julho 15, 2010

Capítulo 22 - A SALVAÇÃO E O RELACIONAMENTO SANTO

Capítulo 22 - A SALVAÇÃO E O RELACIONAMENTO SANTO

Introdução

1. Tem piedade de ti mesmo por tanto tempo escravizado. Regozija-te, pois aqueles a quem Deus se uniu vieram a estar juntos e não têm mais necessidade de olhar para o pecado separados. Não há duas pessoas que possam olhar para o pecado juntas, pois elas jamais poderiam vê-lo no mesmo lugar e ao mesmo tempo. O pecado é uma percepção estritamente individual, visto no outro, porém cada um acredita que ele está dentro de si mesmo. E cada um parece fazer um erro diferente, erro esse que o outro não pode compreender. Irmão, é o mesmo erro, feito pelo mesmo ser e é perdoado em nome daquele que o cometeu da mesma maneira. A Identidade do teu relacionamento perdoa a ti e ao teu irmão, desfa­zendo os efeitos do que ambos acreditaram e viram. E como eles se vão, a necessidade do pecado se vai com eles.

2. Quem tem necessidade de pecado? Somente os sozinhos e os solitários, que vêem os seus irmãos diferentes de si mesmos. É essa diferença, vista porém não-real, que faz a necessidade do pecado, não-real porém vista, parecer justificada. E tudo isso se­ria real se o pecado o fosse. Pois um relacionamento não-santo baseia-se em diferenças, onde cada um pensa que o outro tem o que ele não tem. Eles vêm a estar juntos, cada um para comple­tar a si mesmo e roubar o outro. Ficam até pensarem que nada mais há a ser roubado e então vão adiante. E assim vagam atra­vés de um mundo de estranhos, que não são como eles, vivendo com os seus corpos talvez sob um teto comum que não abriga a nenhum dos dois; no mesmo quarto e, apesar disso, há um mun­do entre eles.

3. Um relacionamento santo parte de uma premissa diferente. Cada um olhou para dentro de si e não viu nenhuma falta. Cada um aceitou sua completeza e quer estendê-la, unindo-se a um outro que é íntegro como ele próprio. Ele não vê diferenças entre o seu ser e o ser do outro, pois as diferenças estão apenas nos corpos. Portanto, ao olhar não acha nada que queira tomar do outro. Ele não nega a sua própria realidade porque é a verda­de. Ele está só um pouco abaixo do Céu, mas suficientemente próximo para não retornar à terra. Pois esse relacionamento tem a santidade do Céu. A que distância de casa pode estar um rela­cionamento tão semelhante ao Céu?

4. Pensa no que um relacionamento santo pode ensinar! Aqui se desfaz a crença nas diferenças. Aqui a fé depositada nas diferen­ças passa a ser depositada no que é o mesmo. E aqui a perspecti­va das diferenças é transformada em visão. A razão pode agora conduzir a ti e ao teu irmão à conclusão lógica da vossa união. Ela não pode deixar de estender-se, assim como vós vos estendeste quanto tu e ele vos unistes. Ela não pode deixar de alcançar o que está fora e além de si mesma, assim como vós alcançastes o que estava fora e além do corpo para permitir que tu e teu irmão fôs­seis unidos. E agora essa qualidade comum ao que é o mesmo, que vós vistes, estende-se e finalmente remove todo o senso de diferenças de tal modo que o que é o mesmo por trás de todas ai diferenças vem a ser aparente. Aqui está o círculo dourado onde reconheces o Filho de Deus. Pois o que nasceu em um relaciona­mento santo nunca pode ter fim.


I. A mensagem do relacionamento santo

1. Permite que a razão dê mais um passo. Se atacas aquele que Deus quer curar e odeias a quem Ele ama, então tu e o teu Criador têm uma vontade diferente. Entretanto, se tu és a Sua vontade, o que não podes deixar de acreditar é que não és o teu próprio ser. De fato, podes acreditar nisso e acreditas. E nisso tu tens fé e vês muita evidência a favor disso. E de onde, imaginas tu, surgem o teu estranho desconforto, a tua sensação de estares desconectado e o medo, que te assombra, da falta de significado em ti mesmo? É como se chegasses vagando, sem qualquer plano exceto o de partires vagando, pois só isso parece certo.

2. Entretanto, nós ouvimos uma descrição muito semelhante a essa anteriormente, mas não foi de ti. Apesar disso, essa estranha idéia que ele descreve com precisão, pensas que és tu. A razão te diria que o mundo que vês, através de olhos que não são teus, não pode fazer sentido para ti. A quem um tal modo de ver poderia devolver suas mensagens? Com certeza, não a ti, cuja vista é to­talmente independente dos olhos que contemplam o mundo. Se essa não é a tua visão, o que pode ela mostrar-te? O cérebro não pode interpretar o que a tua visão vê. Isso, tu compreenderias. O cérebro interpreta em função do corpo, do qual ele faz parte. Mas o que ele diz, tu não podes compreender. No entanto, o tens escutado. E por muito tempo e muito arduamente tentaste compreender suas mensagens.

3. Não reconheceste que é impossível compreender aquilo que fa­lha inteiramente em alcançar-te. Não recebeste absolutamente ne­nhuma mensagem que compreendas, pois escutaste o que nunca pode se comunicar de forma alguma. Pensa, então, no que acontece. Negando o que és e firme na fé de que é alguma outra coisa, essa “alguma outra coisa”, que fizeste para ser o teu ser, torna-se a tua vista. No entanto, como aquele que vê tem que ser essa “alguma outra coisa”, e não vê como tu verias, ele explica o que vê a ti. A tua visão iria, é claro, tornar isso bastante desneces­sário. Todavia, se os teus olhos estão fechados e invocaste essa coisa para conduzir-te, pedindo a ela que te explique o mundo que vês, não tens nenhuma razão para não escutar, nem para sus­peitar que o que ela te diz não seja verdadeiro. A razão te diria que isso não pode ser verdadeiro porque tu não o compreendes. Deus não tem segredos. Ele não te conduz através de um mun­do de miséria, aguardando para te dizer, no final da jornada, por­que Ele fez isso contigo.

