Capítulo 19 - ALCANÇAR A PAZ
I. Cura e fé
1. Nós dissemos anteriormente que quando uma situação é totalmente dedicada à verdade, a paz é inevitável. Alcançá-la é o critério pelo qual a integridade da dedicação pode ser seguramente avaliada. No entanto, nós também dissemos que a paz jamais será alcançada sem fé, pois o que é dedicado à verdade como sua única meta é trazido à verdade pela fé. Essa fé abrange todas as pessoas envolvidas, pois só assim a situação é percebida de modo significativo e como um todo. E todas as pessoas têm que estar envolvidas ou a tua fé é limitada e a tua dedicação incompleta.
2. Toda situação percebida de maneira adequada, vem a ser uma oportunidade de curar o Filho de Deus. E ele é curado porque tu lhe ofereceste a fé, entregando-o ao Espírito Santo e liberando-o de todas as exigências que o teu ego faria. Assim tu o vês livre e essa visão o Espírito Santo compartilha. E uma vez que Ele a compartilha, Ele a deu e assim Ele cura através de ti. É essa união com Ele em um único propósito que faz com que esse propósito seja real, porque tu o tornas íntegro. E isso é cura. O corpo é curado porque vieste sem ele e te uniste à Mente na qual está toda a cura.
3. O corpo não pode curar, porque não pode ficar doente. Não necessita de cura. Sua saúde ou doença depende inteiramente de como a mente o percebe e do propósito para o qual a mente quer usá-lo. É óbvio que um segmento da mente pode ver-se como se estivesse separado do Propósito Universal. Quando isso ocorre, o corpo vem a ser a sua arma, usada contra esse Propósito para demonstrar o “fato” de que a separação ocorreu. O corpo assim vem a ser o instrumento da ilusão, agindo de acordo com ela, vendo o que não está presente, ouvindo o que a verdade nunca disse e comportando-se de maneira insana, pois é aprisionado pela insanidade.
4. Não deixes de ver a nossa afirmação anterior segundo a qual a falta de fé conduz diretamente a ilusões. Pois a falta de fé é a percepção de um irmão como um corpo e o corpo não pode ser usado para propósitos de união. Se, então, vês o teu irmão como um corpo, estabeleceste uma condição na qual unir-se a ele vem a ser impossível. A tua falta de fé em relação ao teu irmão te separou dele e manteve ambos à parte da cura. A tua falta de fé assim se opôs ao propósito do Espírito Santo e trouxe ilusões, centradas no corpo, para se interpor entre vós. E o corpo parecerá estar doente, pois fizeste dele um “inimigo” da cura e o oposto da verdade.
5. Não pode ser difícil reconhecer que a fé tem que ser o oposto da falta de fé. No entanto, o que é diferente na forma como elas operam é menos evidente, embora isso decorra diretamente da diferença fundamental do que são. A falta de fé sempre quer limitar e atacar; a fé, remover todas as limitações e tomar íntegro. A falta de fé quer destruir e separar; a fé quer unir e curar; a falta de fé quer interpor ilusões entre o Filho de Deus e seu Criador; a fé remover todos os obstáculos que parecem surgir entre eles. A falta de fé é totalmente dedicada às ilusões; a fé, totalmente dedicada à verdade. Dedicação parcial é impossível. A verdade é a ausência de ilusões; ilusão, a ausência de verdade. Ambas não podem estar juntas, nem podem ser percebidas no mesmo lugar. Dedicar-se a ambas é fixar uma meta para sempre impossível de ser atingida, pois parte dela é buscada através do corpo, considerado como um meio de buscar a realidade através do ataque. A outra parte quer curar e, portanto, apela para a mente e não para o corpo.
6. A concessão inevitável é a crença segundo a qual o corpo tem que ser curado, não a mente. Pois essa meta dividida deu a ambos uma realidade igual, que só seria possível se a mente fosse limitada ao corpo e dividida em pequenas partes de aparente integridade, mas sem conexão. Isso não fará dano no corpo, mas manterá em mente o sistema de pensamento delusório. Aqui, então, a cura é necessária. E é aqui que está a cura. Pois Deus não concedeu a cura como algo à parte da doença, nem colocou o remédio onde a doença não pode estar. Eles estão juntos e quando são vistos juntos, todas as tentativas de manter tanto a verdade quanto a ilusão em mente, onde ambas necessariamente estão, são reconhecidas como tentativas dedicadas à ilusão e são abandonadas quando trazidas à verdade e vistas como totalmente irreconciliáveis com a verdade, em qualquer aspecto ou em qualquer forma.
7. A verdade e a ilusão não têm nenhuma conexão. Isso permanecerá para sempre verdadeiro, por mais que busques conectá-las. Mas as ilusões são sempre conectadas entre si assim como a verdade. Tanto as ilusões quanto a verdade são coesas internamente, formando um sistema de pensamento completo, ainda que totalmente desconexo em relação ao outro. E perceber isso é reconhecer onde está a separação e onde ela tem que ser curada. O resultado de uma idéia nunca está separado de sua fonte. A idéia da separação produziu o corpo e permanece conectada a ele, fazendo com que o corpo seja doente devido à identificação da mente com ele. Pensas que estás protegendo o corpo ocultando essa conexão, pois escondê-la parece manter a tua identificação a salvo do “ataque” da verdade.
8. Se apenas compreendesses o quanto esse estranho ocultar feriu a tua mente e como a tua própria identificação passou a ser confusa em função disso! Não vês o quanto é grande a devastação causada pela tua falta de fé, porque a falta de fé é um ataque que parece justificado pelos seus resultados. Pois negando a fé, vês o que é indigno dela e não és capaz de olhar além das barreiras para o que está unido a ti.
9. Ter fé é curar. É o sinal de que aceitaste a Expiação para ti mesmo e, portanto, queres compartilhá-la. Através da fé, ofereceste a dádiva da liberdade em relação ao passado, que tu recebeste. Não uses nada que o teu irmão tenha feito anteriormente para condená-lo agora. Livremente escolheste não ver os seus erros, olhando além de todas as barreiras entre tu e ele e vendo a ambos como um só. E nele vês que a tua fé está plenamente justificada. Não existe justificativa para a falta de fé, mas a fé é sempre justificada.
10. A fé é o oposto do medo, tanto parte do amor quanto o medo é parte do ataque. A fé é o reconhecimento da união. É o amável reconhecimento de cada um como um Filho do teu Pai amorosíssimo, amado por Ele como tu e, portanto, amado por ti como tu mesmo. É o Seu Amor que une a ti e ao teu irmão e por Esse Amor não queres manter ninguém separado do teu. Cada um aparece exatamente como é percebido no instante santo, unido ao teu propósito de seres liberado da culpa. Vês o Cristo nele e ele é curado porque olhas para o que faz com que a fé seja para sempre justificada em todas as pessoas.
11. A fé é o dom de Deus, através Daquele que Deus te deu. A falta de fé olha para o Filho de Deus e o julga indigno do perdão. Mas através dos olhos da fé, o Filho de Deus é visto já tendo sido perdoado, livre de toda a culpa que ele colocou sobre si mesmo. A fé só o vê agora, porque não olha para o passado para julgá-lo, mas quer ver nele somente o que veria em ti. Ela não vê através dos olhos do corpo, nem olha para os corpos em busca de justificativas para si mesma. É a mensageira da nova percepção, enviada para reunir testemunhas de que ela veio e devolver suas mensagens a ti.
12. A fé é tão facilmente trocada pelo conhecimento como o mundo real. Pois a fé surge da percepção do Espírito Santo e é o sinal de que tu a compartilhas com Ele. A fé é uma dádiva que ofereces ao Filho de Deus através Dele e é totalmente aceitável para o seu Pai assim como para Ele. E, portanto, é oferecida a ti. O teu relacionamento santo, com o seu novo propósito, te oferece a fé para que a dês ao teu irmão. A tua falta de fé te separou do teu irmão e assim não reconheces a salvação nele. No entanto, a fé vos une na santidade que vêem não através dos olhos do corpo, mas no modo de ver Daquele que Se uniu a vós e em Quem vós estais unidos.
13. A graça não é dada a um corpo, mas à mente. E a mente que a recebe olha de imediato para além do corpo e vê o lugar santo onde ela foi curada. Lá está o altar onde foi dada a graça e no qual ela se encontra. Oferece, então, graça e bênção ao teu irmão, pois tu estás no mesmo altar onde a graça foi depositada para ambos. E sejais curados pela graça juntos para que possam curar através da fé.
14. No instante santo, tu e o teu irmão estão diante do altar que Deus ergueu a Si próprio e a vós. Deixai a falta de fé de lado e vinde a ele juntos. Lá vereis o milagre do vosso relacionamento tal como foi refeito através da fé. E é lá que vais reconhecer que não existe nada que a fé não possa perdoar. Nenhum erro interfere com o que ela vê com calma, trazendo o milagre da cura com a mesma facilidade a todos eles. Pois os mensageiros do amor fazem o que são enviados para fazer, trazendo de volta a boa nova de que isso foi feito a ti e ao teu irmão que estais juntos diante do altar do qual eles foram enviados.
