julho 15, 2010

Capítulo 27 - A CURA DO SONHO

Capítulo 27 - A CURA DO SONHO

I. O retrato da crucificação

1. O desejo de seres tratado injustamente é uma tentativa de tran­sigência que pretende combinar o ataque e a inocência. Quem é capaz de combinar o que é totalmente incompatível e fazer uma unidade do que jamais pode ser unido? Caminha ao longo do caminho da gentileza e não temerás mal nenhum, nem sombra alguma na noite. Mas não coloques símbolos de terror no teu caminho ou tecerás uma coroa de espinhos da qual nem o teu irmão e nem tu escaparão. Não podes crucificar a ti mesmo sozi­nho. E se és tratado injustamente, ele necessariamente sofrerá a injustiça que tu vês. Não podes te sacrificar sozinho. Isso é as­sim porque o sacrifício é total. Se isso pudesse ocorrer, carrega­rias contigo toda a criação de Deus, e o Pai com o sacrifício de Seu Filho amado.

2. Na tua liberação do sacrifício se manifesta a sua e mostra que ele está liberto. Mas toda dor que sofres, vês como prova de que ele é culpado do ataque. Assim, queres fazer de ti mesmo o sinal de que ele perdeu a sua inocência e só precisa olhar para ti para reconhecer que foi condenado. E o que foi injusto para ti, virá a ele em forma de justiça. A vingança injusta da qual agora sofres pertence a ele, e quando ela pousar sobre ele, tu te libertarás. Não desejes fazer de ti mesmo um símbolo vivo da sua culpa, pois não escaparás à morte que fizeste para ele. Mas, na sua inocência achas a tua.

3. Sempre que consentires em sofrer dor, ser destituído, ser injus­tamente tratado ou ter necessidade de alguma coisa que não tens, apenas acusas o teu irmão de estar atacando o Filho de Deus. Seguras um retrato da tua crucificação diante dos seus olhos de tal modo que ele possa ver que os seus pecados estão escritos no Céu, com o teu sangue e a tua morte e vão à frente dele, fechando a porta e condenando-o ao inferno. No entanto, isso está escrito no inferno e não no Céu, onde estás além do ataque e comprovas a sua inocência. O retrato de ti mesmo que ofereces a ele, mos­tras a ti e conferes a esse retrato toda a tua fé. O Espírito Santo te oferece um retrato de ti mesmo para dares a ele no qual não exis­te absolutamente nenhuma dor e nenhuma reprovação. E o que era martirizado pela sua culpa vem a ser a testemunha perfeita da tua inocência.

4. O poder do testemunho vai além da crença porque traz a convição como conseqüência. O testemunho recebe crédito porque aponta para além de si mesmo, para o que ele representa. Tu, doente e sofredor, representa apenas a culpa do teu irmão; o testemunho que envias para que não seja possível ele esquecer os males que te infligiu, dos quais juras que ele nunca escapará. Esse retrato doente e triste tu aceitas, se apenas servir para puni-lo. Os doentes não têm misericórdia para com ninguém e buscam matar por contágio. A morte lhes parece um preço fácil a ser pago, se eles puderem dizer: “Contempla-me, irmão, em tuas mãos eu morro.” Pois a doença é o testemunho da sua culpa e a morte quer provar que os seus erros não podem deixar de ser pecados. A doença não é senão uma “pequena” morte, uma for­ma de vingança que ainda não é total. No entanto, ela fala com certeza por aquilo que representa. O retrato amargo e desolado que enviaste ao teu irmão, tu contemplaste com amargura. E tudo o que ele mostrou ao teu irmão tu acreditaste, porque teste­munhou a culpa nele que percebeste e amaste.

5. Agora, nas mãos que se fizeram gentis pelo Seu toque, Ele co­loca um retrato diferente de ti. É ainda o retrato de um corpo, pois o que realmente és não pode ser visto nem retratado. Entre­tanto, esse não foi usado com o propósito de atacar e, portanto, nunca sofreu nenhuma dor. Ele testemunha a verdade eterna de que não podes ser ferido e aponta para além de ti mesmo, para a tua inocência e a sua. Mostra isso ao teu irmão, que verá que todas as cicatrizes estão curadas e todas as lágrimas foram enxu­gadas com riso e com amor. E lá ele olhará para o seu próprio perdão e com olhos curados olhará além do perdão para a ino­cência que ele contempla em ti. Aqui está a prova de que ele nunca pecou, de que nada do que a sua loucura pediu que ele fizesse jamais foi feito nem jamais teve efeitos de qualquer espé­cie. Aqui está a prova de que nenhuma reprovação que ele tenha posto em seu próprio coração jamais foi justificada e nenhum ataque jamais pode atingi-lo com a seta envenenada e incansável do medo.

6. Testemunha a sua inocência e não a sua culpa. A tua cura é o seu conforto e a sua saúde porque prova que as ilusões não são verdadeiras. Não é a vontade de viver, mas o desejo da morte que é a motivação desse mundo. Seu único propósito é provar que a culpa é real. Nenhum pensamento, ato ou sentimento mundanos têm outra motivação que não seja essa. Essas são as testemunhas que são chamadas a receber crédito e emprestar convição ao sistema pelo qual falam e representam. E cada uma tem muitas vozes, falando ao teu irmão e a ti em línguas diferentes. E no entanto, a mensagem é a mesma para ambos. Os adornos do corpo buscam mostrar como são belas as testemunhas da culpa. As preocupações em torno do corpo demonstram como é frágil e vulnerável a tua vida, como é facilmente destruído aquilo que amas. A depressão fala da morte e a vaidade da preocupação real com o nada.

7. A mais forte testemunha da futilidade, que apaga todas as outras e as ajuda a pintar o retrato no qual o pecado é justificado, é a doença, qualquer que seja a sua forma. Os doentes têm razão para cada um de seus desejos não-naturais e suas estranhas necessidades. Pois quem seria capaz de viver uma vida que é tão cedo cortada e não apreciar o valor das alegrias passageiras? Que prazeres poderiam existir que fossem duradouros? Não têm os frágeis o direito de acreditar que cada migalha roubada de prazer é o pagamento justo pelas suas pequenas vidas? A sua morte irá pagar o preço de todos os prazeres, usufruam eles desses benefícios ou não. O fim da vida necessariamente vem, não importa de que modo se gaste essa vida. E assim, tira prazer daquilo que rapidamente passa e é efêmero.

8. Esses não são pecados, mas testemunhas da estranha crença segundo a qual o pecado e a morte são reais, e a inocência e o pecado terminarão assim como eles no fim que é o túmulo. Se isso fosse verdadeiro, haveria razão para ficares contente buscando alegrias passageiras e apreciando pequenos prazeres enquanto podes. Entretanto, nesse retrato, o corpo não é percebido como neutro e sem uma meta inerente a si mesmo. Pois ele vem a ser o símbolo da reprovação, o sinal da culpa cujas conseqüências ainda estão presentes para serem vistas de forma que a causa nunca possa ser negada.

9. A tua função é mostrar ao teu irmão que o pecado não pode ter nenhuma causa. Como deve ser fútil ver a ti mesmo como um retrato da prova de que o que é a tua função nunca pode ser! O retrato do Espírito Santo não muda o corpo fazendo com que ele seja algo que não é. Ele apenas retira do corpo todos os sinais de acusação e de culpabilidade. Retratado como algo sem propósito, ele não é visto nem como doente nem saudável, nem bom nem mau. Não se oferece bases para que ele seja julgado de forma alguma. Ele não tem vida, mas também não está morto. Situa-se à parte de toda a experiência de amor e de medo. Por enquanto, ele ainda nada testemunha, estando o seu propósito em aberto e a mente mais uma vez livre para escolher para que ele serve. Agora, ele não está condenado, mas aguarda que um propósito lhe seja dado para que possa cumprir a função que irá receber.

