julho 15, 2010

Capítulo 29 - O DESPERTAR

Capítulo 29 - O DESPERTAR

I. Fechar a brecha

1. Não existe tempo, lugar ou estado dos quais Deus esteja au­sente. Não existe nada a ser temido. Não existe nenhuma forma na qual se possa conceber uma brecha na Integridade que Lhe é própria. A transigência que a menos importante e a menor das brechas representaria no Seu Amor eterno é completamente im­possível. Pois isso significaria que o Seu Amor seria capaz de abrigar a mais leve sugestão de ódio, que a Sua gentileza pudesse em algum momento se transformar em ataque e que a Sua pa­ciência eterna pudesse às vezes falhar. Acreditas em tudo isso sempre que percebes uma brecha entre tu e o teu irmão. Como poderias então confiar Nele? Pois assim Ele não pode deixar de decepcionar em Seu Amor. Portanto, é preciso que estejas alerta: não permitas que Ele chegue perto demais e deixa uma brecha entre tu e o Seu Amor, através da qual possas escapar se houver necessidade de fugir.

2. Aqui se vê com a maior clareza o medo de Deus. Pois o amor é traiçoeiro para aqueles que têm medo, uma vez que o medo e o ódio não podem nunca estar à parte. Ninguém que tenha ódio deixa de ter medo do amor e, por conseguinte, tem que ter medo de Deus. É certo que ele não sabe o que o amor significa. Ele teme amar e ama odiar e assim pensa que o amor é amedronta­dor, que o ódio é amor. Essa é a conseqüência que a pequena brecha necessariamente traz àqueles que a apreciam e acham que ela é a sua salvação e a sua esperança.

3. O medo de Deus! O maior obstáculo que a paz tem que atra­vessar ainda não se foi. O resto é passado, mas esse ainda per­manece para bloquear a tua estrada e fazer o caminho para a luz parecer escuro e amedrontador, perigoso e desolado. Decidiste que teu irmão é o teu inimigo. Às vezes um amigo, talvez, con­tanto que os vossos interesses separados façam com que a vossa amizade seja possível por um pequeno período de tempo. Mas não sem uma brecha, que é percebida entre tu e ele, porque ele pode se tornar de novo um inimigo. Deixaste que ele viesse para perto de ti e deste um pulo para trás; assim que tu te aproximas­te, ele instantaneamente recuou. Uma amizade cautelosa, em escala limitada e cuidadosamente restrita em quantidade veio a ser o tratado que fizeste com ele. Assim tu e teu irmão apenas com­partilharam um pacto definido, no qual uma cláusula de separa­ção foi o ponto que ambos concordaram em manter intacto. E a violação dessa cláusula era vista como um rompimento do trata­do que não seria permitido.

4. A brecha entre tu e teu irmão não diz respeito ao espaço entre dois corpos separados. E isso apenas parece estar dividindo as vossas mentes separadas. É o símbolo de uma promessa feita para que vos encontreis quando for preferível para ti e vos sepa­reis até que seja vossa escolha encontrar-vos outra vez. E então os vossos corpos parecem entrar em contato e através disso dar significado a um ponto de encontro para a união. Mas é sempre possível para ti e para ele tomar os vossos caminhos diferentes. Com a condição do “direito” da separação, tu e ele concordareis em um encontro de vez em quando e manter-vos-eis à parte um do outro nos intervalos de separação que, de fato, te protege do “sacrifício” do amor. O corpo te salva, pois ele foge do sacrifício total e te dá tempo de construir outra vez o teu ser separado, o qual acreditas verdadeiramente que diminui à medida em que tu e teu irmão vos encontrais.

5. O corpo não poderia separar a tua mente da mente do teu irmão, exceto se quisesses que ele fosse causa de separação e de distanciamento entre tu e ele. Assim lhe atribuis um poder que não está nele. E aí está o poder que o corpo tem sobre ti. Pois agora pensas que é ele que determina quando tu e teu irmão vos encontrais e que ele limita a tua capacidade de comungar mental­mente com o teu irmão. E agora ele te diz aonde ir e como chegar lá, o que é viável para empreenderes, e o que não és capaz de fazer. Ele dita o que a sua saúde é capaz de tolerar e o que irá cansá-lo e fazê-lo adoecer. E as suas fraquezas “inerentes” esta­belecem os limites do que queres fazer e mantêm o teu propósito limitado e fraco.

6. O corpo acomodar-se-á a isso, se quiseres que seja assim. Ele permitirá apenas indulgências limitadas ao “amor”, com interva­los de ódio entre eles. E ele comandará quando “amar” e quando deverás retrair-te com mais segurança para o medo. Ele ficará doente porque tu não sabes o que o amor significa. E assim tens que usar equivocadamente cada circunstância e cada pessoa que encontras e ver nelas um propósito que não é o teu.

7. Não é o amor que pede sacrifício. Mas é o medo que exige o sacrifício do amor, pois na presença do amor o medo não podo habitar. Pois para que o ódio seja mantido, o amor tem que ser temido; tem que estar presente apenas algumas vezes, outras ve­zes deve desaparecer. Assim o amor é visto como traiçoeiro por­que ele parece ir e vir de forma incerta, sem te oferecer nenhuma estabilidade. Não vês como é limitada e fraca a tua aliança, e com que freqüência exigiste que o amor fosse embora e te deixas­se serenamente só, em “paz”.

8. O corpo, inocente de qualquer meta que seja, é a tua desculpa para as várias metas que manténs e forças o corpo a manter. Não temes a sua fraqueza, mas a sua falta de força ou fraqueza. Que­res ter o conhecimento de que nada se interpõe entre tu e teu irmão? Queres saber que não existe nenhuma brecha atrás da qual possas te esconder? Há um choque que vem àqueles que aprendem que o seu salvador já não é mais seu inimigo. Há um estado de alerta que surge com o aprendizado de que o corpo não é real. E existem implicações que parecem ser feitas de medo em tomo da mensagem feliz, “Deus é Amor.”

9. Entretanto, tudo o que acontece quando a brecha se vai é a paz eterna. Nada mais do que isso e nada menos. Sem o medo de Deus, o que poderia te induzir a abandoná-lo? Que brinquedos ou truques poderiam existir na brecha capazes de te afastar por um instante do Seu Amor? Permitirias que o corpo dissesse “não” ao chamado do Céu, caso não tivesses medo de encontrar a perda do teu ser ao achar Deus? Entretanto, é possível que o teu ser se perca por se achar?


