julho 15, 2010

Capítulo 20 - A VISÃO DA SANTIDADE

Capítulo 20 - A VISÃO DA SANTIDADE

I. A semana santa

1. Esse é o domingo de Ramos, a celebração da vitória e a aceita­ção da verdade. Não passemos essa semana santa lamentando a crucificação do Filho de Deus, mas celebrando com felicidade a Sua liberação. Pois a Páscoa é o sinal da paz e não da dor. Um Cristo abatido não tem significado. Mas o Cristo ressuscitado vem a ser o símbolo do perdão do Filho de Deus a si mesmo, o sinal de que ele se considera curado e íntegro.

2. Essa semana começa com ramos e termina com lírios, o sinal branco e santo de que o Filho de Deus é inocente. Não permitas que nenhum sinal escuro de crucificação intervenha entre a jor­nada e o seu propósito, entre a aceitação da verdade e a sua ex­pressão. Essa semana nós celebramos vida, não morte. E nós honramos a perfeita pureza do Filho de Deus e não os seus peca­dos. Oferece ao teu irmão a dádiva de lírios, não a coroa de espinhos, a dádiva do amor e não a ‘dádiva’ do medo. Estás ao lado do teu irmão, os espinhos em uma das mãos e os lírios na outra, incerto quanto ao que vais dar. Une-te agora a mim e joga fora os espinhos oferecendo lírios para substituí-los. Nesta Pás­coa, eu quero ter a dádiva do teu perdão, oferecida a mim por ti e devolvida a ti por mim. Não podemos estar unidos na crucifica­ção e na morte. E nem pode a ressurreição estar completa en­quanto o teu perdão não descansar em Cristo, junto com o meu.

3. Uma semana é um tempo curto e no entanto essa semana santa é o símbolo de toda a jornada empreendida pelo Filho de Deus. Quando ele começou, a promessa da ressurreição e o signo da vitória já haviam sido dados a ele. Não deixes que ele caia na tentação da crucificação e lá se atrase. Ajuda-o a caminhar em paz para além de tudo isso, com a luz da sua própria inocência iluminando o seu caminho para a redenção e a liberação. Não o atrases com espinhos e cravos quando a sua redenção está tão próxima. Mas deixes que a brancura da tua brilhante dádiva de lírios o adiante no caminho para a ressurreição.

4. A Páscoa não é a celebração do custo do pecado, mas do seu fim. Se vislumbrares a face de Cristo por trás do véu, olhando por entre as pétalas brancas como a neve dos lírios que recebeste e deste como dádiva tua, contemplarás a face do teu irmão e a reconhecerás. Eu era um forasteiro e me recolheste sem saber quem era eu. Entretanto, pela tua dádiva de lírios, tu saberás. No teu perdão a esse forasteiro, estranho para ti e no entanto teu Amigo antigo, está a sua liberação e a tua redenção junto com ele. O tempo da Páscoa é um tempo de alegria e não de luto. Olha para o teu Amigo ressuscitado e celebra a sua santidade junto comigo. Pois a Páscoa é o tempo da tua salvação junto com a minha.


II. A dádiva de lírios

1. Olha para todos os adornos feitos para se pendurar pelo corpo, ou para cobri-lo, ou para serem usados por ele. Vê todas as coisas inúteis feitas para que os olhos do corpo as contemplem. Pensa nas muitas oferendas feitas para o prazer do corpo e lembra-te que todas essas coisas foram feitas para fazer parecer belo o que tu odeias. Usarias essa coisa odiada para atrair o teu irmão a ti e para atrair os olhos do seu corpo? Aprende que com isso apenas estás lhe oferecendo uma coroa de espinhos, sem reconhecê-la pelo que ela é, e tentando justificar a tua própria interpretação do valor que ela tem através da sua aceitação. Entretanto, ainda as­sim a dádiva proclama que o teu irmão não tem valor para ti, na medida em que a sua aceitação e a delícia com que ele recebe a tua dádiva são o sinal de que ele próprio se avalia como um ser sem valor.

2. Dádivas não são feitas através de corpos, se elas são verdadei­ramente dadas e recebidas. Pois corpos não podem oferecer nem aceitar; entregar nem tomar. Só a mente pode dar valor e só a mente pode decidir o que quer receber e dar. E cada dádiva que a mente oferece depende do que ela quer. Ela irá adornar a casa que escolheu com o maior cuidado, preparando-a para receber as dádivas que quer, oferecendo-as àqueles que vêm à sua casa pre­ferida ou àqueles que ela quer atrair a essa casa. E lá trocarão suas dádivas, oferecendo e recebendo aquilo que as suas mentes julgam ser digno deles.

3. Cada dádiva é uma avaliação de quem recebe e de quem dá. Ninguém vê a casa que escolheu senão como um altar a si mes­mo. Ninguém busca outra coisa senão atrair a ele os adoradores daquilo que foi colocado sobre ele, fazendo com que seja digno da sua devoção. E cada um fixou uma luz sobre o próprio altar de forma que os outros possam ver o que lá foi depositado e façam com que seja também propriamente deles. Aqui está o valor que dás ao teu irmão e a ti mesmo. Aqui está a tua dádiva a ambos, o teu julgamento sobre o Filho de Deus pelo que ele é. Não te esqueças de que é ao teu salvador que a dádiva é oferecida. Oferece-lhe espinhos e tu és crucificado. Oferece-lhe lírios e é a ti mesmo que libertas.

4. Eu tenho grande necessidade de lírios, pois o Filho de Deus não me perdoou. E posso eu oferecer-lhe perdão quando ele me oferece espinhos? Pois aquele que oferece espinhos a quem quer que seja, ainda está contra mim e quem pode ser íntegro sem ele? Sê tu o seu amigo por mim, de modo que eu possa ser perdoado e que possas olhar para o Filho de Deus como um ser íntegro. Mas, olha primeiro para o altar na casa que tu escolheste e vê o que colocaste sobre ele para oferecer a mim. Se forem espinhos, cujas pontas brilham friamente em uma luz vermelho-sangue, o corpo é a casa que escolheste e é a separação que me ofereces. E apesar disso, os espinhos desapareceram. Olha agora mais de perto para eles e verás que o teu altar já não é mais o que era.

5. Ainda olhas com os olhos do corpo e eles não podem ver senão espinhos. No entanto, pediste e recebeste um outro modo de ver. Aqueles que aceitam o propósito do Espírito Santo como o seu próprio compartilham também a Sua visão. E o que permite ao Espírito Santo ver o Seu propósito brilhar a partir de cada altar, agora é teu tanto quanto Seu. Ele não vê estranhos, só amigos muito amados e amorosos. Ele não vê espinhos, apenas lírios resplandecendo na aura gentil da paz que brilha sobre tudo o que Ele contempla e ama. .