15. Assim como a falta de fé manterá os teus pequenos reinos desertos e separados, a fé ajudará o Espírito Santo a preparar a terra para o mais santo dos jardins que Ele quer fazer. Pois a fé traz paz e assim invoca a verdade para que ela entre e torne belo aquilo que já foi preparado para a beleza. A verdade segue a fé e a paz, completando o processo de tornar belo que elas iniciam. Pois a fé ainda é uma meta do aprendizado, não mais necessária depois que a lição já foi aprendida. A verdade, porém, permanecerá para sempre.
16. Permite, então, que a tua dedicação seja para com o eterno e aprende como não interferir com ele e torná-lo escravo do tempo. Pois o que tu pensas que fazes com o eterno, fazes contigo mesmo. Aquele que Deus criou como Seu Filho não é escravo de nada, sendo senhor de tudo, junto com o seu Criador. Podes escravizar um corpo, mas uma idéia é livre, incapaz de ser mantida na prisão ou de qualquer modo limitada exceto pela mente que a pensou. Pois ela permanece unida à sua fonte, que é seu carcereiro ou seu libertador, de acordo com o que ela escolhe como propósito para si mesma.
II. Pecado versus erro
1. É essencial que o erro não seja confundido com o pecado e é essa distinção que faz com que a salvação seja possível. Pois o erro pode ser corrigido e o errado acertado. Mas o pecado, se fosse possível, seria irreversível. A crença no pecado não pode deixar de estar baseada na firme convição de que as mentes, não os corpos, podem atacar. E dessa forma a mente é culpada e para sempre assim permanecerá, a não ser que uma outra mente que não faça parte dela possa lhe dar absolvição. O pecado pede punição assim como o erro pede correção, e acreditar que punição é correção é claramente insano.
2. O pecado não é um erro, pois o pecado implica em uma arrogância que falta à idéia de erro. Pecar seria violar a realidade e ter sucesso. O pecado é a proclamação de que o ataque é real e a culpa justificada. Ele assume que o Filho de Deus é culpado, tendo assim tido sucesso na perda da sua inocência e fazendo de si mesmo algo que Deus não criou. Assim a criação é vista como se não fosse eterna e a Vontade de Deus fica aberta à oposição e à derrota. O pecado é a grande ilusão subjacente à toda grandiosidade do ego. Pois através dele o próprio Deus é mudado e refeito como um ser incompleto.
3. O Filho de Deus pode estar equivocado, pode enganar-se, pode até mesmo voltar o poder de sua mente contra si mesmo. Mas pecar ele não pode. Não há nada que ele seja capaz de fazer que possa realmente mudar a sua realidade de forma alguma, nem fazer com que ele seja realmente culpado. Isso é o que o pecado quer fazer, pois tal é o seu propósito. No entanto, apesar de toda a selvagem insanidade inerente a toda a idéia de pecado, ele é impossível. Pois o salário do pecado é a morte e como pode o imortal morrer?
4. Um dos principais dogmas na insana religião do ego é que o pecado não é um erro mas a verdade e é a inocência que pretende enganar. A pureza é vista como arrogância e a aceitação do ser como pecaminoso é percebida como santidade. E é essa doutrina que substitui a realidade do Filho de Deus tal como seu Pai o criou e tal como a Sua Vontade determinou que ele fosse para sempre. Isso é humildade? Ou, ao contrário, é uma tentativa de arrancar a criação da verdade e mantê-la separada?
5. Qualquer tentativa de re-interpretar o pecado como um erro é sempre indefensável para o ego. A idéia de pecado é totalmente sacrossanta para o seu sistema de pensamento e não se pode abordá-la senão com reverência e temor. É o conceito mais “santo” do sistema do ego: belo e poderoso, totalmente verdadeiro e necessariamente protegido com todas as formas de defesa ao seu dispor. Pois aqui está a sua “melhor” defesa, à qual todas as outras servem. Aqui está a sua armadura, a sua proteção e o propósito fundamental do relacionamento especial na interpretação do ego.
6. Pode, de fato, dizer que o ego construiu o seu mund0 sobre o pecado. Só em tal mundo poderiam todas as coisas estar de cabeça para baixo. Essa é a estranha ilusão que faz com que as nuvens da culpa pareçam pesadas e impenetráveis. Nisso se acha a solidez que os fundamentos desse mundo parecem ter. Pois o pecado fez com que a criação mudasse de uma Idéia de Deus para um ideal que o ego quer, um mundo que ele governa, feito de corpos sem mentes e capazes de completa corrupção e decadência. Se isso é um equívoco, pode ser facilmente desfeito através da verdade. Qualquer equívoco pode ser corrigido, se for permitido que a verdade o julgue. Mas se ao equívoco é dado o “status” de verdade, a que se pode levá-la? A “santidade” do pecado é mantida em seu lugar exatamente por meio desse estranho dispositivo. Como a verdade, ele é inviolável e todas as coisas são levadas a ele para serem julgadas. Como um equívoco, ele tem que ser levado à verdade. É impossível ter fé no pecado, pois o pecado é a ausência de fé. Entretanto, é possível ter fé na possibilidade de se corrigir um equívoco.
7. Não há nenhuma pedra, em toda a cidadela armada do ego, que seja mais zelosamente defendida do que a idéia de que o pecado é real, a expressão natural do que o Filho de Deus fez de si mesmo e do que ele é. Para o ego, isso não é nenhum equívoco. Pois essa é a sua realidade, essa é a “verdade” da qual sempre será impossível escapar. Esse é o seu passado, o seu presente e o seu futuro. Pois ele conseguiu, de alguma maneira, corromper o seu Pai e mudar por completo a Sua Mente. Lamente, então, a morte de Deus, a Quem o pecado matou! E esse seria o desejo do ego, que ele em sua loucura acredita ter realizado.
8. Não preferes que tudo isso não passe de um equívoco, inteiramente corrigível e do qual é tão fácil escapar que toda a sua correção é como caminhar através de uma névoa para o sol? Pois isso é tudo o que ele é. Talvez sejas tentado a concordar com o ego no sentido de achar que é muito melhor ser pecador do que estar equivocado. Mas pensa com cuidado antes de te permitires tomar essa decisão. Não a abordes levianamente, pois é a decisão entre o inferno ou o Céu.
III. A irrealidade do pecado
1. A atração da culpa se acha no pecado, não no erro. O pecado será repetido devido a essa atração. O medo pode vir a ser tão agudo que a encenação do pecado é negada. Mas enquanto a culpa permanecer atraente, a mente vai sofrer e não vai abandonar a idéia do pecado. Pois a culpa ainda a chama e a mente a ouve e anseia por ela, fazendo de si mesma uma presa voluntária ao seu apelo doentio. O pecado é uma idéia do mal que não pode ser corrigida porque, apesar disso, será para sempre desejável. Como uma parte essencial daquilo que o ego pensa que tu és, tu sempre o quererás. E só um vingador, com uma mente diferente da tua, poderia exterminá-lo através do medo.
2. O ego não pensa que seja possível que o amor, e não o medo, seja o que o pecado realmente invoca e que ele sempre responda. Pois o ego traz o pecado ao medo exigindo punição. Entretanto, a punição não é senão outra forma de proteger a culpa, já que o que merece punição tem que ter sido realmente feito. A punição é sempre a grande preservadora do pecado, tratando-o com respeito e honrando a sua enormidade. O que tem que ser punido, tem que ser verdadeiro. E o que é verdadeiro tem que ser eterno e será repetido infindavelmente. Pois o que pensas que é real, tu queres e não abandonarás.
3. Um erro, por outro lado, não é atraente. O que vês claramente como um equívoco queres corrigir. Às vezes, um pecado pode ser repetido vezes e mais vezes com resultados obviamente desoladores, mas sem perder o seu apelo. E, de repente, mudas o seu status de pecado para equívoco. Agora não o repetirás, simplesmente pararás e o abandonarás a não ser que a culpa permaneça. Pois então estarás apenas mudando a forma do pecado, admitindo que ele foi um erro, mas mantendo-o incorrigível. Isso não é realmente uma mudança na tua percepção, pois é o pecado que pede punição, não o erro.
4. O Espírito Santo não pode punir o pecado. Equívocos Ele reconhece e quer corrigi-los todos conforme Deus Lhe confiou fazê-lo. Mas o pecado Ele não conhece e nem pode reconhecer equívocos que não possam ser corrigidos. Pois um equívoco que não pode ser corrigido não tem significado para Ele. Os equívocos existem para serem corrigidos e nada mais pedem. O que pede punição necessariamente está pedindo o nada. Cada equívoco tem que ser um pedido de amor. O que é, então, o pecado? O que poderia ser senão um equívoco que queres manter escondido, um pedido de ajuda que não queres que seja ouvido e, portanto, queres manter sem resposta?