II. A vinda do Hóspede

1. Por que não perceberias como liberação do sofrimento o fato de aprenderes que tu és livre? Por que não aclamarias a verdade ao invés de olhá-la como um inimigo? Por que um atalho fácil, traçado com tanta clareza, que é impossível perder o caminho, parece espinhoso, duro e por demais difícil para que tu o sigas? Não será porque o vês como a estrada para o inferno, em vez de olhares para ele como um caminho simples, sem sacrifício e sem qualquer perda para que te encontres no Céu e em Deus? Até que te dês conta de que não desistes de nada, até que compreen­das que não existe perda alguma, terás alguns arrependimentos acerca do caminho que escolheste. E não verás os muitos ganhos que a tua escolha te ofereceu. Entretanto, embora tu não os vejas, eles estão presentes. O que os causou teve efeitos, e eles não podem deixar de estar presentes onde a sua causa introduziu-se.

2. Aceitaste a causa da cura e, portanto, necessariamente estás curado. E estando curado, o poder de curar também tem que ser teu agora. O milagre não é uma coisa separada que acontece repentinamente, como um efeito sem uma causa. Em si mesmo, ele também não é uma causa. Mas onde está a sua causa, ele tem que estar. Nesse momento, ele já foi causado, embora ainda não seja percebido. E os seus efeitos estão presentes, embora ainda não sejam vistos. Olha para dentro agora e não contemplarás uma razão para o arrependimento, mas causa para regozijar-te, de fato, em contentamento e para teres esperança de paz.

3. Tem sido desesperador tentar achar a esperança da paz em um campo de batalha. Tem sido fútil pedir para escapar do pecado e da dor àquilo que foi feito para servir à função de reter o pecado e a dor. Pois a dor e o pecado são uma única ilusão, assim como o ódio e o medo, o ataque e a culpa são um só. Aonde eles não têm causa, os seus efeitos desaparecem e o amor necessariamente vem a qualquer lugar aonde eles não estão. Por que não estás te rego­zijando? Estás livre da dor e da doença, da miséria e da perda, e de todos os efeitos do ódio e do ataque. A dor não mais é tua amiga, a culpa não é mais teu deus, e deverias dar boas-vindas aos efeitos do amor.

4. O teu Hóspede veio. Tu convidaste e Ele veio. Não O ouviste entrar, pois não Lhe deste as boas-vindas totalmente. No entanto, as Suas dádivas vieram com Ele. Ele as depositou aos teus pés, e agora te pede que olhes para elas e as recebas como tuas. Ele necessita da tua ajuda para dá-las a todos os que caminham à parte, acreditando que estão separados e sozinhos. Eles serão cu­rados quando aceitares as tuas dádivas, porque o teu Hóspede dará boas-vindas a todos cujos pés tiverem tocado a terra santa na qual tu estás e onde as Suas dádivas para eles foram depositadas.

5. Não vês quanto podes dar agora devido a tudo o que recebeste. Entretanto, Aquele Que entrou apenas espera que venhas para onde O convidaste a estar. Não existe nenhum outro lugar onde Ele possa achar o Seu anfitrião, nem onde o Seu anfitrião possa encontrá-Lo. E em nenhum outro lugar as Suas dádivas de paz e de alegria podem ser recebidas, e toda a felicidade que a Sua Presença traz pode ser obtida. Pois elas estão onde Aquele Que as trouxe Consigo está, para que possam ser tuas. Não podes ver o teu Hóspede, mas podes ver as dádivas que Ele trouxe. E quando olhares para elas acreditarás que a Sua Presença tem que estar lá. Pois o que és capaz de fazer agora não poderia ser feito sem a graça e o amor que a Sua Presença contém.

6. Tal é a promessa do Deus vivo: que o Seu Filho tenha vida e tudo o que vive seja parte dele e nenhuma outra coisa tenha vida. Aquilo a que deste “vida” não está vivo, e simboliza apenas o teu desejo de estar vivo à parte da vida, vivo na morte, com a morte percebida como vida, e o viver como morte. Aqui, confusão decorre de confusão, pois esse mundo se baseia na confusão e nada mais existe em que possa se basear. A sua base não muda, embora pareça estar em mudança constante. No entanto, o que é isso senão o que a confusão realmente significa? A estabilidade para aqueles que estão confusos não tem significado, e o deslocamento e a mudança vem a ser a lei segundo a qual eles qualificam suas vidas.

7. O corpo não muda. Ele representa o sonho maio de que a mudança é possível. Mudar é atingir um estado que não é como aquele no qual te achavas antes. Não há mudança na imortalidade e o Céu não a conhece. No entanto, aqui na terra ela tem um propósito duplo, pois pode ser feita para ensinar coisas opostas. E refletem o professor que está ensinando-as. O corpo pode parecer mudar com o tempo, com a doença ou com a saúde, e com eventos que parecem alterá-lo. Entretanto, isso significa apenas que a mente não mudou no que diz respeito à sua crença quanto ao propósito do corpo.

8. A doença é uma exigência de que o corpo seja alguma coisa que ele não é. Como o corpo não é nada, o nada é a garantia de que ele não pode ser doente. Na tua exigência de que ele seja mais do que isso está a idéia da doença. Pois ela pede que Deus seja menos do que tudo o que Ele realmente é. Então o que vem a ser de ti, já que é a ti que o sacrifício é pedido? Pois a Deus é dito que uma parte Sua não mais Lhe pertence. Deus tem que sacrificar o teu ser, e no Seu sacrifício tu te fazes maior e Deus é diminuído por ter te perdido. E o que é retirado de Deus vem a ser o teu deus, protegendo-te de ser parte Dele.

9. O corpo, ao qual se pede que seja um deus, será atacado porque o fato de que ele não é nada não foi reconhecido. E, desse modo, ele parece ser algo com poder em si mesmo. Sendo alguma coisa, ele pode ser percebido e imaginado como algo que sente e age, e te mantém em suas garras como um prisioneiro para ele mesmo. E ele pode falhar em ser aquilo que exigiste que ele fosse. E tu o odiarás pela sua pequenez, sem ter em mente que o fracasso não está no fato de que ele não é mais do que deveria ser, mas só no teu fracasso em perceber que ele não é nada. No entanto, o fato do corpo não ser nada é a tua salvação, da qual queres fugir.