6. Nesta Páscoa, contempla o teu irmão com olhos diferentes. Tu me perdoaste. E apesar disso, eu não posso usar a tua dádiva de lírios enquanto tu não os vires. E nem podes usar o que eu te dei a não ser que o compartilhes. A visão do Espírito Santo não é uma dádiva vã, não é um jogo para divertir-te por algum tempo e ser posto de lado. Escuta e ouve isso com atenção: não penses nela como apenas um sonho, um pensamento leviano para brincares ou um brinquedo que de vez em quando pegas e depois deixas de lado. Pois se fizeres isso, assim será ela para ti.

7. Tens agora visão para olhar todas as ilusões deixando-as para trás. Foi dado a ti não ver espinho algum, estranho algum e nenhum obstáculo para a paz. O medo de Deus não é nada para ti agora. Quem tem medo de olhar para ilusões sabendo que o seu salvador está a seu lado? Com ele, a tua visão veio a ser o maior poder para o desfazer das ilusões que o próprio Deus poderia dar. Pois o que Deus deu ao Espírito Santo, tu recebeste. O Filho de Deus olha para ti esperando a sua liberação. Pois pediste e recebeste a força de olhar para esse obstáculo final e não ver espinhos nem cravos para crucificar o Filho de Deus e coroá-lo rei da morte.

8. A casa que escolheste fica do outro lado, além do véu. Ela foi cuidadosamente preparada para ti e está agora pronta para receber-te. Não a verás com os olhos do corpo. No entanto, tens tudo o que precisas. A tua casa tem chamado por ti desde o início dos tempos e nunca deixaste inteiramente de ouvir. Ouviste, mas não sabias como olhar, nem para onde. E agora sabes. Sem ti está o conhecimento, pronto para ser desvendado e libertado de todo o terror que o manteve oculto. Não existe medo no amor. A canção da Páscoa é o alegre refrão que diz que o Filho de Deus nunca foi crucificado. Vamos elevar os nossos olhos juntos, não com medo, mas com fé. E não haverá medo em nós, pois em nossa visão não haverão ilusões, só um caminho para a porta aberta do Céu, a casa que compartilhamos em quietude e onde vivemos em gentileza e paz como um só, juntos.

9. Não queres que o teu santo irmão te conduza até lá? A sua inocência iluminará o teu caminho, oferecendo-te a luz que guia e a proteção segura e está brilhando a partir do altar santo dentro dele onde tu depositaste os lírios do perdão. Permite que ele seja para ti o salvador de todas as ilusões e olha para ele com a nova visão que olha para os lírios e te traz alegria. Nós vamos além do véu do medo, iluminando o caminho um para o outro. A santidade que nos conduz está dentro de nós assim como a nossa casa. Dessa forma nós acharemos aquilo que temos que achar segundo Aquele Que nos conduz.

10. Esse é o caminho para o Céu e para a paz da Páscoa, no qual nos unimos na consciência feliz de que o Filho de Deus ressurgiu do passado e despertou para o presente. Agora ele está livre, ilimitado em sua comunhão com tudo o que está dentro dele. Agora estão os lírios da sua inocência intocados pela culpa e perfeitamente protegidos do tremor frio do medo assim como da praga do pecado que faz tudo murchar. A tua dádiva o salvou dos espinhos e dos cravos e o seu braço forte está livre para guiar-te com segurança através deles e mais além. Caminha com ele agora em regozijo, pois aquele que salva de todas as ilusões veio para saudar-te e conduzir-te para casa com ele.

11. Aqui está o teu salvador e o teu amigo, liberado da crucificação através da tua visão e livre para conduzir-te agora aonde ele quer estar. Ele não te deixará, nem abandonará aquele que o salvou da dor. E, contentes, tu e teu irmão percorrerão juntos o caminho da inocência, cantando enquanto contemplam a porta aberta do Céu e reconhecem o lar que os chamou. Dá alegremente ao teu irmão a liberdade e a força para te conduzir até lá. E vem para estar diante do seu altar santo, onde a força e a liberdade esperam, para oferecer e receber a brilhante consciência que te conduz ao lar. A lâmpada está acesa em ti para o teu irmão. E pelas mesmas mãos que a deram a ele, tu serás conduzido além do medo até o amor.


III. O pecado como um ajustamento

1. A crença no pecado é um ajustamento. E um ajustamento é uma mudança, uma alteração da percepção ou uma crença segundo a qual o que antes era de um modo, agora foi feito diferente. Todo ajustamento é, portanto, uma distorção e apela para defesas que a mantenham contra a realidade. O conhecimento não requer ajustamentos e, de fato, se perde caso alguma alteração ou mudança seja empreendida. Pois isso o reduz imediatamente a uma mera percepção, a uma forma de olhar na qual se perde a certeza e a dúvida penetra. Nessa condição defeituosa os ajustamentos são necessários, porque ela não é verdadeira. Quem precisa se ajustar à verdade, que só exige de cada um o que ele é para ser compreendida?

2. Os ajustamentos de qualquer espécie são do ego. Pois o ego acredita fixamente que todos os relacionamentos dependem de ajustamentos que fazem deles o que ele quer que sejam. Relacionamentos diretos, nos quais não há interferência, são sempre vistos como perigosos. O ego é o mediador auto-indicado de todos os relacionamentos, fazendo quaisquer ajustamentos que considerar necessários e interpondo-os entre aqueles que querem se encontrar para mantê-los separados e impedir sua união. É essa interferência estudada que faz com que seja difícil para ti reconhecer o teu relacionamento santo pelo que ele é.

3. Os santos não interferem com a verdade. Eles não a temem, pois é na verdade que reconhecem a sua santidade e se alegram com o que vêem. Eles olham para ela diretamente, sem tentar ajustarem-se a ela ou ela a eles. E assim vêem que ela estava neles, sem ter decidido primeiro aonde queriam que ela estivesse. O olhar dos santos simplesmente coloca uma pergunta e é o que vêem que lhes reponde. Tu fizeste o mundo e depois te ajustaste a ele e ele a ti. E nem existe nenhuma diferença entre tu e ele em tua percepção, que fez a ambos.