10. Nesse espaço vazio, do qual foi removida a meta do pecado, o Céu está livre para ser lembrado. Aqui, a paz celestial pode vir e a cura perfeita pode tomar o lugar da morte. O corpo pode vir a ser um sinal de vida, uma promessa de redenção e um sopro de imortalidade para aqueles que ficaram doentes por respirar o odor fétido da morte. Permite que ele tenha a cura como seu propósito. Então, ele enviará adiante a mensagem que recebeu e através de sua saúde e beleza, proclamará a verdade e o valor que representa. Permite que ele receba o poder de representar uma vida sem fim, para sempre inatacada. E para o teu irmão, permite que a mensagem do corpo seja: “Contempla-me, irmão, em tuas mãos eu vivo”.

11. O modo simples para deixar que isso seja realizado é apenas esse: não permitir que o corpo tenha nenhum propósito vindo do passado, quando tinhas certeza de saber que o seu propósito era estimular a culpa. Pois isso afirma com insistência que o teu retrato aleijado seja um sinal duradouro daquilo que ele representa. Isso não deixa espaço no qual uma perspectiva diferente, um outro propósito do corpo. Tu apenas deste ilusões de propósito a uma coisa que fizeste com o intuito de esconder a tua função de ti mesmo. Essa coisa sem um propósito não pode ocultar a função que o Espírito Santo te deu. Permite, então, que o propósito do corpo e a tua função sejam ambos afinal reconciliados e vistos como um só.


II. O medo da cura

1. A cura é assustadora? Para muitos, sim. Pois a acusação é uma barreira ao amor e corpos feridos são acusadores. Eles bloqueiam firmemente o caminho da confiança e da paz, proclamando que os frágeis não podem ter confiança e que os feridos não têm bases para a paz. Quem pode ter sido machucado pelo próprio irmão e ainda assim amá-lo e confiar nele? Ele atacou e vai atacar outra vez. Não o protejas, porque o teu próprio corpo ferido mostra que tu tens que ser protegido contra o teu irmão. Perdoar pode ser um ato de caridade, mas que ele não merece. Ele pode ser digno de pena pela sua culpa, mas não pode ser absolvido. E se tu lhe perdoas as suas ofensas, apenas adicionas à culpa que ele realmente já obteve para si mesmo.

2. Os não curados não podem perdoar. Pois são as testemunhas de que o perdão é injusto. Eles querem reter as conseqüências da culpa que não vêem. Entretanto, ninguém é capaz de perdoar um pecado que acredita ser real. E o que tem conseqüências tem que ser real, pois o que ele fez está lá para ser visto. O perdão não é piedade, já que a piedade apenas busca perdoar aquilo que pensa ser a verdade. O bem não pode ser dado em troca do mal, pois o perdão não estabelece o pecado em primeiro lugar para depois perdoá-lo. Quem pode realmente dizer com real inten­ção: “Meu irmão, tu me machucaste, no entanto, porque sou o melhor dentre nós dois, eu te perdôo pelo meu ferimento”. O seu perdão e o teu ferimento não podem coexistir. Um nega o outro e não pode deixar de fazer com que o outro seja falso.

3. Testemunhar o pecado e ao mesmo tempo perdoá-lo é um pa­radoxo que a razão não pode ver. Pois ela afirma que o que foi feito a ti não merece perdão. E ao dares o perdão, concedes mise­ricórdia ao teu irmão, mas reténs a prova de que ele não é real­mente inocente. Os doentes permanecem acusadores. Eles não são capazes de perdoar os seus irmãos e a si mesmos também. Pois ninguém em quem repousa o perdão verdadeiro pode so­frer. Ele não mantém a prova do pecado diante dos olhos do seu irmão. Deste modo, ele também não a viu e removeu-a dos seus próprios olhos. O perdão não pode existir para um e não para o outro. Quem perdoa está curado. E na sua cura está a prova de que ele verdadeiramente perdoou e não retém nenhum vestígio de condenação que ainda mantenha contra si mesmo ou qualquer coisa viva.

4. O perdão não é real a não ser que traga cura para ti e para o teu irmão. Tens que atestar que os seus pecados não têm efeito sobre ti para demonstrar que não são reais. De que outra maneira po­deria ele estar isento de culpa? E como poderia a sua inocência ser justificada a não ser que os seus pecados não tenham nenhum efeito que autorize a culpa? Pecados estão além do perdão sim­plesmente porque acarretariam efeitos que não podem ser desfei­tos e ignorados inteiramente. Em seu desfazer está a prova de que são meros erros. Permite que tu sejas curado para que possas perdoar, oferecendo a salvação ao teu irmão e a ti mesmo.

5. Um corpo quebrado demonstra que a mente não foi curada. Um milagre de cura prova que a separação está sem efeito. O que queres provar a ele, tu acreditarás. O poder do testemunho vem da tua crença. E todas as coisas que dizes, fazes ou pensas apenas testemunham o que tu lhe ensinas. O teu corpo pode ser um meio de ensinar que o corpo nunca sofreu dor alguma por sua causa. E na cura do corpo podes oferecer um testemunho mudo da sua inocência. É esse testemunho que pode falar com poder maior do que mil línguas. Pois aqui, ele tem a prova do próprio perdão a si mesmo.

6. Um milagre não pode oferecer a ele nada menos do que deu a ti. Assim a tua cura mostra que a tua mente está curada e per­doaste o que ele não fez. E assim ele se convence de que a sua inocência nunca foi perdida e é curado junto contigo. Deste modo, o milagre desfaz todas as coisas que o mundo atesta que nunca podem ser desfeitas. E a desesperança e a morte têm que desaparecer diante do antigo chamado da vida que é feito por clarins. Esse chamado tem um poder muito maior do que o grito fraco e miserável da morte e da culpa. O antigo chamado do Pai no Seu Filho e do Filho ao que é dele, ainda será a última trombeta que o mundo jamais ouvirá. Irmão, a morte não existe. E isso aprendes quando apenas desejas mostrar ao teu irmão que não foste ferido por ele. Ele pensa que o teu sangue está nas suas próprias mãos e assim está condenado. Entretanto, é dado a ti mostrar-lhe, através da tua cura, que a sua culpa não é senão a base de um sonho sem sentido.

7. Como são justos os milagres! Pois eles concedem uma dádiva igual, a plena liberação da culpa, ao teu irmão e a ti. A tua cura salva-o da dor assim como a ti e tu és curado porque desejaste o seu bem. Essa é a lei que o milagre obedece: a cura não vê espe­cialismo algum. Ela não vem da piedade, mas do amor. E o amor quer provar que todo o sofrimento não passa de vã imaginação, um desejo tolo sem efeitos. A tua saúde é o resultado do teu dese­jo de ver o teu irmão sem qualquer mancha de sangue sobre as suas mãos e sem culpa sobre o seu coração que se faz pesado com a prova do pecado. E o que desejas te é dado ver.

8. O “custo” da tua serenidade é a sua. Esse é o “preço” que o Espírito Santo e o mundo interpretam de maneiras diferentes. O mundo o percebe como uma afirmação do “fato” de que a tua salvação sacrifica a sua. O Espírito Santo sabe que a tua cura é o testemunho da sua e não pode de forma alguma estar à parte da cura do teu irmão. Enquanto ele consentir em sofrer, não será curado. No entanto, podes mostrar-lhe que o seu sofrimento não tem propósito e não tem absolutamente causa nenhuma. Mostra-lhe a tua cura e ele não mais consentirá em sofrer. Pois a sua inocência foi estabelecida diante dos teus olhos e dos seus. E o riso substituirá os teus suspiros, porque o Filho de Deus lem­brou-se que ele é Filho de Deus.

9. Quem, então, tem medo da cura? Só aqueles que vêem o sacri­fício e a dor do irmão como se representassem a própria serenida­de de cada um deles. A impotência e a fraqueza que sentem representam as bases sobre as quais justificam a dor que ele sofre. A constante pontada de culpa que ele sofre serve para provar que ele é escravo, mas que eles são livres. A dor constante que sofrem demonstra que são livres porque o mantêm preso. E a doença é desejada para impedir uma alteração na balança do sacrifício. Como poderia o Espírito Santo deter-se, ainda que por um ins­tante ou menos, para raciocinar em torno de tal argumento a favor da doença? E é necessário que a tua cura seja adiada porque fizes­te uma pausa para escutar a insanidade?