10. Sendo considerado como “alguma coisa”, pede-se ao corpo que seja inimigo de Deus, substituindo o que Ele é por pequenez, limitação e desespero. É a perda de Deus que tu celebras quando contemplas o corpo como uma coisa que amas, ou quando olhas para ele como algo que odeias. Pois se Ele é a Soma de todas as coisas, então, o que não está Nele não existe, e a Sua completeza é a nulidade do teu corpo. O teu salvador não está morto e nem ele habita naquilo que foi construído como um templo à morte. Ele vive em Deus, e é isso que faz dele um salvador para contigo, e somente isso. A nulidade do corpo do teu salvador libera o teu da doença e da morte. Pois o que é teu não pode ser mais nem menos do que o que é seu.


III. As testemunhas de Deus

1. Não condenes o teu salvador porque ele pensa que é um corpo. Pois além dos seus sonhos, está a sua realidade. Mas, primeiro ele tem que aprender que é um salvador, antes de poder lembrar-se do que ele é. E não pode deixar de salvar quem quer ser salvo. A sua felicidade depende de te salvar. Pois quem é salvador senão aquele que te dá a salvação? Assim ele aprende que a salvação tem que sua para poder dá-la. A não ser que ele a dê, não saberá que a tem, pois o dar é a prova do ter. só aqueles que pensam que Deus é diminuído pela sua força podem deixar de compreender que isso tem que ser assim. Pois quem poderia dar a não ser que tivesse, e quem poderia perder por dar o que não pode deixar de aumentar através da doação?

2. Pensas que o Pai perdeu a Si mesmo quando te criou? Que Ele veio a ser fraco porque compartilhou o Seu Amor? Tornou-se Ele incompleto pela tua perfeição? Ou tu és a prova de que Ele é perfeito e completo? Não negues ao Pai a Sua Testemunha no sonho que o Seu filho prefere à sua própria realidade. Ele tem que ser o salvador do sonho que fez para que possa ficar livre dele. Ele tem que ver um outro não como um corpo, mas em unidade com ele, sem a parede que o mundo construiu para man­ter à parte todas as coisas vivas que não sabem que vivem.

3. Dentro do sonho dos corpos e da morte existe ainda um tema verdadeiro; talvez não mais do que uma diminuta fagulha, um espaço de luz criado na escuridão onde Deus ainda brilha. Tu não podes despertar a ti mesmo. Entretanto, podes te permitir ser acordado. Podes não ver os sonhos do teu irmão. Tu és ca­paz de perdoar as suas ilusões tão perfeitamente, que ele vem a ser o salvador dos teus sonhos. E à medida em que o vês brilhan­do no espaço de luz onde Deus habita dentro da escuridão, verás que o próprio Deus está presente onde está o corpo do teu irmão. Diante dessa luz, o corpo desaparece do mesmo modo que as sombras pesadas têm que dar lugar à luz. A escuridão não pode escolher que ele permaneça. A vinda da luz significa que ele se foi. Na glória, então, tu verás o teu irmão e compreenderás o que realmente preenche a brecha que há tanto tempo é percebida como aquilo que vos mantinha à parte. Lá, no seu lugar, a teste­munha de Deus estabeleceu o caminho gentil da benignidade para com o Filho de Deus. Àquele a quem perdoas é dado o poder de perdoar as tuas ilusões. Pela tua dádiva de liberdade, a liberdade te é dada.

4. Abre espaço para o amor, que tu não criaste, mas que és capaz de estender. Na terra isso significa perdoar o teu irmão para que as trevas possam ser suspensas da tua mente. Quando a luz tiver vindo a ele através do teu perdão, ele não se esquecerá do pró­prio salvador, deixando-o sem salvação. Pois foi na tua face que ele viu a luz que quer manter perto de si à medida em que cami­nha através da escuridão para a Luz que dura para sempre.

5. Quão santo és tu, a ponto do Filho de Deus poder ser o teu salvador em meio a sonhos de desolação e desastre! Vê como ele vem ansioso e dá um passo ao lado saindo das pesadas sombras que o têm escondido e deixa a sua luz brilhar sobre ti com grati­dão e com amor. Ele é ele próprio, mas não sozinho. E assim como o seu Pai não perdeu parte dele na tua criação, assim tam­bém a luz nele é ainda mais brilhante porque tu lhe deste a tua luz para salvá-lo do escuro. E agora a luz em ti tem que ser tão brilhante quanto aquela que brilha nele. Essa é a centelha que brilha dentro do sonho para que possas ajudá-lo a despertar e estejas certo de que os seus olhos despertos descansarão em ti. E na sua feliz salvação, tu és salvo.


IV. Os papéis nos sonhos

1. Acreditas que a verdade pode ser feita de apenas algumas ilusões? Ilusões são sonhos porque não são verdadeiras. A falta da verdade, que é igual em todas as ilusões, vem a ser a base para o milagre, que significa que compreendeste que sonhos são sonhos e que o escapar não depende do sonho, mas só do despertar. Seria possível manter alguns sonhos e despertar de outros? A escolha não se faz entre os sonhos que se deve manter, mas apenas se queres viver nos sonhos ou se queres despertar. Assim é que o milagre não escolhe alguns sonhos para deixar intocados por sua beneficência. Não podes sonhar alguns sonhos e despertar de ou­tros, pois ou estás dormindo ou estás desperto. E o sonhar só se dá em um desses dois casos.

2. Os sonhos dos quais pensas gostar te atrasam tanto quanto aqueles nos quais o medo é visto. Pois cada sonho não é senão um sonho de medo, não importa que forma pareça tomar. O medo é visto dentro, fora, ou em ambos os lugares. Ou pode estar disfarçado em uma forma agradável. Mas nunca está au­sente do sonho, pois o medo é a matéria prima dos sonhos, da qual todos são feitos. A sua forma pode mudar, mas não podem ser feitos de nenhuma outra coisa. O milagre seria, de fato, trai­çoeiro se permitisse que continuasses amedrontado por não teres reconhecido o medo. Nesse caso, não estarias disposto a desper­tar e o mi1agre prepara o caminho para o despertar.

3. Na forma mais simples pode-se dizer que o ataque é uma res­posta à função que não é cumprida assim como tu a percebes. Ela pode estar em ti ou em alguma outra pessoa, mas aonde quer que seja percebida, lá será atacada. A depressão ou a agressão tem que ser o tema de todos os sonhos, pois são feitos de medo. O leve disfarce de prazer e de alegria no qual podem estar em­brulhados apenas encobre ligeiramente a massa pesada de medo que é o seu núcleo. E é isso o que o milagre percebe e não o invólucro no qual está preso.