4. Uma questão simples, entretanto, ainda permanece e necessitada de uma resposta. Gostas do que fizeste? Um mundo de assassinato e ataque, através do qual teces o teu caminho tímido através de perigos constantes, solitário e assustado, esperando que no máximo a morte se demore um pouquinho mais para levar-te e desaparecerás. Tu inventaste isso. É um quadro do que pensas que és; de como vês a ti mesmo. Um assassino é assustado e aqueles que matam têm medo da morte. Tudo isso são apenas os pensamentos amedrontadores daqueles que querem se ajustar a um mundo feito amedrontador pelos seus ajustamentos. E olham para fora com pesar, a partir do que é triste por dentro e lá vêem a tristeza. Não imaginaste alguma vez como é o mundo realmente ou como ele se apresentaria através de olhos felizes? O mundo que vês é apenas um julgamento sobre ti mesmo. Ele absolutamente não existe. No entanto, o julgamento deposita sobre ele uma sentença, o justifica e faz com que ele seja real. Tal é o mundo que vês; um julgamento sobre ti mesmo e feito por ti. Esse retrato doentio de ti mesmo é cuidadosamente preservado pelo ego, é a sua imagem e ele a ama, colocando-a fora de ti no mundo. E a esse mundo tu tens que te ajustar enquanto acreditares que esse retrato está do lado de fora e estás à sua mercê. Esse mundo é sem misericórdia e se estivesse fora de ti, de fato, deverias estar amedrontado. No entanto, foste tu que o fizeste sem misericórdia e, agora, se a ausência de misericórdia parece olhar de volta para ti, ela pode ser corrigida.

6. Quem em um relacionamento santo pode permanecer não-santo por muito tempo? O mundo que os santos vêem é uno com eles, do mesmo modo que o mundo que o ego contempla é como ele. O mundo que os santos vêem é belo porque vêem a própria inocência no mundo. Eles não disseram ao mundo o que ele era; não fizeram ajustamentos para adequá-lo às suas ordens. Eles gentilmente o questionaram e sussurraram: ‘O que és tu?’ E Ele, Que zela por toda a percepção, respondeu. Não tomes o julgamento do mundo como resposta à pergunta: ‘Quem sou eu?’ O mundo acredita no pecado, mas a crença que o fez como tu o vês não está fora de ti.

7. Não busques fazer com que o Filho de Deus se ajuste à sua própria insanidade. Há um estranho nele, que vagando descuida­damente entrou na casa da verdade, e vagando ir-se-á. Ele veio sem um propósito; mas não permanecerá diante da luz resplande­cente que o Espírito Santo ofereceu e que tu aceitaste. Pois lá o estranho fica desabrigado e tu és bem-vindo. Não perguntes a esse estranho transeunte: ‘Quem sou eu?’ Ele é a única coisa em todo o universo que não sabe. No entanto, é a ele que perguntas e é à sua resposta que queres te ajustar. Esse único pensamento selvagem, feroz em sua arrogância e ao mesmo tempo tão diminu­to. e tão sem significado que passa despercebido pelo universo da verdade, vem a ser o teu guia. Tu te voltas para ele para pergun­tar o significado do universo. E à única coisa cega em todo o universo vidente da verdade, perguntas: ‘Como devo eu olhar para o Filho de Deus?’

8. Por acaso alguém pede um julgamento a algo que é totalmente desprovido de julgamento? E se fizeste isso, queres acreditar na resposta e ajustar-te a ela como se fosse a verdade? O mundo para o qual olhas é a resposta que ele te deu e tu lhe deste o poder de ajustar o mundo de forma a fazer com que a sua resposta seja verdadeira. Pediste a esse sopro de loucura o significado do teu relacionamento não-santo e o ajustaste de acordo com a sua resposta insana. Quanto isso vos fez felizes? Tu te encon­traste com teu irmão com alegria para abençoar o Filho de Deus e dar-lhe graças por toda a felicidade que ele vos entregou? Reconhecestes o vosso irmão como a dádiva eterna de Deus para con­vosco? Vistes a santidade que brilhou tanto em ti quanto em teu irmão para que um abençoasse o outro? Esse é o propósito do vosso relacionamento santo. Não peças os meios de atingi-lo à única coisa que ainda quer que ele não seja santo. Não dês a ela nenhum poder para ajustar os meios e o fim.

9. Prisioneiros amarrados a pesadas correntes por anos, famintos e abatidos, fracos e exaustos e com os olhos baixos há tanto tem­po na escuridão que não se lembram da luz, não pulam de alegria no instante em que são libertados. Leva tempo para que com­preendam o que é a liberdade. Tu andaste tateando debilmente na poeira e achaste a mão do teu irmão, incerto quanto a deixá-la ou a assumir o controle da vida, por tanto tempo esquecida. For­talece o teu controle e ergue os olhos para o teu forte companhei­ro, no qual está o significado da tua liberdade. Ele parecia estar crucificado a teu lado. E, no entanto, a sua santidade permanece intocada e perfeita; e com ele a teu lado, entrarás hoje mesmo com ele no Paraíso e conhecerás a paz de Deus.

10. Tal é a minha vontade para ti e para o teu irmão e para cada um em relação ao outro e para si mesmo. Aqui só há santidade e união sem limites. Pois o que é o Céu senão união, direta e perfeita e sem o véu do medo sobre ela? Aqui somos um, olhando com perfeita gentileza um para o outro e para nós mesmos. Aqui todos os pensamentos de qualquer separação entre nós vêm a ser impossíveis. Tu, que eras um prisioneiro na separação, és agora libertado no paraíso. E aqui eu quero me unir a ti, meu amigo, meu irmão e meu Ser.

11. A tua dádiva para o teu irmão deu-me a certeza de que a nossa união será breve. Compartilha, então, dessa fé comigo e sabe que ela é justificada. Não existe medo no amor perfeito porque ele não conhece nenhum pecado e tem que olhar para os outros como para si mesmo. Olhando com a caridade interior o que pode ele temer do exterior? Os inocentes vêem a segurança e os puros de coração vêem a Deus dentro de Seu Filho e olham para o Filho de modo que Ele os conduza ao Pai. E a que outro lugar iriam senão aonde querem estar? Tu e teu irmão agora conduzirão um ao outro ao Pai, com a mesma certeza com que Deus criou santo o Seu Filho e assim o manteve. No teu irmão, está a luz da eterna promessa de Deus da tua imortalidade. Que tu o vejas sem peca­do e não poderá haver medo em ti.


IV. Entrar na arca

1. Nada pode ferir-te a não ser que tu lhe dês o poder de faze-lo. No entanto, tu dás poder assim como as leis desse mundo inter­pretam o dar; ao dar, tu perdes. Não te cabe dar qualquer poder. O poder é de Deus, dado por Ele e redespertado pelo Espírito Santo Que tem o conhecimento de que à medida que dás, tu ga­nhas. Ele não dá nenhum poder ao pecado e, por conseguinte o pecado não tem nenhum, e também não dá qualquer poder a seus resultados conforme esse mundo os vê – doença e morte, miséria e dor. Essas coisas não ocorreram porque o Espírito San­to não as vê e não dá nenhum poder à sua fonte aparente. Assim Ele quer te manter livre delas. Sem nenhuma ilusão a respeito do que tu és, o Espírito Santo meramente dá tudo a Deus, Que já deu e recebeu tudo o que é verdadeiro. O que não é verdadeiro, Ele não recebeu nem deu.