4. O que poderia ser secreto para a Vontade de Deus? Apesar disso, acreditas que tens segredos. O que poderiam ser os teus segredos exceto outra ‘vontade’, que é a tua, à parte da Sua? A razão te diria que isso não é um segredo que necessite ser escon­dido como um pecado. Mas um equívoco, de fato! Não deixes que o teu medo do pecado proteja o equívoco da correção, pois a atração da culpa é apenas medo. Aqui está a única emoção que fizeste, seja qual for a sua aparência. Essa é a emoção do secreto, dos pensamentos privados e do corpo. Essa é a única emoção que se opõe ao amor e sempre conduz a ver diferenças e à perda do que é o mesmo. Aqui está a única emoção que te mantém cego, dependente do ser que pensas que fizeste para conduzir-te através do mundo que ele fez para ti.

5. A. tua vista te foi dada, junto com todas as coisas que podes compreender. Não perceberás qualquer dificuldade em com­preender o que essa visão te diz, pois todas as pessoas apenas vêem o que pensam que são. E o que a tua vista quer te mostrar, compreenderás porque é a verdade. A tua visão pode te trans­mitir o que podes ver. Ela te alcança diretamente, sem necessida­de de ser interpretada para ti. O que necessita de interpretação não pode deixar de ser alheio. E nunca se tornará compreensível por um intérprete que tu não podes compreender.

6. De todas as mensagens que recebeste e falhaste em compreender, só esse curso está aberto à tua compreensão e pode ser compreendido. Essa é a tua linguagem. Ainda não a compreendes apenas porque toda a tua comunicação é como a de um bebê. Os sons que um bebê faz e o que ele ouve são altamente inconfiáveis, significando coisas diferentes para ele em momentos diferentes. Nem os sons que ele ouve e nem o que ele vê são ainda estáveis. Mas o que ele ouve e não compreende será a sua língua materna, através da qual ele irá se comunicar com aqueles à sua volta e eles com ele. E aquelas pessoas estranhas e passageiras que vê em tomo de si, virão a ser para ele os seus consoladores e virá o reconhecer a sua casa e lá as verá junto com ele.

7. Assim, em cada relacionamento santo a capacidade de comunicar, ao invés de separar, renasce. Entretanto, um relacionamen­to santo, renascido há tão pouco tempo de um relacionamento não-santo e, apesar disso mais antigo do que a velha ilusão que substituiu, é agora como um bebê em seu renascimento. Ainda assim, nesse infante a tua visão é devolvida a ti e ele falará a linguagem que podes compreender. Ele não é nutrido por aquela ‘alguma outra coisa’ que pensaste que fosse o teu próprio ser. Não foi a isso que ele foi dado, nem foi recebido por nada, a não ser por ti mesmo. Pois dois irmãos não podem unir-se a não ser através de Cristo, Cuja visão os vê como um só.

8. Pensa no que te é dado, meu irmão santo. Essa criança te ensinará o que não compreendes e fará com que tudo fique claro. Pois a sua língua não será uma língua alheia. Ela não necessita­rá de nenhum intérprete para ti, pois foste tu que lhe ensinaste o que ela sabe, porque sabias. Ela não poderia vir a ninguém, a não ser a ti, nunca a ‘alguma outra coisa’. Onde Cristo entrou, nin­guém está só, pois Ele jamais poderia achar um lar em pessoas separadas. Entretanto, Ele tem que renascer em Seu antigo lar, aparentemente tão novo porém tão velho quanto Ele, um peque­no recém-chegado, dependente da santidade do teu relaciona­mento para permitir que Ele viva.

9. Que tenhas certeza de que Deus não confiou o Seu Filho aos indignos. Nada que não faça parte Dele é digno de ser unido. E também não é possível que qualquer coisa que não faça parte Dele possa se unir. A comunicação tem que ter sido restaurada para aqueles que se unem, pois isso eles não poderiam fazer atra­vés dos corpos. O quê, então, os uniu? A razão te dirá que eles não podem deixar de ter visto um ao outro através de uma visão que não é do corpo e se comunicado em uma linguagem que o corpo não fala. Nem poderia ter sido uma vista ou um som ame­drontador, pois isso não os teria atraído gentilmente para que fossem um só. Ao contrário, em cada um, o outro viu um abrigo perfeito onde seu Ser poderia renascer em segurança e em paz. Tal coisa lhe disse a sua razão, tal coisa ele acreditou porque era a verdade.

10. Aqui está a primeira percepção direta que podes ter. Tu a tens através de uma consciência mais velha do que a percepção e, no entanto, renascida em apenas um instante. Pois o que é o tempo para o que sempre foi assim? Pensa no que esse instante trouxe: o reconhecimento de que aquela ‘alguma outra coisa’ que acre­ditavas que eras tu, é uma ilusão. E a verdade veio instantaneamente para te mostrar aonde o teu Ser não pode deixar de estar. É a negação das ilusões que chama a verdade, pois negar ilusões é reconhecer que o medo é sem significado. No lar santo onde o medo é impotente, o amor entra agradecido, grato por ser um contigo, que te uniste para permitir que ele entrasse.

11. Cristo vem ao que é como Ele próprio; ao que é o mesmo, não diferente. Pois Ele é sempre atraído para Si Mesmo. O que po­deria ser tão semelhante a Ele quanto um relacionamento santo? E o que atrai a ti e ao teu irmão para que sejais unidos, O atrai a vós. Aqui, a Sua doçura e a Sua gentil inocência estão protegidas do ataque. E aqui Ele pode retornar em confiança, pois a fé no outro é sempre fé em Cristo. Tu estás, de fato, correto em olhar para o teu irmão como o lar escolhido de Cristo, pois aqui a tua vontade se une à Sua e à de Seu Pai. Essa é a Vontade do teu Pai para ti e a tua, unida à Sua. E quem é atraído a Cristo é atraído a Deus com tanta certeza quanto Ambos são atraídos a cada rela­cionamento santo, o lar preparado para Eles à medida em que a terra vem a ser o Céu.


