ponto de vista seja significativo e são.

7. A tua função especial é a forma especial na qual o fato de que Deus não é insano parece mais sensato e significativo para ti. O conteúdo é o mesmo. A forma se adapta às tuas necessidades especiais e ao tempo e ao local especial no qual pensas que te encontras e onde podes estar livre do tempo e do espaço e de tudo o que acreditas que não pode deixar de limitar-te. O Filho de Deus não pode estar preso pelo tempo nem pelo espaço, nem por coisa alguma que não seja a Vontade de Deus. Entretanto, se a Sua Vontade é vista como loucura, então a forma de sanidade que faz com que ela seja mais aceitável para aqueles que são insanos requer uma escolha especial. Também não é possível que essa escolha seja feita pelos insanos, cujo problema é o fato de suas escolhas não serem livres e feitas com razão à luz do que tem sentido.

8. Seria loucura confiar a salvação aos insanos. Porque Deus não é louco, Ele designou Alguém tão são quanto Ele para fazer surgir um mundo mais são para se encontrar com o modo de ver de todo aquele que escolheu a insanidade como sua salvação. A esse Alguém é dada a escolha da forma mais adequada a ele, uma forma que não ataque o mundo que vê, mas penetre nesse mundo em quietude e lhe mostre que ele é louco. Esse Alguém apenas aponta para uma alternativa, uma outra maneira de olhar para o que ele já viu antes e reconhece como o mundo no qual vive e que antes pensava compreender.

9. Agora ele tem que questionar isso, pois a forma da alternativa é tal que ele não pode negá-la, nem deixar de ver, nem falhar completamente em perceber. Para cada um a sua função especial é programada de maneira tal que seja percebida como sendo possível e cada vez mais desejável, à medida em que lhe prova que é uma alternativa que ele realmente quer. Dessa posição, a presença do pecado nele e todo o pecado que ele vê no mundo lhe oferecem cada vez menos. Essa situação continua até que venha a compreender que isso lhe custa a sua sanidade e que isso se interpõe entre ele e qualquer esperança que possa ter de ser são. Ele também não é deixado sem um modo de escapar da loucura, pois tem uma parte especial no escape de todos. Ele já não pode ser deixado de fora, sem uma função especial na esperança da paz, assim como o Pai não pode deixar de ver Seu Filho e passar por ele descuidadamente sem um só pensamento para com ele.

10. O que é confiável, senão o Amor de Deus? E onde habita a sanidade senão Nele? Aquele Que fala por Ele pode te mostrar isso na alternativa que Ele escolheu especialmente para ti. E a Vontade de Deus que tu te lembres disso e assim te ergas do luto mais profundo para a alegria perfeita. Aceita a função que te foi atribuída no plano do próprio Deus para mostrar ao Seu Filho que o inferno e o Céu são diferentes, não o mesmo. E que no Céu, todos Eles são o mesmo, sem as diferenças que fariam do Céu um inferno e do inferno um céu, se tal insanidade tivesse sido possível.

11. Toda a crença segundo a qual é possível que alguém perca o que quer que seja simplesmente reflete a doutrina subjacente segundo a qual Deus tem que ser insano. Pois nesse mundo parece que alguém tem que ganhar porque outro perdeu. Se isso fosse verdadeiro, Deus seria louco de fato! Mas o que é essa crença além de uma forma da doutrina mais básica: “O pecado é real e reina no mundo?” Por cada pequeno ganho, alguém tem que perder e pagar uma soma exata em sangue e sofrimento. Pois de outra forma, o mal triunfaria e a destruição seria o preço total de qualquer ganho que fosse. Tu, que acreditas que Deus é louco, olha para isso com atenção e compreende que um dos dois tem que ser insano, ou isso ou Deus, mas dificilmente ambos.