2. O pecado não tem lugar no Céu, onde seus resultados são des­conhecidos e não podem entrar assim como a sua fonte. E nisso está a tua necessidade de ver o teu irmão sem pecado. Nele está o Céu. Ao invés disso, se nele vires o pecado, o Céu está perdido para ti. Mas que o vejas tal como é, e o que é teu brilhará a partir dele para ti. O teu salvador só te dá amor, mas o que queres receber depende de ti. Está nele não ver todos os teus equívocos e nisso está a sua própria salvação. E o mesmo se dá com a tua. A salvação é uma lição em dar, assim como o Espírito Santo a interpreta. É o redespertar das leis de Deus em mentes que estabeleceram outras leis e lhes deram poder para impor aquilo que Deus não criou.

3. As tuas leis insanas foram feitas para garantir que cometesses equívocos e lhes desses poder sobre ti, aceitando os seus resulta­dos como o que te é devido de forma justa. O que isso poderia ser senão loucura? E é isso o que queres ver dentro daquele que vai salvar-te da insanidade? Ele está tão livre disso quanto tu, e na liberdade que vês nele, tu vês a tua própria. Pois isso tu com­partilhas. O que Deus deu segue as Suas leis e apenas as Suas. E nem é possível àqueles que as seguem sofrer com os resultados de qualquer outra fonte.

4. Aqueles que escolhem a liberdade experimentarão apenas os seus resultados. Seu poder é de Deus, e eles o darão apenas àqui­lo que Deus deu, para que seja compartilhado com eles. Nada além disso pode tocá-los, pois é somente isso que vêem, comparti­lhando o seu poder de acordo com a Vontade de Deus. E assim, a sua liberdade é estabelecida e mantida. Ela é mantida através de toda tentação de aprisionar ou de ser aprisionado. É a essas pes­soas, que aprenderam sobre a liberdade, que deves perguntar o que é a liberdade. Não perguntes ao pardal como a águia se eleva aos ares, pois aqueles que têm asas curtas não aceitaram para si mesmos o poder para compartilharem contigo.

5. Aqueles que não têm pecado dão conforme receberam. Vê, então, o poder da impecabilidade dentro do teu irmão e compar­tilha com ele o poder da liberação do pecado que ofereceste a ele. A cada um que caminha sobre essa terra em aparente solidão é dado um salvador, cuja função especial aqui é liberá-lo e, assim, libertar a si mesmo. No mundo da separação, cada um é desig­nado separadamente, embora todos sejam o mesmo. Entretanto, aqueles que têm o conhecimento de que todos são o mesmo, não necessitam de salvação. E cada um acha seu salvador quando está pronto para olhar para a face de Cristo e vê-Lo sem pecado.

6. O plano não vem de ti, nem é necessário que te preocupes com qualquer coisa exceto a parte que te foi dada para aprender. Pois Ele, Que conhece o resto, encarregar-se-á dele sem a tua ajuda. Mas não penses que Ele não precisa da tua parte para ajudar-te com o resto. Pois na tua parte está tudo, sem ela nenhuma parte é completa, nem o todo é completo sem a tua parte. Na arca da paz só entram dois a dois, no entanto, o início de um outro mun­do vai com eles. Cada relacionamento santo tem que entrar aqui para aprender a sua função especial no plano do Espírito Santo, agora que compartilha o Seu propósito. E na medida em que esse propósito é cumprido, um novo mundo se ergue no qual o peca­do não pode entrar, onde o Filho de Deus pode entrar sem medo, e onde ele descansa um pouco para esquecer a prisão e lembrar­-se da liberdade. Como pode ele entrar para descansar e relem­brar sem ti? A não ser que tu estejas lá, ele não está completo. E é da própria completeza que ele se lembra estando lá.

7. Esse é o propósito que vos é dado. Não penseis que o vosso perdão ao vosso irmão só serve para vós. Pois todo o mundo novo descansa nas mãos de cada dois irmãos que aqui entram para descansar. E à medida que descansam, a face de Cristo res­plandece sobre eles e se lembram das leis de Deus, esquecendo-se de todo o resto e ansiando apenas que as Suas leis sejam cumpri­das perfeitamente neles e em todos os seus irmãos. Pensas que quando isso tiver sido realizado descansarás sem eles? Não pode­rias deixar de fora nenhum deles, assim como eu não poderia dei­xar-te e esquecer parte de mim mesmo.

8. Podes perguntar a ti mesmo como podes estar em paz quando, já que estás no tempo, há tanto para ser feito antes que o caminho para a paz esteja aberto. Talvez isso pareça impossível para ti. Mas pergunta a ti mesmo se é possível que Deus tenha um plano para a tua salvação que não funcione. Uma vez que tiveres aceito o Seu plano como a única função que queres cumprir, nada mais haverá que o Espírito Santo não arranje para ti sem o teu esforço. Ele irá diante de ti endireitando as tuas veredas e não deixando em teu caminho nenhuma pedra em que possas tropeçar, nenhum obstáculo para impedir o teu passo. Nada do que necessites te será negado. Nenhuma dificuldade aparente deixará de se desva­necer antes que a alcances. Não precisas pensar em nada, descui­dado de todas as coisas, exceto do único propósito que queres realizar. Como ele te foi dado, assim também será a sua realiza­ção. A garantia de Deus se manterá contra todos os obstáculos, pois ela descansa na certeza e não na contingência. Ela descansa em ti. E o que pode ser mais certo do que um.Filho de Deus?


V. Arautos da eternidade

1. Nesse mundo, o Filho de Deus se aproxima o máximo possível de si mesmo em um relacionamento santo. Lá começa a achar a certeza que o seu Pai tem em relação a ele. E lá acha a sua função de restaurar as leis de seu Pai naquilo que era mantido fora delas e de achar o que estava perdido. Só no tempo é possível que alguma coisa seja perdida e nunca perdida para sempre. Assim as partes do Filho de Deus gradualmente se unem no tempo e, com cada união, o fim do tempo chega mais perto. Cada milagre de união é um poderoso arauto da eternidade. Ninguém que tenha um propósito único, unificado e seguro pode ter medo. Ninguém que compartilhe o seu propósito com ele, pode deixar de ser um com ele.

2. Cada arauto da eternidade canta o fim do pecado e do medo. Cada um fala no tempo do que está muito além do tempo. Duas vozes que se erguem juntas tocam os corações de todos para que possam bater como um só. E nesta batida única do coração está proclamada a unidade do amor e ela é recebida com boas-vindas. Paz ao teu relacionamento santo, que tem o poder de manter a unidade do Filho de Deus. Tu dás ao teu irmão por todos e na tua dádiva todos passam a ser contentes. Não esqueças Quem te deu as dádivas que dás e não te esquecendo disso, vais lembrar Quem deu as dádivas a Ele para que Ele as desse a ti.