4. Quando estás com raiva, não é porque alguém falhou em cum­prir a função que tu lhe atribuíste? E isso não vem a ser a “ra­zão” pela qual o teu ataque é justificado? Os sonhos dos quais pensas que gostas são aqueles nos quais as funções que atribuíste foram cumpridas, as necessidades que estabeleceste para ti foram preenchidas. Não importa se são preenchidas ou simplesmente se tu as queres. É da idéia que elas existem que o medo surge. Os sonhos não são mais ou menos queridos. Ou são desejados ou não o são. E cada um representa alguma função que atribuíste, alguma meta que um evento, um corpo ou alguma coisa deveria representar e deveria conseguir para ti. Se isso tem sucesso, pensas que gostas do sonho. Se falha, pensas que o sonho é triste. Mas o fato de ser bem-sucedido ou de falhar não é o seu núcleo, mas apenas a fina embalagem.

5. Como os teus sonhos viriam a ser felizes se tu não fosses aque­le que atribui o papel “adequado” a cada figura que o sonho contém! Pessoa alguma pode falhar, a não ser em relação à idéia que tu fazes dela e não existe traição exceto nisso. O núcleo dos sonhos que o Espírito Santo dá nunca é um núcleo de medo. As embalagens podem não parecer mudar, mas o que elas significam mudou porque estão cobrindo outra coisa. As percepções são determinadas pelo seu propósito, nisso elas parecem ser aquilo para quê servem. Uma figura de sombra que ataca vem a ser um irmão te dando uma chance de ajudar, se essa vem a ser a função do sonho. E sonhos de tristeza são assim convertidos em alegria.

6. Para que serve o teu irmão? Tu não sabes, porque a tua pró­pria função é obscura para ti. Não atribuas a ele um papel que imagines que vá te trazer felicidade. E não tentes feri-lo quando ele falha em aceitar o papel que lhe atribuíste naquilo que sonhas que a tua vida deveria ser. Ele pede ajuda em cada sonho que tem e tu tens a ajuda para lhe dar se vires a função do sonho como o Espírito Santo a percebe, Ele, que pode utilizar todos os sonhos como meios de servir à função que Lhe é dada. Porque Ele ama o sonhador, não o sonho, cada sonho vem a ser uma oferta de amor. Pois no centro do sonho está o Seu Amor por ti, que ilumina qualquer forma que o sonho possa tomar com amor.


V. A morada imutável

1. Existe um lugar em ti onde todo esse mundo foi esquecido, onde nenhuma memória de pecado e nenhuma ilusão ainda pai­ra. Existe um lugar em ti que o tempo deixou, no qual os ecos da eternidade são ouvidos. Existe um lugar de descanso tão quieto que nenhum som, a não ser um hino ao Céu, se eleva para alegrar Deus Pai e Deus Filho. Onde Ambos habitam, Eles são lembra­dos. E onde Eles estão, está o Céu e a paz.

2. Não penses que és capaz de mudar a Sua morada. Pois a tua Identidade habita Neles, e onde Eles estão tu tens que estar para sempre. A imutabilidade do Céu está em ti, tão profundamente interiorizada que tudo nesse mundo apenas passa ao largo, des­percebido e sem ser visto. A infinidade serena da paz sem fim te cerca gentilmente em seu abraço suave, tão forte e quieta, tão tranqüila no poder do seu Criador, que nada é capaz de invadir o sagrado Filho de Deus no seu interior.

3. Aqui está o papel que o Espírito Santo dá a ti, que esperas pelo Filho de Deus e queres contemplá-lo desperto e alegrar-te. Ele é uma parte de ti e tu és uma parte dele, porque ele é o Filho do seu Pai, e não por nenhum outro propósito que possas ver nele. Nada te é pedido, apenas que aceites o imutável e o eterno que habitam nele, pois lá está a tua Identidade. A paz em ti só pode ser achada nele. E cada pensamento de amor que ofereces a ele apenas te aproxima do teu despertar para a paz eterna e a alegria sem fim.

4. Esse sagrado Filho de Deus é como tu, o espelho do Amor do seu Pai por ti; é ele que faz lembrar com suavidade o Amor do seu Pai pelo qual ele foi criado, e que ainda habita nele tanto quanto em ti. Fica muito quieto e ouve a Voz de Deus nele e permite que Ela te diga qual é a sua função. Ele foi criado para que tu pudesses ser íntegro, pois só o que é completo pode ser uma parte da completeza de Deus, que te criou.

5. O Pai não te pede nenhuma dádiva a não ser que tu vejas em toda a criação apenas a glória brilhante da Sua dádiva para ti. Eis aqui o Seu Filho, a Sua dádiva perfeita, no qual o seu Pai brilha para sempre, e a quem toda a criação é dada como se fosse propriamente sua. Porque ele a tem, ela te, é dada e onde ela está nele, tu contemplas a tua paz. A quietude que te cerca habita nele, e dessa quietude vêm os sonhos felizes nos quais as tuas mãos e as suas estão unidas em inocência. Estas não são mãos que se agarram em sonhos de dor. Elas não seguram nenhuma espada, pois soltaram os seus apegos em relação a qualquer vã ilusão do mundo. E estando vazias, em vez de ilusões, elas rece­bem a mão de um irmão na qual se encontra a completeza.

6. Se tu apenas conhecesses a meta gloriosa que está além do perdão, não ficarias preso a nenhum pensamento, por mais leve que fosse o toque do mal aparentemente presente nele. Pois compreenderias o quanto é grande o custo de manter qualquer coisa que Deus não tenha dado em mentes capazes de dirigir as mãos para abençoar e conduzir o Filho de Deus à casa de seu Pai. Tu não queres ser um amigo para com aquele que foi criado pelo seu Pai como a Sua própria casa? Se Deus o estima como alguém digno Dele próprio, tu o atacarias com mãos de ódio? Quem tocaria o próprio Céu com mãos ensangüentadas e esperaria achar a paz celestial? O teu irmão pensa que segura a mão da morte. Não acredites nele. Mas, em vez disso, aprendas como tu és bem-aventurado, tu que és capaz de liberá-lo simplesmente oferecendo-lhe a tua.

