julho 15, 2010

Capítulo 21 - RAZÃO E PERCEPÇÃO

Capítulo 21 - RAZÃO E PERCEPÇÃO

Introdução

1. A projeção faz a percepção. O mundo que vês é o que deste ao mundo, nada mais do que isso. Mas embora não seja mais do que isso, não é menos. Portanto, é importante para ti. Ele é a testemunha do teu estado mental, o retrato externo de uma condição interna. Como um homem pensa, assim ele percebe. Portanto, não busques mudar o mundo, mas escolhe mudar a tua mente sobre o mundo. A percepção é um resultado e não uma causa. E é por isso que qualquer ordem de dificuldades em milagres é sem significado. Tudo que é contemplado com visão é curado e santo. Nada percebido sem ela significa coisa alguma. E onde não há significado, há caos.

2. A condenação é o teu julgamento sobre ti mesmo e isso irás projetar sobre o mundo. Se o vês condenado, tudo o que vês é o que fizeste para ferir o Filho de Deus. Se contemplas o desastre e a catástrofe, tentaste crucificá-lo. Se vês santidade e esperança, tu te uniste à Vontade de Deus para libertá-lo. Não há escolha a não ser entre essas duas decisões. E verás a testemunha para a escolha que fizeste e aprenderás a partir daí a reconhecer qual delas escolheste. O mundo que vês apenas te mostra quanta alegria te permitiste ver em ti mesmo e aceitar como tua. E se esse é o seu significado, então o poder de dar-lhe alegria não pode deixar de estar dentro de ti.


I. A canção esquecida

1. Não te esqueças de que o mundo que aqueles que não vêem ‘vêem’, tem que ser imaginado, pois o seu aspecto real lhes é desconhecido. Eles têm que inferir o que poderia ser visto de evidência sempre indireta e reconstruir suas inferências à medida em que tropeçam e caem devido ao que não reconheceram, ou podem caminhar sem danos através de portas abertas que pensavam estar fechadas. E o mesmo acontece contigo. Tu não vês. Os teus dados para a inferência estão errados e assim tropeças e cais sobre as pedras que não reconheceste, mas falhas em estar ciente de que podes atravessar as portas que pensavas estarem fechadas, mas que estão abertas diante de olhos que não vêem, esperando para te dar as boas-vindas.

2. Como é tolo tentar julgar o que poderia ser visto no lugar disso. Não é necessário imaginar como o mundo tem que ser. Ele precisa ser visto antes que o reconheças pelo que é. E possível te mostrar quais são as portas que estão abertas e podes ver aonde está a segurança, qual é o caminho que conduz à escuridão e qual é o que conduz à luz. O julgamento sempre te dará direções falsas, mas a visão te mostra aonde ir. Por que deverias adivinhar?

3. Não há necessidade de aprender através da dor. E lições benignas são aprendidas alegremente e lembradas com contentamento. O que te dá felicidade, tu queres aprender e não esquecer. Não é isso o que queres negar. A tua questão consiste em saber se os meios através dos quais esse curso é aprendido te trarão a alegria que ele promete. Se acreditasses que ele te traria, aprendê-lo não seria nenhum problema. Ainda não és um aprendiz feliz porque ainda permaneces incerto, não tens certeza se a visão te dá mais do que o julgamento e aprendeste que não podes ter ambos.

4. Os cegos se acostumam a seu mundo por meio de seus ajusta­mentos a ele. Pensam que conhecem o seu caminho dentro dele. Eles o aprenderam não através de lições alegres, mas devido à dura necessidade de limites que acreditaram não serem capazes de superar. E ainda acreditando nisso, gostam dessas lições e prendem-se a elas porque não podem ver. Não compreendem que essas lições os mantêm cegos. Nisso eles não acreditam. E assim mantêm o mundo que aprenderam a ‘ver’ em suas imaginações, acreditando que a sua escolha é essa ou nenhuma. Eles odeiam o mundo que aprenderam através da dor. E pensam que todas as coisas que estão nesse mundo servem para lembrá-los de que são incompletos e amargamente destituídos.

5. Assim definem as suas vidas e onde vivem, ajustando-se a elas como pensam que devem, com medo de perder o pouco que possuem. E assim é com todos os que vêem o corpo como tudo o que têm e tudo o que os seus irmãos têm. Eles tentam alcançar uns aos outros e falham e falham outra vez. E ajustam-se à solidão, acreditando que manter o corpo é salvar o pouco que têm. Escuta e tenta pensar se te lembras do que vamos falar agora.

6. Escuta, – talvez possas captar um indício de um estado antigo, não totalmente esquecido; vago talvez, mas não completamente estranho, como uma canção cujo nome há muito foi esquecido e as circunstâncias nas quais a ouviste estão completamente apaga­das. Nem toda a canção ficou em ti, mas apenas um pequeno trecho da melodia, sem ligação com qualquer pessoa ou local ou com qualquer coisa em particular. Mas te lembras, apenas a partir deste pequeno trecho, como era bela a canção, como era maravilhoso o cenário em que a ouviste e como amavas aqueles que ali estavam e escutaram contigo.

7. As notas nada são. No entanto, tu as mantiveste contigo, não por elas mesmas, mas como uma suave lembrança de algo que te faria chorar se te lembrasses como te foi caro. Poderias lembrar-te, mas tens medo, acreditando que perderias o mundo que aprendeste desde então. E apesar disso, sabes que nada no mundo que aprendeste tem nem sequer a metade do valor daquilo para ti. Ouve e vê se te lembras de uma canção antiga que conheceste há muito tempo e da qual gostaste mais do que de qualquer melodia que tenhas ensinado a ti mesmo a apreciar desde então.

8. Além do corpo, além do sol e das estrelas, além de todas as coisas que vês e ainda assim de algum modo familiar, está um arco de luz dourada que, à medida que olhas, se alonga em um grande círculo brilhante. E todo o círculo se enche de luz diante dos teus olhos. Os contornos do círculo desaparecem e o que há dentro já não está mais contido em nada. A luz se expande e cobre todas as coisas, estendendo-se até à infinidade, para sempre brilhante e sem nenhuma ruptura ou limite em parte alguma. Dentro dela tudo está unido em perfeita continuidade. E nem é possível imaginar que qualquer coisa pudesse estar fora, pois não há lugar algum onde essa luz não esteja.

9. Essa é a visão do Filho de Deus, a quem conheces bem. Aqui está o que vê aquele que conhece o seu Pai. Aqui está a memória do que tu és: uma parte disso, com tudo isso dentro de ti e unido a tudo com a mesma certeza com que tudo está unido em ti. Aceita a visão que pode te mostrar isso e não o corpo. Conheces a antiga canção e a conheces bem. Nada jamais te será tão caro como esse antigo hino de amor que o Filho de Deus ainda canta a seu Pai.

10. E agora os cegos podem ver, pois a mesma canção que cantam em honra ao seu Criador glorifica também a eles. A cegueira que fizeram não será capaz de resistir à memória dessa canção. E contemplarão a visão do Filho de Deus lembrando-se quem é aquele a respeito do qual estão cantando. O que é um milagre senão essa lembrança? E existe alguém em quem essa memória não esteja? A luz em um só desperta a luz em todos. E quando a vês em teu irmão, tu estás te lembrando por todos.