10. A correção não é a tua função. Ela pertence Àquele que conhece a justiça e não a culpa. Se tu assumes o papel de corrigir, perdes a função de perdoar. Ninguém pode perdoar até com­preender que a correção consiste em apenas perdoar, nunca em acusar. Sozinho não podes ver que são a mesma coisa e, portan­to, a correção não vem de ti. A identidade e a função são a mes­ma coisa, e através da tua função conheces a ti mesmo. E assim, se confundes a tua função com a função de um Outro, não podes deixar de estar confuso com relação a ti mesmo e à tua identida­de. O que é a separação senão um desejo de tomar a função de Deus e negar que pertença a Ele? No entanto, se não é a Sua também não é a tua, pois não podes deixar de perder o que tomas de outros.

11. Em uma mente partida, a identidade não pode deixar de pare­cer dividida. E ninguém pode perceber uma função unificada que tenha propósitos conflitantes e finalidades diferentes. Corri­gir, para uma mente tão partida, tem que ser um meio de punir os pecados que pensas serem teus em uma outra pessoa. E as­sim, ele vem a ser a tua vítima, não o teu irmão, diferente de ti por ser mais culpado, assim necessitando que tu o corrijas por seres mais inocente do que ele. Isso separa a sua função da tua, e dá a ambos um papel diferente. E assim não podem ser percebi­dos como um só, e com uma única função que significaria uma identidade compartilhada com apenas uma finalidade.

12. A correção que tu farias não pode senão separar, porque essa é a função que lhe é dada por ti. Quando perceberes que a correção é a mesma coisa que o perdão, então também saberás que a mente do Espírito Santo e a tua são uma só. E assim a tua própria identidade é encontrada. Todavia, Ele tem que trabalhar com o que Lhe é dado, e tu Lhe concedes apenas metade da tua mente. Assim sendo, Ele representa a outra metade, e parece ter uma função diferente daquela que aprecias e pensas ser a tua. É assim que a tua função parece dividida, com uma metade em oposição à outra. E essas duas metades parecem representar um corte dentro de um ser que é percebido como se fossem dois.

13. Reflete sobre o fato de que essa percepção do ser não pode dei­xar de estender-se e não deixes de ver que todo pensamento se estende porque esse é o seu propósito, sendo o que ele é realmen­te. A partir de uma idéia do ser como se fossem dois, necessaria­mente vem uma perspectiva de função dividida entre os dois. E o que tu queres corrigir é apenas metade do erro que imaginas ser o erro todo. Os pecados do teu irmão vêm a ser o alvo central da correção, para que os teus erros e os seus não sejam vistos como um só. Os teus são enganos, mas os seus são pecados e não são, portanto, a mesma coisa que os teus. Os seus merecem punição, enquanto os teus, com toda justiça, não deveriam nem sequer ser vistos.

14. Nessa interpretação da correção, os teus próprios equívocos tu nem mesmo verás. O foco da correção foi colocado fora de ti, sobre alguém que não pode ser parte de ti enquanto durar essa percepção. O que é condenado nunca pode retomar ao seu acu­sador, que o odiou e ainda o odeia como símbolo do seu medo. Isso é o teu irmão, o foco do teu ódio, indigno de ser parte de ti e portanto fora de ti, a outra metade que é negada. Se todo o teu ser é percebido como se fosse só o que existe sem a sua presença. Para essa metade remanescente o Espírito Santo tem que repre­sentar a outra metade, até que reconheças que ela é a outra meta­de. E isso Ele faz dando a ti e a ele uma função que é una, não diferente.

15. A correção é a função dada a ambos, mas a nenhum dos dois sozinho. E quando ela é desempenhada como uma função com­partilhada, não pode deixar de corrigir equívocos em ti e também nele. Não pode deixar equívocos em um deles, que fica sem ser curado, e libertar o outro. Isso é um propósito dividido que não pode ser compartilhado e, portanto, não pode ser a meta na qual o Espírito Santo vê a Sua própria. E podes descansar na seguran­ça de que Ele não vai cumprir uma função que não vê e não reconhece como Sua. Pois é só assim que Ele pode preservar a tua intacta, apesar de tu e Ele terem perspectivas diferentes a respeito de qual é a tua função. Se ele apoiasse uma função dividida, estarias, de fato, perdido. A incapacidade do Espírito Santo de ver a Sua meta dividida e distinta para ti e para ele, te preserva da conscientização de uma função que não é a tua. E assim a cura é dada a ti e a ele.

16. A correção tem que ser deixada Àquele Que sabe que a correção e o perdão são a mesma coisa. Com metade de uma mente isso não é compreensível. Deixa, então, a correção para a Mente que está unida, funcionando como uma só, pois não está dividida quanto ao próprio propósito e concebe uma função única como sendo a sua única função. Aqui a função dada a ela é concebida como aquela que lhe pertence e não está à parte da função que o seu Doador ainda mantém precisamente porque foi compartilhada. Na aceitação do Espírito Santo dessa função está o meio através do qual a tua mente é unificada. O Seu propósito único unifica as metades de ti mesmo, que percebes como separadas. E cada uma perdoa a outra, para que cada um possa aceitar sua outra metade como parte de si.


III. Além de todos os símbolos

1. O poder não pode se opor. Pois a oposição o enfraqueceria e poder enfraquecido é uma contradição de idéias. Força fraca não significa nada e o poder usado para enfraquecer é empregado para limitar. E por conseguinte, ele tem que ser limitado e fraco, porque esse é o seu propósito. Para que o poder seja ele mesmo não pode haver oposição. Nenhuma fraqueza pode se introduzir nele sem mudá-lo, fazendo com que seja algo que não é. Enfra­quecer é limitar e impor um oposto que contradiz o conceito que ataca. E com isso junta à idéia alguma coisa que ela não é e faz com que ela seja ininteligível. Quem pode compreender um con­ceito duplo, tal como “poder enfraquecido” ou “amor odioso”?

2. Decidiste que o teu irmão um símbolo de um “amor odioso”, de um “poder enfraquecido” e, acima de tudo, de uma “morte viva”. E assim ele não tem nenhum significado para ti, pois re­presenta o que não tem significado. Ele representa um pensamento duplo no qual metade é cancelada pela metade remanescente. Apesar disso, a metade que foi cancelada imediatamente contradiz a outra, de modo que ambas desaparecem. E agora ele representa o nada. Símbolos que não representam nada além de idéias inexistentes, necessariamente representam o espaço vazio e o nada. Porém, o nada e o espaço vazio não podem constituir interferência. O que pode interferir com a consciência da realida­de é a crença em que haja alguma coisa lá.

3. O retrato que vês do teu irmão não significa nada. Não há nada a atacar ou a negar; a amar ou a odiar, nada a que se possa atribuir poder e nada a ser visto como frágil. O retrato foi com­pletamente cancelado, porque simbolizava uma contradição que cancelou o pensamento que ele representava. E assim o retrato não tem qualquer causa. Quem é capaz de perceber qualquer efeito sem uma causa? O que pode ser aquilo que não tem causa senão o nada? O retrato que vês do teu irmão é totalmente au­sente e nunca existiu. Permite, então, que o espaço vazio que ele ocupa seja reconhecido como vago, e que o tempo dedicado a ver asse retrato seja percebido como desperdiçado, um tempo deso­cupado.

4. Um espaço vazio que não é visto como cheio, um intervalo de tempo sem uso, que não é visto como gasto e plenamente ocupa­do, vêm a ser um convite silencioso para que a verdade entre e faça um lar para si mesma. Não é possível fazer nenhuma prepa­ração que possa acentuar o apelo real do convite. Porque o que deixas vazio, Deus o preencherá e a verdade não pode deixar de habitar onde Ele está. Poder não-enfraquecido, sem oposto, é o que é a criação. Para isso não existem símbolos. Nada aponta para além da verdade, pois o que pode representar mais do que tudo? No entanto, o verdadeiro desfazer tem que ser benigno. E assim a primeira substituição do teu retrato é outro retrato de outro tipo.