7. Um sonho te é dado no qual ele é o teu salvador, não o teu inimigo no ódio. A ti é dado um sonho no qual tu o perdoaste por todos os seus sonhos de morte, um sonho de esperança que tu compartilhas com ele em vez de sonhar sonhos de ódio, maus e separados. Por que é que parece ser tão difícil compartilhar esse sonho? Porque, a não ser que o Espírito Santo dê ao sonho a função que lhe é devida, ele foi feito para o ódio e irá continuar a serviço da morte. Qualquer forma que tome, de alguma maneira chama a morte. E aqueles que servem ao senhor da morte vie­ram fazer o seu culto em um mundo separado, cada um com sua diminuta lança e espada enferrujadas para manter suas antigas promessas à morte.

8. Tal é o núcleo de medo em cada sonho que foi mantido à parte, para não ser usado por Ele, Que vê uma função diferente para cada sonho. Quando sonhos são compartilhados perdem a função de ataque e separação, muito embora tenha sido para isso que todos os sonhos foram feitos. Entretanto, nada no mundo dos sonhos permanece sem a esperança de mudança e melhora, pois não é aqui que se acha a imutabilidade. Que possamos ficar de fato contentes que seja assim, e não busquemos o eterno nesse mundo. Sonhos de perdão são um meio de dar um passo para fora do sonhar de um mundo que está fora de ti mesmo. E con­duzem finalmente para o que está além de todos os sonhos, à paz da vida que dura para sempre.


VI. O perdão e o fim do tempo

1. Em que medida estás disposto a perdoar o teu irmão? Em que medida desejas a paz, ao invés da batalha, da miséria e da dor sem fim? Essas questões são a mesma, em formas diferentes. O perdão é a tua paz, pois dentro dele está o fim da separação e do sonho de perigo e destruição, pecado e morte, de loucura e de assassinato, pesar e perda. Esse é o “sacrifício” que a salvação pede e alegremente oferece a paz em lugar disso.

2. Não jures morrer, tu, o Filho santo de Deus! Tu fizeste uma barganha que não podes manter. O Filho da Vida não pode ser morto. Ele é imortal como o seu Pai. O que ele é não pode ser mudado. Ele é a única coisa em todo o universo que tem que ser una. O que parece ser eterno, tudo isso terá um fim. As estrelas desaparecerão e a noite, e o dia não mais existirão. Todas as coisas que vêm e vão, as marés, as estações e as vidas dos homens; todas as coisas que mudam com o tempo; que florescem e murcham, não retornarão. Onde o tempo estabeleceu um fim, não é onde o eterno pode ser encontrado. O Filho de Deus nunca pode mudar em função daquilo que os homens fizeram dele. Ele será o mes­mo, ontem e hoje, pois o tempo não designou o seu destino, nem estabeleceu a hora do seu nascimento e da sua morte. O perdão não o mudará. Entretanto, o tempo aguarda o perdão para que as coisas do tempo possam desaparecer porque não têm nenhuma utilidade.

3. Nada sobrevive a seu propósito. Se algo é concebido para mor­rer, então, necessariamente morrerá, a não ser que não tome esse propósito como seu. A mudança é a única coisa que pode vir a ser uma bênção aqui, onde o propósito não é fixo, por mais imutável que pareça ser. Não penses que podes estabelecer uma meta que não é como o propósito de Deus para ti, e estabelecê-la como imu­tável e eterna. Tu podes dar a ti mesmo um propósito que não tens. Mas não podes remover o poder de mudar a tua mente e ver nela outro propósito.

4. A mudança é a maior das dádivas que Deus deu a tudo o que tu queres fazer com que seja eterno, para assegurar que só o Céu não passará. Tu não nasceste para morrer. Não podes mudar porque a tua função foi fixada por Deus. Todos as outras metas são estabelecidas no tempo e mudam de forma que o tempo pos­sa ser preservado, com exceção de uma. O perdão não tem por objetivo preservar o tempo, mas fazer com que ele termine quan­do não tiver mais utilidade. Findo o seu propósito, ele desapare­cerá. E onde ele antes tinha aparente trânsito, restaurou-se agora a função que Deus estabeleceu para o Seu Filho em plena cons­ciência. O tempo não pode estabelecer um fim para a sua realização nem para a sua imutabilidade. A morte não mais existirá porque os vivos compartilham a função que o seu Criador lhes deu. A função da Vida não pode ser morrer. Tem que ser a extensão da vida, para que ela seja uma só para todo o sempre, sem fim.

5. Esse mundo atará os teus pés e as tuas mãos e matará o teu corpo só se pensares que ele foi feito para crucificar o Filho de Deus. Pois embora ele tenha sido um sonho de morte, não preci­sas deixar que represente isso para ti. Permite que isso seja mu­dado e nada no mundo deixará de ser mudado também. Pois tudo aqui é definido apenas pelo propósito que tu vês nas coisas.

6. Como é belo o mundo cujo propósito é o perdão do Filho de Deus! Como é livre do medo, como é cheio de bênçãos e felicida­de! E que coisa alegre é habitar por um breve momento em um lugar tão feliz! Nem se deve esquecer, em tal mundo, que o mo­mento é breve até que a intemporalidade venha em quietude to­mar o lugar do tempo.


VII. Não busques fora de ti mesmo

1. Não busques fora de ti mesmo. Pois o teu intento falhará e tu chorarás a cada vez que um ídolo cair por terra. O Céu não pode ser achado onde ele não está e não pode existir paz a não ser no Céu. Cada ídolo que cultuas quando Deus chama, nunca te res­ponderá em Seu lugar. Não existe nenhuma outra resposta que possas substituir pela de Deus e na qual possas achar a felicidade que a Sua resposta traz. Não busques fora de ti. Pois toda a tua dor simplesmente vem de uma busca fútil pelo que queres, insis­tindo quanto ao lugar aonde tem que ser achado. E se não estiver ali? Preferes estar certo ou ser feliz? Fica contente por ter sido dito a ti aonde habita a felicidade e não busques mais em outra parte. Tu falharás. Mas te é dado conhecer a verdade e não buscá-la fora de ti mesmo.