II. A responsabilidade pelo que se vê

1. Nós temos repetido quão pouco te é pedido para aprenderes esse curso. Essa mesma boa vontade, que é pouca, é o que preci­sas para ter todo o teu relacionamento transformado em alegria, a pequena dádiva que ofereces ao Espírito Santo pela qual Ele te dá tudo; o muito pouco sobre o qual se baseia a salvação; a diminuta mudança da mente através da qual a crucificação é transformada em ressurreição. E sendo verdadeira, é tão simples que não pode falhar em ser completamente compreendida. Rejeitada, sim, mas não ambígua. E se escolhes ir contra ela agora, não será porque é obscura, mas porque esse pequeno custo pareceu, no teu julga­mento, ser grande demais para ser pago pela paz.

2. Essa é a única coisa que precisas fazer pela visão, pela felicida­de, para ficares livre da dor e escapares completamente do peca­do; para que tudo isso te seja dado. Dize apenas isso, mas dize-o com convição e sem reservas, pois aqui está o poder da salvação:

Eu sou responsável pelo que vejo.
Eu escolho os sentimentos que experimento e eu decido quanto à meta que quero alcançar.
E todas as coisas que parecem me acontecer eu as peço e as recebo conforme pedi.

Não enganes mais a ti mesmo pensando que és impotente diante do que é feito a ti. Apenas reconhece que tens estado equivocado e todos os efeitos dos teus equívocos desaparecerão.

3. É impossível que o Filho de Deus seja simplesmente conduzi­do por eventos exteriores a ele. É impossível que os aconteci­mentos que vêm a ele não tenham sido sua escolha. Seu poder de decisão é o determinante de toda situação na qual ele parece se achar por acaso ou por acidente. Nenhum acidente ou acaso é possível dentro do universo como Deus o criou, fora do qual não há nada. Sofre e terás decidido que o pecado era a tua meta. Sê feliz e terás dado o poder de decisão Àquele Que tem que deci­dir-Se por Deus por ti. Essa é a pequena dádiva que ofereces ao Espírito Santo e inclusive essa Ele te dá para que a dês a ti mesmo. Pois através dessa dádiva te é dado o poder de liberar o teu salvador para que ele possa te dar a salvação.

4. Não te ressintas, então, por esse pequeno oferecimento. Nega­-o e manténs o mundo da mesma forma como o vês agora. Entre­ga-o e tudo o que vês se vai com ele. Nunca tanto foi dado por tão pouco. No instante santo essa troca é efetuada e mantida. Aqui o mundo que não queres é trazido àquele que queres. E aqui o mundo que queres te é dado porque o queres. Entretanto, para isso, em primeiro lugar, o poder do teu querer tem que ser reconhecido. Tens que aceitar a força deste poder e não a sua fraqueza. Tens que perceber que, o que é suficientemente forte para fazer um mundo, pode deixar que ele se vá e pode aceitar a correção, se estiveres disposto a ver que estavas errado.

5. O mundo que vês não é senão a vã testemunha de que estavas certo. Essa testemunha é insana. Tu a treinaste no testemunho que ela te dá e quando ela o deu de volta a ti, escutaste e te convenceste de que o que ela viu era verdadeiro. Tu fizeste isso a ti mesmo. Vê apenas isso e verás também como é circular o ra­ciocínio sobre o qual se baseia o teu ‘ver'. Isso não te foi dado. Isso foi a tua dádiva a ti e ao teu irmão. Assim sendo, que estejas disposto a deixar que ela seja tirada do teu irmão e substituída pela verdade. E à medida em que olhas para a mudança no teu irmão, ser-te-á dado vê-la em ti mesmo. '

6. Talvez não vejas a necessidade que tens de fazer esse pequeno oferecimento. Então, olha mais de perto para o que ele é. E muito simplesmente vejas nele toda a troca da separação pela salvação. O ego não é mais do que uma idéia segundo a qual é possível que coisas aconteçam ao Filho de Deus sem a sua vontade e, portanto, sem a Vontade do seu Criador, Cuja Vontade não pode ser separada da sua própria. O que substitui a vontade do Filho de Deus é isso: uma louca revolta contra o que não pode deixar de ser para sempre. Essa é a afirmação de que ele tem o poder de tornar Deus impotente, e assim tomar para si o poder de Deus e deixar-se sem aquilo que tem sido a Vontade de Deus para ele. Essa é a idéia louca que entronizaste sobre os teus altares e adoras. E qualquer coisa que a ameace parece atacar a tua fé, pois é aqui que ela está investida. Não penses que não tens fé, pois a tua crença e confiança nisso são, de fato, fortes.

7. O Espírito Santo pode te dar fé na santidade e visão para vê-la com bastante facilidade. Mas não deixaste aberto e desocupado o altar onde é o lugar das dádivas. Onde elas deveriam estar, colocaste os teus ídolos a alguma outra coisa. Tu dás realidade a essa outra ‘vontade’, que parece te dizer o que tem que aconte­cer. E portanto o que te mostraria outra coisa não pode deixar de parecer irreal. Tudo o que te é pedido-é abrir espaço para a ver­dade. Não te é pedido que faças ou executes o que está além da tua compreensão. Tudo o que te é pedido é que a deixes entrar; apenas que pares de interferir com o que acontecerá por si mes­mo; simplesmente que reconheças de novo a presença do que pensaste que tinhas descartado.

8. Que estejas disposto, por um instante, a deixar os teus altares livres do que depositaste sobre eles e o que realmente lá está tu não podes deixar de ver. O instante santo não é um instante de criação, mas de reconhecimento. Pois o reconhecimento vem da visão e da suspensão do julgamento. Só então é possível olhar para dentro e ver o que tem que estar lá, claramente visível e totalmente independente de inferência e julgamento. O desfazer não é tarefa tua, mas de fato depende de ti dar boas-vindas a isso ou não. A fé e o desejo caminham de mãos dadas, pois todas as pessoas acreditam naquilo que querem.

9. Nós já dissemos que o ego faz de conta que a fantasia é real pois essa é a forma como ele lida com aquilo que quer para fazer com que seja assim. Não há melhor demonstração do poder do querer e, portanto, da fé para fazer com que suas metas pareçam reais e possíveis. A fé no irreal conduz a ajustes da realidade de forma a fazê-la adequar-se à meta da loucura. A meta do pecado induz à percepção de um mundo amedrontador para justificar seu propósito. O que desejas, tu verás. E se a sua realidade é falsa, mantê-la-ás, por não reconheceres todos os ajustes que nela introduziste para fazer com que seja assim.