5. No tempo, o Espírito Santo vê claramente que o Filho de Deus pode cometer equívocos. Nisso compartilhas a Sua visão. No entanto, não compartilhas o Seu reconhecimento da diferença entre tempo e eternidade. E quando a correção está completa, o tempo é eternidade. O Espírito Santo pode ensinar-te como olhar para o tempo de maneira diferente e ver o que está além, mas não enquanto acreditas no pecado. No erro, sim, pois isso pode ser corrigido pela mente. Mas o pecado é a crença segundo a qual a tua percepção é imutável e a mente tem que aceitar como verdadeiro o que lhe é dito através dela. Se não obedece, a mente é julgada insana. O único poder que poderia mudar a percepção é assim mantido impotente, preso ao corpo pelo medo da percepção mudada que o seu Professor, Aquele que é um com ela, traria.
6. Quando és tentado a acreditar que o pecado é real, lembra-te disso: se o pecado é real, nem tu nem Deus o são. Se a criação é extensão, o Criador tem que ter estendido a Si Mesmo e é impossível que o que é parte Dele não seja absolutamente como o resto. Se o pecado é real, Deus tem que estar em guerra Consigo Mesmo. Ele tem que estar dividido e dilacerado entre bem e mal, em parte são e parcialmente insano. Pois Ele tem que ter criado aquilo cuja vontade é destruí-Lo e tem o poder de fazê-lo. Não é mais fácil acreditar que tu te equivocaste do que acreditar nisso?
7. Enquanto acreditas que a tua realidade ou a do teu irmão está limitada a um corpo, acreditarás no pecado. Enquanto acreditas que os corpos podem se unir, acharás a culpa atraente e acreditarás que o pecado é precioso. Pois a crença em que os corpos limitam a mente conduz a uma percepção do mundo na qual a prova da separação parece estar em toda parte. E Deus e a Sua criação parecem estar divididos e depostos. Pois o pecado quer provar que o que Deus criou santo não poderia prevalecer sobre ele, nem permanecer tal como é diante do seu poder. O pecado é percebido como se fosse mais poderoso do que Deus; diante dele, o próprio Deus teria que se inclinar e oferecer Sua criação ao seu conquistador. Isso é humildade ou é loucura?
8. Se o pecado é real, tem que estar para sempre além da esperança da cura. Pois haveria um poder além do de Deus, um poder capaz de fazer uma outra vontade que poderia atacar e superar a Sua Vontade e conferir ao Seu Filho uma vontade distinta da Sua e mais forte. E cada parte da criação fragmentada de Deus teria uma vontade diferente, oposta à Sua e em eterna oposição a Ele e umas às outras. O teu relacionamento santo tem como propósito agora a meta de provar que isso é impossível. O Céu sorriu para ele e a crença no pecado foi desenraizada nesse sorriso de amor. Tu ainda a vês porque não reconheces que o seu fundamento se foi. Sua fonte foi removida e assim pode ser valorizada só por um pequeno período de tempo antes de sumir. Apenas o hábito de olhar procurando por ela ainda permanece.
9. E, no entanto, olhas com o sorriso do Céu sobre os teus lábios e com a bênção do Céu sobre a tua vista. Não verás o pecado por muito tempo, pois, na nova percepção, a mente o corrige quando parece ser visto e ele vem a ser invisível. Os erros são rapidamente reconhecidos e rapidamente entregues à correção para serem curados, não escondidos. Tu serás curado do pecado e de toda a sua devastação no instante em que deixares de dar a ele qualquer poder sobre o teu irmão. E tu o ajudarás a superar os equívocos, liberando-o da crença no pecado com alegria.
10. No instante santo, verás o sorriso do Céu brilhando sobre tu e teu irmão. E derramarás a tua luz sobre ele, reconhecendo com contentamento a graça que foi dada a ti. Pois o pecado não prevalecerá contra uma união para a qual o Céu sorriu. A tua percepção foi curada no instante Santo que o Céu te deu. Esquece o que viste e ergue teus olhos com fé para o que agora podes ver. As barreiras no caminho do Céu desaparecerão diante da tua vista santa, pois a ti, que eras cego, foi dada a visão e podes ver. Não olhes para o que foi removido, mas para a glória que foi restaurada para que tu a vejas.
11. Olha para o teu Redentor e contempla o que Ele quer te mostrar no teu irmão e não permitas que o pecado mais uma vez se erga para cegar os teus olhos. Pois o pecado quer manter-te separado dele, mas o teu Redentor quer que olhes para o teu irmão como para ti mesmo. O teu relacionamento agora é um templo de cura, um lugar onde todos os que estão cansados podem vir e descansar. Aqui está o descanso que nos espera a todos após a jornada. E ele é trazido para mais perto de todos pelo teu relacionamento.
IV. Os obstáculos à paz
1. À medida que a paz se estende do fundo de ti para abraçar toda a Filiação e lhe dar descanso, ela encontrará muitos obstáculos. Alguns deles tu tentarás impor. Outros parecerão surgir de algum outro lugar: dos teus irmãos e de vários aspectos do mundo exterior. No entanto, a paz gentilmente irá cobri-los, estendendo-se para o que vem depois completamente desobstruída. A extensão do propósito do Espírito Santo para outras pessoas, a partir do teu relacionamento para trazê-las gentilmente a ele é o caminho através do qual Ele alinhará os meios e a meta. A paz que Ele deposita dentro de ti e do teu irmão estender-se-á em quietude a cada aspecto da vossa vida, cercando a ti e ao teu irmão de felicidade radiante e da calma consciência da proteção completa. E vós carregareis sua mensagem de amor, segurança e liberdade a cada um que se aconchegue no vosso templo, onde a cura espera por ele. Vós não esperareis para dar-lhe isso, pois o chamarão e ele vos responderá, reconhecendo no vosso chamado o Chamado por Deus. E vós o fareis entrar e dareis descanso a ele como vos foi dado.
2. Tudo isso tu farás. Entretanto, a paz, que já está profundamente, dentro de ti, em primeiro lugar tem que se expandir e fluir através dos obstáculos que colocaste diante dela. Isso tu farás, pois nada do que é empreendido com o Espírito Santo é deixado por terminar. De fato, não podes estar certo de coisa alguma que vejas fora de ti, mas disso podes estar certo: o Espírito Santo pede que Lhe ofereças um lugar de descanso, aonde tu descansarás Nele. Ele te respondeu e entrou no teu relacionamento. Não queres retribuir agora a amabilidade do Espírito Santo e entrar em um relacionamento com Ele? Pois foi Ele Que ofereceu ao teu relacionamento a dádiva da santidade, sem a qual teria sido para sempre impossível apreciar o teu irmão.
3. A gratidão que deves a Ele, Ele só pede que a recebas por Ele. E quando olhas com gentil amabilidade para o teu irmão, estás contemplando a Ele. Pois estás olhando para o lugar onde Ele está e não para o que está à parte Dele. Tu não podes ver o Espírito Santo, mas podes ver os teus irmãos verdadeiramente. E a luz nos teus irmãos vai te mostrar tudo o que precisas ver. Quando a paz em ti tiver sido estendida para abranger todas as pessoas, a função do Espírito Santo aqui terá sido realizada. Existirá, então, alguma necessidade de ver o que quer que seja? Quando o próprio Deus tiver dado o último passo, o Espírito Santo reunirá todos os agradecimentos e toda a gratidão que Lhe tiveres oferecido e os depositará gentilmente diante do Seu Criador, em nome de Seu Filho santíssimo. E o Pai os aceitará em Seu Nome. Que necessidade poderia existir de ver o que quer que seja na presença da Sua gratidão?
A. O primeiro obstáculo: o desejo de ficar livre da paz
1. O primeiro obstáculo através do qual a paz tem que fluir é o teu desejo de ficar livre dela. Pois ela não pode se estender a não ser que tu a conserves. És o centro a partir do qual ela se irradia para fora, para chamar os outros para dentro. És a sua casa, a sua morada tranqüila a partir da qual ela alcança gentilmente o exterior, mas sem jamais te deixar. Se queres deixá-la sem lar, como poderia ela habitar dentro do Filho de Deus? Se ela quer se espalhar por toda a criação, tem que começar contigo e a partir de ti atingir todo aquele que chama e levar-lhe o descanso através da união contigo.
2. Por que irias querer que a paz ficasse sem lar? O que pensas que ela tem que deixar de ter para habitar contigo? Qual parece ser o preço que não estás disposto a pagar? A pequena barreira de areia ainda se ergue entre tu e o teu irmão. Tu a queres reforçar agora? Não te é pedido que a abandones só para ti mesmo. Cristo te pede isso para Ele Mesmo. Ele quer trazer a paz a todas as pessoas e como pode Ele fazê-lo exceto através de ti? Permitirias que um pequeno muro de areia, uma parede de pó, uma diminuta barreira aparente ficasse entre os teus irmãos e a salvação? E no entanto, esse pequeno resquício de ataque que ainda valorizas contra o teu irmão é o primeiro obstáculo que a paz em ti encontra no seu caminho. Essa pequena parede de ódio ainda quer se opor à Vontade de Deus e mantê-la limitada.