5. Como o nada não pode ser retratado, do mesmo modo não há nenhum símbolo para a totalidade. A realidade é conhecida, em última instância, sem forma, sem retrato e sem ser vista. O per­dão ainda não é um poder reconhecido como algo totalmente livre de limites. No entanto, ele não estabelece nenhum dos limi­tes que escolheste impor. O perdão é o meio através do qual a verdade é temporariamente representada. Ele permite que o Espírito Santo faça com que a troca dos retratos seja possível até o momento em que os recursos nada significam e o aprendizado está realizado. Nenhum recurso de aprendizado tem nenhuma utilidade que possa se estender além da meta do aprendizado. Quando o seu objetivo é alcançado, ele deixa de ter qualquer função. Entretanto, no intervalo do aprendizado, ele tem um. utilidade da qual agora tens medo, mas que ainda amarás.

6. O retrato do teu irmão, que te é dado para ocupar o espaço tão tardiamente desocupado e vago, não necessitará de qualquer es­pécie de defesa. Pois tu lhe darás preferência preponderante. E também não demorarás nem um instante para decidir que ele é o único que queres. E1e não representa conceitos duplos. Embora seja apenas metade do retrato e incompleto, em si, ele é o mesmo e não está dividido. A outra metade do que representa permane­ce desconhecida, mas não é anulada. E assim Deus fica livre para dar Ele próprio o passo final. Para isso não necessitas de retratos e nem de qualquer recurso para aprenderes. E aquilo que, em última instância, tomará o lugar de todos os recursos de aprendizado simplesmente será.

7. O perdão desaparece e os símbolos se apagam e nada do que os olhos jamais viram ou os ouvidos jamais ouviram permanece para ser percebido. Um Poder totalmente sem limites veio, não para destruir, mas para receber o que Lhe pertence. Não existe em parte alguma escolha de função. A escolha que tens medo de perder, tu nunca tiveste. Entretanto, apenas isso parece interferir com o poder ilimitado e com os pensamentos unificados, completos e felizes, sem opostos. Não conheces a paz do poder que não se opõe a nada. No entanto, simplesmente não pode haver nenhum outro. Dá boas-vindas ao Poder que está além do perdão e além do mundo dos símbolos e das limitações. Ele quer mera­mente ser e assim meramente é.


IV. A resposta silenciosa

1. Em quietude todas as coisas são respondidas e todos os proble­mas serenamente resolvidos. Em conflito, não pode haver respos­ta nem resolução, pois o propósito do conflito é fazer com que a solução não seja possível e assegurar que nenhuma resposta seja simples. Um problema estabelecido no conflito não tem resposta, pois é visto de formas diferentes. E o que seria uma resposta de um ponto de vista, não é uma resposta em uma luz diferente. Tu estás em conflito. Assim, tem que ficar claro que não podes res­ponder a coisa alguma, pois o conflito não tem efeitos limitados. Entretanto, se Deus deu uma resposta, necessariamente existe um caminho no qual os teus problemas estão resolvidos, pois o que é Vontade de Deus já foi feito.

2. Assim, o tempo não pode estar envolvido e cada problema pode ser respondido agora. Entretanto, em teu estado mental, a solução tem que ser impossível. Por conseguinte, Deus tem que ter te dado um caminho para alcançar um outro estado mental, no qual a resposta já esteja presente. Tal é o instante santo. É aqui que todos os teus problemas devem ser trazidos e deixados. É aqui que devem estar, pois aqui está a resposta para eles. E onde está a resposta, o problema não pode deixar de ser simples e facilmente resolvido. Não tem sentido tentar resolver um pro­blema onde a resposta não pode estar. Entretanto, com a mesma certeza, ele não pode deixar de ser resolvido se for trazido para onde a resposta se encontra.

3. Não tentes solucionar nenhum problema a não ser na seguran­ça do instante santo. Pois lá o problema será respondido e resolvi­do. Fora não haverá solução, pois “lá não existe nenhuma resposta que possa ser achada. Em nenhum outro lugar jamais se pergunta uma questão única e simples. O mundo só pode perguntar uma questão dupla. Uma questão com muitas respostas não pode ter resposta. Nenhuma delas será satisfatória. O mundo não coloca uma pergunta para que ela seja respondida, mas apenas para rea­firmar seu ponto de vista.

4. Todas as questões que são colocadas dentro desse mundo não passam de uma maneira de olhar, não são perguntas. Uma ques­tão colocada com ódio não pode ser respondida, porque é uma resposta em si mesma. Uma pergunta dupla pergunta e respon­de, ambas atestando a mesma coisa em formas diferentes. O mundo não coloca senão uma questão. Ela é a seguinte: “Dessas ilusões, qual é verdadeira? Quais delas estabelecem a paz e ofere­cem alegria? E quais podem trazer um modo de escapar de toda a dor da qual é feito esse mundo?” Seja qual for a forma que tome a questão, o seu propósito é o mesmo. Ele pergunta apenas para estabelecer o pecado como algo real e responde na forma de prefe­rências. “Que pecado preferes? Esse é o que deverias escolher. Os outros não são verdadeiros. O que pode o corpo conseguir que queiras mais do que tudo? Ele é teu criado e também teu amigo. Basta dizer a ele o que queres e ele irá servir-te amorosamente e bem.” E isso não é uma pergunta, pois te diz o que queres e aonde ir para consegui-lo. Não deixa espaço para que suas crenças sejam questionadas, exceto pelo fato de afirmar algo em forma de pergunta.

5. Uma pseudo-questão não tem resposta. Ela dita a resposta en­quanto pergunta. Assim, todo o questionamento dentro do mundo é uma forma de propaganda dele mesmo. Da mesma maneira que as testemunhas do corpo não são senão os sentidos dentre dele, também assim as respostas para as perguntas do mundo estão contidas dentro das perguntas que são feitas. Onde as respostas representam as perguntas, elas não acrescentam nada de novo e nada se aprende. Uma questão honesta é um instrumento de aprendizado que pergunta alguma coisa que não sabes. Não estabelece condições para a resposta, mas apenas pergunta qual deveria ser a resposta. Mas, ninguém em estado de conflito está livre para colocar essa questão, pois ele não quer uma resposta honesta em que o conflito termine.

6. Só dentro do instante santo é possível que uma questão hones­ta seja “honestamente colocada. E do significado da questão vem a significação da resposta. Aqui é possível separar os teus dese­jos da resposta, de tal forma que ela possa te ser dada e também ser recebida. A resposta é dada em todos os lugares. No entanto, é só aqui que ela pode ser ouvida. Uma resposta honesta não exige sacrifício porque responde a questões verdadeiramente co­locadas. As questões do mundo apenas perguntam de quem se exige o sacrifício, sem perguntar se o sacrifício tem qualquer sig­nificado. E desse modo, a não ser que a resposta diga “de quem”, ela permanecerá irreconhecível, inaudível, e assim a pergunta é preservada de forma intacta porque deu a resposta a si mesma. O instante santo é o intervalo no qual a mente está suficiente­mente silenciosa para ouvir uma resposta, que não está atrelada à questão colocada. Ele oferece algo novo e diferente da questão. Como poderia a questão ser respondida, se ela apenas se repete?

7. Portanto, não tentes solucionar nenhum problema em um mun­do no qual a resposta foi barrada. Em vez disso, traze o problema ao único lugar que guarda a resposta amorosamente para ti. Aqui estão as respostas que irão solucionar os teus problemas, porque estão à parte deles e vêem o que pode ser respondido, o que é a pergunta. Dentro do mundo, as respostas simplesmente levan­tam uma outra questão, embora deixem a primeira sem resposta. No Instante santo, podes trazer a pergunta até à resposta e receber a resposta que foi feita para ti.


V. O exemplo da cura

1. A única maneira de curar é ser curado. O milagre estende-se sem a tua ajuda, mas tu és necessário para que ele possa ter iní­cio. Aceita o milagre da cura e ele irá adiante devido ao que é. A sua natureza é estender-se no instante em que nasce. E ele nasce no instante em que é oferecido e recebido. Ninguém pode pedir ao outro para ser curado. Mas pode deixar-se curar e assim ofe­recer ao outro o que recebeu. Quem pode conceder a outro o que não tem? E quem pode compartilhar aquilo que nega a si mes­mo? O Espírito Santo fala a ti. Ele não fala a uma outra pessoa. Entretanto, através da tua escuta, a Sua Voz se estende porque aceitaste o que Ele diz.