10. Quando a visão é negada, a confusão de causa e efeito vem a ser inevitável. O propósito agora passa a ser o de manter obscu­ra a causa do efeito e o de fazer o efeito aparecer como a causa. Essa aparente independência do efeito permite que ele seja con­siderado como algo que existe por si mesmo, e capaz de servir como uma causa para os eventos e sentimentos que aquele que o fez pensa que ele causa. Anteriormente, nós falamos do teu dese­jo de criar o teu próprio criador e ser pai ao invés de filho para com ele. Esse é o mesmo desejo. O Filho é o efeito, cuja Causa ele quer negar. E assim, ele parece ser a causa, produzindo efei­tos reais. Nada pode ter efeitos sem uma causa e confundir os dois simplesmente é falhar na compreensão de ambos.

11. É igualmente necessário que reconheças que fizeste o mundo que vês, assim como que reconheças que não criaste a ti mesmo. Ambos são o mesmo equívoco. Nada que não tenha sido criado pelo teu Criador tem qualquer influência sobre ti. E se pensas que o que fizeste pode te dizer o que vês e sentes e se colocas a tua fé na habilidade dessas coisas para fazer com que seja assim, estás negando o teu Criador e acreditando que fizeste a ti mesmo. Pois se pensas que o mundo que fizeste tem poder para fazer de ti o que ele quer, estás confundindo Pai e Filho, efeito e Fonte.

12. As criações do Filho são como as do seu Pai. No entanto, ao criá-las o Filho não se ilude achando que é independente de sua Fonte. A sua união com Ela é a Fonte da sua criação. À parte disso, ele não tem poder de criar e o que faz não tem significado. Não muda nada na criação, depende inteiramente da loucura da­quele que o faz e não pode servir para justificar a loucura. O teu irmão pensa que fez o mundo contigo. Assim ele nega a criação. Contigo, ele pensa que o mundo que ele fez o fez. Assim, ele nega que ele o tenha feito.

13. No entanto, a verdade é que tu e teu irmão foram ambos cria­dos por um Pai amoroso, Que os criou juntos e como um só. Vê o que ‘prova’ o contrário e negas toda a tua realidade. Mas admi­te que todas as coisas que parecem se interpor entre vós, manten­do-vos afastados um do outro e separados do vosso Pai, tu fizeste em segredo e o instante da liberação veio a ti. Todos os seus efeitos terão desaparecido, porque a sua fonte terá sido descober­ta. É a sua aparente independência da sua fonte que te mantém prisioneiro. Esse é o mesmo equívoco que pensar que és inde­pendente da Fonte pela Qual foste criado e que nunca deixaste.


III. Fé, crença e visão

1. Todos os relacionamentos especiais têm o pecado como sua meta. Pois são barganhas com a realidade, às quais a aparente união é ajustada. Não te esqueças disso: barganhar é fixar um limite e qualquer irmão com quem tenhas um relacionamento li­mitado, tu odeias. Podes tentar manter a barganha em nome da ‘eqüidade’, algumas vezes exigindo que sejas tu aquele que paga, talvez, mais freqüentemente, exigindo que o outro pague. Assim, em ‘eqüidade’, tentas aliviar a culpa que vem do propósito que foi aceito para o relacionamento. E é por isso que o Espírito Santo tem que mudar o seu propósito de forma a torná-lo útil para Ele e incapaz de causar danos a ti.

2. Se aceitas essa mudança, terás aceito a idéia de abrir espaço para a verdade. A fonte do pecado se foi. Podes imaginar que ainda experimentas os seus efeitos, mas não é o teu propósito e já não o queres. Ninguém permite que um propósito seja substituí­do enquanto o deseja, pois nada é tão valorizado e protegido quanto uma meta que a mente aceita. Isso ela perseguirá, de forma sinistra ou feliz, mas sempre com fé e com a persistência que a fé inevitavelmente traz. O poder da fé nunca é reconheci­do se é colocado no pecado. Mas sempre é reconhecido se é colo­cado no amor.

3. Por que é estranho para ti que a fé possa mover montanhas? Essa façanha é, de fato, pequena para tal poder. Pois a fé pode manter o Filho de Deus acorrentado enquanto ele acreditar que está acorrentado. E quando for libertado dessas correntes, isso se dará simplesmente porque ele já não mais acredita nelas, retiran­do a fé em que possam prendê-lo e colocando-a, ao invés disso, na sua liberdade. É impossível colocar a mesma fé em direções opostas. Qualquer fé que dês ao pecado, retiras da santidade. E aquela que ofereces à santidade, foi retirada do pecado.

4. Fé, crença e visão são os meios pelos quais a meta da santidade é alcançada. Através delas, o Espírito Santo te conduz ao mundo real e para longe de todas as ilusões nas quais a tua fé foi deposi­tada. Essa é a Sua direção, a única que Ele jamais vê. E quando te desvias, Ele te lembra que não existe senão uma. A Sua fé, a Sua crença e a Sua visão, todas elas são para ti. E quando as tiveres aceito completamente no lugar das tuas, não mais terás necessidade delas. Pois a fé e a visão e a crença têm significado somente antes de ser alcançado o estado da certeza. No Céu, são desconhecidas. Entretanto, é através delas que se alcança o Céu.

5. É impossível que falte fé ao Filho de Deus, mas ele pode esco­lher aonde ela é depositada. A ausência de fé não é falta de fé, mas fé no nada. Não falta poder à fé que é dada à ilusões, pois é através dela que o Filho de Deus acredita que é impotente. As­sim ele não tem fé em si mesmo, mas é forte na fé em suas ilusões a respeito de si mesmo. Pois a fé, a percepção e a crença tu fizeste como meios de perder a certeza e achar o pecado. Essa direção louca foi escolha tua e através da tua fé naquilo que escolheste, tu fizeste o que desejaste.

6. O Espírito Santo tem uma utilidade para todos os meios que conduzem ao pecado, através dos quais buscaste achar o pecado. Mas, à medida que Ele os usa, conduzem para longe do pecado porque o Seu propósito está na direção oposta. Ele vê os meios que usas, mas não o propósito para o qual os fizeste. Ele não os tomaria de ti, pois vê o seu valor como um meio para o que Ele quer para ti. Tu fizeste a percepção de tal modo que possas esco­lher entre os teus irmãos e buscar o pecado com eles. O Espírito Santo vê a percepção como um meio de te ensinar que a visão de um relacionamento santo é tudo o que queres ver. Então, darás a tua fé à santidade, desejando-a e acreditando nela devido ao teu desejo.

7. A fé e a crença passam a ser ligadas à visão, assim como todos os meios que alguma, vez serviram ao pecado são agora re-dirigi­dos para a santidade. Pois o que pensas que é pecado é limitação e aquele que tentaste limitar ao corpo, tu odeias porque temes. Na tua recusa em perdoá-lo, queres condená-lo ao corpo, porque os meios para o pecado são preciosos para ti. E assim o corpo tem a tua fé e a tua crença. Mas a santidade quer libertar o teu irmão, removendo o ódio através da remoção do medo, não como um sintoma, mas na sua fonte.