12. A salvação é o renascimento da idéia de que ninguém pode perder nada para que outro ganhe. E todos têm que ganhar, se qualquer um ganha qualquer coisa. Aqui a sanidade é restaura­da. E nesta única rocha da verdade pode a fé na sanidade eterna de Deus descansar em perfeita confiança e em perfeita paz. A razão está satisfeita, pois todas as crenças insanas podem ser corrigidas aqui. E o pecado tem que ser impossível, se isso é verdadeiro. Essa é a rocha na qual a salvação se baseia, o ponto privilegiado a partir do qual o Espírito Santo dá significado e direção ao plano no qual a tua função especial tem um papel. Pois aqui a tua função especial se torna íntegra, porque ela compartilha a função do todo.

13. Lembra-te que toda tentação não passa disso: uma crença louca segundo a qual a insanidade de Deus faria com que fosses são e te daria o que queres; uma crença louca segundo a qual ou Deus ou tu, um dos dois teria que perder para a loucura, porque os vossos objetivos não podem ser conciliados. A morte exige a vida, mas a vida não é mantida a nenhum custo. Ninguém pode sofrer para que a Vontade de Deus seja cumprida. A salvação é a Sua Vontade, porque tu a compartilhas. Não só para ti, mas para o Ser Que é o Filho de Deus. Ele não pode perder, pois se pudesse, a perda seria de seu Pai e Nele nenhuma perda é possível. E isso é são porque é a verdade.


VIII. A justiça devolvida ao amor

1. O Espírito Santo pode usar tudo o que dás a Ele para a tua salvação. Mas Ele não pode usar aquilo que reténs, porque não pode tomá-lo de ti sem a tua disponibilidade para isso. Pois se Ele o fizesse, acreditarias que Ele o arrancou de ti contra a tua vontade. E assim não aprenderias que é tua vontade ficar sem isso. Não precisas dar isso a Ele com disponibilidade total, pois se pudesses fazê-lo, não terias nenhuma necessidade Dele. Mas disso Ele necessita: que prefiras que Ele tire isso de ti do que guardá-lo só para ti, reconhecendo que não queres conhecer aquilo que traz perda a qualquer pessoa. E necessário acrescentar apenas isso à idéia de que ninguém pode perder para que tu ganhes. E nada mais.

2. Aqui está o único princípio de que necessita a salvação. Também não é necessário que a tua fé nisso seja forte, inquebrantável e inatacável por qualquer crença que se oponha a ele. As tuas alianças não são fixas. Mas lembra-te que a salvação não é necessária para os que estão salvos. Não te é pedido que faças o que uma pessoa ainda dividida contra si mesma acharia impossível. Não tenhas fé em que se possa achar sabedoria em tal estado mental. Mas sê grato porque apenas te é pedido um pouco de fé. O que, além de um pouco de fé, resta para aqueles que ainda acreditam no pecado? O que poderiam eles saber acerca do Céu e da justiça dos que estão salvos?

3. Existe uma espécie de justiça na salvação a respeito da qual o mundo nada conhece. Para o mundo, justiça e vingança são a mesma coisa, pois os pecadores só vêem a justiça como seu castigo, talvez suportado por uma outra pessoa, mas nunca é possível escapar. As leis do pecado exigem uma vítima. Quem será, faz pouca diferença. Mas a morte tem que ser o custo e tem que ser pago. Isso não é justiça, mas insanidade. No entanto, como poderia a justiça ser definida sem insanidade onde o amor significa ódio e a morte é vista como uma vitória e um triunfo sobre a eternidade, a intemporalidade e a vida?

4. Tu, que não conheces a justiça, podes ainda perguntar e aprender a resposta. A justiça olha para todos do mesmo modo. Não é justo que falte a alguém o que outro tem. Pois isso é vingança, qualquer que seja a forma que tome. A justiça não exige nenhum sacrifício, posto que todo o sacrifício é feito para que o pecado seja preservado e mantido. E um pagamento oferecido pelo custo do pecado, mas não o custo total. O restante é tomado de outro, para ser depositado ao lado do teu pequeno pagamento, para “expiar” tudo o que queres manter e não entregar. Assim a vítima é vista como sendo em parte tu, com um outro arcando com uma parte muito maior. E no custo total, quanto maior a parte dele, menor a tua. E a justiça, sendo cega, fica satisfeita por ser paga, pouco importa por quem.