II. A impecabilidade do teu irmão

1. O oposto de ilusões não é desilusão, mas verdade. Apenas para o ego, para quem a verdade é sem significado, elas parecem ser as únicas alternativas e diferentes uma da outra. Na verdade, são a mesma. Ambas trazem a mesma quantidade de miséria, embora cada uma pareça ser o caminho para acabar com a miséria que a outra traz. Cada ilusão carrega dor e sofrimento nas dobras escuras das pesadas vestimentas nas quais esconde o nada que é. No entanto, é por essas vestimentas escuras e pesadas que estão co­bertos aqueles que buscam ilusões, escondidos da alegria da ver­dade.

2. A verdade é o oposto de ilusões porque oferece alegria. Que outra coisa senão a alegria poderia ser o oposto da miséria? Deixar um tipo de miséria e buscar outro dificilmente é uma forma de escapar. Mudar de ilusões é não fazer mudança alguma. A busca da alegria na miséria não faz sentido, pois como poderia ‘ alegria ser achada na miséria? Tudo o que é possível no escuro mundo da miséria é selecionar alguns aspectos dela, vê-los como diferentes e definir a diferença como alegria. Entretanto, perceber uma diferença onde não existe nenhuma com toda certeza falhará em fazer diferença.

3. Ilusões carregam apenas culpa e sofrimento, doença e morte para os que nelas acreditam. A forma na qual são aceitas é irrele­vante. Nenhuma forma de miséria, aos olhos da razão, pode ser confundida com alegria. A alegria é eterna. Podes, de fato, ter certeza de que qualquer felicidade aparente que não dure é real­mente medo. A alegria não vira pesar, pois o eterno não pode mudar. Mas o pesar pode virar alegria, pois o tempo dá lugar ao eterno. Só o intemporal tem que permanecer imutável, mas todas as coisas no tempo podem mudar com o tempo. Entretanto, se a mudança é para ser real e não imaginada, as ilusões têm que dar lugar à verdade e não a outros sonhos que apenas são igual­mente irreais. Isso não faz diferença.

4. A razão te dirá que a única maneira de escapar à miséria é reconhecê-la e tomar o caminho contrário. A verdade é a mesma e a miséria é a mesma, mas elas são diferentes uma da outra em to­dos os sentidos, em todas as instâncias e sem exceção. Acreditar que pode existir uma exceção é confundir o que é o mesmo com o que é diferente. Uma única ilusão, apreciada e defendida contra a verdade, faz com que toda a verdade seja sem significado e todas as ilusões reais. Tal é o poder da crença. Ela não pode fazer transigências. E a fé na inocência é fé no pecado, se a cren­ça excluir uma única coisa viva e a mantiver à parte do perdão.

5. Tanto a razão como o ego te dirão isso, mas o que eles fazem disso não é a mesma coisa. O ego te assegurará agora que é im­possível para ti não ver culpa em pessoa alguma. E se esse modo de ver é o único meio através do qual podes conseguir escapar da culpa, então a crença no pecado tem que ser eterna. Porém, a razão olha para isso de outro modo, pois a razão vê a fonte de uma idéia como aquilo que a fará verdadeira ou falsa. Isso tem que ser assim, se a idéia é como a sua fonte. Por conseguinte, diz a razão, se o escapar da culpa foi dado ao Espírito Santo como o teu propósito e por Aquele para Quem nada que seja a Sua Vontade pode ser impossível, os meios para a sua consecução são mais do que possíveis. Eles não podem deixar de estar aí e tu não podes deixar de tê-los.

6. Essa é uma época crucial nesse curso, pois aqui a separação entre tu e o ego tem que se fazer completa. Pois se tens os meios para permitir que o propósito do Espírito Santo seja realizado, eles podem ser usados. E usando-os, terás ganho fé para investir neles. Entretanto, para o ego, isso tem que ser impossível e nin­guém empreende fazer aquilo que não contém nenhuma esperança de ser realizado algum dia. Tu sabes que aquilo que é a Vontade de Deus é possível, mas aquilo que fizeste acredita que não é assim. Agora tens que escolher entre o que és e uma ilusão do ti mesmo. Não ambos, apenas um. Não faz sentido tentar evitar essa única decisão. Ela não pode deixar de ser feita. A fé e a crença podem tombar para qualquer um dos dois lados, mas a razão te diz que a miséria está apenas em um dos lados e que a alegria está no outro. )

7. Não abandones agora o teu irmão. Pois vós que sois o mesmo, não ireis decidir sozinhos nem de maneira diferente. Vós dais um ao outro ou a vida ou a morte; cada um é para o outro salvador ou juiz, oferecendo-lhe um santuário ou a condenação. Acreditarás inteiramente nesse curso ou não acreditarás em absoluto. Pois ele é totalmente verdadeiro ou totalmente falso e não se pode acredi­tar apenas parcialmente. E escaparás inteiramente da miséria ou não escaparás em absoluto. A razão te dirá que não existe terreno intermediário onde possas parar incerto para uma pausa, espe­rando para escolher entre a alegria do Céu e a miséria do inferno. Enquanto não escolhes o Céu, estás no inferno e na miséria.

8. Não há nenhuma parte do Céu que possas levar e tecer em ilusões. E nem há nenhuma ilusão com a qual possas entrar no Céu. Um salvador não pode ser um juiz, nem a misericórdia condenação. E a visão não pode levar à perdição, apenas aben­çoar. Aquele, cuja função é salvar, salvará. Como ele o fará, está além da tua compreensão, mas quando tem que ser escolha tua. Pois o tempo tu fizeste e o tempo podes comandar. Não és mais escravo do tempo do que do mundo que fizeste.