8. Aqueles que querem libertar os seus irmãos do corpo não podem ter medo. Eles renunciaram ao meio para o pecado, esco­lhendo permitir que todas as limitações sejam removidas. Como desejam contemplar os seus irmãos em santidade, o poder da sua crença e fé vê muito além do corpo, dando apoio à visão e não obstruindo-a. Mas, em primeiro lugar, eles escolheram reconhe­cer o quanto a sua fé limitava sua compreensão do mundo, dese­jando colocar o poder dessa fé em outro lugar, caso lhe fosse dado um outro ponto de vista. Os milagres que se seguem a essa decisão também nascem da fé. Pois a visão é dada a todos aque­les que escolhem olhar para longe do pecado e eles são conduzi­dos à santidade.

9. Aqueles que acreditam no pecado têm que pensar que o Espíri­to Santo pede sacrifício, pois é dessa forma que pensam que o seu propósito é realizado. Irmão, o Espírito Santo sabe que o sacrifí­cio nada traz. Ele não faz barganhas. E se buscas limitá-Lo, tu O odiarás, porque estás com medo. A dádiva que Ele te deu é maior do que qualquer outra coisa que exista desse lado do Céu. O instante para o reconhecimento disso está próximo. Une a tua consciência àquilo que já foi unido. A fé que dás ao teu irmão pode realizar isso. Pois Aquele Que ama o mundo está vendo-o por ti sem uma mancha de pecado, na inocência que faz com que essa vista seja tão bela quanto o Céu.

10. A tua fé no sacrifício deu a ele grande poder aos teus olhos, só tu não reconheces que não podes ver por causa dele. Pois o sacrifício tem que ser extraído de um corpo e por outro corpo. A mente não poderia nem pedi-lo nem recebê-lo por si mesma. Assim como o corpo também não poderia. A intenção está na men­te, que tenta usar o corpo para carregar os meios para o pecado nus quais a mente acredita. Assim, a união do corpo com a mente é uma crença inevitável daqueles que dão valor ao pecado. E assim o sacrifício é invariavelmente um meio para a limitação e, portanto, para o ódio.

11. Pensas que o Espírito Santo se preocupa com isso? Ele não te dá aquilo que é Seu propósito afastar de ti. Pensas que Ele quer te privar de algo para o teu próprio bem. Mas “bem” e “privação” são opostos e não podem ser unidos de modo significativo de forma alguma. Isso é como dizer que a lua e o sol são um só porque eles vêm com a noite e o dia e assim não podem deixar de ser unidos. Entretanto, ver um não é senão o sinal de que o outro desapareceu de vista. E também não é possível que aquilo que dá a luz seja uno com aquilo que depende da escuridão para ser visto. Nenhum exige o sacrifício do outro. Porém, cada um de­pende da ausência do outro.

12. O corpo foi feito para ser um sacrifício para o pecado e na escuridão ele ainda é visto assim. No entanto, à luz da visão, ele é contemplado de maneira bastante diferente. Podes ter fé nele para servir à meta do Espírito Santo e dar a ela poder para servir como meio de ajudar os cegos a ver. Mas ao ver, eles olharão para o que vem depois do corpo, assim como tu. A fé e a crença que deste ao corpo devem ser colocadas no que está além. Tu deste a percepção, a crença e a fé próprias da mente para o corpo. Deixa que elas agora sejam devolvidas ao que as produziu e ainda pode usá-las para salvar-se do que fez.


IV. O medo de olhar para dentro

1. O Espírito Santo nunca te ensinará que és pecador. Os erros, Ele corrigirá, mas isso não amedronta ninguém. De fato, tens medo de olhar para dentro e ver o pecado que pensas estar lá. Isso não terias medo de admitir. O medo em associação com o pecado o ego considera bastante apropriado e sorri com aprovação. Ele não tem medo de deixar que te sintas envergonhado. Não duvida da tua crença e da tua fé no pecado. Seus templos não tremem em função disso. A tua fé em que o pecado lá está apenas testemunha o teu desejo de que ele lá esteja para ser visto. Isso apenas parece ser a fonte do medo.

2. Lembra-te que o ego não está sozinho. O domínio do ego é moderado e seu ‘inimigo’ desconhecido, a Quem ele nem sequer pode ver, ele teme. Em alto e bom som o ego te diz que não olhes para dentro, pois se o fizeres, os teus olhos tocarão o pecado e Deus te trespassará, cegando-te. Acreditas nisso e assim não olhas. No entanto, esse não é o medo que o ego esconde, nem o teu, que serves a ele. Em alto e bom tom, de fato, o ego reivindica que é, alto demais e com freqüência demais. Pois por detrás desse grito constante e dessa proclamação frenética, o ego não está certo de que seja assim. Atrás do seu medo de olhar para dentro por causa do pecado, existe ainda um outro medo, medo esse que faz o ego tremer.

3. O que aconteceria se olhasses para dentro e não visses pecado algum? Essa questão ‘amedrontadora’ é algo que o ego nunca pergunta. E tu, que a perguntas agora, estás ameaçando todo o sistema defensivo do ego de modo por demais grave para que ele se incomode em fingir que é teu amigo. Aqueles que se uniram aos seus irmãos desligaram-se da crença em que a sua identidade está no ego. Um relacionamento santo é aquele no qual tu te unes com o que é parte de ti mesmo na verdade. E a tua crença no pecado já foi abalada e agora também não te falta inteiramente a disponibilidade de olhar para dentro e não vê-lo.

4. A tua liberação ainda é apenas parcial, ainda limitada e incom­pleta, no entanto, já nasceu dentro de ti. Não estando totalmente louco, tens estado disposto a olhar para grande parte da tua insa­nidade e reconhecer a loucura disso tudo. A tua fé está se moven­do para dentro, além da insanidade para a razão. E o que a tua razão te diz agora, o ego não quer ouvir. O propósito do Espírito Santo foi aceito pela parte da tua mente que o ego desconhece. Tu também não a conhecias. E no entanto, essa parte, com a qual agora te identificas, não tem medo de olhar para si mesma. Ela não conhece pecado algum. De que outro modo poderia estar disposta a ver como seu o propósito do Espírito Santo?

5. Essa parte viu o teu irmão e o reconheceu perfeitamente desde o início dos tempos. E nada desejou além de unir-se a ele e ser livre outra vez, como antes fora. Ela tem estado esperando pelo nascimento da liberdade, para que a aceitação da liberação viesse a ti. E agora reconheces que não foi o ego que se uniu ao propósito do Espírito Santo e, portanto, tem que haver alguma outra coisa. Não penses que isso é loucura. Pois isso é a tua razão que te diz e decorre perfeitamente do que já aprendeste.

6. Não há incoerência alguma naquilo que o Espírito Santo ensi­na. Esse é o raciocínio dos sãos. Percebeste a loucura do ego e não te fizeste temeroso, porque não escolheste compartilhá-la. Algumas vezes, ela ainda te engana. No entanto, nos teus mo­mentos mais sãos, as suas extravagâncias não trespassam o teu coração com terror. Pois reconheceste que todas as dádivas que ele tiraria de ti, irado por ‘presunçosamente’ desejares olhar para dentro, tu não queres. Uns poucos badulaques remanescen­tes ainda parecem cintilar e capturar os teus olhos. Entretanto, não ‘venderias’ o Céu para possuí-los.