2. Ninguém que venha aqui deixa de ter ainda esperança, algu­ma ilusão remanescente, ou algum sonho de que haja alguma coisa fora dele próprio que lhe trará felicidade e paz. Se todas as coisas estão nele, isso não pode ser assim. E, portanto, com a sua vinda, ele nega a verdade a respeito de si mesmo e busca algo que seja mais do que tudo, como se uma parte do todo estivesse separada e pudesse ser achada onde todo o resto não está. Esse é o propósito que ele concede ao corpo: que o corpo busque aqui­lo que falta a ele, e lhe dê aquilo que o faz completo. E assim ele vaga, sem objetivos, em busca de alguma coisa que não pode achar, acreditando que ele é o que não é.

3. A ilusão remanescente o impelirá a buscar milhares de ídolos e outros milhares além desses. E cada um falhará, todos, exceto um: pois ele morrerá sem compreender que o ídolo que ele busca é apenas a sua própria morte. A forma da morte aparenta estar fora dele. Entretanto, de fato, ele busca matar o Filho de Deus no interior de si mesmo e provar que é vitorioso sobre ele. Esse é o propósito que cada ídolo tem, pois esse é o papel que lhe é atri­buído e esse é o papel que não pode ser cumprido.

4. Sempre que tentas alcançar uma meta segundo a qual a melho­ria do corpo é colocada como a meta principal, estás tentando trazer para ti a tua própria morte. Pois acreditas que podes so­frer devido à falta, e falta é morte. Fazer sacrifícios é desistir e assim ficar sem, tendo sofrido a perda. E por essa desistência abre-se mão da vida. Não busques fora de ti mesmo. A busca implica em não seres íntegro por dentro e tens medo de olhar para a tua própria devastação, preferindo buscar o que és fora de ti mesmo.

5. Ídolos têm que cair porque não têm vida e o que é sem vida é um sinal de morte. Tu vieste para morrer e que mais poderias esperar senão perceber os sinais da morte que buscas? Nenhuma tristeza e nenhum sofrimento proclamam outra mensagem que não seja o encontro de um ídolo que representa uma paródia da vida, que por não ter vida é realmente a morte concebida como algo real ao qual se atribui forma viva. Contudo, cada um desses ídolos tem que falhar, desmoronar e se deteriorar porque uma forma de morte não pode ser vida e o que é sacrificado não pode ser íntegro.

6. Todos os ídolos desse mundo foram feitos para manter a ver­dade dentro de ti afastada do teu conhecimento, e para manter a aliança com o sonho, segundo o qual tens que achar o que está fora de ti mesmo para seres completo e feliz. É em vão que se cultua ídolos esperando achar a paz. Deus habita dentro de ti e a tua completeza está Nele. Nenhum ídolo toma o Seu lugar. Não olhes para ídolos. Não busques fora de ti mesmo.

7. Vamos esquecer o propósito que foi dado ao mundo pelo pas­sado. Pois de outra forma, o futuro será como o passado, não mais do que uma série de sonhos deprimentes nos quais todos os ídolos falham a ti, um por um, e tu vês a morte e o desaponta­mento em toda a parte.

8. Para mudar tudo isso e abrir uma estrada de esperança e de liberação dentro daquilo que aparentava ser um círculo sem fim de desespero, tu apenas necessitas decidir que não sabes qual é o propósito do mundo. Tu lhe dás metas que ele não tem e dessa forma decides para quê ele serve. Tentas ver nele um lugar de ídolos achados fora de ti mesmo, com o poder de fazer com que o que está dentro seja completo, dividindo o que tu és entre os dois. Tu escolhes os teus sonhos, pois são o que desejas, percebidos como se tivessem sido dados a ti. Os teus ídolos fazem o que queres que façam e têm o poder que tu lhes atribuis. E tu os persegues em vão no sonho, porque queres o seu poder para ti.

9. Entretanto, onde estão os sonhos senão em uma mente adorme­cida? E é possível que um sonho tenha sucesso em fazer com que o retrato que ele projeta fora de si mesmo seja real? Economiza tempo, meu irmão, aprende para quê o tempo serve. E apressa o fim dos ídolos em um mundo que se fez triste e doente por ver ídolos. A tua mente santa é um altar a Deus, e aonde Ele está nenhum ídolo pode habitar. O medo de Deus não é senão o medo da perda dos ídolos. Não é o medo da perda da tua realidade. Mas tu fizeste da tua realidade um ídolo, o qual tens que proteger contra a luz da verdade. E todo o mundo vem a ser o meio pelo qual esse ídolo pode ser salvo. Desse modo, a salvação parece ameaçar a vida e oferecer a morte.

10. Não é assim. A salvação busca provar que a morte não existe e que só a vida existe. O sacrifício da morte não é nenhuma perda. Um ídolo não pode tomar o lugar de Deus. Permite que Ele te lembre do Seu Amor por ti e não busques afogar a Voz de Deus em cantos de profundo desespero para ídolos de ti mesmo. Não busques fora do teu Pai a tua esperança. Pois a esperança da felicidade não é desespero.


VIII. O anticristo

1. O que é um ídolo? Tu pensas que sabes? Pois ídolos não são reconhecidos como tais e nunca são vistos pelo que realmente são. Esse é o único poder que têm. O seu propósito é obscuro, e são temidos e adorados, porque tu não sabes para quê servem e nem porque foram feitos. Um ídolo é uma imagem do teu irmão que valorizas mais do que o que ele é. Ídolos são feitos para que o teu irmão possa ser substituído, seja qual for a forma que to­mem. E é isso que não é nunca percebido e reconhecido. Seja ele um corpo ou uma coisa, um lugar, uma situação ou uma circuns­tância, um objeto possuído ou desejado, ou um,direito exigido ou conseguido, é a mesma coisa.

2. Não deixes que a forma dos ídolos te engane. Eles são apenas substitutos para a tua realidade. De algum modo, tu acreditas que completarão o teu pequeno ser, dando-te segurança em um mundo percebido como perigoso, com forças concentradas con­tra a tua confiança e a paz da tua mente. Eles têm o poder de suprir o que te falta e acrescentar o valor que tu não tens. Nin­guém acredita em ídolos sem se ter escravizado à pequenez e à perda. E assim, precisa buscar a força além de seu pequeno ser para levantar a cabeça e se colocar à parte de toda a miséria que o mundo reflete. Essa é a penalidade por não olhares para dentro em busca da certeza e da calma serena que te libera do mundo, e permite que tu te coloques à parte, em quietude e em paz.