9. Vamos olhar mais de perto para toda essa ilusão segundo a qual o que fizeste tem o poder de escravizar aquele que o fez. Essa é a mesma crença que causou a separação. É a idéia sem significado segundo a qual os pensamentos podem deixar a men­te do pensador, ser diferentes dela e em oposição a ela. Se isso fosse verdadeiro, os pensamentos não seriam extensões da men­te, mas seus inimigos. E aqui mais uma vez vemos uma outra forma da mesma ilusão fundamental, que já vimos muitas vezes antes. Só se fosse possível que o Filho de Deus deixasse a Mente de Seu Pai, se fizesse diferente e se opusesse à Sua Vontade, é que seria possível que o ser que ele fez e tudo o que esse ser fez, passasse a ser seu patrão.

10. Contempla a grande projeção, mas olha-a com a decisão de que ela tem que ser curada e não com medo. Nada do que fizeste tem qualquer poder sobre ti, a não ser que ainda queiras estar à parte do teu Criador e com uma vontade oposta à Sua. Pois ape­nas se quiseres acreditar que o Seu Filho pode ser Seu inimigo é que parece possível que o que fizeste seja teu. Queres condenar a Sua alegria à miséria e fazê-Lo diferente. E toda a miséria que fizeste tem sido tua. Não estás contente em aprender que ela não é verdadeira? Não é uma boa notícia ouvir que nenhuma das ilusões que fizeste substituiu a verdade?

11. Somente os teus pensamentos têm sido impossíveis. A salvação não pode ser. É impossível olhar para o teu salvador como teu inimigo e reconhecê-lo. No entanto, é possível reconhecê-lo pelo que é, se Deus quer que seja assim. O que Deus deu ao teu relacionamento santo lá está. Pois o que Ele deu ao Espírito San­to para te dar, Ele deu. Não queres olhar para o salvador que te foi dado? E não trocarias, com gratidão, a função de executor que lhe deste por aquela que ele tem na verdade? Recebe dele o que Deus deu a ele para ti, não o que tentaste dar a ti mesmo.

12. Além do corpo que interpuseste entre tu e o teu irmão e bri­lhando na luz dourada que o alcança a partir do radiante círculo infinito que se estende para sempre, está o teu relacionamento santo, amado pelo próprio Deus. Como repousa em calma no tempo e ainda assim além, imortal mesmo na terra. Como é grande o poder que está nele! O tempo espera pela sua vontade e a terra será como ele quiser que seja. Aqui não há nenhuma vontade separada nem o desejo de que coisa alguma seja separa­da. A vontade do teu relacionamento santo não tem exceções e aquilo que ela determina é verdadeiro. Toda ilusão trazida ao perdão do teu relacionamento gentilmente deixa de ser vista e desaparece. Pois no centro dele, Cristo renasceu para iluminar o Seu próprio lar com a visão que não vê o mundo. Não queres que esse lar santo seja teu também? Não há miséria alguma aqui, mas só alegria.

13. Tudo o que precisas fazer para habitares em quietude aqui com Cristo é compartilhar a Sua visão. A Sua visão é dada a qualquer um que apenas esteja disposto a ver o seu irmão sem pecado de forma rápida e alegre. E tens que estar disposto a não excluir a ninguém, se quiseres ser inteiramente liberado de todos os efei­tos do pecado. Darias a ti mesmo um perdão parcial? Podes alcançar o Céu quando um único pecado ainda te tenta a perma­necer na miséria? O Céu é o lar da pureza perfeita e Deus o criou para ti. Olha para o teu irmão santo, tão sem pecado quanto tu mesmo e permite que ele te conduza até lá.


III. A razão e as formas do erro

1. A introdução da razão no sistema de pensamento do ego é o início do seu desfazer, pois a razão e o ego são contraditórios. Não é possível que os dois coexistam na tua consciência. Pois a meta da razão é fazer com que fique claro e, portanto, óbvio. Podes ver a razão. Isso não é um jogo de palavras, pois aqui está o início de uma visão que tem significado. Visão é sentido, lite­ralmente. Dado que não é o que é visto com os olhos do corpo, essa visão não pode deixar de ser compreendida. Pois ela é clara e o que é óbvio não é ambíguo. Pode ser compreendido. E aqui separam-se a razão e o ego, para seguir seus caminhos separados.

2. Toda a continuidade do ego depende da sua crença segundo a qual tu não podes aprender esse curso. Compartilha essa crença e a razão será incapaz de ver os teus erros e abrir caminho para a sua correção. Pois a razão vê através dos erros, dizendo-te que o que pensavas que era real não é. A razão pode ver a diferença entre pecado e equívocos, porque ela quer a correção. Por conse­guinte, te diz que o que pensavas que era incorrigível pode ser corrigido e, portanto, não pode deixar de ter sido um erro. A oposição do ego à correção conduz à sua crença fixa no pecado e a não considerar erros. Ao olhar, ele não acha nada que possa ser corrigido. Assim o ego leva à perdição e a razão salva.

3. A razão não é salvação em si mesma, mas abre caminho para a paz e te traz a um estado mental no qual a salvação pode ser dada a ti. O pecado é um bloqueio colocado como um pesado portão trancado e sem chave no meio da estrada para a paz. Ninguém que olhe para ele sem o auxílio da razão tentaria passar por ele. Os olhos do corpo o contemplam como granito sólido, tão espesso que seria loucura tentar ultrapassá-lo. No entanto, a ra­zão vê através disso com facilidade, porque é um erro. A forma que toma não pode esconder seu vazio aos olhos da razão.

4. Só a forma do erro atrai o ego. O significado ele não reconhece e não vê se existe ou não. Tudo o que os olhos do corpo podem ver é um equívoco, um erro na percepção, um fragmento distorci­do do todo sem o significado que o todo lhe daria. Apesar disso, os equívocos, independentemente de suas formas, podem ser cor­rigidos. O pecado é apenas um erro em uma forma especial que o ego venera. Ele quer preservar todos os erros e fazer com que sejam pecados. Pois aqui está a sua própria estabilidade, a sua âncora pesada no mundo passageiro que fez; a pedra sobre a qual sua igreja está edificada e onde seus adoradores estão presos aos corpos, acreditando que a liberdade do corpo é a sua própria.