3. O propósito do Espírito Santo descansa em paz dentro de ti. No entanto, ainda não estás disposto a deixar que ele se una a ti totalmente. Ainda te opões à Vontade de Deus, apenas um pouco. E esse pouco é um limite que queres impor ao todo. A Vontade de Deus é uma, não muitas. Não há oposição a ela, pois não há nenhuma outra além dela. Aquilo que ainda queres guardar por trás da tua pequena barreira e manter separado do teu irmão parece mais poderoso do que o universo, pois quer deter o universo e o seu Criador. Essa pequena parede quer esconder o propósito do Céu e mantê-lo fora do Céu.
4. Empurrarias a salvação para longe daquele que dá a salvação? Pois foi isso o que vieste a ser. A paz não poderia se afastar de ti assim como não poderia se afastar de Deus. Não tenhas medo desse pequeno obstáculo. Ele não pode conter a Vontade de Deus. A paz fluirá através dele e unir-se-á a ti sem impedimentos. A salvação não pode ser mantida longe de ti. Ela é o teu propósito. Não podes escolher à parte disso. Não tens nenhum propósito à parte do teu irmão nem à parte daquele que pediste ao Espírito Santo para compartilhar contigo. A pequena parede cairá quietamente sob as asas da paz. Pois a paz enviará os seus mensageiros a partir de ti a todo o mundo e as barreiras cairão diante da sua vinda com tanta facilidade quanto serão superadas aquelas que tu interpuseste.
5. Vencer o mundo não é mais difícil do que superar a tua pequena parede. Pois no milagre do teu relacionamento santo, sem essa barreira, todos os milagres estão contidos. Não há ordem de dificuldades em milagres, pois todos são o mesmo. Cada um é uma gentil vitória sobre o apelo da culpa pelo apelo do amor. Como é possível que isso deixe de ser realizado aonde quer que seja empreendido? A culpa não pode erguer barreiras reais contra isso. E tudo o que parece estar entre tu e o teu irmão tem que cair devido ao chamado ao qual tu respondeste. A partir de ti que respondeste, Aquele Que te respondeu quer chamar. A Sua casa é o teu relacionamento santo. Não tentes ficar entre Ele e o Seu propósito santo, pois esse propósito é o teu. Em vez disso, permite que Ele estenda em quietude o milagre do teu relacionamento a todas as pessoas nele envolvidas assim como ele foi dado.
6. Há um silêncio no Céu, uma feliz expectativa, uma pequena pausa de contentamento pelo reconhecimento do final da jornada. Pois o Céu te conhece bem, como tu conheces o Céu. Não existem ilusões entre tu e o teu irmão agora. Não olhes para a pequena parede de sombras. O sol ergueu-se acima dela. Como pode uma sombra manter-te afastado do sol? Do mesmo modo, as sombras não podem mais manter-te afastado da luz em que terminam as ilusões. Todo milagre não é senão o fim de uma ilusão. Tal foi a jornada, tal o seu fim. E na meta da verdade que tu aceitaste todas as ilusões têm que terminar.
7. O pequeno desejo insano de ficar livre Daquele Que convidaste a entrar empurrando-O para fora, não pode deixar de produzir conflito. Na medida em que olhas para o mundo, esse pequeno desejo sem raízes e flutuando sem destino, pode aterrissar e pousar brevemente em qualquer coisa, pois agora não tem mais propósito algum. Antes que o Espírito Santo entrasse para habitar contigo, ele parecia ter um propósito grandioso: a fixa e imutável dedicação ao pecado e aos seus resultados. Agora, ele não tem nenhum objetivo, vaga sem rumo, sem causar nada mais além de interrupções diminutas no apelo do amor.
8. Esse desejo, com o peso de uma pluma, essa ilusão diminuta, esse resquício microscópico da crença no pecado, é tudo o que resta do que antes parecia ser o mundo. Já não é mais uma barreira inexorável para a paz. Seu vagar sem destino faz com que seus resultados pareçam ser ainda mais erráticos e imprevisíveis do que antes. No entanto, o que poderia ser mais instável do que um sistema delusório organizado rigidamente? Sua aparente estabilidade é a fraqueza que o perpassa, que se estende a todas as coisas. A variação a que o pequeno resquício induz meramente indica seus resultados limitados.
9. Quão poderosa pode ser uma pequena pluma diante das grandes asas da verdade? Pode ela opor-se ao vôo de uma águia ou impedir o avanço do verão? Pode ela interferir com os efeitos do sol de verão sobre um jardim coberto de neve? Vê com que facilidade esse pequeno vestígio é erguido e carregado para longe, para nunca mais voltar e despede-te dele com contentamento, não com pesar. Pois ele, em si mesmo, não é nada e nada representava quando tinhas uma fé maior na sua proteção. Não preferes saudar com boas-vindas o sol de verão, ao invés de fixar o teu olhar no floco de neve que desaparece e tremer na lembrança do frio do inverno?
i. A atração da culpa
10. A atração da culpa produz medo do amor, pois o amor jamais olharia para a culpa de modo algum. É da natureza do amor só olhar para a verdade, pois vê a si mesmo nela, com a qual quer unir-se em união santa e completeza. Assim como o amor tem que olhar para o que vem depois do medo, o medo também não pode ver o amor. Pois o amor contém o fim da culpa, com tanta certeza quanto o medo depende dela. O amor só é atraído pelo amor. Não vendo a culpa de forma alguma, não vê medo algum. Sendo totalmente incapaz de ataque, não poderia ter medo. O medo é atraído para aquilo que o amor não vê e cada um deles acredita que o objeto do olhar do outro não existe. O medo olha para a culpa exatamente com a mesma devoção com que o amor olha para si mesmo. E cada um tem mensageiros que são enviados, os quais retornam com mensagens escritas na linguagem em que foi pedido o seu envio.
11. Os mensageiros do amor são gentilmente enviados e retornam com mensagens de amor e gentileza. Os mensageiros do medo são brutalmente despachados para buscar culpa e valorizar toda migalha de mal e de pecado que possam achar, sem perder nenhuma sob pena de morte, colocando-as respeitosamente diante de seu senhor e patrão. A percepção não pode servir a dois senhores, cada um solicitando mensagens de coisas diferentes em linguagens diferentes. Aquilo de que o medo se alimentaria, o amor não vê. Aquilo que o medo exige, o amor não é sequer capaz de ver. A violenta atração que a culpa tem pelo medo está totalmente ausente da gentil percepção do amor. Aquilo que o amor quer contemplar é sem significado para o medo e completamente invisível.
12. Os relacionamentos nesse mundo são o resultado de como é visto o mundo. E isso depende de que emoção foi chamada a enviar os seus mensageiros para contemplá-lo e retornar com a notícia do que viram. Os mensageiros do medo são treinados através do terror e tremem quando o seu patrão os chama para servi-lo. Pois o medo não tem misericórdia nem mesmo para com os seus amigos. Seus culpados mensageiros saem às escondidas em busca sedenta de culpa, pois são mantidos no frio e famintos e seu patrão, que só lhes permite festejar em cima do que devolvem a ele, faz com que sejam cruéis. Nenhum pequeno farrapo de culpa escapa de seus olhos famintos. E, em sua selvagem busca do pecado, lançam-se sobre qualquer coisa viva que vêem e carregam-na aos gritos a seu patrão para ser devorada.
13. Não envies ao mundo esses selvagens mensageiros para se banquetearem com ele e pilharem a realidade. Pois eles te trarão notícias de ossos, pele e carne. Foram ensinados a buscar o que é corruptível e a retornar com as gargantas cheias de coisas decadentes e apodrecidas. Para eles, essas coisas são belas, porque parecem aplacar seus selvagens acessos de fome. Pois eles são frenéticos com a dor do medo e querem evitar a punição daquele que os envia oferecendo-lhe aquilo que valorizam.
14. O Espírito Santo te deu os mensageiros do amor para enviar no lugar daqueles que treinaste através do medo. Eles estão tão ansiosos para te devolver o que valorizam quanto estão os outros. Se os envias, só verão o que é irrepreensível e belo, gentil e benigno. Eles terão o mesmo cuidado para não deixar escapar à sua atenção o menor ato de caridade, a mais diminuta expressão de perdão, o mais leve sopro de amor. E retornarão com todas as coisas felizes que acharem, para compartilhá-las amorosamente contigo. Não tenhas medo deles. Eles te oferecem a salvação. As suas mensagens são de segurança, pois vêem o mundo como algo benigno.
15. Se tu somente enviares os mensageiros que o Espírito Santo te dá, não querendo outras mensagens senão as suas, não mais verás o medo. O mundo será transformado diante da tua vista, limpo de toda a culpa e suavemente escovado com beleza. O mundo não contém nenhum medo que tu não tenhas colocado sobre ele. E nenhum que possas continuar vendo depois de pedir aos mensageiros do amor para removê-lo. O Espírito Santo te deu os Seus mensageiros para que os envies ao teu irmão e para que retornem a ti com aquilo que o amor vê. Eles foram dados com o fim de substituir os famintos cães do medo que enviaste em seu lugar. E prosseguem para dar significado ao fim do medo.