7. E agora o ego está com medo. Entretanto, o que ele ouve com terror, a outra parte ouve como a mais doce música, a canção que ansiava por ouvir desde que o ego veio à tua mente pela primeira vez. A fraqueza do ego é a sua força. A canção da liberdade, que canta os louvores de um outro mundo, traz a ela a esperança da paz. Pois ela se lembra do Céu e agora vê que o Céu afinal veio à terra, fora do qual o domínio do ego a manteve por tanto tempo. O Céu veio porque achou um lar no teu relacionamento na terra. E a terra já não pode conter o que foi dado ao Céu como algo que lhe é próprio.

8. Olha gentilmente para o teu irmão e lembra-te que a fraqueza do ego é revelada na vista de ambos. Aquilo que ele quer manter à parte se encontrou e se uniu e olha para o ego sem medo. Pe­quena criança, inocente do pecado, segue na alegria o caminho para a certeza. Não te atrases em função da insana insistência do medo, segundo a qual a certeza está na dúvida. Isso não tem significado. Que importância tem para ti que isso seja proclama­do tão alto? O que não tem sentido não se torna significativo pela repetição e pelo clamor. O caminho da quietude está aberto. Segue-o com felicidade e não questiones o que não pode deixar de ser assim.


V. A função da razão

1. A percepção seleciona e faz o mundo que vês. Ela literalmente escolhe segundo a direção da mente. As leis de tamanho, forma, brilho poderiam talvez se manter, se outras coisas fossem iguais. Elas não são iguais. Pois é muito mais provável que descubram aquilo que procuras do que aquilo que preferirias não ver. Nem todos os gritos ásperos e acessos de raiva absurdos do ego conse­guem abafar a suave e quieta Voz por Deus para aqueles que que­rem ouvi-La. A percepção é uma escolha e não um fato. Mas dessa escolha depende muito mais do que podes reconhecer por enquanto. Pois da voz que escolhes ouvir e do que escolhes ver depende inteiramente tudo o que acreditas que és. A percepção é uma testemunha apenas disso e nunca da realidade. No entanto, ela pode te mostrar as condições nas quais a consciência da reali­dade é possível ou aquelas nas quais ela nunca seria.

2. A realidade não necessita da tua cooperação para ser o que é. Mas a tua consciência da realidade necessita da tua ajuda, por­que é escolha tua. Escuta o que o ego diz e vê o que ele te dirige para ver e é certo que verás a ti mesmo de forma diminuta, vul­nerável e cheio de medo. Experimentarás depressão, um senso de indignidade e sentimentos de impermanência e irrealidade. Acreditarás que és uma vítima desamparada de forças que estão muito além do teu próprio controle e que são muito mais podero­sas do que tu. E irás pensar que o mundo que fizeste dirige o teu destino. Pois essa será a tua fé. Mas nunca acredites, por que essa é a tua fé, que ela faz a realidade.

3. Há uma outra Visão e uma outra Voz nas Quais está a tua liberdade, esperando apenas pela tua escolha. E se Nelas depositas a tua fé, perceberás um outro ser em ti. Esse outro ser vê milagres como naturais. Eles são tão simples e tão naturais para ele como é a respiração para o corpo. São a resposta óbvia para os pedidos de ajuda, a única coisa que ele faz. Os milagres não parecem naturais para o ego porque ele não compreende como mentes separadas podem influenciar umas às outras. Nem poderiam fazê-lo. Mas as mentes não podem ser separadas. Esse outro ser está perfeitamente consciente disso. E assim ele reconhece que os milagres não afetam a mente de uma outra pessoa, apenas a sua própria. Eles sempre mudam a tua mente. Não outra.

4. Não reconheces toda a extensão na qual a idéia da separação interferiu com a razão. A razão está no outro ser que cortaste da tua consciência. E nada do que permitiste que se mantivesse na tua consciência é capaz de razão. Como é possível que o segmento da mente desprovido de razão compreenda o que é a razão ou apreenda a informação que ela quer dar? Todos os tipos de questões podem surgir dentro dele, mas se a questão básica brota da razão, ele não a perguntará. Como tudo o que brota da razão, a questão básica é óbvia, simples e permanece sem ter sido colocada. Mas não penses que a razão não poderia respondê-la.

5. O plano de Deus para a tua salvação não poderia ter sido estabelecido sem a tua vontade e o teu consentimento. Ele tem que ter sido aceito pelo Filho de Deus, pois o que é a Vontade de Deus para ele não pode deixar de ser recebido. Pois a Vontade de Deus não determina nada à parte dele e nem espera no tempo para ser realizada. Portanto, o que se uniu à Vontade de Deus tem que estar em ti agora, sendo eterno. Tens que ter reservado um local no qual o Espírito Santo pode habitar e onde Ele está. Ele tem que ter estado lá desde que surgiu a necessidade de que Ele esti­vesse e essa foi suprida no mesmo instante. Isso a tua razão te diria, se escutasses. No entanto, com toda clareza, não é esse o raciocínio do ego. Que a natureza da tua razão seja alheia para o ego é a prova de que não é nele que vais achar a resposta. No entanto, se isso não pode deixar de ser assim, ela tem que existir. E se ela existe para ti e tem a tua liberdade como o propósito que lhe foi dado, tens que ser livre para achá-la.

6. O plano de Deus é simples, nunca circular e nunca auto-des­trutivo*. Ele não tem Pensamentos exceto os que estendem o Ser e nisso tem que estar incluída a tua vontade. Portanto, tem que haver uma parte de ti que conhece a Sua Vontade e a comparti­lha. Não tem significado perguntar se o que tem que ser de fato é. Mas tem significado perguntar por que não estás ciente do que és, pois isso tem que ter uma resposta, se o plano de Deus para a tua salvação é completo. E tem que ser completo, porque a sua Fonte não conhece o incompleto.

7. Onde estaria a resposta senão na Fonte? E onde estás senão lá, onde essa mesma resposta se encontra? Por conseguinte a respos­ta é a tua Identidade, que é um efeito verdadeiro dessa mesma Fonte tanto quanto a resposta, têm que estar juntas e ser a mesma. Oh, sim, conheces isso e muito mais do que apenas isso. Entretanto, qualquer parte do conhecimento ameaça a dissociação tanto quanto todo ele. E todo o conhecimento virá com qualquer uma das partes. Aqui está a parte que podes aceitar. Aquilo que a razão aponta tu podes ver, porque as testemunhas a seu favor são claras. Só os totalmente insanos podem descartá-las e disso tu já passaste. A razão é um meio que serve ao propósito do Espírito Santo por seu próprio direito. Ela não é re-interpretada e re-diri­gida a partir da meta do pecado como são os outros. Pois a razão está além da escala de meios ao alcance do ego.

8. Fé, percepção e crença podem ser mal colocadas e servir às necessidades do grande impostor tão bem quanto servem à ver­dade. Mas a razão não tem qualquer lugar na loucura e nem pode ser ajustada para se adequar aos seus fins. A fé e a crença são fortes na loucura, guiando a percepção na direção daquilo que a mente valorizou. Mas a razão não entra nisso de modo algum, pois a percepção ruiria imediatamente se a razão fosse aplicada. Não há razão na insanidade, pois ela depende inteira­mente da ausência de razão. O ego nunca a usa, porque não reconhece que ela exista. Os que são parcialmente insanos têm acesso a ela e só eles têm necessidade dela. O conhecimento não depende dela e a loucura a mantém de fora.