5. A razão te dirá que a forma do erro não é o que faz dele um equívoco. Se o que a forma esconde é um equívoco, a forma não pode impedir a correção. Os olhos do corpo vêem apenas forma. Não podem ver além do que foram feitos para ver. E foram feitos para olhar para o erro e não para ver o que vem depois. A sua percepção é de fato estranha, pois só podem ver ilusões, es­tão impossibilitados de olhar além do bloco de granito do pecado e param na forma exterior do nada. Para essa forma distorcida de visão, o exterior de todas as coisas, a parede que está entre tu e a verdade é totalmente verdadeira. Entretanto, como é possível que a vista que estaca diante do nada, como se o nada fosse uma sólida muralha, veja verdadeiramente? Ela é retida pela forma, tendo sido feita para assegurar que nenhuma outra coisa senão a forma seja percebida.

6. Esses olhos, que não foram feitos para ver, nunca verão. Pois a idéia que representam não deixou aquele que a fez e é ele que vê através deles. Qual era a sua meta senão a de não ver? Para isso, os olhos do corpo são meios perfeitos, mas não para ver. Vê como os olhos do corpo repousam no exterior e não vão além. Observa como eles param diante do nada, incapazes de ir além da forma para o significado. Nada cega tanto quanto a percepção da forma. Pois ver a forma significa que a compreensão foi obscurecida.

7. Só os equívocos têm formas diferentes e assim podem enganar. Podes mudar a forma porque ela não é verdadeira. Ela não poderia ser realidade porque pode ser mudada. A razão te dirá que se forma não é realidade, tem que ser uma ilusão e não existe para ser vista. E se tua vês, não podes deixar de estar enganado, pois estás vendo o que não pode ser real como se o fosse. O que não pode ver além do que não existe, não pode deixar de ser uma percepção distorcida e tem que perceber ilusões como a verdade. Nesse caso, poderia tal coisa reconhecer a verdade?

8. Não permitas que a forma dos seus equívocos te mantenha afastado daquele cuja santidade é a tua. Não permitas que a visão da sua santidade, perspectiva essa que te revelaria o teu perdão, seja afastada de ti pelo que os olhos do corpo podem ver. Permite que a tua consciência do teu irmão não seja bloqueada pela tua percepção dos seus pecados e do seu corpo. O que existe nele que queiras atacar exceto o que associas com o seu corpo, que segundo a tua crença pode pecar? Além dos seus erros, está a sua santida­de e a tua salvação. Tu não lhe deste a sua santidade, mas tentaste ver nele os teus próprios pecados com o fim de te salvares. No entanto, a sua santidade é o teu perdão. Podes ser salvo fazendo pecador aquele cuja santidade é a tua salvação?

9. Um relacionamento santo, por mais recém-nascido que seja, tem que valorizar a santidade acima de todas as coisas. Valores não-santos produzirão confusão, e na consciência. Em um rela­cionamento não-santo, cada um é valorizado porque parece justi­ficar o pecado do outro. Cada um vê dentro do outro aquilo que o impele a pecar contra a sua vontade. E assim coloca os seus pecados em cima do outro e é atraído para ele para perpetuar os seus pecados. E assim, necessariamente, vem a ser impossível para cada um ver a si mesmo como a causa do pecado devido ao próprio desejo que tem de que o pecado seja real. No entanto, a razão vê um relacionamento santo como aquilo que ele é: um estado da mente que é comum, onde ambos alegremente entre­gam os erros à correção para que ambos possam ser curados em felicidade como um só.


IV. A bifurcação da estrada

1. Quando chegas ao local onde a bifurcação na estrada é bem evidente, não podes ir adiante. Tens que ir por um caminho ou por outro. Pois agora se fores em frente pelo caminho que seguias antes de chegar à bifurcação, não irás à parte alguma. Todo o propósito de vires até aqui era decidir qual o rumo que tomará. agora. O caminho por onde vieste já não importa mais. Não pode mais servir. Ninguém que tenha chegado até esse ponto pode tomar a decisão errada, embora ele possa adiar. E não há trecho da jornada que pareça mais sem esperança e fútil do que estar onde a estrada se bifurca sem decidir que caminho tomar.

2. São apenas os primeiros poucos passos no caminho certo que parecem difíceis, pois já escolheste, embora ainda possas pensar que podes voltar atrás e fazer a outra escolha. Isso não é assim. Uma escolha feita com o poder do Céu para apoiá-la não pode ser desfeita. O teu caminho está decidido. Não haverá coisa alguma que não te seja dita, se tomares conhecimento disso.

3. E assim, tu e o teu irmão estais aqui nesse lugar santo, diante do véu do pecado que pende entre vós e a face de Cristo. Permi­te que ele seja erguido! Levanta-o junto com o teu irmão, pois é apenas um véu que está entre vós. Tu ou teu irmão, qualquer um dos dois sozinho o verá como um bloco sólido, sem reconhecer o quanto é fina a tapeçaria que vos separa agora. No entanto, isso está quase no fim em tua consciência e a paz te alcançou mesmo aqui, diante do véu. Pensa no que acontecerá depois. O amor de Cristo iluminará a tua face e brilhará a partir dela sobre um mun­do escurecido que necessita de luz. E deste lugar santo, Ele retor­nará contigo, sem deixar o mundo e sem deixar-te. Tu virás a ser o Seu mensageiro, devolvendo-O a Si Mesmo.

4. Pensa na beleza que verás, tu que caminhas com Ele! E pensa como tu e teu irmão parecereis belos um para o outro! Como estareis felizes por estardes juntos, após uma jornada tão longa e tão solitária na qual cada um caminhou sozinho. Os portões do Céu agora estão abertos para ti e irás abri-los agora para os pesa­rosos. E ninguém que contemple o Cristo em ti deixará de regozijar-se. Como é belo o que viste além do véu e trarás para iluminar os olhos cansados daqueles que agora estão exaustos como tu já estiveste uma vez. Como ficarão agradecidos ao ver-te chegar entre eles oferecendo-lhes o perdão de Cristo para dissipar a sua fé no pecado.