16. O amor também quer depositar um banquete diante de ti, com uma mesa coberta por uma toalha sem mancha, posta em um jardim tranqüilo, onde som nenhum jamais é ouvido, exceto o cantar e um sussurrar suave e alegre. Esse é um banquete que honra o teu relacionamento santo, no qual todas as pessoas são bem-vindas como hóspedes de honra. E num instante santo todos dão graças em conjunto, na medida em que se unem em gentileza diante da mesa da comunhão. E lá eu me unirei a ti, conforme prometi há muito tempo e ainda prometo. Pois em teu novo relacionamento eu sou bem-vindo. E onde eu sou bem-vindo, lá estou.
17. Eu sou bem-vindo no estado de graça, o que significa que afinal me perdoaste. Pois tornei-me o símbolo do teu pecado e assim eu tive que morrer em teu lugar. Para o ego, o pecado significa a morte e assim a expiação é alcançada através do assassinato. A salvação é contemplada como um meio pelo qual o Filho de Deus foi morto em teu lugar. No entanto, ofereceria eu meu corpo a ti, a quem eu amo, conhecendo a sua pequenez? Ou ensinaria que corpos não podem nos manter separados? O meu não tinha mais valor do que o teu, nem era um meio melhor para a comunicação da salvação, e também não era sua Fonte. Ninguém pode morrer por outra pessoa e a morte não expia o pecado. Mas podes viver para mostrar que ele não é real. O corpo, de fato, parece ser o símbolo do pecado enquanto acreditas que ele pode te conseguir o que queres. Enquanto acreditas que ele pode te dar prazer, também acreditarás que pode te trazer dor. Pensar que és capaz de ficar satisfeito e feliz com tão pouco é ferir a ti mesmo e limitar a felicidade que queres ter convoca a dor para que ela encha a tua pobre dispensa e faça com que a tua vida seja completa. Essa é a completeza conforme o ego a vê. Pois a culpa se insidia onde a felicidade foi removida e a substitui. A comunhão é um outro tipo de completeza que vai além da culpa porque vai além do corpo.
B. O segundo obstáculo: a crença em que o corpo tem valor pelo que oferece
1. Nós dissemos que a paz em primeiro lugar tem que superar o obstáculo do teu desejo de ficar livre dela. Onde a atração da culpa domina, a paz não é querida. O segundo obstáculo pelo qual a paz tem que fluir e, estreitamente relacionado com o primeiro, é a crença segundo a qual o corpo tem valor pelo que oferece. Pois aqui se faz com que a atração da culpa seja manifestada no corpo e vista nele.
2. Esse é o valor que pensas que a paz quer roubar de ti. É isso que acreditas que ela quer que deixes de possuir, deixando-te sem lar. E é por isso que queres negar um lar à paz. Esse é o “sacrifício” que sentes como se fosse grande demais para ser feito, demais para ser pedido a ti. Isso é um sacrifício ou uma liberação? O que é que o corpo te deu realmente que justifique a tua estranha crença em que nele está a salvação? Não vês que essa é a crença na morte? Aqui está o foco da percepção da expiação como assassinato. Aqui está a fonte da idéia de que o amor é medo.
3. Os mensageiros do Espírito Santo são enviados para muito além do corpo, chamando a mente para se unir em comunhão santa e estar em paz. Tal é a mensagem que eu dei a eles para ti. São apenas os mensageiros do medo que vêem o corpo, pois buscam aquilo que pode sofrer. É um sacrifício ser removido daquilo que pode sofrer? O Espírito Santo não exige de ti que sacrifiques a esperança do prazer do corpo, ele não tem nenhuma esperança de prazer. Mas também não pode trazer a ti o medo da dor. A dor é o único “sacrifício” que o Espírito Santo pede e esse Ele quer remover.
4. A paz se estende a partir de ti só para o que é eterno e ela alcança o que está fora a partir do eterno em ti. Ela flui através de todas as outras coisas. O segundo obstáculo não é mais sólido do que o primeiro. Pois não queres nem ficar livre da paz nem limitá-la. O que são esses obstáculos que queres interpor entre a paz e a continuação do trajeto da paz senão barreiras que colocas entre a tua vontade e a sua realização? Queres comunhão, não o banquete do medo. Queres salvação, não a dor da culpa. E queres o teu Pai, não um pequeno monte de barro para ser a tua casa. No teu relacionamento santo, está o Filho do teu Pai. Ele não perdeu a comunhão com Ele e nem consigo mesmo. Quando concordaste em unir-te ao teu irmão, reconheceste que isso é assim. Isso não custa nada, mas libera do custo.
5. Pagaste muito caro pelas tuas ilusões e nada daquilo por que pagaste te trouxe paz. Não estás contente que o Céu não possa ser sacrificado e que nenhum sacrifício possa ser pedido a ti? Não existe nenhum obstáculo que possas colocar diante da nossa união, pois em teu relacionamento santo eu já estou presente. Nós superaremos juntos todos os obstáculos, pois nós nos encontramos do lado de dentro da porta e não do lado de fora. Como é facilmente aberta a porta do lado de dentro, dando passagem à paz para abençoar o mundo cansado! Será que pode ser difícil para nós ultrapassarmos as barreiras juntos, se tu já te uniste ao que é sem limites? O fim da culpa está em tuas mãos para ser dado. Irias tu parar agora para procurar a culpa no teu irmão?
6. Permite que eu seja para ti o símbolo do fim da culpa e olha para o teu irmão como olharias para mim. Perdoa-me todos os pecados que pensas que o Filho de Deus cometeu. E à luz do teu perdão, ele lembrar-se-á quem ele é e esquecerá o que nunca foi. Eu peço o teu perdão, pois se tu és culpado, eu também tenho que ser. Mas se eu superei a culpa e venci o mundo, tu estavas comigo. Queres ver em mim o símbolo da culpa ou o fim da culpa, lembrando-te de que o que eu significo para ti é o que vês dentro de ti mesmo?
7. A partir do teu relacionamento santo, a verdade proclama a verdade e o amor olha para si mesmo. A salvação flui do mais profundo no interior do lar que ofereceste a meu Pai e a mim. E nós lá estamos juntos, na comunhão quieta na qual o Pai e o Filho estão unidos. Oh, vindes vós que tendes fé à santa união do Pai e do Filho em vós mesmos! E não vos mantenhais à parte do que vos é oferecido em gratidão por terdes dado à paz um lar no Céu. Enviai para todo o mundo a feliz mensagem do fim da culpa e todo o mundo responderá. Pensai na vossa felicidade quando todos vos oferecerem o testemunho do fim do pecado e vos mostrarem que o seu poder se foi para sempre. Onde pode estar a culpa, quando a crença no pecado se foi? E onde está a morte, quando seu grande advogado não mais for ouvido?
8. Perdoa-me as tuas ilusões e libera-me da punição pelo que eu não fiz. Assim aprenderás a liberdade que eu ensinei, ensinando a liberdade ao teu irmão e assim me liberando. Eu estou dentro do teu relacionamento santo, todavia, queres me aprisionar atrás dos obstáculos que ergues à liberdade e impedir o meu caminho para ti. No entanto, não é possível manter afastado Aquele Que já está presente. E Nele é possível que a nossa comunhão, na qual já estamos unidos, venha a ser o foco da nova percepção que trará luz a todo o mundo contido em ti.
i. A atração da dor
9. A tua pequena parte é apenas dar ao Espírito Santo toda a idéia de sacrifício. E aceitar a paz que Ele te dá em seu lugar, sem os limites que iriam deter a sua extensão e assim limitariam a tua consciência dela. Pois o que Ele dá tem que ser estendido, se queres ter o seu poder sem limites e usá-lo para a liberação do Filho de Deus. Não é disso que queres ficar livre e tendo isso não podes limitá-lo. Se a paz não tem um lar, tu também não tens e eu também não tenho. E Ele, Que é o nosso lar, está ao desabrigo conosco. É esse o teu desejo? Queres ser para sempre um errante em busca de paz? Queres investir a tua esperança de paz e felicidade naquilo que não pode deixar de falhar?
10. A fé no eterno é sempre justificada, pois o eterno é para sempre benigno, infinito em sua paciência e totalmente amoroso. Ele te aceitará totalmente e te dará paz. No entanto, ele só pode se unir com o que já está em paz em ti, imortal como ele próprio. O corpo não pode te trazer nem paz nem tumulto, nem alegria nem dor. É um meio e não um fim. Não tem propósito em si mesmo, mas somente aquele que lhe é dado. O corpo parecerá ser qualquer coisa que seja o meio de alcançar a meta que lhe atribuíste. Só a mente pode estabelecer um propósito e só a mente pode ver os meios para a sua realização e justificar o seu uso. Paz e culpa são ambas condições da mente a serem atingidas. E essas condições são o lar da emoção que as suscita e que é, portanto, compatível com elas.