5. É possível que isso seja justiça? Deus nada sabe a respeito disso. Mas a justiça Ele conhece e conhece bem. Pois Ele é totalmente justo para com todas as pessoas. A vingança é alheia à Mente de Deus porque Ele conhece a justiça. Ser justo é ser capaz de eqüidade, não sendo vingativo. Eqüidade e vingança são impossíveis, pois cada uma contradiz a outra e nega que ela seja real. É impossível para ti compartilhar a justiça do Espírito Santo com uma mente que é capaz de conceber qualquer especialismo. Entretanto, como pode Ele ser justo se condena um pecador pelos crimes que ele não cometeu, mas pensa que cometeu? E onde estaria a justiça se Ele exigisse daqueles, que estão obcecados com a idéia do castigo, que a pusessem de lado sem ajuda e percebes­sem que ela não é verdadeira?

6. É extremamente difícil para aqueles que ainda acreditam no pecado como algo significativo compreender a justiça do Espírito Santo. Eles têm que acreditar que o Espírito Santo compartilha a sua própria confusão e não pode evitar a vingança que a sua própria crença na justiça tem que acarretar. E assim têm medo do Espírito Santo e percebem Nele a “ira” de Deus. Nem sequer podem confiar que Ele não os trespassará, matando-os com relâmpagos de luz arrancados do “fogo” do Céu pela própria Mão furiosa de Deus. Eles, de fato, acreditam que o Céu é o inferno e têm medo do amor. E uma suspeita profunda e o frio tremor do medo caem sobre eles quando lhes é dito que nunca pecaram. O seu mundo depende da estabilidade do pecado. E percebem a “ameaça” daquilo que Deus conhece como justiça como algo mais destrutivo para si mesmos e para o seu mundo do que a vingança, a qual compreendem e amam.

7. Assim pensam que a perda do pecado é uma maldição. E fogem do Espírito Santo como se Ele fosse um mensageiro do inferno, enviado do alto, na traição e na lábia, para trabalhar na vingança de Deus sobre eles, disfarçado de libertador e amigo. O que poderia Ele ser para eles senão um demônio, vestido com a capa de um anjo com o objetivo de enganá-los? E que saída Ele lhes oferece senão uma porta para o inferno com a aparência da porta do Céu?

8. Apesar disso, a justiça não pode punir aqueles que pedem punição, pois têm um Juiz Que tem o conhecimento de que eles são completamente inocentes na verdade. Na justiça, Ele se limita a libertá-los e a dar-lhes toda a honra que merecem e têm negado a si próprios porque não são capazes de eqüidade e não podem compreender que são inocentes. O amor não é compreensível para os pecadores porque pensam que a justiça está fora do amor e representa alguma outra coisa. Assim é o amor percebido como fraco e a vingança forte. Pois o amor perdeu quando o julgamento deixou de estar a seu lado e é fraco demais para salvar da punição. Mas a vingança sem amor ganhou em força por estar separada e à parte do amor. E o que além da vingança pode agora salvar e ajudar, enquanto o amor se deixa ficar debilmente de lado, com mãos impotentes, destituído de justiça e vitalidade e sem poder para salvar?

9. O que pode o Amor pedir a ti, que pensas que tudo isso é verdadeiro? Poderia Ele, na justiça e no amor, acreditar que na tua confusão tens muito para dar? Não te é pedido que confies muito Nele. Não mais do que aquilo que vês que Ele te oferece e reconheces que não poderias dar a ti mesmo. Na justiça própria de Deus, Ele de fato reconhece tudo o que mereces, mas da mesma forma compreende que não és capaz de aceitá-lo para ti mesmo. É a Sua função especial te oferecer as dádivas que os inocentes merecem. E cada uma que aceitas traz alegria a Ele assim como a ti. Ele sabe que o Céu fica mais rico com cada uma que aceitas. E Deus se regozija à medida que o Seu Filho recebe aquilo que a justiça amorosa sabe que é devido a ele. Pois o amor e a justiça não são diferentes. Como eles são o mesmo, a misericórdia está à Mão direita de Deus e dá ao Filho de Deus o poder de perdoar a si próprio por todo pecado.