3. É impossível superestimar o valor do teu irmão. Só o ego faz isso, mas tudo o que ele quer dizer é que quer o outro para si mesmo e, portanto, o valoriza muito pouco. O que é inestimável com toda a clareza não pode ser avaliado. Reconheces o medo que surge da tentativa sem significado de julgar o que está tão além do teu julgamento que nem sequer és capaz de vê-lo? Não julgues o que é invisível para ti ou nunca o verás, mas espera com paciência pela sua vinda. Será dado a ti ver o valor do teu irmão quando tudo o que quiseres para ele for a paz. E o que queres para ele, tu receberás.

4. Como podes estimar o valor daquele que te oferece a paz? Que irias querer exceto o seu oferecimento? O seu valor foi estabelecido pelo seu Pai e tu o reconhecerás à medida que receberes a dádiva do seu Pai através dele. O que está nele resplandecerá com tanto brilho na tua visão agradecida que simplesmente o amarás e ficarás contente. Não pensarás em julgá-lo, pois quem veria a face de Cristo e ainda assim insistiria que o julgamento tem significado? Pois essa insistência pertence àqueles que não vêem. A tua escolha é a visão ou o julgamento, mas nunca ambos.

5. O corpo do teu irmão tem tão pouca utilidade para ti como para ele. Quando só é usado de acordo com o que o Espírito Santo ensina, ele não tem função. Pois as mentes não necessitam do corpo para se comunicarem. A vista que vê o corpo não tem utilidade nenhuma que sirva ao propósito de um relacionamento santo. E enquanto olhares para o teu irmão assim, os meios e o fim não terão sido alinhados. Por que são necessários tantos instantes santos para permitir que isso seja realizado quando um bastaria? Só há um. O pequeno sopro de eternidade que corre através do tempo como luz dourada é sempre o mesmo; não há nada antes dele, não há nada depois.

6. Tu olhas para cada instante santo como um ponto diferente no tempo. Ele nunca muda. Tudo o que ele jamais conteve e jamais irá conter está aqui exatamente agora. O passado nada toma do instante santo e o futuro nada adicionará. Aqui, então, está tudo. Aqui está a beleza do teu relacionamento, com o meio e fim já em perfeita harmonia. Aqui está a fé perfeita que um dia oferecerás ao teu irmão já oferecida a ti; aqui já foi dado o perdão sem limites que tu darás a ele e a face de Cristo, que ainda contemplarás, também já foi vista.

7. Podes avaliar o doador de uma dádiva como essa? Trocarias essa dádiva por qualquer outra? Essa dádiva faz retornarem as leis de Deus à tua lembrança. E simplesmente lembrando-as, as leis que te mantinham como prisioneiro da dor e da morte têm que ser esquecidas. Essa não é uma dádiva que te é oferecida pelo corpo do teu irmão. O véu que esconde a dádiva também o es­conde. Ele é a dádiva e, no entanto, ele não tem conhecimento disso. Tu também não tens. Contudo, tem fé que Aquele Que vê a dádiva em ti e no teu irmão vai oferecê-la e recebê-la por ambos. E através da Sua visão tu a verás, e através da Sua compreensão tu a reconhecerás e a amarás como algo que é propriamente teu.

8. Sê consolado e sente o Espírito Santo velando por ti com amor e perfeita confiança no que Ele vê. Ele conhece o Filho de Deus e compartilha a certeza do seu Pai de que o universo descansa em suas mãos gentis em segurança e em paz. Vamos levar agora em consideração o que ele precisa aprender para compartilhar a confiança de seu Pai nele. O que é ele, para que o Criador do universo o ofereça a ele e tenha o conhecimento de que tudo descansa em segurança? Ele não olha para si mesmo assim como seu Pai o conhece. E, no entanto, é impossível que a confiança de Deus tenha sido depositada equivocadamente.


VI. O templo do Espírito Santo

1. O significado do Filho de Deus está unicamente em seu relacio­namento com o seu Criador. Se esse significado se encontrasse em qualquer outro lugar, estaria baseado na contingência, mas não nada mais. E esse relacionamento é totalmente amoroso e eterno. Entretanto, o Filho de Deus inventou um relacionamento não-santo entre ele e seu Pai: o seu relacionamento real é um relacionamento de união perfeita e de continuidade ininterrupta. O relacionamento que ele construiu é parcial, auto-centrado, par­tido em fragmentos e cheio de medo. O que foi criado pelo seu Pai é totalmente auto-abrangente e auto-extensivo. O que foi feito por ele é totalmente auto-destrutivo e auto-limitador.

2. Nada é melhor para mostrar o contraste do que a experiência de ambos, de um relacionamento santo e de um relacionamento não-santo. O primeiro baseia-se no amor e descansa nele, sereno e imperturbado. O corpo não interfere. Qualquer relacionamen­to no qual o corpo entre não se baseia no amor, mas na idolatria. O amor deseja ser conhecido, completamente compreendido e compartilhado. Ele não tem segredos, nada que queira manter à parte e esconder. Ele caminha à luz do sol, de olhos abertos e em calma, com um sorriso de boas-vindas e uma sinceridade tão sim­ples e tão óbvia que não pode ser interpretada equivocadamente.

3. Mas ídolos não compartilham. Os ídolos aceitam, mas nunca dão em retomo. Eles podem ser amados, mas não podem amar. Não compreendem aquilo que lhes é oferecido e qualquer rela­cionamento no qual entrem perdeu o seu significado. O amor por eles tornou o amor sem significado. Vivem em segredo, odeiam a luz do sol e ficam felizes na escuridão do corpo, onde podem esconder-se e manter escondidos os seus segredos junto com eles. E não têm relacionamentos, pois ninguém mais, é bem­ vindo ali. Não sorriem para ninguém e não vêem aqueles que sorriem para eles.

4. O amor não tem templos escuros onde mistérios são mantidos na obscuridade e escondidos do sol. Ele não busca poder, mas relacionamentos. O corpo é a arma escolhida pelo ego para bus­car poder através dos relacionamentos. E seus relacionamentos são necessariamente não-santos, pois o que são, ele nem sequer vê. Ele só os quer pelas ofertas através das quais prosperam os seus ídolos. O resto ele simplesmente joga fora, pois tudo o que poderiam lhe oferecer é visto como sem valor. Sem lar, o ego busca tantos corpos quantos puder colecionar para neles colocar os seus ídolos e assim estabelecê-los como templos para si mesmo.

5. O templo do Espírito Santo não é um corpo, mas um relaciona­mento. O corpo é uma mancha isolada feita de escuridão, uma câmara secreta e oculta, um ponto diminuto de mistério sem sen­tido, um invólucro sem significado cuidadosamente protegido, mas que nada esconde. Aqui o relacionamento não-santo escapa à realidade e busca migalhas para manter-se vivo. Ele quer ar­rastar os seus irmãos para cá, mantendo-os aqui em sua própria idolatria. Aqui ele está “a salvo” porque aqui o amor não pode entrar. O Espírito Santo não constrói os seus templos aonde o amor nunca pode estar. Iria Ele, Que vê a face de Cristo, escolher como seu lar o único lugar em todo o universo onde ela não pode ser vista?