3. Um ídolo é uma falsa impressão, ou uma falsa crença; alguma forma de anticristo, que constitui uma brecha entre o Cristo e o que tu vês. Um ídolo é um desejo, que se faz tangível e ao qual é dado uma forma, e assim ele é percebido como real e visto fora da mente. Entretanto, ele ainda é um pensamento e não pode deixar a mente que é a sua fonte. Também a sua forma não está à parte da idéia que ele representa. Todas as formas do anticristo se opõem a Cristo. E caem diante da Sua face como um véu escuro que parece se fechar separando-te Dele e deixando-te sozi­nho na escuridão. Contudo, a luz está lá. Uma nuvem não apa­ga o sol. E nem um véu é capaz de banir aquilo que ele parece separar, assim como não é capaz de escurecer nem por um milí­metro a luz em si mesma.

4. Esse mundo de ídolos é um véu por cima da face de Cristo, porque o seu propósito é separar o teu irmão de ti. Um propósito escuro e amedrontador, contudo não passa de um pensamento sem o poder de mudar uma folha de grama de uma coisa viva em um sinal de morte. A sua forma não está em parte alguma, pois a sua fonte habita dentro da tua mente, onde Deus não habita. Aon­de é esse lugar no qual aquilo que está em toda parte foi excluído e é mantido à parte? Que mão poderia se levantar para bloquear o caminho de Deus? De quem é a voz que poderia exigir que Ele não entrasse? Aquilo que Se crê “mais do que tudo” não é algo capaz de te fazer tremer e te encolher por medo. O inimigo de Cristo não está em lugar nenhum. Ele jamais pode tomar uma forma na qual seja real.

5. O que é um ídolo? Nada! É preciso que se acredite nele antes que ele pareça vir à vida e a ele tem que ser dado o poder através do qual possa ser temido. A sua vida e poder são dádivas daquele que acredita nele, e é isso o que o milagre devolve àquele que tem vida e poder dignos da dádiva do Céu e da paz eterna. O milagre não restaura a verdade, pois o véu que está entre eles não apagou a luz. Ele meramente levanta o véu e permite que a ver­dade brilhe a descoberto, sendo o que é. Ela não necessita de crença alguma para ser ela mesma, pois foi criada e assim é.

6. Um ídolo é estabelecido pela crença e quando ela é retirada, o ídolo “morre”. Isso é o anticristo: a estranha idéia de que há um poder além da onipotência, um lugar além do infinito, um tempo que transcende o eterno. Aqui o mundo dos ídolos foi estabeleci­do pela idéia de que foi dada uma forma a esse poder, a esse lugar e a esse tempo e eles moldam o mundo onde o impossível aconteceu. Aqui, o que não morre vem para morrer, o que tudo abrange vem a sofrer perda, o que é sem tempo vem para se fazer escravo do tempo. Aqui o imutável muda; a paz de Deus, para sempre dada a todas as coisas vivas, dá lugar ao caos. E o Filho de Deus, tão perfeito, sem pecado e amoroso como seu Pai, vem para odiar por um breve momento, para sofrer dor e finalmente morrer.

7. Onde está um ídolo? Em parte alguma! É possível haver uma brecha no que é infinito, um lugar onde o tempo é capaz de inter­romper a eternidade? Um lugar de escuridão estabelecido onde tudo é luz, uma alcova sombria separada do que não tem fim, não tem lugar para ser. Um ídolo está além do lugar onde Deus esta­beleceu todas as coisas para sempre, sem deixar espaço para nada exceto a Sua Vontade. Um ídolo tem que ser nada e tem que estar em lugar nenhum, pois Deus é tudo te está em toda parte.

8. Que propósito tem um ídolo, então? Para quê ele serve? Essa é a única questão que tem muitas respostas, cada uma delas de­pendendo da pessoa a quem a questão é colocada. O mundo acredita em ídolos. Ninguém vem a ele a menos que os adore, e ainda tente buscar um ídolo que possa lhe oferecer uma dádiva que a realidade não contenha. Cada idólatra ancora a sua espe­rança na crença em que suas divindades especiais lhe darão mais do que os outros homens possuem. Tem que ser mais. Não im­porta realmente mais de “quê, se é mais beleza, mais inteligência, mais riqueza, ou até mesmo mais aflição e mais dor. Mas um ídolo é para se ter mais de alguma coisa. E quando um falha, outro toma o seu lugar, com a esperança de achar mais de alguma outra coisa. Não te enganes com as formas que essa “alguma coisa” toma. Um ídolo é um meio de se conseguir mais. E é isso que vai contra a Vontade de Deus.

9. Deus não tem muitos filhos, apenas um. Quem pode ter mais e a quem pode ser dado menos? No Céu o Filho de Deus apenas riria, se ídolos pudessem interferir com a sua paz. É por ele que o Espírito Santo fala e te diz que ídolos não têm propósito algum aqui. Pois mais do que o Céu, tu nunca podes ter. Se o Céu está dentro de ti, por que irias buscar ídolos que fariam do Céu menos do que ele é, para dar-te mais do que Deus deu ao teu irmão e a ti, que és um com Ele? Deus te deu tudo o que existe. E para estar certo de que não o perderias, Ele deu também o mesmo a cada coisa viva. E assim cada coisa viva é uma parte de ti, assim como Dele. Nenhum ídolo pode fazer com que sejas mais do que Deus. Mas nunca ficarás satisfeito em ser menos.


IX. O sonho que perdoa

1. O escravo de ídolos é um escravo voluntário. Pois ele tem que estar disposto a se inclinar em adoração diante do que não tem vida e a buscar poder no que não tem poder. O que aconteceu ao santo Filho de Deus para que esse pudesse ser o seu desejo, para que ele se deixasse cair e descer ainda mais baixo do que as pe­dras do chão e ficasse procurando ídolos para que eles o levan­tem? Ouve, então, a tua história no sonho que fizeste e pergunta a ti mesmo se não é verdade que acreditas que isso não é um sonho.

2. Um sonho de julgamento entrou na mente que Deus criou tão perfeita quanto Ele próprio. E nesse sonho, o Céu virou inferno, e fez-se de Deus um inimigo para com Seu Filho. Como pode o Filho de Deus despertar do sonho? É um sonho de julgamento. Assim é preciso que ele não julgue e despertará. Pois o sonho parecerá durar enquanto ele faz parte do sonho. Não julgues, pois aquele que julga terá necessidade de ídolos que arcarão com o julgamento impedindo que o mesmo caia sobre ele. E assim também não poderá conhecer o Ser que ele condenou. Não julgues, porque fazes de ti mesmo uma parte dos sonhos maus, onde ídolos são a tua “verdadeira” identidade e a tua salvação do julgamento é colocada sobre ti no terror e na culpa.