11. Mas pensa em qual delas é compatível contigo. Aqui está a tua escolha e ela é livre. Mas tudo o que está nela virá com ela, e o que pensas que és nunca pode estar à parte dela. O corpo é o grande traidor aparente da fé. Nele está a desilusão e as sementes da falta de fé, mas só se lhe pedes o que ele não pode dar. É possível que o teu equívoco seja um motivo razoável para a depressão e a desilusão e para o ataque vingativo contra aquilo que pensas que te falhou? Não uses o teu erro como justificativa para a tua falta de fé. Não pecaste, mas tens estado equivocado naquilo que é fiel. E a correção do teu equívoco vai te dar motivos para a fé.
12. É impossível buscar o prazer através do corpo e não achar dor. É essencial que esse relacionamento seja compreendido, pois o ego o vê como prova do pecado. Ele não é realmente punitivo em absoluto. É apenas o resultado inevitável de te equacionares com o corpo, que é o convite à dor. Pois ele convida o medo a entrar e vem a ser o teu propósito. A atração da culpa tem que entrar com ele e o que quer que seja que o medo oriente o corpo a fazer é, portanto, doloroso. Ele irá compartilhar a dor de todas as ilusões e a ilusão do prazer será o mesmo que a dor.
13. Isso não é inevitável? Sob as ordens do medo, o corpo perseguirá a culpa, servindo ao seu patrão cuja atração pela culpa mantém toda a ilusão da sua existência. É isso, então, a atração da dor. Regido por essa percepção, o corpo vem a ser o servo da dor, buscando-a como um dever e obedecendo à idéia de que a dor é prazer. É essa a idéia que está por trás de todo o maciço investimento do ego no corpo. E é esse relacionamento insano que ele mantém escondido e, no entanto, se alimenta disso. A ti ele ensina que o prazer do corpo é felicidade. Entretanto, para si mesmo sussurra: “É a morte”.
14. Por que deveria o corpo ser qualquer coisa para ti? Com certeza, aquilo de que é feito não é precioso. E com a mesma certeza, ele não tem sentimento. Ele te transmite os sentimentos que queres. Como qualquer veículo de comunicação, o corpo recebe e envia as mensagens que lhe são dadas. Não tem nenhum sentimento por elas. Todo o sentimento que nelas está investido é dado pelo remetente e pelo destinatário. Tanto o ego como o Espírito Santo reconhecem isso e ambos reconhecem também que aqui o remetente e o destinatário são o mesmo. O Espírito Santo te diz isso com alegria. O ego o esconde de ti, pois quer manter-te inconsciente disso. Quem iria enviar mensagens de ódio e ataque se apenas compreendesse que essas mensagens são enviadas a si mesmo? Quem iria acusar, culpar e condenar a si mesmo?
15. As mensagens do ego sempre são enviadas para longe de ti, acreditando que por tua mensagem de ataque e culpa alguma outra pessoa, mas não tu, irá sofrer. E mesmo que sofras, ainda assim alguém irá sofrer mais. O grande enganador reconhece que não é assim, mas como “inimigo” da paz, insiste que mandes para fora todas as tuas mensagens de ódio e libertes a ti mesmo. E para convencer-te de que isso é possível, pede ao corpo que busque a dor no ataque a outra pessoa chamando-a de prazer e oferecendo-te isso como libertação do ataque.
16. Não ouças a loucura do ego e não acredites que o impossível seja verdadeiro. Não te esqueças de que o ego dedicou o corpo à meta do pecado e coloca nele toda a sua fé em que isso possa ser realizado. Seus tristes discípulos cantam continuamente os louvores do corpo em solene celebração ao domínio do ego. Ninguém pode deixar de acreditar que ceder à atração da culpa é escapar da dor. Ninguém pode deixar de considerar-se um corpo, sem o qual morreria e, no entanto, dentro do qual a morte é igualmente inevitável.
17. Não é dado aos discípulos do ego reconhecer que têm se dedicado à morte. A liberdade lhes é oferecida, mas eles não a aceitaram e aquilo que é oferecido tem que ser também recebido para ser verdadeiramente dado. Pois o Espírito Santo também é um veículo de comunicação, recebendo do Pai e oferecendo as Suas mensagens ao Filho. Como o ego, o Espírito Santo é ao mesmo tempo o remetente e o destinatário. Pois o que é enviado através Dele retoma a Ele, buscando a si mesmo ao longo do caminho e achando aquilo que busca. Da mesma forma o ego acha a morte que ele busca, devolvendo-a a ti.
C. O terceiro obstáculo: a atração da morte
1. A ti e ao teu irmão, em cujo relacionamento especial o Espírito Santo entrou, é dado liberar e ser liberado da dedicação à morte. Pois isso vos foi oferecido e vós aceitastes. No entanto, ainda têm que aprender mais a respeito dessa estranha devoção, pois ela contém o terceiro obstáculo através do qual a paz tem que fluir. Ninguém pode morrer a não ser que escolha a morte. O que parece ser o medo da morte é realmente a sua atração. A culpa também é temida e temível. No entanto, ela não exerce absolutamente nenhum controle a não ser sobre aqueles que são atraídos por ela e a buscam. O mesmo se dá com a morte. Feita pelo ego, a sua sombra escura cai sobre todas as coisas vivas porque o ego é o “inimigo” da vida.
2. Entretanto, uma sombra não pode matar. O que é uma sombra para os vivos? Eles apenas passam por ela e ela se vai. Mas, e aqueles que são dedicados a não viver, os “pecadores” vestidos de negro, o coro enlutado do ego arrastando-se pesadamente para longe da vida, carregando suas correntes e marchando na lenta procissão em honra ao seu patrão sinistro, o senhor da morte? Toca qualquer um deles com as mãos gentis do perdão e observa as suas correntes caírem por terra junto com as tuas. Que o vejas deixar de lado a veste negra que ele estava usando para o próprio funeral e ouve-o rir da morte. Ele pode escapar à sentença que o pecado quer lhe impor através dó teu perdão. Isso não é nenhuma arrogância. É a Vontade de Deus. O que é impossível para ti que escolheste a Sua Vontade como tua? O que é a morte para ti? A tua dedicação não está voltada para a morte nem para o seu patrão. Quando aceitaste o propósito do Espírito Santo em lugar do propósito do ego, renunciaste à morte trocando-a pela vida. Nós temos o conhecimento de que uma idéia não deixa a sua fonte. E a morte é o resultado do pensamento a que chamamos ego com tanta certeza quanto a vida é o resultado do Pensamento de Deus.
i. O corpo incorruptível
3. Do ego vieram o pecado, a culpa e a morte em oposição à vida e à inocência e à Vontade do próprio Deus. Onde pode estar tal oposição senão nas mentes doentes dos insanos, dedicadas à loucura e estabelecidas contra a paz do Céu? Uma coisa é certa: Deus, Que não criou nem a morte e nem o pecado, não determinou em sua Vontade que sejas limitado por eles. Ele não conhece o pecado e nem os seus resultados. As figuras amortalhadas na procissão do funeral não marcham em honra ao seu Criador Cuja Vontade é que elas vivam. Elas não estão seguindo a Sua Vontade, estão se opondo à ela.
4. E o que é o corpo envolto em negro que querem enterrar? Um corpo que dedicaram à morte, um símbolo de corrupção, um sacrifício ao pecado, oferecido ao pecado para alimentá-lo e mantê-lo vivo; uma coisa condenada, amaldiçoada por aquele que a fez e lamentada por cada carpidor que olha para ela como para si mesmo. Tu, que acreditas que condenaste o Filho de Deus a isso, és arrogante. Mas tu, que queres liberá-lo, não estás senão honrando a Vontade do seu Criador. A arrogância do pecado, o orgulho da culpa, o sepulcro da separação, tudo isso é parte da tua dedicação irreconhecida à morte. O cintilar da culpa que colocaste sobre o corpo quer matá-lo. Pois aquilo que o ego ama, ele mata em obediência a si mesmo. Mas aquilo que não lhe obedece, ele não pode matar.
5. Podes te dedicar a outra coisa que manteria o corpo incorruptível e perfeito na medida em que é usado para o teu propósito santo. O corpo não morre, assim como não pode sentir. Ele nada faz. Por si mesmo, não é corruptível nem incorruptível. Não é nada. É o resultado de uma diminuta idéia louca de corrupção que pode ser corrigida. Pois Deus respondeu a essa idéia insana com a Sua própria, uma Resposta que não O deixou e que, portanto, traz o Criador à consciência de toda mente que ouviu a Sua Resposta e A aceitou.
6. Tu, que és dedicado ao incorruptível, recebeste através da tua aceitação o poder de liberar da corrupção. Qual a melhor maneira de ensinar o primeiro e fundamental princípio de um curso em milagres do que mostrar-te que aquele que parece ser o mais difícil pode ser realizado em primeiro lugar? O corpo não pode senão servir ao teu propósito. Conforme olhas para ele, assim ele parecerá ser. A morte, se fosse verdadeira, seria o rompimento final e completo da comunicação que é a meta do ego.