9. A parte da mente onde está a razão foi dedicada, pela tua von­tade em união com A do teu Pai, ao desfazer da insanidade. Aqui foi o propósito do Espírito Santo aceito e realizado, as duas coisas simultaneamente. A razão é alheia à insanidade e aqueles que a usam ganharam um meio que não se pode aplicar ao pecado. O conhecimento está muito além de qualquer tipo de consecução. Mas a razão pode servir para abrir as portas que fechaste contra ele.

10. Tu vieste para bem perto disso. A fé e a crença se deslocaram e colocaste a questão que o ego jamais perguntaria. A tua razão não te diz agora que a pergunta tem que ter vindo de alguma coisa que não conheces, mas que não pode deixar de te perten­cer? A fé e a crença, mantidas pela razão, não podem falhar em conduzir à mudança da percepção. E nesta mudança abre-se es­paço para a visão. A visão estende-se além de si mesma, assim como o propósito ao qual ela serve e todos os meios para a sua realização.


VI. Razão versus loucura

1. A razão não pode ver o pecado, mas pode ver erros e conduz à sua correção. Ela não os valoriza, mas valoriza a sua correção. A razão te dirá também que quando pensas que pecas, pedes ajuda. Entretanto, se não quiseres aceitar a ajuda que pedes, não acredi­tarás que ela é tua para que a dês. E assim não a darás, dessa forma mantendo o que acreditas. Pois qualquer tipo de erro não corrigido te engana em relação ao poder que está em ti para fazer a correção. Se o poder pode corrigir e não permites que ele o faça, tu o negas a ti mesmo e ao teu irmão. E se ele compartilha essa mesma crença, ambos irão pensar que estão condenados. Isso tu podes evitar para ti mesmo e para ele. Pois a razão não abriria caminho para a correção só para ti.

2. A correção não pode ser aceita ou recusada por ti sem o teu irmão. O pecado quer manter que sim. Entretanto, a razão te diz que não podes ver o teu irmão ou a ti mesmo como pecador e ainda assim perceber o outro como inocente. Quem se considera culpado e vê um mundo impecável? E quem é capaz de ver um mundo cheio de pecado e considerar a si mesmo como algo à parte? O pecado quer afirmar que tu e teu irmão não podem deixar de ser separados. Mas a razão te diz que isso tem que estar errado. Se tu e teu irmão estão unidos, como poderiam ter pensamentos privados? E como seria possível que pensamentos, que entram naquilo que apenas parece ser só teu, não tenham qualquer efeito naquilo que é teu? Se as mentes são unidas, isso é impossível.

3. Ninguém pode pensar apenas por si, assim como Deus não pensa sem Seu Filho. Só se ambos estivessem em corpos é que poderia ser assim. E nem a mente seria capaz de pensar só por si mesma a não ser que o corpo fosse a mente. Pois só os corpos podem ser separados e, portanto, irreais. A casa da loucura não pode ser a casa da razão. Apesar disso, é fácil deixar a casa da loucura se vês a razão. Não deixas a insanidade pelo fato de ires a algum outro lugar. Tu a deixas simplesmente por aceitar a ra­zão onde esteve a loucura. Loucura e razão vêem as mesmas coisas, mas é certo que olham para elas de maneira diferente.

4. A loucura é um ataque à razão que a expulsa da mente e toma o seu lugar. A razão não ataca, mas toma o lugar da loucura em quietude, substituindo a loucura caso a escolha do insano seja escutá-la. 3Mas os insanos não conhecem a própria vontade, pois acreditam que vêem o corpo e permitem que a sua própria loucura lhes diga que ele é real. A razão seria incapaz disso. E se queres defender o corpo contra a tua razão, não compreenderás o corpo nem a ti mesmo.

5. O corpo não te separa do teu irmão e, se pensas que ele o faz, estás insano. Mas a loucura tem um propósito e acredita que também tem os meios de fazer com que o seu propósito seja real. Ver o corpo como uma barreira entre o que a razão te diz que tem que ser unido, não pode deixar de ser insano. Também não poderias vê-lo, se ouvisses a voz da razão. Pode haver algo que esteja entre o que é contínuo? E se não há nada no meio, como é possível que o que entra em uma parte seja mantido longe das outras partes? A razão te diria isso. Mas pensa no que não podes deixar de reconhecer, se isso é assim. .

6. Se escolhes o pecado ao invés da cura, queres condenar o Filho de Deus ao que nunca poderá ser corrigido. Tu lhe dizes, através da tua escolha, que ele está condenado; separado de ti e do seu Pai para sempre, sem esperança de retornar em segurança. Tu lhe ensinas isso e aprenderás com ele exatamente o que ensinaste. Pois só és capaz de ensiná-lo que ele é como tu queres que ele seja e aquilo que escolhes que ele seja, não é senão a tua escolha para ti mesmo. No entanto, não penses que isso é amedrontador. Que estás unido a ele é um fato, não uma interpretação. Como pode um fato ser amedrontador a não ser que esteja em desacordo com o que valorizas mais do que a verdade? A razão te dirá que esse fato é a tua liberação.

7. Nem tu nem o teu irmão podem ser atacados sozinhos. Mas nenhum dos dois pode aceitar um milagre em vez do ataque, sem que o outro seja abençoado por isso e curado da dor. A razão assim como o amor quer tranqüilizar-te e não busca assustar-te. O poder de curar o Filho de Deus te é dado porque ele não pode deixar de ser uno contigo. Tu és responsável pela forma como ele vê a si próprio. E a razão te diz que te é dado mudar toda a sua mente, que é una contigo em apenas um instante. E qualquer instante serve para trazer a completa correção dos seus erros e torná-lo íntegro. No instante em que escolhes deixar-te curar, nesse mesmo instante, vês toda a sua salvação completa junto com a tua. A razão te é dada para que compreendas que isso é assim. Pois a razão, benigna como é o propósito do qual ela é o meio, conduz persistentemente para longe da loucura na direção da meta da verdade. E aqui deixarás cair a carga da negação da verdade. Essa é a carga que é terrível e não a verdade.

8. Que tu e teu irmão estejam unidos é a tua salvação, a dádiva do Céu, não a dádiva do medo. O Céu parece ser uma carga para vós? Na loucura, sim. E, no entanto, o que a loucura vê tem que ser dissipado pela razão. A razão te assegura que o Céu é o que queres e tudo o que queres. Escuta Aquele Que fala com razão e traz a tua razão para que se alinhe com a Sua. Que estejas dis­posto a permitir que a razão seja o meio através do qual Ele te dirigirá quanto ao modo de deixar para trás a insanidade. Não te escondas por trás da insanidade com o fim de escapar da razão. Aquilo que a loucura quer ocultar, o Espírito Santo ainda exibe para que todos contemplem com contentamento.