5. Cada equívoco que tu cometas, o teu irmão terá corrigido gentilmente para ti. Pois à sua vista a tua beleza é a sua salvação, que te quer proteger de qualquer dano. E tu serás o forte protetor do teu irmão contra todas as coisas que pareçam surgir entre vós. Assim caminharás pelo mundo comigo, pois a minha mensagem ainda não foi dada a todas as pessoas. Pois tu estás aqui para permitir que ela seja recebida. A oferta de Deus ainda está aberta, entretanto, aguarda aceitação. A partir de ti que a aceitaste, ela é recebida. À tua mão unida à do teu irmão ela é dada em seguran­ça, pois tu, que a compartilhas, vens a ser o seu guardião e prote­tor voluntário.

6. A graça é dada a todos os que compartilham o Amor de Deus, àqueles que são os doadores daquilo que receberam. E assim aprendem que ela lhes pertence para sempre. Todas as barreiras desaparecem diante da sua vinda, assim como todos os obstácu­los que antes pareciam erguer-se e bloquear o caminho foram finalmente superados. Esse véu que tu e teu irmão ergueis juntos abre o caminho para a verdade para outros além de vós. Aqueles que permitem que as ilusões sejam banidas de suas mentes são os salvadores desse mundo, caminhando pelo mundo com o seu Re­dentor e carregando a Sua mensagem de esperança, liberdade e liberação do sofrimento para cada um que necessita de um mila­gre para salvar-se.

7. Como é fácil oferecer a todos esse milagre! Ninguém que o tenha recebido para si poderia achar isso difícil. Pois ao recebê-lo, aprendeu que o milagre não foi dado apenas a ele. Tal é a função de um relacionamento santo: receber juntos e dar como foi recebi­do. Estando diante do véu, isso ainda parece difícil. Mas estende a tua mão unida à do teu irmão e toca esse bloco aparentemente pesado e aprenderás com que facilidade os teus dedos deslizam pelo nada. Não é uma parede sólida. E apenas uma ilusão se ergue entre tu e o teu irmão e o Ser santo que ambos comparti­lham juntos.


V. Fraqueza e defensividade.

1. Como é que alguém supera ilusões? Com certeza não é atra­vés da força ou da raiva, nem se opondo a elas de alguma forma. São superadas meramente permitindo que a razão te diga que contradizem a realidade. Vão contra o que não pode deixar de ser verdadeiro. A oposição vem delas e não da realidade. A realidade não se opõe a nada. O que simplesmente é não necessita de defesas e não oferece nenhuma. Só as ilusões necessitam de defe­sa devido à fraqueza. E como pode ser difícil andar pelo cami­nho da verdade quando apenas a fraqueza interfere? Tu és o forte nesse conflito aparente. E não necessitas de nenhuma defe­sa. Tudo o que precisa de defesa tu não queres, pois qualquer coisa que necessite de defesa irá enfraquecer-te.

2. Considera para quê o ego quer defesas. Sempre para justificar o que vai contra a verdade, se esfuma quando confrontado com a face da razão e não faz sentido. Isso pode ser justificado? O que pode ser exceto um convite à insanidade para salvar-te da verda­de? E de que serias salvo senão do que temes? A crença no peca­do necessita de grande defesa e a um custo enorme. É necessário sacrificar e se defender contra tudo o que o Espírito Santo oferece. Pois o pecado é esculpido em um bloco arrancado da tua paz e colocado entre tu e o retorno da paz.

3. No entanto, como é possível que a paz seja tão fragmentada? Ela ainda é íntegra e nada lhe foi arrancado. Vê como o meio e o material dos sonhos maus nada são. Na verdade, tu e o teu ir­mão estais juntos e não há nada entre vós. Deus segura as vossas mãos e o que pode separar aqueles a quem Ele uniu como um só em Si Mesmo? Aquele do Qual queres te defender é o teu Pai. E apesar disso, continua sendo impossível manter o amor do lado de fora. Deus descansa contigo em quietude, sem ser defendido e totalmente sem defesas, pois apenas nesse estado de quietude está a força e o poder. Aqui nenhuma fraqueza pode entrar, pois aqui não há nenhum ataque e, portanto, nenhuma ilusão. O amor descansa na certeza. Só a incerteza pode ser defensiva. E toda incerteza é dúvida acerca de si mesmo.

4. Como é fraco o medo, como é pequeno e sem significado. Como é insignificante diante da força quieta daqueles a quem o amor uniu! Esse é o teu ‘inimigo’ um camundongo assustado que quer atacar o universo. Qual é a probabilidade de ter algum sucesso? Pode ser difícil desconsiderar seus gritinhos débeis que falam da sua onipotência e querem afogar o hino de louvor ao seu Criador, que todos os corações através do universo cantam para sempre como um só? Qual deles é o mais forte? Esse ratinho ou tudo aquilo que Deus criou? Tu e teu irmão não estais unidos por esse camundongo, mas pela Vontade de Deus. E é possível que um rato traia a quem Deus uniu?

5. Se apenas reconhecesses como é pouco o que está entre tu e a tua consciência da tua união com o teu irmão! Não te enganes com as ilusões que se apresentam acerca de tamanho e espessura, peso, solidez e firmeza de fundamento. Sim, para os olhos do corpo isso parece ser um enorme corpo sólido, irremovível como uma montanha. Entretanto, dentro de ti está uma Força à qual ilusão nenhuma pode resistir. Esse corpo apenas parece ser irre­movível, essa Força é irresistível na verdade. Assim sendo, o que não pode deixar de acontecer quando eles se encontram? Pode-­se defender por muito tempo a ilusão da imobilidade daquilo que é atravessado e transcendido em quietude?