3. Todas as figuras no sonho são ídolos, feitos para salvar-te do sonho. Contudo, eles foram feitos para salvar-te exatamente daquilo de que fazem parte. Assim é que o ídolo mantém o sonho vivo e terrível, pois quem poderia desejar um, a não ser que estivesse no terror e no desespero? E isso o ídolo representa, e assim a idolatria dos ídolos é a idolatria do desespero e do terror, e do sonho do qual eles vêm. O julgamento é uma injustiça para com o Filho de Deus, e é justiça o fato de que aquele que o julga não escapará da penalidade que infligiu a si próprio dentro do sonho que fez. Deus sabe da justiça, não da penalidade. Mas no sonho do julgamento tu atacas e és condenado; e desejas ser o escravo de ídolos, que se interpõem entre o teu julgamento e a penalida­de que ele traz.

4. Não pode haver salvação no sonho enquanto o estás sonhando. Pois os ídolos têm que fazer parte dele, para salvar-te daquilo que tu acreditas que realizaste e fizeste para fazer de ti mesmo um pecador, apagando a luz dentro de ti. Pequena criança, a luz está aqui. Tu estás apenas sonhando e os ídolos são brinquedos com os quais sonhas que estás brincando. Quem tem necessidade de brinquedos a não ser as crianças? Elas fingem que governam o mundo e dão aos seus brinquedos o poder de se locomoverem, de falarem e de pensarem, de serem e de falarem por elas. Entretanto, tudo aquilo que os seus brinquedos aparentemente fazem está nas mentes das crianças que com eles brincam. Mas elas an­seiam por esquecer que elas próprias inventaram o sonho no qual os seus brinquedos são reais, e não reconhecem que os desejos que eles têm são os seus próprios.

5. Pesadelos são sonhos de crianças. Os brinquedos se voltaram contra a criança que pensou tê-los feito reais. No entanto, é possível um sonho atacar? Ou é possível um brinquedo crescer e tomar-se perigoso, ameaçador e selvagem? Nisso a criança acre­dita, porque tem medo de seus pensamentos e os atribui aos brin­quedos em vez de a si mesma. E a realidade deles vem a ser a sua realidade, porque parecem salvá-la de seus pensamentos. Contu­do, eles mantêm os seus pensamentos vivos e reais, só que vistos fora dela, onde podem voltar-se contra ela, pela traição que ela faz a eles. Ela pensa que necessita deles para poder escapar dos pró­prios pensamentos porque pensa que os seus pensamentos são reais. E assim ela faz de qualquer coisa um brinquedo, para fazer com que o seu mundo permaneça fora dela e brincar de ser ape­nas uma parte dele.

6. Há uma época em que a infância deveria passar e acabar para sempre. Não busques reter os brinquedos das crianças. Põe todos de lado, pois já não necessitas deles. O sonho do julgamento é um jogo de criança, no qual a criança vem a ser o pai, poderoso, mas com o pouco juízo de uma criança. O que a fere é destruído; o que a ajuda, abençoado. Mas isso é julgado do mesmo modo como julga uma criança, que não sabe o que fere e o que irá curar. E coisas ruins parecem acontecer e ela tem medo de todo o caos em um mundo que pensa que é governado pelas leis que ela mesma fez. No entanto, o mundo real não é afetado pelo mundo que ela pensa que é real. Tampouco as suas leis foram mudadas porque ela não as compreende.

7. O mundo real ainda é apenas um sonho. Mas as figuras muda­ram. Elas não são vistas como ídolos que traem. É um sonho no qual ninguém é usado para substituir alguma outra coisa, nem interposto entre os pensamentos que a mente concebe e aquilo que ela vê. Ninguém é usado como algo que não é, pois as coisas infantis foram todas postas de lado. E o que uma vez foi um sonho de julgamento, agora mudou e veio a ser um sonho no qual tudo é alegria, porque esse é o propósito que ele tem. Só sonhos que perdoam podem entrar aqui, pois o tempo está quase no fim. E as formas que entram no sonho são agora percebidas como irmãos, não em julgamento, mas em amor.

8. Sonhos de perdão têm pouca necessidade de durar. Eles não são feitos para separar a mente daquilo que ela pensa. Eles não buscam provar que o sonho está sendo sonhado por alguma ou­tra pessoa. E nestes sonhos ouve-se uma melodia que todos lem­bram, embora não a tenham ouvido desde antes do início dos tempos. O perdão, uma vez completo, traz a intemporalidade para tão perto que a canção do Céu pode ser ouvida, não com os ouvidos, mas com a santidade que nunca deixou o altar que habi­ta para sempre profundamente dentro do Filho de Deus. E quan­do ele ouve essa canção outra vez, sabe que nunca deixou de ouvi-la. E onde está o tempo, quando os sonhos de julgamento foram postos de lado?

9. Sempre que sentires medo, sob qualquer forma – e tu estás ame­drontado se não sentes um profundo contentamento, uma certeza de seres ajudado, uma calma segurança de que o Céu vai conti­go – estejas certo de que fizeste um ídolo e acreditas que ele vai trair-te. Pois, por trás da tua esperança de que ele vá salvar-te, estão a culpa e a dor da auto-traição e da incerteza, tão profundas e amargas que o sonho não é capaz de ocultar completamente todo o teu sentimento de perdição. A tua auto-traição tem que resultar em medo, pois o medo é julgamento, levando com certeza à busca frenética de ídolos e da morte.

10. Sonhos que perdoam lembram a ti de que vives em segurança e que não atacaste a ti mesmo. Assim dissipam-se os teus terro­res infantis e os sonhos vêm a ser um sinal de que fizeste um novo começo, não uma outra tentativa de adorar ídolos e manter o ataque. Sonhos que perdoam são benignos para com todas as pessoas que figuram no sonho. E assim trazem ao sonhador libe­ração plena dos sonhos de medo. Ele não tem medo do próprio julgamento, pois não julgou ninguém e nem buscou se liberar, através do julgamento, daquilo que o julgamento necessariamen­te impõe. E durante todo o tempo ele está se lembrando do que esqueceu, enquanto o julgamento parecia ser o caminho para sal­vá-lo da penalidade de julgar.