9. Tu és o salvador do teu irmão. Ele é o teu. A razão fala com felicidade a respeito disso. A esse amável plano foi dado amor pelo Amor. E o que o Amor planeja é como Ele próprio nisso: sendo unido, Ele quer que aprendas o que tu não podes deixar de ser. E já que és uno com Ele, necessariamente te é dado dar o que foi dado por Ele e ainda continua sendo. Passa, nem que seja apenas um instante, na alegre aceitação do que te é dado para ser dado ao teu irmão e aprende com ele aquilo que foi dado aos dois. Dar não é mais abençoado do que receber. Mas também não é menos. .. .

10. O Filho de Deus é sempre abençoado como um só. E à medida em que a sua gratidão vai para ti que o abençoaste, a razão te dirá que é impossível que estejas à parte da bênção. A gratidão que ele te oferece, te lembra das graças que o teu Pai te dá por com­pletá-Lo. E só aqui a razão te diz que podes compreender o que não podes deixar de ser. O teu Pai está tão perto de ti quanto o teu irmão. Entretanto, existe algo que possa estar mais perto de ti do que o teu Ser?

11. O poder que tens sobre o Filho de Deus não é uma ameaça à sua realidade. É apenas um testemunho dela. Em que outro lu­gar, senão em si próprio, poderia estar a sua liberdade, se ele já é livre? E quem poderia prendê-lo a não ser ele mesmo, se nega a própria liberdade? Não se zomba de Deus; nem tampouco Seu Filho pode ser aprisionado a não ser pelo seu próprio desejo. E é pelo seu próprio desejo que ele é liberto. Tal é a sua força e não a sua fraqueza. Ele está à mercê de si mesmo. E onde ele escolhe ser misericordioso, lá é livre. E onde, em vez disso, ele escolhe condenar, lá é mantido como um prisioneiro, esperando acorren­tado o próprio perdão a si mesmo para libertá-lo.


VII. A última questão sem resposta

1. Não vês que toda a tua miséria vem da estranha crença em que não tens poder? Ser impotente é o custo do pecado. A impotência é a condição do pecado, o único requisito que ele exige para que se acredite nele. Só os impotentes poderiam acreditar nele. A enormidade não tem apelo nenhum a não ser para o pequeno. E só aqueles que, em primeiro lugar, acreditam que são peque­nos, poderiam ver atrativos nela. Traição ao Filho de Deus é a defesa daqueles que não se identificam com ele. E tu és por ele ou contra ele, ou o amas ou o atacas, proteges a sua unidade ou o vês despedaçado e abatido pelo teu ataque.

2. Ninguém acredita que o Filho de Deus não tenha poder. E aqueles que se vêem impotentes necessariamente acreditam que não são o Filho de Deus. O que podem ser exceto seu inimigo? E o que podem fazer exceto invejar o seu poder e pela sua inveja fazerem-se temerosos em relação a esse poder? Esses são os es­curos, silenciosos e temerosos, solitários e incomunicáveis, com medo de que o poder do Filho de Deus venha a trespassá-los e matá-los e assim erguem contra ele a sua impotência. Eles se unem ao exército dos impotentes para batalhar na sua guerra de vingança, amargura e despeito contra ele, para torná-lo uno com eles. Porque não têm o conhecimento de que são unos com ele, não sabem a quem odeiam. Eles são, de fato, um exército pesaro­so, cada um com tanta possibilidade de atacar o seu irmão ou voltar-se contra si mesmo quanto de lembrar que pensavam que tinham uma causa em comum.

3. Frenéticos, vociferantes e fortes os escuros parecem ser. No en­tanto, não conhecem o próprio “inimigo”, sabem apenas que o odeiam. No ódio, eles vieram a se juntar, mas não se uniram uns aos outros. Pois caso o tivessem feito, o ódio seria impossível. O exército dos impotentes tem que ser dispersado na presença da força. Aqueles que são fortes nunca são traidores porque não têm necessidade de sonhar com o poder e de encenar o seu sonho. Como poderia um exército atuar em sonhos? Atuaria de qual­quer maneira. Poderia ser visto atacando qualquer pessoa com qualquer coisa. Sonhos não têm razão em si mesmos. Uma flor torna-se uma lança envenenada, uma criança torna-se um gigante e um camundongo ruge como um leão. E o amor torna-se ódio com a mesma facilidade. Isso não é um exército, mas uma casa de loucos. O que parece ser um ataque planejado é um hospício.

4. O exército dos impotentes é, de fato, fraco. Ele não tem armas não tem inimigo. Sim, ele pode assolar o mundo e buscar um Inimigo. Mas jamais pode achar o que não existe. Sim, ele pode sonhar que achou um inimigo, mas esse se deslocará até mesmo no momento em que for atacado de forma que o exército corre imediatamente para achar outro e nunca vem a descansar na vitória. E, à medida em que corre, volta-se contra si mesmo, pensando que capturou um vislumbre do grande inimigo, que sem­pre esquiva-se do seu ataque assassino tornando-se alguma outra coisa. Como parece traiçoeiro esse inimigo que muda tanto a ponto de ser impossível reconhecê-lo.

5. No entanto, o ódio tem que ter um alvo. Não pode haver fé no pecado sem um inimigo. Quem, entre aqueles que acreditam no pecado, ousaria acreditar que não tem um inimigo? Poderia ele admitir que ninguém o tornou impotente? A razão com certeza lhe proporia não mais buscar o que não existe para ser achado. Entretanto, é preciso que, em primeiro lugar, ele esteja disposto a perceber um mundo onde isso não exista. Não é necessário que compreenda como poderá vê-lo. Nem deveria tentar. Pois se foca­liza em algo que não pode compreender, apenas ressaltará a sua própria impotência e permitirá que o pecado lhe diga que o seu inimigo tem que ser ele próprio. Ao invés disso, que pergunte a si mesmo apenas essas questões a respeito das quais ele não pode deixar de tomar uma decisão para que isso seja feito para ele:

Desejo um mundo que eu governe ao invés de um mundo que me governe?

Desejo um mundo no qual eu tenha poder ao invés de ser impotente?

Desejo um mundo no qual não tenho inimigos e não posso pecar?

E quero eu ver aquilo que neguei porque é a verdade?

6. Podes já ter respondido às primeiras três questões, mas ainda não à última. Pois essa ainda parece amedrontadora e distinta das outras. No entanto, a razão te asseguraria que todas elas são a mesma. Nós dissemos que esse ano enfatizaria a igualdade das coisas que são a mesma. Essa questão final, que é de fato a últi­ma pela qual tens que te decidir, ainda parece conter uma ameaça que as outras já não te trazem. E essa diferença imaginada teste­munha o fato de que tu acreditas que a verdade pode ser o inimi­go que ainda podes achar. Aqui, então, aparentemente estaria a última esperança remanescente de achar o pecado e de não acei­tar o poder.