2. A saúde é o testemunho para a saúde. Enquanto ela não for atestada, permanece sem convição. Só está provada quando ti­ver sido demonstrada e tem que prover uma testemunha que possa compelir à crença. Ninguém é curado através de mensa­gens duplas. Se desejas apenas ser curado, tu curas. O teu pro­pósito único faz com que isso seja possível. Mas se tens medo da cura, então ela não pode vir através de ti. A única coisa que se requer para a cura é a ausência do medo. Os que têm medo não são curados e não podem curar. Isso não significa que o conflito tem que ter desaparecido para sempre da tua mente para que sejas capaz de curar, pois se significasse, nesse caso não haveria necessidade de cura. Mas significa, ainda que por apenas um instante, que amas sem atacar. Um instante é suficiente. Os milagres não esperam pelo tempo.

3. O instante santo é o local onde o milagre habita. De lá, cada um nasce para esse mundo como testemunha de um estado men­tal que transcendeu o conflito e alcançou a paz. Ele traz conforto deste lugar de paz para o campo de batalha e demonstra que a guerra não tem efeitos. Pois todo o ferimento que a guerra bus­cou trazer, os corpos quebrados e os membros despedaçados, os moribundos gritando e os mortos silenciosos, são gentilmente er­guidos e consolados.

4. Não há tristeza onde um milagre veio para curar. E nada além de um único instante do teu amor sem ataque é necessário para que tudo isso ocorra. Nesse instante és curado, e nesse instante único toda a cura é feita. O que fica à parte de ti quando aceitas a bênção que o instante santo traz? Não temas a bênção, pois Aque­le Que te abençoa, ama o mundo todo e nada deixa no mundo que possa ser temido. Mas, se, foges à bênção, o mundo de fato parecerá amedrontador, pois lhe recusaste a paz e o conforto, permitindo que ele morresse.

5. Um mundo assim tão amargamente destituído não seria olha­do como uma condenação por aquele que poderia tê-lo salvo, mas retrocedeu porque tinha medo de ser curado? Os olhos de todos os moribundos expressam reprovação e o sofrimento sus­surra, “O que há para ser temido?” Considera bem essa questão. Ela te é feita a teu favor. Um mundo às portas da morte apenas te pede que descanses um instante do ataque a ti mesmo para que ele seja curado.

6. Que venhas para o instante santo e sejas curado, pois nada do que é recebido nele é deixado para trás no teu retorno ao mundo. E sendo abençoado, trarás bênção. A vida te é dada para que a dês ao mundo que está à morte. E olhos sofredores não mais acusarão, mas brilharão em agradecimentos a ti, que deste a bên­ção. A radiância do instante santo iluminará os teus olhos e lhes dará um modo de ver além de todo o sofrimento e, no lugar do sofrimento, tu verás a face de Cristo. A cura substitui o sofrimen­to. Quem olha para um não é capaz de perceber o outro, pois ambos não podem estar presentes. E o que vês, o mundo teste­munhará e testemunhará a favor.

7. Assim, a tua cura é tudo o que o mundo requer para que ele possa ser curado. Ele necessita de uma lição que tenha sido per­feitamente aprendida. E então, quando a esqueceres, o mundo gentilmente irá lembrar-te o que ensinaste. A sua gratidão não recusará nenhum apoio a ti, que te deixaste curar para que ele pudesse viver. Ele chamará as suas testemunhas para mostrar a face de Cristo a ti que lhes trouxeste a vista, através da qual elas a testemunharam. O mundo da acusação é substituído por um mundo no qual todos os olhos contemplam amorosamente o Ami­go que lhes trouxe a liberação. E alegremente o teu irmão perce­berá os muitos amigos que pensava serem inimigos.

8. Os problemas não são específicos, mas tomam formas específi­cas e essas aparências específicas constituem o mundo. E nin­guém compreende a natureza do próprio problema. Se com­preendesse, o problema não mais estaria presente para que ele o visse. A própria natureza do problema implica em que ele não existe. E assim, embora as pessoas o percebam, não podem percebe-lo como é. Mas a cura é evidente em instâncias específicas e é generalizada para incluir todas as instâncias. Isso se dá porque elas são a mesma, apesar de suas formas diferentes. Todo apren­dizado visa a transferência, que se torna completa em duas situa­ções que são vistas como uma só, pois apenas os elementos co­muns estão presentes. Entretanto, isso só pode ser atingido por Aquele Que não vê as diferenças que tu vês. A transferência total do teu aprendizado não é feita por ti. Mas o fato de ter sido feita, apesar de todas as diferenças que vês, te convence de que não poderiam ser reais.

9. A tua cura vai estender-se e vai ser trazida a problemas que pensavas que não eram teus. E também vai ficar evidente que os teus muitos problemas diferentes serão resolvidos quando tiveres escapado de qualquer um deles. Não foram as suas diferenças que tornaram isso possível, pois o aprendizado não pula de algu­mas situações para os seus opostos trazendo os mesmos resulta­dos. Toda cura tem que proceder de maneira legal, de acordo com leis que tenham sido adequadamente percebidas, mas nunca violadas. Não tenhas medo do modo como as percebes. Estás errado, mas existe dentro de ti Alguém Que está certo.

10. Deixa, então, a transferência do teu aprendizado Àquele Que realmente compreende as leis do aprendizado e irá garantir que elas permaneçam invioladas e ilimitadas. A tua parte é apenas aplicar o que Ele te ensinou a ti mesmo e Ele fará o resto. E é assim que o poder do teu aprendizado será provado a ti por todas as muitas testemunhas diferentes que ele encontra. Em primeiro lugar, o teu irmão será visto entre elas, mas milhares estarão por trás dele, e por trás de cada um deles, outros mil. Cada um pode aparentar ter um problema que é diferente do resto. No entanto, eles são solucionados juntos. E a resposta comum dada a eles mostra que as questões não poderiam estar separadas.

11. A paz esteja contigo, a quem é oferecida a cura. E aprenderás que a paz te é dada quando aceitas a cura para ti mesmo. 5eu valor total não precisa ser avaliado por ti para que compreendas que te beneficiaste com ela. Aquilo que ocorreu no instante em que o amor entrou sem ataque, ficará contigo para sempre. A tua cura será um dos seus efeitos, assim como a do teu irmão. Aonde quer que fores, contemplarás os seus efeitos multiplicados. Entre­tanto, todas as testemunhas que contemplas serão bem menos do que as que realmente existem. A infinidade não pode ser compreendida simplesmente pela contagem de suas partes separadas. Deus te agradece pela tua cura, pois Ele sabe que ela é uma dádiva de amor ao Seu Filho e, portanto, essa dádiva é dada a Ele.


VI. As testemunhas do pecado

1. A dor demonstra que o corpo tem que ser real. É uma voz alta, que obscurece as coisas, cujos gritos silenciam o que o Espírito Santo diz e mantém as Suas palavras fora da tua consciência. A dor exige atenção, afastando-a Dele e focalizando-a em si própria. O seu propósito é o mesmo que o do prazer, pois ambos são meios de fazer com que o corpo seja real. O que compartilha um propósito comum é o mesmo. Essa é a lei do propósito que une todos aqueles que a compartilham em si mesma. O prazer e a dor são igualmente irreais porque o seu propósito não pode ser conseguido. Assim são meios para o nada, pois têm uma meta sem um significado. E compartilham a falta de significado do propósito que têm.

2. O pecado se desloca da dor para o prazer e de novo para a dor. Pois cada um testemunha a mesma coisa e carrega sempre uma única mensagem: “Tu estás aqui dentro desse corpo e podes ser ferido. Podes ter prazer também, mas somente ao custo da dor.” A. essas testemunhas se juntam muitas outras. Cada uma parece ser diferente porque tem um nome diferente e assim parece responder a um som diferente. Exceto nisso, as testemunhas do pe­cado são todas iguais. Chama o prazer de dor e ele doerá. Chama a dor de prazer e a dor por trás do prazer já não será mais sentida. As testemunhas do pecado simplesmente mudam de nome para nome, à medida em que uma dá um passo à frente e a outra um passo atrás. Entretanto, não faz nenhuma diferen­ça qual delas está na frente. As testemunhas do pecado ouvem apenas o chamado da morte.