7. Aqueles que têm medo da morte não vêem quantas vezes e quão alto a chamam e lhe pedem para vir salvá-los da comunicação. Pois a morte é vista como segurança, o grande salvador escuro da luz da verdade, a resposta à Resposta, o silenciador da Voz por Deus. No entanto, o recuo para a morte não é o fim do conflito. Só a Resposta de Deus é o seu fim. O obstáculo do teu aparente amor pela morte, através do qual a paz tem que fluir, parece ser muito grande. Pois nele estão escondidos todos os segredos do ego, todos os seus mecanismos estranhos para enganar, todas as suas idéias doentias e imaginações insólitas. Aqui está o ponto final da união, o triunfo dos feitos do ego sobre a criação, a vitória da ausência de vida sobre a própria Vida.
8. Sob a margem poeirenta do seu mundo distorcido, o ego quer colocar o Filho de Deus que, abatido pelas suas ordens, prova em sua decadência que o próprio Deus não tem poder diante do poderio egótico, é incapaz de proteger a vida que Ele criou contra o selvagem desejo que o ego tem de matar. Meu irmão, criança do nosso Pai, isso é um sonho de morte. Não há nenhum funeral, nem altares escuros, nem mandamentos sinistros, nem rituais distorcidos de condenação aos quais o corpo te conduz. Não peças para ser liberado disso. Mas liberta-o das ordens sem misericórdia e sem esperança que impuseste a ele e perdoa-o pelo que ordenaste que ele fizesse. Ao exaltá-lo ordenaste que ele morresse, pois só a morte poderia conquistar a vida. E que outra coisa, senão a insanidade, poderia contemplar a derrota de Deus e pensar que é real?
9. O medo da morte desaparecerá quando seu apelo ceder ante a real atração do amor. O fim do pecado, que se aninha em quietude na segurança do teu relacionamento, protegido pela tua união com o teu irmão e pronto para crescer e tornar-se uma força poderosa para Deus, está muito próximo. A infância da salvação é cuidadosamente guardada pelo amor, preservada de todo pensamento que iria atacá-la e quietamente aprontada para cumprir a tarefa poderosa para a qual ela te foi dada. O teu propósito recém-nascido é embalado por anjos, nutrido pelo Espírito Santo e protegido pelo próprio Deus. Ele não necessita da tua proteção, ele é a tua. Pois é imortal e dentro dele está o fim da morte.
10. Que perigo pode assaltar os totalmente inocentes? O que pode atacar aqueles que não têm culpa? Que medo é capaz de entrar e perturbar a paz da impecabilidade? Aquilo que te foi dado, mesmo em sua infância, está em plena comunicação com Deus e contigo. Em suas mãos diminutas ele segura, em perfeita segurança, cada milagre que vais apresentar, oferecido a ti. O milagre da vida não tem idade, tendo nascido no tempo, mas nutrido na eternidade. Contempla esse infante, a quem deste um lugar de descanso através do teu perdão ao teu irmão e vê nele a Vontade de Deus. Aqui renasce o bebê de Belém. E todos aqueles que lhe dão abrigo o seguirão, não à cruz, mas à ressurreição e à vida.
11. Quando qualquer coisa te parece ser uma fonte de medo, quando qualquer situação te afeta aterradoramente e faz o teu corpo tremer e o suor frio do medo se abate sobre ele, lembra-te que isso sempre se dá por uma razão: o ego a percebeu como um símbolo do medo, um sinal do pecado e da morte. Lembra-te, então, que nenhum sinal nem símbolo deve ser confundido com a fonte, pois necessariamente simbolizam alguma outra coisa além de si mesmos. O seu significado não pode estar neles mesmos, mas tem que ser buscado naquilo que representam. E podem assim significar tudo ou nada, de acordo com a verdade ou com a falsidade da idéia que refletem. Confrontado com tal aparente incerteza de significado, não a julgues. Lembra-te da presença santa Daquele que te foi dado para ser a Fonte do julgamento. Entrega-a a Ele para julgar por ti e dize:
Eu te entrego isso para que o examines e o julgues por mim.
Que eu não o veja como um sinal de pecado e de morte; nem use-o para a destruição.
Ensina-me como não fazer disso um obstáculo à paz, e sim a deixar que Tu o utilizes por mim para facilitar sua vinda.
D. O quarto obstáculo: o medo de Deus
1. O que verias sem o medo da morte? O que sentirias e pensarias se a morte não retivesse nenhuma atração para ti? Muito simplesmente te lembrarias do teu Pai. O Criador da vida, a Fonte de tudo que vive, o Pai do universo e do universo dos universos e de todas as coisas que estão até mesmo além; de tudo isso tu te lembrarias. E à medida que essa memória surge em tua mente, a paz tem ainda que superar um obstáculo final, após o qual se completa a salvação e o Filho de Deus é restaurado inteiramente à sanidade. Pois aqui o teu mundo, de fato, acaba.
2. O quarto obstáculo a ser superado cai como um véu pesado diante da face de Cristo. Entretanto, à medida que a Sua face se ergue além do véu, brilhando com alegria porque Ele está no amor de Seu Pai, a paz afastará suavemente o véu e correrá para encontrá-Lo e para afinal unir-se a Ele. Pois esse véu escuro que parece tornar a face do próprio Cristo semelhante à de um leproso e fazer os Raios brilhantes do Amor do Seu Pai, que iluminam com glória a Sua face aparentarem ser rios de sangue, desaparece na luz intensa que está além dele quando o medo da morte se vai.
3. Esse é o mais escuro dos véus, mantido pela crença na morte e protegido por sua atração. A dedicação à morte e à sua soberania é apenas o voto solene, a promessa feita em segredo ao ego de nunca erguer esse véu, nunca se aproximar dele, nem nunca suspeitar que esteja ali. Essa é a barganha secreta feita com o ego para manter aquilo que se encontra além do véu para sempre apagado e sem ser lembrado. Aí está a tua promessa de nunca permitir que a união te chame para fora da separação, a grande amnésia na qual a memória de Deus parece absolutamente esquecida, a fenda entre o teu Ser e teu medo de Deus, o passo final na tua dissociação.
4. Vê como a crença na morte aparentemente iria “salvar-te”. Pois se isso desaparecesse, de que outra coisa poderias ter medo senão da vida? É a atração da morte que faz a vida parecer feia, cruel e tirânica. Não sentes mais medo da morte do que do ego. Esses são os teus amigos escolhidos. Pois em tua aliança secreta com eles, concordaste em nunca deixar que o medo de Deus fosse descoberto de forma que pudesses contemplar a face de Cristo e unir-te a Ele em Seu Pai.
5. Todo obstáculo através do qual a paz tem que fluir é superado exatamente do mesmo modo, o medo que o provocou cede ao amor que está além e assim o medo desaparece. E o mesmo se dá com esse. O desejo de ficar livre da paz e expulsar o Espírito Santo de ti se apaga na presença do quieto reconhecimento de que tu O amas. A exaltação do corpo é abandonada em favor do espírito, que amas como jamais poderias amar o corpo. E o apelo da morte é perdido para sempre à medida que a atração do amor desperta e chama por ti. De um ponto além de cada um dos obstáculos ao amor, o próprio Amor te chamou. E cada um deles foi superado pelo poder da atração daquilo que está além. O fato de quereres o medo parecia estar mantendo-os em seus lugares. No entanto, quando ouviste a Voz do Amor além deles, tu respondeste e eles desapareceram.
6. E agora estás aterrorizado diante daquilo que juraste nunca olhar. Baixas os olhos, lembrando da tua promessa aos teus "amigos". A “beleza” do pecado, o delicado apelo da culpa, a “santa” imagem de cera da morte e o medo da vingança do ego que juraste com sangue não desertar, tudo isso vem à tona e ordena que não ergas os teus olhos. Pois reconheces que se olhares para isso e permitires que o véu seja erguido eles desaparecerão para sempre. Todos os teus “amigos”, os teus “protetores” e o teu “lar” se desvanecerão. Nada do que lembras agora, tu te lembrarás.
7. Parece-te que o mundo te abandonará completamente se apenas ergueres os teus olhos. No entanto, tudo o que vai ocorrer é que deixarás o mundo para sempre. Esse é o restabelecimento da tua vontade. Olha para isso de olhos abertos e nunca mais acreditarás que estás à mercê de coisas além de ti, de forças que não podes controlar e de pensamentos que vêm a ti contra a tua vontade. É a tua vontade olhar para isso. Nenhum desejo louco, nenhum impulso trivial para esqueceres novamente, nenhuma punhalada de medo e nem o suor frio da morte aparente podem se colocar contra a tua vontade. Pois o que te atrai além do véu está também profundamente dentro de ti, é inseparável da tua vontade e completamente uno.
i. Erguendo o véu
8. Não te esqueças de que vós viestes até aqui juntos, tu e teu irmão. E com certeza não foi o ego que vos conduziu até aqui. Nenhum obstáculo à paz pode ser superado através do seu auxílio. Ele não revela os seus segredos e não pede que olheis para eles para ir além. Não quer que vejais as suas fraquezas e que aprendais que ele não tem nenhum poder para vos manter afastados da verdade. O ia Que vos trouxe aqui permanece convosco e quando erguerdes os vossos olhos, estareis prontos para olhar para o terror sem medo algum. Mas antes disso, ergue os teus olhos e olha para o teu irmão com a inocência que nasce do completo perdão das tuas ilusões através dos olhos da fé que não as vê.