10. Dele, que merece todas as coisas, como pode ser possível que algo seja omitido? Pois isso, de fato, seria injustiça, falta de eqüidade para com toda a santidade que existe nele, por mais que ele não a reconheça. Deus não conhece nenhuma injustiça. Ele não iria permitir que Seu Filho fosse julgado por aqueles que buscam a sua morte e que não podem ver o seu valor de jeito nenhum. Que testemunhas honestas poderiam eles chamar para falar em seu favor? E quem viria para apelar a favor dele, ao invés de contra a sua vida? Nenhuma justiça seria dada a ele por ti. Entretanto, Deus garantiu que a justiça fosse feita ao Filho que Ele ama e quer protegê-lo de toda iniqüidade que possas buscar para oferecer-lhe, acreditando que é a vingança que lhe é propriamente devida.

11. Como o especialismo não se importa com quem paga o custo do pecado, desde que ele seja pago, assim também o Espírito Santo não se preocupa com quem olha para a inocência por último, desde que ela seja vista e reconhecida. 2pois apenas uma testemunha é suficiente, se ela vir verdadeiramente. A simples justiça não pede mais do que isso. A cada um o Espírito Santo pergunta se ele quer ser essa testemunha de modo que a justiça possa retornar ao amor e lá ser satisfeita. Cada função especial que Ele atribui não tem senão essa finalidade: que cada um aprenda que amor e justiça não são separados. E ambos são fortalecidos por sua união um com o outro. Sem amor, a justiça fica preconceituosa e fraca. E amor sem justiça é impossível. Pois o amor é justo e não pode punir sem causa. Que causa pode dar legalidade a um ataque sobre os inocentes? Na justiça, então, o amor corrige equívocos, mas não na vingança. Pois isso seria injusto para com a inocência.

12. Tu podes ser uma testemunha perfeita do poder do amor e da justiça, se compreenderes que é impossível que o Filho de Deus possa merecer vingança. Não é necessário que percebas, em cada circunstância, que isso é verdadeiro. Nem é preciso que olhes para a tua experiência no mundo, que não passa de uma sombra de tudo o que realmente está acontecendo dentro de ti mesmo. A compreensão que necessitas não vem de ti, mas de um Ser maior, tão grande e tão santo que Ele não poderia duvidar da Sua inocência. A tua função especial é um chamado a Ele, para que Ele possa sorrir para ti, cuja impecabilidade Ele compartilha. A Sua compreensão será tua. E assim a função especial do Espírito Santo foi cumprida. O Filho de Deus achou uma testemunha para a sua impecabilidade e não para os seus pecados. Como é pouco o que precisas dar ao Espírito Santo para que a simples justiça possa ser feita para contigo.

13. Sem imparcialidade não existe justiça. Como pode o especialismo ser justo? Não julgues porque não podes fazê-lo e não porque também és um miserável pecador. Como é possível que aquele que é especial realmente compreenda que a justiça é a mesma para todos? Tirar de um para dar a outro tem que ser uma injustiça para os dois, já que são iguais do ponto de vista do Espírito Santo. O Seu Pai deu a mesma herança para ambos. Quem quer ter mais ou menos não tem consciência de que tem tudo. Não serve de juiz do que tem que ser devido ao outro, porque pensa que ele próprio é destituído. E assim, necessariamente, ele é invejoso e tenta tirar daquele a quem julga. Ele não é imparcial e não pode ver com eqüidade os direitos do outro, porque os seus próprios foram obscurecidos para ele.