3. Esse corpo, sem propósito em si mesmo, guarda todas as tuas memórias e, todas as tuas esperanças. Usas os “seus olhos para ver, os seus ouvidos para ouvir e deixas que ele te diga o que é que ele sente. Ele não sabe. Ele apenas te diz os nomes que tu lhe deste para usar, quando invocas as testemunhas da sua realidade. Não podes escolher quais são reais entre elas, pois qualquer uma que escolhas é como as outras. Escolhes esse ou aquele nome, mas nada mais. Não fazes com que uma testemunha seja verda­deira pelo fato de chamá-la pelo nome da verdade. A verdade é achada nessa testemunha se ela der testemunho da verdade. E de outro modo ela mente, mesmo que tu a chames pelo Santo Nome do próprio Deus.

4. A Testemunha de Deus não vê testemunhos contra o corpo. Ela também não dá ouvidos às testemunhas com outros nomes, que falam da realidade do corpo de maneiras diferentes. Ela sabe que ele não é real. Pois nada poderia conter aquilo que acreditas que está guardado dentro dele. Nem poderia ele dizer a uma parte do próprio Deus o que deveria sentir e qual é a sua função. No entanto, Ela tem que amar qualquer coisa que tu valorizes. E para cada testemunha da morte do corpo, Ela envia uma testemunha da tua vida Nela, Que não conhece a morte. Cada milagre que Ela traz é um testemunho de que o corpo não é real. Suas dores e seus prazeres Ela cura da mesma forma, pois as Suas testemunhas substituem todas as testemunhas do pecado.

5. O milagre não faz distinções entre os nomes pelos quais são chamadas as testemunhas do pecado. Ele apenas prova que aqui­lo que elas representam não tem efeitos. E isso ele prova porque seus próprios efeitos vieram tomar o lugar daqueles. Não impor­ta o nome pelo qual chamas o teu sofrimento. Ele já não está mais presente. Aquele Que traz o milagre percebe-os todos como um só e chama-os pelo nome do medo. Como o medo dá testemunho da morte, assim o milagre dá testemunho da vida. É um testemu­nho que ninguém pode negar, pois consiste dos efeitos. de vida que traz. Os moribundos vivem, os mortos ressuscitam e a dor sumiu. Entretanto, um milagre não fala só por si, mas pelo que representa.

6. O amor também tem símbolos em um mundo feito de pecado. O milagre perdoa porque representa o que está depois do perdão e é verdadeiro. Como é tolo e insano pensar que um milagre está preso a leis que ele veio só para desfazer! As leis do pecado têm diferentes testemunhas com forças diferentes. E elas atestam sofrimentos diferentes. Entretanto, para Aquele Que envia os mila­gres para abençoar o mundo, uma diminuta punhalada de dor, um pequeno prazer mundano ou as angústias da própria morte têm um único som: um chamado para a cura e um grito de lamen­to pedindo ajuda dentro de um mundo de miséria. O milagre atesta a natureza dessas coisas que é a mesma. É a sua mesmice que ele prova. As leis que as chamam de diferentes são dissolvidas e reveladas como impotentes. O propósito de um milagre é realizar isso. E o próprio Deus garantiu a força dos milagres em favor daquilo que testemunham.

7. Que tu sejas então uma testemunha do milagre e não das leis do pecado. Não há necessidade de sofreres mais. Mas necessidade de que sejas curado, porque o sofrimento e a tristeza do mundo fizeram com que o mundo fosse surdo à salvação e à libertação.

8. A ressurreição do mundo aguarda a tua cura e a tua felicidade, para que possas demonstrar a cura do mundo. O instante santo substituirá todo o pecado, se tu apenas carregares contigo os seus efeitos. E ninguém escolherá sofrer mais. A que função melhor do que essa poderias servir? Sê curado para que possas curar, e não sofras permitindo que as leis do pecado sejam aplicadas a ti. E a verdade será revelada a ti que escolheste deixar que os sím­bolos do amor tomem o lugar do pecado.


VII. O sonhador do sonho

1. O sofrimento é uma ênfase colocada em tudo aquilo que o mundo fez para te machucar. Aqui está claramente exposta a ver­são demente que o mundo tem do que seja a salvação. Como um sonho de punição, no qual o sonhador está inconsciente do que lhe trouxe o ataque a si mesmo, ele se vê atacado injustamente e por algo que não é ele próprio. Ele é a vítima dessa “alguma outra coisa”, uma coisa fora de si mesmo, pela qual ele não tem nenhuma razão para ser responsabilizado. Ele tem que ser ino­cente porque não sabe o que faz, mas apenas o que lhe é feito. Ainda assim, o seu ataque a si próprio continua evidente, pois é ele que carrega o sofrimento. E não pode escapar porque a fonte do sofrimento é vista fora dele.

2. Agora está sendo mostrado a ti que podes escapar. Tudo o que é necessário é olhares para o problema assim como é, e não do modo como o tinhas colocado. Como poderia existir uma outra forma de se resolver um problema que é muito simples, mas foi obscurecido por escuras nuvens de complicação feitas para man­ter o problema sem solução? Sem as nuvens, o problema emergi­rá em toda a sua simplicidade primitiva. A escolha não será difícil, porque o problema é absurdo quando visto com clareza. Ninguém tem dificuldade de tomar uma decisão para permitir que um problema simples seja resolvido, se esse problema é visto como algo que está ferindo-o e é muito fácil de ser removido.

3. O “raciocínio” pelo qual esse mundo é feito, no qual se baseia e pelo qual ele é mantido é simplesmente o seguinte: “Tu és a causa do que eu faço. A tua presença justifica a minha cólera e tu exis­tes e pensas à margem de mim. Enquanto atacas, eu tenho que ser inocente. E aquilo de que eu sofro é o teu ataque.” Ninguém que olhe para esse raciocínio exatamente como é pode deixar de verificar que ele não procede e não faz sentido. Apesar disso, parece razoável, porque parece que o mundo está te ferindo. E assim, aparentemente, não há necessidade de ires além do óbvio em termos de causa.

4. De fato, essa necessidade existe. A necessidade de que o mun­do escape da condenação é uma necessidade que aqueles que aqui habitam estão unidos para compartilhar. No entanto, eles não reconhecem a sua necessidade comum. Pois cada um pensa que se fizer a sua parte, a condenação do mundo cairá sobre ele. E é isso que percebe como se fosse a sua parte na libertação do mundo. A vingança tem que ter um foco. De outro modo, a faca do vingador ficará em sua própria mão e apontada para ele mes­mo. E ele precisa vê-la na mão de um outro para poder ser a vítima de um ataque que não escolheu. E assim sofre com os ferimentos feitos por uma faca que um outro segura, mas não ele mesmo.

5. Esse é o propósito do mundo que ele vê. E encarado dessa maneira, o mundo provê os meios através dos quais esse propósi­to parece ser cumprido. Os meios atestam o propósito, mas não são eles próprios uma causa. Tampouco a causa vai mudar, se for vista à parte de seus efeitos. A causa produz os efeitos, que então testemunham a causa e não a si mesmos. Olha, portanto, para o que está além dos efeitos. Não é aqui que a causa do sofrimento e do pecado têm que estar. E não pares no sofrimento e no peca­do, pois não passam de reflexos daquilo que os causa.

6. A parte que desempenhas em resgatar o mundo da condena­ção é o teu próprio escape. Não te esqueças de que as testemu­nhas do mundo do mal não podem falar, exceto por aquilo que tenha visto uma necessidade de mal no mundo. E foi aí que a tua culpa pela primeira vez foi contemplada. Na separação do teu irmão teve início o primeiro ataque a ti mesmo. E é a isso que o mundo dá testemunho. Não busques outra causa, nem procures desfazê-la entre as poderosas legiões de testemunhas mundanas. Elas apóiam a sua reivindicação da tua fidelidade. Naquilo que esconde a verdade não é onde deves procurar achar a verdade.