7. Não te esqueças de que a escolha entre o pecado ou a verdade, impotência ou poder, é a escolha entre atacar ou curar. Pois a cura vem do poder e o ataque da impotência. Aquele que atacas, não podes querer curar. E aquele que queres ver curado, tem que ser aquele que escolheste para ser protegido do ataque. E o que é essa decisão senão a escolha entre vê-lo através dos olhos do cor­po ou permitir que ele seja revelado a ti através da visão? Como essa decisão conduz a seus efeitos, não é problema teu. Mas o que queres ver não pode deixar de ser escolha tua. Esse é um curso sobre a causa, não sobre o efeito.

8. Considera cuidadosamente a tua resposta à última questão que deixaste ainda sem resposta. E deixa que a tua razão te diga que ela tem que ser respondida e é respondida nas outras três. E en­tão ficará claro para ti, à medida em que observas os efeitos do pecado sob qualquer forma, que tudo o que precisas fazer é simplesmente perguntar a ti mesmo:

É isso o que eu quero ver? É isso o que eu quero?

9. Essa é a tua única decisão; essa é a condição para o que ocorre. Como acontece é irrelevante, mas não o por quê. Tens controle sobre isso. E se escolhes ver um mundo sem um inimigo no qual não és impotente, os meios para vê-lo te serão dados.

10. Por que a questão final é tão importante? A razão te dirá por­que. Ela é a mesma que as outras três, exceto no que diz respeito ao tempo. As outras são decisões que podem ser tomadas e en­tão desfeitas e refeitas outra vez. Mas a verdade é constante e implica um estado no qual as vacilações são impossíveis. Podes desejar um mundo que governes e que não te governe e depois mudar a tua mente. Podes desejar trocar a tua impotência por poder e perder esse desejo, assim que um pequeno lampejo de pecado te atrair. E podes querer ver um mundo sem pecado e permitir que um ‘inimigo’ te tente a usar os olhos do corpo e mudar o que desejas.

11. Em conteúdo, todas as questões são a mesma. Pois cada uma pergunta se estás disposto a trocar o mundo do pecado pelo que o Espírito Santo vê, já que é isso o que o mundo do pecado nega. E, portanto, aqueles que olham para o pecado estão vendo a negação do mundo real. Apesar disso, a última questão acrescenta o desejo por constância ao teu desejo de ver o mundo real, de tal modo que esse desejo vem a ser o único que tens. Respondendo ‘sim’ à questão final, acrescentas sinceridade às decisões que já tomaste em relação a todo o resto. Pois somente então terás renunciado à opção de mais uma vez mudares de idéia. Quando isso for o que não queres, o resto terá sido totalmente respondido.

12. Por que pensas que não tens certeza se as outras questões fo­ram respondidas? Seria necessário que fossem perguntadas com tanta freqüência, caso tivessem sido? Enquanto a última decisão não é tomada, a resposta é ao mesmo tempo ‘sim’ e ‘não’. Pois respondeste ‘sim’ sem perceber que esse ‘sim’ necessariamente significa ‘que não disseste não’. Ninguém se decide contra a sua própria felicidade, mas pode fazê-lo quando não vê que é isso o que está fazendo. E se vê a sua felicidade como alguma coisa em mudança constante, agora isso, agora aquilo, e agora uma sombra fugidia que não está ligada a coisa alguma, ele de fato se decide contra a felicidade.

13. A felicidade fugidia ou a felicidade em forma mutante, que se desloca com o tempo e o lugar, é uma ilusão que não tem signifi­cado. A felicidade tem que ser constante, porque ela é alcançada pela renúncia ao desejo do inconstante. A alegria não pode ser percebida, exceto através da visão constante. E a visão constante só pode ser dada àqueles que desejam a constância. O poder do desejo do Filho de Deus permanece sendo a prova de que ele está errado quando se vê como impotente. Deseja o que queres e o contemplarás e pensarás que é real. Todo pensamento tem ape­nas o poder de liberar ou matar. E nenhum pensamento pode deixar a mente do pensador ou deixar de afetá-lo.


VIII. A mudança interior

1. São os pensamentos, então, perigosos? Para os corpos, sim! Os pensamentos que parecem matar são aqueles que ensinam ao pensador que ele pode ser morto. E assim ele ‘morre’ devido ao que aprendeu. Ele vai da vida para a morte, a prova final de que deu mais valor ao inconstante do que à constância. Com certeza, ele pensou que queria a felicidade. Contudo, não a desejava por­que a felicidade era a verdade e, portanto, tem que ser constante.

2. A constância da alegria é uma condição bastante alheia à tua compreensão. Entretanto, se apenas pudesses imaginar o que ela não pode deixar de ser, tu a desejarias mesmo sem compreendê-la. A constância da felicidade não tem exceções, não muda de forma alguma. É inabalável como o Amor de Deus pela Sua cria­ção. Segura em sua visão assim como o seu Criador no que Ela conhece, a felicidade olha para todas as coisas e vê que são a mesma. Ela não vê o efêmero, pois deseja que todas as coisas sejam como ela própria e as vê assim. Nada tem o poder do confundir sua constância, porque o seu próprio desejo não pode ser abalado. Ela vem com toda certeza àqueles que vêem que a questão final é necessária para o resto, assim como a paz não pode deixar de vir àqueles que escolhem curar e não julgar.

3. A razão te dirá que não podes pedir felicidade de maneira in­constante. Pois se recebes o que desejas e se a felicidade é cons­tante, então só precisas pedir felicidade uma única vez para tê-la sempre. E se não a tens sempre, sendo ela o que é, não a pediste. Pois ninguém falha em pedir o que deseja a qualquer coisa que ele acredite que possa oferecer alguma promessa de poder dar-lhe o que quer. Ele pode estar errado quanto ao que pede, aonde e a quê. Entretanto, ele pedirá porque o desejo é uma solicitação, um pedido feito por alguém a quem o próprio Deus jamais falhará em responder. Deus já deu tudo o que ele realmente quer. Contudo, aquilo do qual ele está incerto, Deus não pode dar. Pois ele não o deseja enquanto permanece incerto e a dádiva de Deus não pode deixar de ser incompleta a menos que seja recebida.

4. Tu, que completas a Vontade de Deus e és a Sua felicidade, cuja vontade é tão poderosa quanto a Sua, com um poder que não se perde nas tuas ilusões, pensa com cuidado na razão pela qual ainda não decidiste como responderás à última questão. A tua resposta às outras te possibilitou uma ajuda para que já sejas par­cialmente são. E, no entanto, é a questão final que, na realidade, pergunta se estás disposto a ser totalmente são.

5. O que é o instante santo senão o apelo de Deus para que reco­nheças o que Ele te deu? Aqui está o grande apelo à razão, a consciência do que está sempre presente para ser visto, a felicida­de que poderia ser sempre tua. Aqui está a paz constante que poderias experimentar para sempre. Aqui o que a negação ne­gou te é revelado. Pois aqui, a questão final já está respondida e o que pedes já foi dado. Aqui está o futuro agora, pois o tempo é impotente devido ao teu desejo por algo que nunca vai mudar. Isso é assim pois pediste que nada se interponha entre a santida­de do teu relacionamento e a tua consciência dessa santidade.