6. Não te esqueças, quando sentires surgir a necessidade de ser defensivo em relação a qualquer coisa, de que te identificaste com uma ilusão. E, portanto, te sentes fraco porque estás sozi­nho. Esse é o custo de todas as ilusões. Não há nenhuma que não se baseie na crença segundo a qual estás separado. Não há nenhuma que não pareça estar entre tu e o teu irmão, pesada, sólida e irremovível. E não há nenhuma delas que não possa ser ultrapassada pela verdade com tanta leveza e com tanta facilida­de que não podes deixar de convencer-te de que não são coisa alguma apesar do que pensavas que fossem. Se perdoas o teu irmão, isso tem que acontecer. Pois é o fato de não estares dispos­to a não ver o que parece estar entre tu e o teu irmão que faz com que isso aparente ser impenetrável e defende a ilusão da sua imo­bilidade.


VI. A luz do relacionamento santo

1. Queres a liberdade do corpo ou da mente? Pois não podes ter as duas. À qual dás valor? Qual é a tua meta? Pois uma vês como meio, a outra como fim. E uma tem que servir à outra e conduzir à sua predominância, aumentando a sua importância ao diminuir a própria. Os meios servem ao fim e na medida em que o fim é alcançado, o valor dos meios decresce, sendo inteiramente eclipsado quando é reconhecido como sem função. Não há nin­guém que não anseie pela liberdade e tente achá-la. No entanto, cada um irá buscá-la onde acredita que esteja e que pode ser achada. Ele acreditará que a liberdade é possível para a mente ou para o corpo e fará com que o outro sirva à sua escolha, como meio de achá-la.

2. Onde a liberdade do corpo tiver sido escolhida, a mente é usada como meio, cujo valor está na sua capacidade de engenhar formas de realizar a liberdade do corpo. No entanto, a liberdade do corpo não tem significado e assim a mente é dedicada a servir ilusões. Essa é uma situação tão contraditória e tão impossível que qualquer pessoa que a escolha não tem a menor idéia do que é que tem valor. Entretanto, mesmo nessa confusão, tão profunda que não pode ser descrita, o Espírito Santo espera em gentil pa­ciência, tão certo do resultado quanto Ele está seguro do Amor do Seu Criador. Ele tem o conhecimento de que essa decisão louca foi tomada por alguém tão querido para o Seu Criador quanto o amor para si mesmo.

3. Não te perturbes absolutamente pensando em como Ele pode mudar o papel do meio e do fim com tanta facilidade naquilo que Deus ama e quer que seja livre para sempre. Mas, ao contrário, sê grato pelo fato de poderes ser o meio para servir ao Seu fim. Esse é o único serviço que conduz à liberdade. Para servir a esse fim, o corpo tem que ser percebido como sem pecado, porque a meta é a impecabilidade. A ausência de contradição faz a suave transição de meio para fim tão fácil quanto a passagem do ódio para a gratidão diante de olhos que perdoam. Tu serás santifica­do pelo teu irmão, usando o teu corpo apenas para servir ao que não tem pecado. E será impossível para ti odiares o que serve àquele que queres curar.

4. Esse relacionamento santo, belo em sua inocência, poderoso em força e resplandecente com uma luz mais brilhante do que o sol que ilumina o céu que vês, é escolhido pelo teu Pai como um meio para o Seu próprio plano. Sê grato pelo fato de que ele em nada serve ao teu. Nada que lhe for confiado pode ser usado de forma equivocada e nada que lhe for dado deixará de ser usado. Esse relacionamento santo tem o poder de curar toda a dor, inde­pendentemente de sua forma. Nem tu nem o teu irmão sozinhos podem servir em nada. Só na vossa vontade conjunta está a cura. Pois aqui está a tua cura e aqui aceitarás a Expiação. E na tua cura, a Filiação é curada porque a tua vontade e a do teu irmão estão unidas.

5. Diante de um relacionamento santo não há pecado. A forma do erro já não é mais vista e a razão unida ao amor olha em quietude para toda a confusão apenas observando: ‘Isso foi um equívoco.’ E então, a mesma Expiação que aceitaste no teu rela­cionamento corrige o erro e coloca uma parte do Céu em seu lugar. Como és bem-aventurado, tu que permitiste que essa dá­diva fosse dada! Cada parte do Céu que trazes te é dada. E cada lugar vazio do Céu, que de novo preenches com a Luz Eterna que trazes, brilha agora sobre ti. Os meios da impecabilidade não podem conhecer nenhum medo, pois levam apenas amor consigo mesmos.

6. Criança da paz, a luz veio a ti. A luz que trazes, tu não reconhe­ces e no entanto vais te lembrar. Quem pode negar a si mesmo a visão que traz aos outros? E quem falharia em reconhecer a dádi­va que ele permitiu que fosse depositada no Céu através de si mesmo? O gentil serviço que dás ao Espírito Santo é para ti mes­mo. Tu, que és agora o Seu meio, tens que amar tudo o que Ele ama. E o que trazes é a tua lembrança de tudo o que é eterno. Nenhum traço de coisa alguma no tempo pode permanecer por muito tempo na mente que serve ao que é intemporal. E nenhu­ma ilusão pode perturbar a paz de um relacionamento que veio a ser o meio para a paz.

7. Quando tiveres olhado para o teu irmão com perdão completo, do qual nenhum erro está excluído e nada é mantido oculto, que equívoco pode haver em qualquer lugar que não possas deixar de ver? Que forma de sofrimento poderia bloquear a tua vista, impedindo-te de ver além dela? E que ilusão poderia haver que não reconhecesses como um equívoco, uma sombra através da qual caminhas completamente inabalado? Deus não permitiria que nada interferisse com aqueles cujas vontades são a Sua Von­tade e eles reconhecerão que suas vontades são a Sua porque ser­vem à Sua. E a servem voluntariamente. E a lembrança do que eles são acaso poderia ser por muito tempo retardada?