7. As testemunhas do pecado estão todas dentro de um pequeno espaço. E é aqui que achas a causa da tua perspectiva no mundo. Houve um tempo no qual não tinhas consciência do que era no realidade a causa de tudo o que o mundo parecia lançar sobre ti, sem o teu convite e sem a tua solicitação. De uma coisa estavas certo: entre as muitas causas que percebias como portadoras do dor e de sofrimento para ti, a tua culpa não constava. E tampou­co os tinhas requisitado para ti mesmo. Foi assim que todas as ilusões vieram. Aquele que as faz não se vê fazendo-as, e a realidade delas não depende dele. Qualquer que seja a causa que tenham, é algo bastante à parte dele e o que ele vê está separado da sua própria mente. Ele não pode duvidar da realidade de seus sonhos, porque não vê a parte que desempenha em fazê-los e em fazê-los parecerem reais.

8. Ninguém pode acordar de um sonho que o mundo está so­nhando por ele. Ele vem a ser uma parte do sonho de alguma outra pessoa. Não pode escolher despertar de um sonho que não fez. Ele fica impotente, uma vítima de um sonho concebido e alimentado, por uma mente separada. De fato, essa mente não se importa com ele, e está tão pouco preocupada com a sua paz e a sua felicidade quanto o tempo ou a hora do dia poderiam estar. Ela não o ama, mas o coloca à sua vontade em qualquer papel que satisfaça ao seu sonho. Tão pequeno é o valor que lhe é dado, que ele não passa de uma sombra que dança, pulando para cima e para baixo de acordo com um roteiro sem sentido, concebido dentro do sonhar vão do mundo.

9. Esse é o único retrato que és capaz de ver, a única alternativa que podes escolher, a outra possibilidade de causa, se tu não fo­res o sonhador dos teus sonhos. E isso é o que escolhes se negas que a causa do sofrimento está em tua mente. Fica contente por ela de fato estar aí, pois assim és a única pessoa que pode decidir o teu destino no tempo. A. escolha é tua, entre uma morte de sono e sonhos maus ou um despertar feliz e a alegria da vida.

10. Entre o que poderias escolher senão entre a vida ou a morte, o despertar ou o dormir, a paz ou a guerra, os teus sonhos ou a tua realidade? Existe um risco de pensares que a morte é paz, por­que o mundo equipara o corpo ao Ser Que Deus criou. No entan­to, uma coisa nunca pode ser o seu oposto. E a morte é o oposto da paz, porque é o oposto da vida. E a vida é paz. Desperta e esquece todos os pensamentos de morte, e descobrirás que tens a paz de Deus. Entretanto, se a escolha realmente te é dada, então tens que ver as causas das coisas que escolheste exatamente como são e aonde se encontram.

11. Que escolhas se pode fazer entre dois estados, se apenas um é claramente reconhecível? Quem poderia estar livre para esco­lher entre efeitos, quando ele vê apenas um como algo que depende dele? Uma escolha honesta jamais poderia ser percebida como uma escolha na qual a opção está dividida entre um tu diminuto e um mundo enorme, com sonhos diferentes acerca da verdade em ti. A brecha entre a realidade e os sonhos não está entre o sonhar do mundo e o que sonhas em segredo. Essas coisas são uma só. O sonhar do mundo não é senão uma parte do teu próprio sonho que deste para os outros, e viste como se fosse o início e o fim do teu. No entanto, o sonhar do mundo teve início com o teu sonho secreto, que não percebes, embora ele te­nha causado a parte que vês e não duvidas que seja real. Como poderias duvidar enquanto estás deitado dormindo e sonhas em segredo que a sua causa é real?

12. Um irmão separado de ti, um antigo inimigo, um assassino que te assalta no meio da noite e planeja a tua morte, no entanto, a planeja de forma lenta, demorada – é com isso que sonhas. En­tretanto, por trás desse sonho há ainda outro, no qual passas a ser o assassino, o inimigo secreto, o vingador e o destruidor do teu irmão e do mundo da mesma forma. Aqui está a causa do sofri­mento, o espaço entre os teus pequenos sonhos e a tua realidade. A pequena brecha que nem sequer vês, o lugar onde nascem as ilusões e o medo, o momento do terror e do antigo ódio, o instan­te do desastre, tudo isso está aqui. Aqui está a causa da irrealida­de. E é aqui que ela será desfeita.

13. Tu és o sonhador do mundo dos sonhos. Ele não tem outra causa nem nunca terá. Nada mais amedrontador do que um so­nho vão aterrorizou o Filho de Deus e o fez pensar que ele per­deu a sua inocência, negou o seu Pai e fez uma guerra contra si mesmo. Tão amedrontador é o sonho, tão aparentemente real, que ele não poderia despertar para a realidade sem o suor do terror e um grito de medo mortal, a não ser que um sonho mais gentil precedesse o seu despertar e permitisse que a sua mente mais calma desse boas-vindas à Voz Que chama com amor para que ele desperte ao invés de temê-la; um sonho mais gentil, no qual o seu sofrimento foi curado e seu irmão veio a ser seu ami­go. A Vontade de Deus é que ele desperte gentilmente e com alegria e deu-lhe o meio para despertar sem medo.

14. Aceita o sonho que Ele deu em lugar do teu. Não é difícil mu­dar um sonho uma vez que o sonhador já tenha sido reconhecido. Descansa no Espírito Santo e deixa que os Seus sonhos gentis tomem o lugar daqueles que sonhaste no terror e no medo da morte. Ele traz sonhos que perdoam, nos quais a escolha não é entre quem é o assassino e quem será a vítima. Nos sonhos que Ele traz não existe assassínio e não há morte. O sonho da culpa está se apagando da tua vista, embora os teus olhos estejam fecha­dos. Um sorriso veio para iluminar a tua face adormecida. O sono agora é de paz, pois estes são sonhos felizes.

15. Sonha suavemente com o teu irmão sem pecado, que se une a ti em santa inocência. E desse sonho o próprio Senhor do Céu despertará o Seu Filho amado. Sonha com a benignidade do teu irmão, em vez de habitares nos seus equívocos em teus sonhos. Seleciona a atenção cuidadosa que ele te presta como matéria dos teus sonhos, ao invés de contares os ferimentos que ele pro­vocou. Perdoa-lhe as suas ilusões e agradece-lhe por toda a aju­da que prestou. E não deixes de lado as muitas dádivas que ele te deu, porque ele não é perfeito em teus sonhos. Ele represento o seu Pai, que tu vês como Aquele Que te oferece ambas, vida e morte.

16. Irmão, Ele dá só a vida. Entretanto, o que vês como as dádivas que o teu irmão te oferece representa as dádivas que sonhas que o teu Pai te dá. Permite que todas as dádivas do teu irmão, ofere­cidas a ti, sejam vistas à luz da caridade e da benignidade. E não deixes dor alguma perturbar o teu sonho de profunda apreciação pelas suas dádivas a ti.


VIII. O “herói” do sonho

1. O corpo é a figura central no sonhar do mundo. Não há sonho sem ele e nem ele existe sem o sonho no qual age como se fosse uma pessoa que se vê e na qual se acredita. Ele ocupa o lugar central em todos os sonhos, que contam a história de como ele foi feito por outros corpos, nasceu para o mundo do lado de fora, vive um pouco e depois morre para ser unido, no pó, a outros corpos que morrem como ele. No pequeno espaço de tempo que lhe é dado viver, ele busca outros corpos para serem seus amigos e seus inimigos. A sua segurança é a sua preocupação principal. Seu conforto é a regra que o guia. Ele procura buscar prazer e voltar as coisas que poderiam feri-lo. Acima de tudo, procura ensinar a si mesmo que as suas dores e alegrias são diferentes e que pode distinguir umas das outras.