6. Não podes fazer do corpo o templo do Espírito Santo e ele nunca será a sede do amor. Ele é o lar do idólatra e da condena­ção do amor. Pois aqui o amor se faz amedrontador e a esperan­ça é abandonada. Mesmo os ídolos que são adorados aqui estão envoltos em mistério e mantidos à parte daqueles que os adoram. Esse é o templo dedicado à negação dos relacionamentos e da reciprocidade. Aqui é o ‘mistério’ da separação percebido no temor e mantido na reverência. O que Deus não quer que seja, aqui é mantido ‘a salvo’ de Deus. Mas o que não reconheces é que aquilo de que tens medo no teu irmão e não queres ver, é o que faz com que Deus pareça amedrontador para ti e continue sendo um desconhecido.

7. Os idólatras sempre terão medo do amor, pois nada os ameaça tão severamente quanto a aproximação do amor. Deixa que o amor se aproxime deles e não vejas o corpo, como o amor certa­mente fará, e recuarão no medo sentindo o fundamento aparente­mente firme de seu templo começar a tremer e ruir. Irmão, tu tremes com eles. No entanto, o que temes não é senão o arauto da liberação. Esse lugar de escuridão não é a tua casa. O teu templo não está ameaçado. Lá não és mais um idólatra. O pro­pósito do Espírito Santo está seguro no teu relacionamento e não no teu corpo. Tu escapaste do corpo. Onde estás, o corpo não pode entrar, pois o Espírito Santo lá estabeleceu o Seu templo.

8. Não há ordem alguma nos relacionamentos. São ou não são. Um relacionamento não-santo não é um relacionamento. É um estado de isolamento que parece ser o que não é. Nada mais do que isso. No instante em que a idéia louca de fazer com que o teu relacionamento com Deus não fosse santo pareceu ser pos­sível, todos os teus relacionamentos tornaram-se sem significado. Nesse instante não-santo, nasceu o tempo e os corpos foram fei­tos para abrigar essa idéia louca dando-lhe a ilusão de realidade. E assim ela pareceu ter um lar que se manteve por um pequeno espaço de tempo e sumiu. Pois o que poderia abrigar essa idéia insana contra a realidade a não ser por um instante?

9. Os ídolos têm que desaparecer e não deixar nenhum vestígio de sua passagem. O instante não-santo do seu poder aparente é frágil como um floco de neve, mas não tem a sua beleza. É esse o substituto que tu queres para a bênção eterna do instante santo e sua beneficência sem limites? É a malevolência do relacionamen­to não-santo, aparentemente tão poderosa, tão amargamente mal interpretada e tão investida de falsa atração, o que preferes no lugar do instante santo que te oferece paz e compreensão? Então, deixa de lado o corpo é o transcende em quietude, erguendo-te para dar as boas-vindas ao que realmente queres. E do teu tem­plo santo, não olhes para trás para aquilo de que despertaste. Pois nenhuma ilusão pode atrair a mente que as transcendeu e as deixou muito atrás.

10. O relacionamento santo reflete o verdadeiro relacionamento que o Filho de Deus tem com seu Pai na realidade. O Espírito Santo descansa dentro dele na certeza de que durará para sem­pre. Seu fundamento firme é eternamente mantido pela verdade e o amor brilha sobre ele com o sorriso gentil e a bênção terna que oferece aos seus. Aqui o instante não-santo é trocado alegremen­te pelo instante santo no qual a reciprocidade é segura. Aqui o caminho para os relacionamentos verdadeiros está gentilmente aberto, através do qual tu e teu irmão caminham juntos deixando o corpo para trás com gratidão e descansando nos Braços Eter­nos. Os braços do amor estão abertos para vos receber e vos dar paz para sempre.

11. O corpo é o ídolo do ego; a crença no pecado que se fez carne e então se projetou para fora. Isso produz o que parece ser uma parede de carne em torno da mente, mantendo-a prisioneira em um ponto diminuto de espaço e tempo, devedora para com a morte, e tudo que lhe é dado é apenas um instante no qual suspi­rar, se lamentar e morrer em honra ao seu patrão. E esse instante não-santo parece ser a vida: um instante de desespero, uma dimi­nuta ilha de areia seca, sem água e estabelecida de forma incerta no esquecimento. Aqui o Filho de Deus pára por um breve mo­mento para oferecer a sua devoção aos ídolos da morte e, então, seguir adiante. E aqui ele está mais morto do que vivo. Entre­tanto, é também aqui que ele faz novamente a sua escolha entre a idolatria e o amor. Aqui lhe é dado escolher entre passar esse instante pagando tributos ao corpo ou permitir que lhe seja dada a liberdade em relação a isso. Aqui, ele pode aceitar o instante santo que lhe é oferecido para substituir o não-santo que esco­lheu anteriormente. E aqui ele pode aprender que relacionamen­tos são a sua salvação e não a sua perdição.

12. Tu, que estás aprendendo isso, podes ainda estar amedrontado, mas não estás imobilizado. O instante santo agora é de maior valor para ti do que o que parece ser a sua contraparte não-santa e aprendeste que realmente só queres um dos dois. Essa não é hora de tristeza. Talvez confusão, mas dificilmente desânimo. Tens um relacionamento real e ele tem significado. Ele é como o teu relacionamento real com Deus, assim como coisas iguais se pare­cem entre si. A idolatria ficou para trás e não tem significado. Talvez ainda tenhas um pouco de medo do teu irmão, talvez uma sombra do medo de Deus ainda permaneça contigo. No entanto, o que é isso para aqueles a quem foi dado um relacionamento verdadeiro além do corpo? É possível que sejam por muito tem­po detidos sem olhar para a face de Cristo? E é possível que por muito tempo mantenham a memória do seu relacionamento com o Pai afastada de si mesmos e a lembrança do Seu Amor à parte da própria consciência?


VII. A consistência entre meios e fim

1. Muito dissemos a respeito das discrepâncias entre meios e fim e de como eles têm que ser alinhados antes que o teu relaciona­mento santo possa te trazer só alegria. Mas nós dissemos tam­bém que o meio para cumprir a meta do Espírito Santo virá da mesma Fonte da qual vem o Seu propósito. Sendo tão simples e direto, esse curso nada tem em si que não seja consistente. As inconsistências aparentes ou aquelas partes que achas mais difí­ceis do que as outras são apenas indicações de áreas onde os meios e o fim ainda são discrepantes. E isso produz grande des­conforto. Isso não precisa ser assim. Esse curso não requer qua­se nada de ti. É impossível imaginar outro que peça tão pouco ou que possa oferecer mais.