8. Verás o teu valor através dos olhos do teu irmão e cada um é liberado na medida em que contempla o seu próprio salvador no lugar do agressor que ele pensava estar lá. Através dessa libera­ção, o mundo se libera. Essa é a tua parte em trazer a paz. Pois perguntaste qual a tua função aqui e foste respondido. Não bus­ques mudá-la, nem substituí-la por outra meta. Essa te foi dada, e apenas essa. Aceita essa única e serve-a voluntariamente, pois o que o Espírito Santo faz com as dádivas que dás ao teu irmão, a quem Ele as oferece e onde e quando, cabe a Ele decidir. Ele as concederá aonde são recebidas e bem-vindas. Ele usará cada uma delas para a paz. E nem o mais leve sorriso nem a menor dispo­nibilidade para deixar de ver o mais ínfimo dos equívocos será perdido para ninguém.

9. O que pode ser, senão uma benção universal, o fato de olhares com caridade para o que o teu Pai ama? A extensão do perdão é função do Espírito Santo. Deixa isso a Ele. Permite que a tua preocupação seja apenas a de dar a Ele o que pode ser estendido. Não guardes segredos escuros que Ele não possa usar, mas oferece-Lhe as dádivas diminutas que Ele pode estender para sempre. Ele tomará cada uma e fará dela uma potente força em favor da paz. Ele não negará nenhuma bênção a ela, nem a limitará de forma alguma. Ele unirá a ela todo o poder que Deus Lhe deu para fazer com que cada pequena dádiva de amor seja uma fonte de cura para todos. Cada pequena dádiva que ofereces ao teu irmão ilumina o mundo. Não te preocupes com a escuridão; olha para longe dela na direção do teu irmão. E permite que a escuridão seja dissipada por Aquele Que conhece a luz e a deposita gentilmente em cada sorriso quieto de fé e de confiança com o qual abençoas o teu irmão.

10. Do teu aprendizado depende o bem-estar do mundo. E é somente a arrogância que quer negar o poder da tua vontade. Pensas que a Vontade de Deus é impotente? Isso é humildade? Não vês o que essa crença tem feito. Tu vês a ti mesmo como vulnerável, frágil, facilmente destruído e à mercê de inúmeros agressores mais poderosos do que tu. Vamos olhar de frente como esse erro veio a acontecer, pois aqui jaz enterrada a âncora pesada que parece manter o medo de Deus no lugar, imóvel e sólido como uma rocha. Enquanto isso permanecer, assim parecerá ser.

11. Quem pode atacar o Filho de Deus e não atacar o seu Pai? Como é possível que o Filho de Deus seja fraco e frágil e facilmente destruído a não ser que o seu Pai também o seja? Não vês que cada pecado e cada condenação que percebes e justificas é um ataque ao teu Pai. E é por essa razão que isso não aconteceu, nem poderia ser real. Não vês que tudo isso é o que tentas fazer porque pensas que o Pai e o Filho estão separados. E não podes deixar de pensar que Eles estão separados por causa do medo. Pois parece mais seguro atacar uma outra pessoa ou a ti mesmo do que atacar o grande Criador do universo, Cujo poder tu conheces.

12. Se fosses um com Deus e reconhecesses essa unicidade terias o conhecimento de que o Seu poder é o teu. Mas não te lembrarás disso enquanto acreditares que qualquer tipo de ataque significa alguma coisa. Ele é injustificado em qualquer forma porque não tem significado. A única maneira em que poderia ser justificado seria se tu e teu irmão fossem separados um do outro e se todos fossem separados do Criador. Pois só então seria possível atacar uma parte da criação sem atacar o todo, o Filho sem o Pai e atacar outra pessoa sem atacar a si mesmo ou ferir a si mesmo sem que o outro sentisse dor. E tu queres essa crença. Entretanto, onde está o seu valor, exceto no desejo de atacar em segurança? O ataque não é seguro nem perigoso. Ele é impossível. E isso é assim porque o universo é uno. Não escolherias atacar a sua realidade, se não fosse essencial para o ataque vê-lo separado daquele que o fez. E assim aparentemente o amor poderia ata­car e vir a ser amedrontador.

13. Só aqueles que são diferentes podem atacar. Assim concluíste que, porque podes atacar, tu e teu irmão não podeis deixar de ser diferentes. No entanto, o Espírito Santo explica isso de maneira diferente. Porque tu e o teu irmão não sois diferentes, não podes atacar. Cada uma dessas posições é uma conclusão lógica. Qual­quer uma pode ser mantida, mas nunca ambas. A única questão que é necessário responder, com o fim de decidir qual das duas tem que ser verdadeira, é se tu e o teu irmão sois diferentes. A partir do que compreendes, pareceis ser e, portanto podes atacar. Das alternativas, essa parece ser mais natural e estar mais na linha da tua experiência. E, por conseguinte, é necessário que tenhas outras experiências, mais na linha da verdade para que te ensinem o que é natural e verdadeiro.

14. Essa é a função do teu relacionamento santo. Pois o que um pensa, o outro vivenciará com ele. O que isso pode significar exceto que a tua mente e a do teu irmão são uma só? Não olhes esse fato alegre com medo e não penses que ele deposita uma carga pesada sobre ti. Pois quando o tiveres aceito com alegria, reconhecerás que o teu relacionamento é um reflexo da união do Criador com o Seu Filho. Entre mentes amorosas, não separa­ção. E cada pensamento em um deles traz alegria ao outro por­que são o mesmo. A alegria é ilimitada porque cada pensamento brilhante de amor estende o que é e cria mais de si mesmo. Não há diferença em nenhuma das suas partes, pois todo o pensamen­to é como ele mesmo.

15. A luz que une a ti e ao teu irmão brilha através do universo e porque vos une faz com que tu e ele sejais unos com o teu Cria­dor. E Nele toda a criação está unida. Tu te arrependerias de não poderes sentir medo sozinho, quando o teu relacionamento pode também ensinar que o poder do amor está presente, fazendo com que todo o medo seja impossível? Não tentes guardar um pouco do ego com essa dádiva. Pois ela te foi dada para ser usada e não obscurecida. O que te ensina que não podes te separar nega o ego. Deixa que a verdade decida se tu e teu irmão sois diferentes ou o mesmo e que ela te ensine o que é verdadeiro.