9. Ninguém é capaz de olhar para o medo que tem de Deus sem ficar aterrorizado a não ser que tenha aceitado a Expiação e aprendido que as ilusões não são reais. Ninguém pode ficar diante desse obstáculo sozinho, pois não poderia ir muito longe a não ser que seu irmão caminhe a seu lado. E ninguém ousaria encará-lo sem o perdão completo do seu irmão em seu próprio coração. Fica aqui um momento e não tremas. Estarás pronto. Vamos nos unir em um instante santo, aqui nesse lugar aonde o propósito, dado em um instante santo, te conduziu. E vamos nos unir na fé de que Aquele Que nos trouxe aqui juntos te oferecerá a inocência de que precisas e tu aceitarás por amor a mim e a Ele.
10. E nem é possível olhares para isso cedo demais. Esse é o lugar para onde cada um tem que vir quando estiver pronto. Quando tiver achado o seu irmão, está pronto. No entanto, apenas alcançar esse lugar não é o suficiente. Uma jornada sem um propósito é ainda sem significado e mesmo quando ela estiver terminada parecerá não fazer nenhum sentido. Como podes saber se ela terminou a não ser que reconheças que o seu propósito foi realizado? Aqui, com o fim da jornada diante de ti, vês esse propósito. E é aqui que escolhes se olhas para ele ou se continuas vagando, apenas para retornares e escolheres outra vez.
11. Olhar para o medo de Deus exige, de fato, certa preparação. Só os sãos podem olhar a total insanidade e a loucura delirante com piedade e compaixão, mas não com medo. Pois só quando o compartilham é que ele parece amedrontador e tu o compartilhas até que olhes para o teu irmão com perfeita fé, amor e ternura. Antes do perdão completo, tu ainda permaneces sem perdoar. Temes a Deus porque tens medo do teu irmão. Aqueles a quem não perdoas, tu temes. E ninguém alcança o amor com o medo a seu lado.
12. Esse irmão, que se encontra a teu lado, ainda te parece ser um estranho. Não o conheces e a interpretação que fazes dele é muito amedrontadora. E ainda o atacas, para manter o que parece ser o teu ser sem danos. No entanto, nas suas mãos está a tua salvação. Vês a sua loucura, que odeias porque a compartilhas. E toda a piedade e o perdão que a curariam dão lugar ao medo. Irmão, precisas do perdão do teu irmão, pois tu e ele compartilharão ou a loucura ou o Céu juntos. E erguereis os vossos olhos na fé juntos ou absolutamente não o fareis.
13. Ao teu lado está alguém que te oferece o cálice da Expiação, pois o Espírito Santo está nele. Queres manter os seus pecados contra ele ou aceitar a sua dádiva para ti? Esse doador da salvação é teu amigo ou teu inimigo? Escolhe o que ele é, lembrando-te de que vais receber dele de acordo com a tua escolha. Ele tem em si o poder de perdoar o teu pecado, assim como tu o dele. Nenhum dos dois pode dar a si mesmo esse perdão sozinho. E, no entanto, o salvador encontra-se ao lado de cada um. Permite que ele seja o que é e não busques fazer do amor um inimigo.
14. Contempla o teu Amigo, o Cristo Que se encontra a teu lado. Como Ele é santo e como é belo! Pensaste que Ele havia pecado porque jogaste o véu do pecado sobre Ele para esconder a Sua beleza. Entretanto, Ele ainda te oferece o perdão para que compartilhes a Sua santidade. Esse “inimigo”, esse “estranho”, ainda te oferece a salvação como Seu Amigo. Os “inimigos” de Cristo, os adoradores do pecado, não sabem a Quem atacam.
15. Esse é o teu irmão, crucificado pelo pecado e esperando pela liberação da dor. Não queres oferecer-lhe o perdão, quando somente ele pode oferecê-lo a ti? Pela sua redenção, ele te dará a tua, com tanta certeza quanto Deus criou cada coisa viva e a ama. E ele a dará verdadeiramente, pois será ao mesmo tempo oferecida e recebida. Não há nenhuma graça no Céu que tu não possas oferecer ao teu irmão e receber do teu santíssimo Amigo. Não permitas que ele a recuse, pois ao recebê-la, tu a ofereces a ele. E ele receberá de ti o que tu recebeste dele. A redenção te foi dada para ser dada ao teu irmão e, assim, ser recebida. Aquele a quem tu perdoas é livre e aquilo que dás, tu compartilhas. Perdoa os pecados que o teu irmão pensa que cometeu e toda a culpa que pensas ver nele.
16. Aqui é o lugar santo da ressurreição, ao qual nós vimos mais uma vez, ao qual voltaremos até que a redenção seja realizada e recebida. Pensa em quem é o teu irmão antes de querer condená-lo. E oferece graças a Deus por ser ele santo e por ter sido dada a ele a dádiva da santidade para ti. Une-te a ele com contentamento e remove todo vestígio de culpa da sua mente perturbada e torturada. Ajuda-o a erguer a pesada carga de pecado que colocaste sobre ele e que ele aceitou como própria, e joga-a levemente para longe dele com um riso feliz. Não a pressiones contra a sua fronte como se fossem espinhos, nem o pregues a ela sem redenção e sem esperança.
17. Dá fé ao teu irmão, pois a fé e a esperança e a misericórdia são tuas para serem dadas. A dádiva é dada às mãos que dão. Olha para o teu irmão e vê nele a dádiva de Deus que queres receber. É quase Páscoa, o tempo da ressurreição. Vamos dar a redenção um ao outro e compartilhá-la, de tal modo que possamos nos erguer como um só na ressurreição, não separados na morte. Contemplo a dádiva de liberdade que eu dei ao Espírito Santo para ti. E sede livres juntos, tu e teu irmão, à medida que ofereceis ao Espírito Santo essa mesma dádiva. E dando-a, recebe-a Dele em retorno pelo que deste. Ele conduziu a ti e a mim juntos, de forma que pudéssemos nos encontrar aqui nesse lugar santo e tomar a mesma decisão.
18. Liberta o teu irmão aqui como eu te libertei. Dá-lhe a mesma dádiva e não olhes para ele com qualquer espécie de condenação. Que o vejas tão sem culpa como eu olho para ti e não vejas os pecados que ele próprio pensa ver dentro de si. Oferece ao teu irmão a liberdade e a liberação completa do pecado, aqui, no jardim da aparente agonia e morte. Assim nós iremos preparar juntos o caminho para a ressurreição do Filho de Deus e permitir que ele mais uma vez ressuscite para a lembrança feliz do seu Pai, Que não conhece o pecado, nem a morte, mas somente a vida eterna.
19. Juntos nós desapareceremos na Presença além do véu, não para nos perdermos, mas para nos acharmos; não para sermos vistos, mas conhecidos. E conhecendo, nada no plano que Deus estabeleceu para a salvação ficará por fazer. Esse é o propósito da jornada, sem o qual a jornada é sem significado. Aqui está a paz de Deus, que te é dada eternamente por Ele. Aqui está o descanso e a quietude que buscas, a razão da jornada desde o seu início. O Céu é a dádiva que deves ao teu irmão, a dívida de gratidão que ofereces ao Filho de Deus em agradecimento pelo que ele é e pelo que o seu Pai o criou para ser.
20. Pensa com cuidado em como vais olhar para o doador dessa dádiva, pois como tu o olhares, assim parecerá ser a própria dádiva. Assim como ele é visto, como o doador da culpa ou da salvação, assim a sua oferenda será vista e assim será recebida. Os crucificados dão dor porque estão na dor. Mas os redimidos dão alegria porque foram curados da dor. Todos dão conforme recebem, mas cada um tem que escolher o que virá a ser aquilo que recebe. E reconhecerá a sua escolha em função do que ele dá e do que lhe é dado. À coisa alguma no Céu ou no inferno é dado interferir com a decisão de cada um.
21. Vieste até aqui porque a jornada foi a tua escolha. E ninguém empreende fazer aquilo que acredita ser sem significado. Aquilo em que tinhas fé ainda é fiel e vela por ti na fé de modo tão gentil e ao mesmo tempo tão forte, que te ergueria muito além do véu e colocaria o Filho de Deus a salvo sob a proteção segura do seu Pai. Aqui está o único propósito que dá a esse mundo e a longa jornada através desse mundo qualquer significado que possam ter. Além disso, são sem significado. Tu e o teu irmão estão juntos, ainda sem a convicção de que eles tenham qualquer propósito. Entretanto, te é dado ver esse propósito no teu Amigo santo e reconhecê-lo como o teu próprio.