14. Tu tens direito a todo o universo: à paz perfeita, à libertação completa de todos os efeitos do pecado e à vida eterna, alegre e completa em todos os aspectos conforme Deus designou para o Seu Filho santo. Essa é a única justiça que o Céu conhece e tudo o que o Espírito Santo traz à terra. A tua função especial nada te mostra além de que a perfeita justiça pode prevalecer para ti. E estás a salvo da vingança em todas as formas. O mundo engana, mas não é capaz de substituir a justiça de Deus por uma versão própria. Pois só o amor é justo e pode perceber o que a justiça tem que dar ao Filho de Deus. Deixa que o amor decida e nunca temas que tu, na tua falta de eqüidade, vá privar a ti mesmo do que a justiça de Deus reservou para ti.


IX. A justiça do Céu

1. O que pode ser além de arrogância pensar que os teus peque­nos erros não podem ser desfeitos pela justiça do Céu? E o que pode significar isso, senão que eles são pecados e não equívocos, para sempre incorrigíveis e que devem ser enfrentados com vingança e não com justiça? Estás disposto a ser liberado de todos os efeitos do pecado? Não podes responder a isso enquanto não vês tudo o que a resposta acarreta. Pois se respondes “sim”, isso significa que deixarás todos os valores desse mundo em favor da paz do Céu. Nem um único pecado tu reterás. E não valorizarás nenhuma dúvida de que isso seja possível de modo que o pecado seja mantido em seu devido lugar. O que queres dizer é que a verdade agora tem maior valor do que todas as ilusões. E reconheces que a verdade tem que ser revelada a ti, porque não sabes o que é.

2. Dar relutantemente é não ganhar a dádiva, porque estás relutante em aceitá-la. Ela está guardada para ti até que a relutância em recebê-la desapareça e tiveres vontade de que ela te seja dada. A justiça de Deus dá direito à gratidão, não ao medo. Nada do que dás está perdido para ti nem para ninguém, mas é valorizado e preservado no Céu, onde todos os tesouros dados ao Filho de Deus são guardados para ele e oferecidos a qualquer um que apenas estenda a mão, com a disposição de recebê-los. E o tesouro também não diminui à medida em que é dado aos outros. Cada dádiva apenas acrescenta ao estoque. Pois Deus é justo. Ele não luta contra a relutância de Seu Filho em perceber a salvação como uma dádiva Sua. No entanto, a Sua justiça não se satisfará enquanto não for recebida por todos.

3. Estejas certo de que qualquer resposta que o Espírito Santo dê para solucionar qualquer problema sempre será uma resposta na qual ninguém perde. E isso tem que ser verdadeiro, porque Ele não pede nenhum sacrifício de ninguém. Uma resposta que exija a menor perda de qualquer pessoa não resolveu o problema, mas somou-se a ele, aumentando-o, tornando-o mais difícil de resolver e mais injusto. É impossível que o Espírito Santo possa ver a falta de eqüidade como uma solução. Para ele, o que é injusto tem que ser corrigido, porque é injusto. E todo erro é uma percepção na qual alguém, pelo menos um, é visto injustamente. Assim a justiça não é concedida ao Filho de Deus. Quando qualquer um é visto como perdedor, ele foi condenado. E a punição vem a ser o que lhe é devido ao invés da justiça.

4. O que a inocência vê faz com que o castigo seja impossível e a justiça certa. A percepção do Espírito Santo não deixa nenhuma justificativa para o ataque. Somente uma perda poderia justificar o ataque e Ele não pode ver qualquer tipo de perda. O mundo resolve problemas de outra maneira. O mundo vê uma solução como um estado no qual se decide quem irá ganhar e quem irá perder, quanto aquele deverá tomar do outro e quanto o perdedor poderá ainda defender para si mesmo. Entretanto, o problema permanece ainda sem solução, pois só a justiça pode estabelecer um estado no qual não há perdedor, no qual ninguém é tratado sem eqüidade e ninguém é destituído, não tendo, portanto, justificativa para vingança. A solução de problemas não pode ser a vingança, a qual, na melhor das hipóteses, só pode trazer outro problema que será acrescentado ao primeiro, no qual o assassina­to não é óbvio.