2. O período de desconforto que se segue à mudança repentina do pecado para a santidade em um relacionamento pode estar agora quase no final. Na medida em que ainda o experimentas, estás recu­sando-te a deixar os meios Àquele Que mudou o propósito. Reco­nheces que queres a meta. Não estás também disposto a aceitar os meios? Se não estás, vamos admitir que tu és inconsistente. Um propósito se atinge através de meios e se queres um propósi­to tens que estar disposto a querer também os meios. Como é possível uma pessoa ser sincera e dizer: ‘Quero isso acima de tudo, no entanto, não quero aprender os meios de conseguir isso?’

3. Para obter a meta, o Espírito Santo de fato pede pouco. Ele não pede mais para dar os meios também. Os meios são secundários em relação à meta. E quando hesitas é porque o propósito te as­susta, não os meios. Lembra-te disso, pois de outro modo comete­rás o erro de acreditar que os meios são difíceis. No entanto, como podem ser difíceis se simplesmente te são dados? Eles ga­rantem a meta e estão perfeitamente alinhados com ela. Antes de olharmos para eles um pouco mais de perto, lembra-te que se pensas que os meios são impossíveis, a tua vontade de alcançar o propósito foi abalada. Pois se é possível alcançar uma meta, os meios para se fazer isso têm que ser igualmente possíveis.

4. É impossível ver o teu irmão sem pecado e ainda assim olhar para ele como se fosse um corpo. Isso não é perfeitamente con­sistente com a meta da santidade? Pois a santidade é apenas o resultado de se permitir que os efeitos do pecado sejam suspen­sos de forma que o que sempre foi verdadeiro seja reconhecido. Ver um corpo sem pecado é impossível, pois a santidade é positi­va e o corpo é simplesmente neutro. Ele não é pecaminoso, mas também não é sem pecado. Como o nada que é, o corpo não pode ser significativamente investido dos atributos de Cristo ou do ego. Qualquer um dos dois inevitavelmente seria um erro, pois ambos colocariam os atributos onde eles não podem estar. E ambos têm que ser desfeitos para os propósitos da verdade.

5. O corpo é o meio pelo qual o ego tenta fazer com que o relacio­namento não-santo pareça real. O instante não-santo é a hora dos corpos. Mas aqui o propósito é o pecado. Ele não pode ser atingi­do a não ser em ilusões e, assim, a ilusão de um irmão como se fosse um corpo está bastante de acordo com o propósito da não ­santidade. Devido a essa consistência, o meio permanece sem ser questionado enquanto o fim é valorizado. O que se vê se adapta ao que se deseja; pois a vista sempre é secundária ao dese­jo. E se vês o corpo, escolheste o julgamento e não a visão. Pois a visão, como os relacionamentos, não tem nenhuma ordem. Vês ou não vês.

6. Aquele que vê o corpo de um irmão fez um julgamento sobre ele e não o vê. Ele não o vê realmente como um pecador, ele não o vê de jeito nenhum. Na escuridão do pecado, ele é invisível. Ele apenas pode ser imaginado na escuridão e é aqui que as ilusões que manténs a seu respeito não se adaptam à sua realida­de. Aqui as ilusões e a realidade são mantidas separadas. Aqui as ilusões nunca são trazidas à verdade e sempre são escondidas em relação a ela. E aqui, na escuridão, a realidade do teu irmão é imaginada como um corpo, em relacionamentos não-santos com outros corpos, servindo à causa do pecado por um instante antes que ele morra.

7. Há de fato uma diferença entre esse imaginar vão e a visão. A diferença não está neles mesmos, mas no seu propósito. Não são senão meios, cada um apropriado ao fim para o qual é emprega­do. Nenhum dos dois pode servir ao propósito do outro, pois cada um é a escolha de um propósito, empregado em seu nome. Cada um é sem significado sem o fim para o qual foi destinado e nem tem qualquer valor como uma coisa separada, à parte da intenção. Os meios parecem reais porque a meta é valorizada. E o julgamento não tem valor a não ser que a meta seja o pecado.

8. Não se pode olhar para o corpo a não ser através do julgamen­to. Ver o corpo é sinal de que te falta visão e de que negaste o meio que o Espírito Santo te oferece para servir ao Seu propósito. Como é possível que um relacionamento santo atinja seu propó­sito através dos meios do pecado? O julgamento, tu ensinaste a ti mesmo; a visão é aprendida com Ele, Que quer desfazer o teu ensinamento. A Sua visão não pode ver o corpo porque não pode olhar para o pecado. E assim ela te conduz à realidade. O teu irmão santo não é nenhuma ilusão e vê-lo é a tua liberação. Tenta não vê-lo na escuridão, pois lá o que imaginas a seu respeito parecerá real. Fechaste os teus olhos para excluí-lo. Tal foi o teu propósito e enquanto esse propósito parecer ter um significado, os meios para alcançá-lo serão avaliados como dignos de serem vistos e, assim, tu não verás.

9. A tua questão não deveria ser ‘Como posso ver o meu irmão sem o corpo?’ Apenas pergunta: ‘Realmente desejo vê-lo sem pecado?’ E ao perguntares, não te esqueças de que é vendo a sua impecabilidade que tu escaparás do medo. A salvação é a meta do Espírito Santo. O meio é a visão. Pois aqueles que vêem, olham para o que é sem pecado. Ninguém que ame pode julgar e o que ele vê está livre de qualquer condenação. E o que ele vê, ele não fez, pois lhe foi dado para que ele veja, assim como lhe foi dada a visão que fez com que fosse possível ver.


VIII. A visão da impecabilidade

1. A visão virá a ti primeiramente em vislumbres, mas eles serão suficientes para te mostrar o que é dado a ti que vês o teu irmão sem pecado. A verdade te é restituída através do teu desejo, as­sim como foi perdida para ti através do teu desejo por uma outra coisa. Abre o lugar santo que fechaste por valorizar essa ‘outra coisa’ e aquilo que nunca foi perdido retornará em quietude. Foi guardado para ti. A visão não seria necessária se o julgamento não tivesse sido feito. Deseja agora que ele seja desfeito total­mente e isso será feito para ti.

2. Não queres conhecer a tua própria Identidade? Não gostarias de trocar alegremente as tuas dúvidas pela certeza? Não tens vontade de ficar livre da miséria e aprender de novo sobre a ale­gria? O teu relacionamento santo te oferece tudo isso. Assim como ele te foi dado, também o serão os seus efeitos. E assim como seu propósito santo não foi feito por ti, o meio pelo qual o final feliz deste relacionamento é teu também não vêm de ti. Re­gozija-te naquilo que vem a ser teu se apenas pedires e não pen­ses que precisas fazer nem os meios nem o fim. Tudo isso é dado a ti; que não queres senão ver o teu irmão sem pecado. Tudo isso é dado, esperando apenas que não desejes senão receber. A vi­são é dada livremente àqueles que pedem para ver.