2. O sonhar do mundo toma muitas formas porque o corpo busca de muitos modos provar que é autônomo e real. Ele coloca sobre si mesmo coisas que comprou com pequenos discos de metal e tiras de papel que o mundo proclama como valiosas e reais. Trabalha para consegui-las, fazendo coisas sem sentido, e as joga fora em troca de coisas sem sentido das quais ele não precisa e nem mesmo quer. Ele emprega outros corpos de modo que eles o protejam e coleciona ainda mais coisas sem sentido que possa chamar de suas. Ele olha em volta procurando corpos especiais que possam compartilhar seu sonho. Às vezes, sonha que é um conquistador de corpos mais fracos do que ele. Mas em algumas fases do sonho, ele é o escravo de outros corpos que querem feri-lo e torturá-lo.

3. A série de aventuras do corpo, da hora do nascimento até à morte, é o tema de todos os sonhos que o mundo jamais teve. O “herói” desse sonho nunca vai mudar e nem o seu propósito. Embora o sonho propriamente dito tome muitas formas e pareça mostrar uma grande variedade de locais e de eventos em que seu “herói” se encontra, o sonho tem apenas um propósito, ensinado de muitas formas. Essa única lição é o que ele tenta ensinar uma e outra vez e ainda mais uma vez: que ele é causa e não efeito. E tu és o seu efeito e não podes ser a sua causa.

4. Assim tu não és o sonhador, mas o sonho. E assim vagas em vão, entras e sais de lugares e acontecimentos que ele inventa. Que isso é tudo o que ó corpo faz é verdade, pois ele não é senão uma figura em um sonho. Mas quem reage às figuras em um sonho a não ser que as veja como reais? No instante em que ele as vê como são, elas não mais têm efeito sobre ele, porque com­preende que foi ele que lhes deu os seus efeitos pelo fato de as causar e fazer com que parecessem reais.

5. Quanto estás disposto a escapar dos efeitos de todos os sonhos que o mundo jamais teve? É teu desejo que nenhum sonho apa­reça como a causa daquilo que fazes? Então, vamos simplesmen­te olhar para o início do sonho, pois a parte que tu vês não é senão a segunda parte, cuja causa está na primeira. Ninguém que esteja dormindo e sonhando no mundo se lembra de seu ataque a si mesmo. Ninguém acredita que houve, de fato, um tempo em que ele nada conhecia de um corpo e nunca poderia ter concebido esse mundo como algo real. Ele imediatamente teria visto que essas idéias são uma única ilusão, ridículas demais para qualquer coisa exceto o riso que as despede. Como elas parecem sérias agora! E ninguém é capaz de se lembrar do tempo em que teriam sido recebidas com riso e descrença. Podemos nos lembrar disso, se apenas olharmos diretamente para o que a causou. Então veremos justificativas para o riso, e não uma causa para o medo.

6. Vamos devolver ao sonhador o sonho que ele deu aos outros, percebendo-o como algo separado de si mesmo e feito para ele. Na eternidade, onde tudo é um, introduziu-se uma idéia diminu­ta e louca, da qual o Filho de Deus não se lembrou de rir. Em seu esquecimento, esse pensamento passou a ser uma idéia séria, capaz de ser realizada e de ter efeitos reais. Juntos, nós podemos rir dessas duas coisas, fazendo-as desaparecer e podemos compreen­der que o tempo não pode invadir a eternidade. É uma piada pensar que o tempo pode vir a lograr a eternidade, que significa que o tempo não existe.

7. Uma intemporalidade na qual o tempo toma-se real, uma par­te de Deus que pode atacar a si mesma, um irmão separado como inimigo, uma mente dentro de um corpo, são todas formas circu­lares cujo fim tem início no seu começo, terminando na sua causa. O mundo que vês retrata exatamente o que pensaste que fizeste. Exceto que agora pensas que o que fizeste, está sendo feito a ti. A culpa pelo que pensaste está sendo colocada fora de ti e sobre um mundo culpado que sonha os teus sonhos e pensa os teus pensamentos em teu lugar. Ele traz a sua vingança, não a tua. Ele te mantém estreitamente confinado dentro de um corpo, que ele pune devido a todas as coisas pecaminosas que o corpo faz dentro do sonho do mundo. Tu não tens poder para fazer com que o corpo pare com seus feitos maus, porque não o fizeste e não és capaz de controlar as suas ações, nem o seu propósito, nem o seu destino.

8. O mundo nada faz senão demonstrar uma antiga verdade: acre­ditarás que os outros fazem a ti exatamente o que pensas que fizeste a eles. Mas, uma vez que tiveres embarcado na delusão de os culpar, não verás a causa do que fazem, porque queres que a culpa caia sobre eles. Como é infantil o petulante mecanismo de manter a tua inocência empurrando a culpa para fora de ti, sem jamais deixar que ela se vá! Não é fácil perceber a brincadeira quando, em tudo a tua volta, os teus olhos contemplam as pesa­das conseqüências da culpa, mas sem as suas causas insignifican­tes. Sem a causa, os efeitos parecem sérios e tristes, de fato. Mas são apenas decorrências. E é a sua causa que não decorre de nada, e não passa de uma brincadeira.

9. O Espírito Santo percebe a causa rindo gentilmente e não olha os efeitos. De que outra maneira poderia ele corrigir o teu erro, já que absolutamente não olhaste para a causa? Ele pede que tu lhe tragas cada efeito terrível para que possam olhar juntos para a sua causa tola e possas rir um pouco com Ele. Tu julgas os efeitos, mas Ele julgou a causa. E através do julgamento do Espí­rito Santo os efeitos são removidos. Talvez venhas em lágrimas. Mas ouve-O dizer: “Meu irmão, Filho santo de Deus, contempla o teu sonho vão, no qual isso poderia ocorrer.” E deixarás o ins­tante santo com o teu riso e o do teu irmão unidos ao Seu.

10. O segredo da salvação é apenas esse: tu estás fazendo isso a ti mesmo. Seja qual for a forma do ataque, isso ainda é verdadeiro. Seja quem for que se coloque no papel do inimigo e do agressor, isso ainda é a verdade. Seja o que for que pareça ser a causa de qualquer dor ou sofrimento que sintas, isso ainda é verdadeiro. Pois não reagirias de forma alguma a figuras de um sonho que soubesses que estavas sonhando. Que elas sejam tão odientas e más quanto puderem, não poderiam ter nenhum efeito sobre ti, a não ser que tenhas fracassado em reconhecer que esse é o teu sonho.

11. Essa única lição aprendida te libertará do sofrimento, qualquer que seja a forma que ele tome. O Espírito Santo repetirá essa única lição abrangente de libertação até que ela tenha sido apren­dida, independentemente da forma do sofrimento que te traz dor. Seja qual for o ferimento que tragas a Ele, Ele fará uma resposta com essa verdade muito simples. Pois essa única resposta elimi­na a causa de qualquer forma de pesar e dor. A forma não afeta em nada a Sua resposta, pois Ele quer te ensinar apenas a causa única de todas as formas, não importa quais sejam. E compreen­derás que os milagres refletem a simples declaração: “Eu mesmo fiz isso e é isso que quero desfazer.”

12. Traze, então, todas as formas de sofrimento a Ele Que sabe que cada uma é como todo o resto. Ele não vê diferenças onde não existe nenhuma e te ensinará como cada uma é causada. Nenhu­ma tem uma causa diferente de todo o resto e todas são facilmen­te desfeitas por apenas uma lição verdadeiramente aprendida. A salvação é um segredo que só escondeste de ti mesmo. O univer­so proclama que é assim. No entanto, não prestas a menor aten­ção às testemunhas do universo. Pois dão testemunho de algo que não queres saber. Elas parecem manter isso em segredo, es­condido de ti. Entretanto, só precisas aprender que apenas esco­lheste não escutar, não ver.

13. Como perceberás o mundo de forma diferente quando isso for reconhecido! Quando perdoares o mundo pela tua culpa, estarás livre dela. A inocência do mundo não requer a tua culpa e nem a tua inculpabilidade se baseia nos seus pecados. Isso é o óbvio: um segredo que não está oculto para ninguém, só para ti mesmo. E é isso que tem te mantido separado do mundo e mantido o teu irmão separado de ti. Agora, precisas apenas aprender que ambos são inocentes ou culpados. A única coisa impossível é que um não seja como o outro, que as duas afirmações sejam verda­deiras. Esse é o único segredo ainda a ser aprendido. E o fato de estares curado não será nenhum segredo.