5. A solução de problemas própria do Espírito Santo é a maneira na qual o problema termina. Ele foi resolvido porque se encontrou com a justiça. Até que isso se dê, irá ocorrer outra vez por não ter ainda sido solucionado. O princípio segundo o qual a justiça significa que ninguém pode perder é crucial nesse curso. Pois milagres dependem da justiça. Não como ela é vista através dos olhos desse mundo, mas como Deus a conhece, e como conhecimento ela se reflete no modo de ver que é dado pelo Espírito Santo.

6. Ninguém merece perder. E o que seria injusto para qualquer um não pode ocorrer. A cura tem que ser para todos, porque ninguém merece nenhuma espécie de ataque. Que ordem pode existir nos milagres, a não ser que alguém mereça sofrer mais e outro menos? E isso é justiça para com os totalmente inocentes? Um milagre é justiça. Não é uma dádiva especial para alguns, a ser recusada para outros por serem considerados menos dignos, mais condenados e, portanto, à parte da cura. Quem pode ser separado da salvação, se o seu propósito é o fim do especialismo? Onde está a justiça da salvação se alguns erros são imperdoáveis e dão direito à vingança em lugar da cura e do retorno da paz?

7. A salvação não pode buscar ajudar o Filho de Deus a ser mais injusto do que ele buscou ser. Se os milagres, que são a dádiva do Espírito Santo, fossem dados especialmente para um grupo eleito e especial e fossem mantidos à parte de outros menos merecedores, nesse caso, Ele seria um aliado do especialismo. O que o Espírito Santo não pode perceber, Ele não testemunha. E todos têm o mesmo direito à Sua dádiva de cura, libertação e paz. Dar um problema ao Espírito Santo para que Ele o solucione para ti, significa que tu queres que ele seja solucionado. Mantê-lo para ti mesmo para que o resolvas sem a Sua ajuda é decidir que o problema deve continuar sem solução, não-resolvido, perdurando em seu poder de injustiça e ataque. Ninguém pode ser injusto contigo a não ser que, em primeiro lugar, tenhas te decidi­do a ser injusto. E então é preciso que surjam problemas para impedir o teu caminho e a paz tem que ser dispersada pelos ventos do ódio.

8. A não ser que penses que todos os teus irmãos, assim como tu, têm o mesmo direito aos milagres, não reivindicaras teu direito a eles porque foste injusto para com alguém com direitos iguais. Busca negar e te sentirás negado. Busca privar e terás sido privado. Um milagre nunca pode ser recebido porque um outro não pode recebê-lo. Só o perdão oferece milagres. E o perdão tem que ser Justo para com todos

9. Os pequenos problemas que guardas e escondes vêm a ser teus pecados secretos, porque não escolheste deixar que eles fossem removidos para ti. Assim, eles ajuntam pó e crescem até que cubram todas as coisas que percebes e não te deixam ser justo para com ninguém. Não podes acreditar que tenhas qualquer direito. E a amargura, com a vingança justificada e a misericórdia perdida, te condena como indigno do perdão. Os não-perdoados não têm misericórdia para conceder uns aos outros. E por isso que a tua única responsabilidade tem que ser receber o perdão para ti mesmo.

10. O milagre que recebes, tu dás. Cada um vem a ser uma ilustração da lei na qual a salvação se baseia: que a justiça tem que ser feita para todos, se é que se quer que alguém se salve. Ninguém pode perder e todos têm que se beneficiar. Cada milagre é um exemplo do que a justiça pode realizar quando é oferecida a todos de modo igual. Ela é recebida e dada igualmente. E a consciência de que dar e receber são a mesma coisa. Porque ela não faz com que o mesmo não seja igual, não vê diferenças onde elas não existem. E assim é a mesma para todos, porque não vê diferenças entre eles. Seu oferecimento é universal e ela ensina apenas uma mensagem:

O que é de Deus pertence a todos e é devido a todos.