3. A impecabilidade do teu irmão te é dada em luz brilhante, para ser contemplada com a visão do Espírito Santo e para que tu te regozijes nela junto com Ele. Pois a paz virá a todos os que pedem por ela com desejo real e sinceridade de propósito, propó­sito esse que é compartilhado com o Espírito Santo e uno com Ele no que é a salvação. Assim sendo, que estejas disposto a ver o teu irmão sem pecado, para que Cristo possa se erguer diante da tua visão e te dar alegria. E não deposites nenhum valor no cor­po do teu irmão que o prende a ilusões do que ele é. Ele deseja ver a sua impecabilidade, assim como tu. E abençoa o Filho de Deus no teu relacionamento e não vejas nele o que tu fizeste dele.

4. O Espírito Santo garante que o que foi a Vontade de Deus para ti e o que Ele te deu será teu. Esse é o teu propósito agora, e a visão que o faz teu está pronta para ser dada. Tens a visão que te capacita a não ver o corpo. E ao olhares para o teu irmão, verás um altar ao teu Pai, santo como o Céu, cintilando de pureza ra­diante e reluzindo com os lírios brilhantes que colocaste sobre ele. O que é que pode ter mais valor do que isso para ti? Por que pensas que o corpo é uma casa melhor, um abrigo mais seguro para o Filho de Deus? Por que preferes olhar para ele do que para a verdade? Como é possível que a máquina da destruição seja preferida e escolhida para substituir o lar santo que o Espíri­to Santo oferece, aonde Ele irá habitar contigo?

5. O corpo é o sinal da fraqueza, da vulnerabilidade e da perda de poder. Pode tal salvador ajudar-te? Na tua aflição e necessitando de ajuda, tu te voltarias para aquele que é impotente para ajudar? Aquilo que é lamentavelmente pequeno é a escolha perfeita para invocar em busca de força? O julgamento parecerá tomar fraco o teu salvador. No entanto, és tu que necessitas da sua força. Não há problema, não há evento nem situação, não há perplexidade que a visão não solucione. Tudo é redimido quando contemplado com visão. Pois esse não é o teu modo de ver e traz consigo as amadas leis Daquele a Quem essa vista pertence.

6. Tudo o que é olhado com visão vai gentilmente para o lugar que lhe é próprio de acordo com as leis trazidas pelo Seu modo de ver calmo e certo. O fim de todas as coisas para as quais Ele olha é sempre seguro. Pois irão cumprir o Seu propósito, serão vistas em formas que não foram ajustadas e são perfeitamente adequadas à realização do propósito. A destrutibilidade torna-se benigna e o pecado se transforma em bênção sob o Seu olhar gentil. O que podem os olhos do corpo perceber com poder de corrigir? Os olhos do corpo se ajustam ao pecado, incapazes .de deixar de vê-lo sob qualquer forma e o vêem em toda parte, em todas as coisas. Olha através dos olhos do corpo e tudo diante de ti estará condenado. Tudo o que poderia te salvar, tu nunca ve­rás. O teu relacionamento santo, a fonte da tua salvação, será privado de significado e seu propósito mais santo ficará destituído do meio para a sua realização.

7. O julgamento não passa de um brinquedo, um capricho, o meio sem significado de jogar o jogo vão da morte em tua imaginação. Mas a visão corrige todas as coisas, trazendo-as gentilmente para o controle benigno das leis do Céu. O que aconteceria se reconhe­cesses que esse mundo é uma alucinação? O que aconteceria se compreendesses realmente que o inventaste? O que aconteceria se te desses conta de que aqueles que parecem perambular sobre ele, para pecar e morrer, atacar e assassinar e destruir a si mesmos, são totalmente irreais? Poderias ter fé no que vês, se aceitasses isso? E queres ver isso?

8. As alucinações desaparecem quando são reconhecidas pelo que são. Essa é a cura e o remédio. Não acredites nelas e desapare­cerão. E tudo o que precisas fazer é reconhecer que foste tu que fizeste tudo isso. Uma vez que tiveres aceitado esse simples fato e tomado a ti o poder que lhes deste, estás liberado em relação a elas. Uma coisa é certa: as alucinações servem a um propósito e quando esse propósito já não se mantém, elas desaparecem. Por­tanto, a questão nunca é saber se tu as queres, mas sempre, queres o propósito ao qual elas servem? Esse mundo parece oferecer muitos propósitos, cada um diferente e com valores diferentes. No entanto, todos são o mesmo. Mais uma vez, não há nenhu­ma ordem, apenas uma aparente hierarquia de valores.

9. Só dois propósitos são possíveis. E um é o pecado, o outro a santidade. Nada existe no meio e aquele que escolhes determina o que vês. Pois o que vês é simplesmente como escolhes realizar a tua meta. As alucinações servem para realizar a meta da loucu­ra. Elas são os meios pelos quais o mundo exterior, projetado de dentro, se ajusta ao pecado e parece testemunhar sua realidade. Ainda é verdade que nada existe do lado de fora. No entanto, em cima do nada são feitas todas as projeções. Pois é a projeção que dá ao ‘nada’ todo o significado que ele contém.

10. O que não tem significado não pode ser percebido. E o signifi­cado sempre olha para dentro para achar a si mesmo e depois olha para fora. Assim, todo o significado que dás ao mundo exterior tem que refletir o que viste internamente; ou melhor, se viste qual­quer coisa ou apenas a julgaste desfavoravelmente. A visão é o meio pelo qual o Espírito Santo traduz os teus pesadelos em so­nhos felizes, as tuas selvagens alucinações, que te mostram todos os resultados amedrontadores do pecado que imaginas, em cenas calmas e tranqüilizadoras pelas quais Ele quer substituí-los. Estas visões e sons gentis são contemplados com felicidade e ouvidos com alegria. Eles são os Seus substitutos para todas as cenas ater­radoras e sons gritantes que o propósito do ego trouxe à tua cons­ciência horrorizada. Eles se afastam do pecado, lembrando-te que não é a realidade, que te assusta e que os erros que cometeste podem ser corrigidos.

11. Quando tiveres olhado para o que aparentava ser aterrador e tiveres visto tudo isso se transformar em paisagens de beleza e paz; quando tiveres olhado cenas de violência e morte e observa­do que mudaram e vieram a ser panoramas tranqüilos de jardins sob céus abertos, com a água clara, portadora da vida, correndo alegremente por eles em riachos dançantes que nunca se perdem, quem precisará persuadir-te a aceitara dádiva da visão? E de­pois da visão, há alguém que poderia recusar aquilo que necessa­riamente se segue? Pensa só por um instante apenas nisso: podes contemplar a santidade que Deus deu a Seu Filho. E nun­ca mais precisas pensar que há alguma outra coisa para veres.