julho 15, 2010

Capítulo 18 - A PASSAGEM DO SONHO

Capítulo 18 - A PASSAGEM DO SONHO

I. A realidade substituta

1. Substituir é aceitar alguma coisa em lugar de outra. Se apenas considerasses exatamente o que isso acarreta, imediatamente per­ceberias o quanto essa atitude está em desacordo com a meta que o Espírito Santo te deu e quer realizar para ti. Substituir é escolher entre opções, renunciando a um aspecto da Filiação em favor de outro. Para esse propósito especial, alguém é julgado mais valioso e o outro é substituído por ele. O relacionamento no qual ocorreu a substituição é então fragmentado e seu propósito divi­dido de acordo com isso. Fragmentar é excluir e a substituição é a defesa mais forte que o ego tem para a separação.

2. O Espírito Santo nunca usa substitutos. Aonde o ego percebe uma pessoa como substituta de outra, o Espírito Santo as vê uni­das e indivisíveis. Ele não julga entre elas, tendo o conhecimento de que são uma só. Sendo unidas, elas são uma só porque são a mesma. A substituição é claramente um processo no qual elas são percebidas como diferentes. Um quer unir, o outro separar. Nada pode se interpor entre o que Deus uniu e o Espírito Santo vê como um só. Mas tudo parecé se interpor entre os relaciona­mentos fragmentados que o ego promove para destruir.

3. A única emoção onde a substituição é impossível é o amor. O medo envolve substituição por definição, pois é a substituição do amor. O medo é ao mesmo tempo uma emoção fragmentada e uma emoção que fragmenta. Parece tomar muitas formas e cada uma parece requerer uma maneira diferente de encenação para obter satisfação. Embora isso pareça introduzir um comporta­mento bastante variável, um efeito muito mais sério está na percepção fragmentada da qual o comportamento decorre. Ninguém é visto como alguém completo. O corpo é enfatizado, com ênfase especial em certas partes, e usado como padrão de compa­ração da aceitação ou da rejeição para encenar uma forma espe­cial de medo.

4. Tu, que acreditas que Deus é medo, fizeste apenas uma substituição. Ela tomou muitas formas, porque foi a substituição da verdade pela ilusão, da totalidade pela fragmentação. Ela veio a ser tão partida, subdividida e de novo dividida, vezes e mais vezes, que agora é quase impossível perceber que alguma vez foi uma só e que ainda é o que era. Esse único erro, que trouxe a verdade à ilusão, a infinidade ao tempo e a vida à morte, foi tudo o que jamais fizeste. Todo o teu mundo se baseia nele. Tudo o que vês reflete isso e cada relacionamento especial que jamais tiveste é parte disso.

5. Podes te surpreender quando ouvires o quanto a realidade é diferente daquilo que vês. Não reconheces a magnitude desse único erro. Ele foi tão vasto e tão completamente inacreditável que um mundo de total irrealidade tinha que emergir. Que outra coisa poderia resultar disso? Seus aspectos fragmentados são bastante amedrontadores quando começas a olhar para eles. Mas nada do que tens visto nem de leve te mostra a enormidade do erro original, que aparentemente te expulsou do Céu para estilhaçar o conhecimento em pequenas partes sem significado de percepções desunidas e para forçar-te a fazer mais substituições.

6. Essa foi a primeira projeção do erro para fora. O mundo sur­giu para escondê-lo e veio a ser a tela na qual ele foi projetado e colocado entre tu e a verdade. Pois a verdade se estende para dentro, onde a idéia de perda não tem significado e só o aumento é concebível. Tu realmente pensas que é estranho que um mun­do no qual tudo está de trás para frente e de cabeça para baixo tenha surgido dessa projeção do erro? Era inevitável. Pois a ver­dade trazida a isso somente poderia permanecer quieta do lado de dentro, sem tomar parte em toda a louca projeção pela qual esse mundo foi feito. Não chames isso de pecado, mas de loucu­ra, pois foi assim e assim ainda permanece. Não invistas aí a culpa, pois a culpa implica que isso tenha sido realizado na reali­dade. E acima de tudo, não tenhas medo disso.

7. Quando pareces ver alguma forma distorcida do erro original surgindo para amedrontar-te, apenas digas: “Deus não é medo, mas Amor” e ela desaparecerá. A verdade te salvará. Ela não te deixou para sair para esse mundo louco e assim afastar-se de ti. Dentro de ti está a sanidade, a insanidade esta fora de ti. Apenas acreditas que é o contrário, que a verdade está do lado de fora e o erro e a culpa dentro de ti. As tuas pequenas substituições sem sentido, que foram tocadas pela insanidade e rodopiam numa seqüência louca como plumas dançando de forma insana a mercê do vento, não têm substância. Elas fundem-se, misturam-se e separam-se em padrões deslocáveis totalmente sem significado que absolutamente não precisam ser julgados. Julgá-los indivi­dualmente não faz sentido. Suas diminutas diferenças em forma não são diferenças reais em absoluto. Nenhuma delas importa. Isso elas têm em comum e nada mais. No entanto, o que mais é necessário para fazer com que todas sejam a mesma?

8. Deixe-as ir, todas elas, dançando ao vento, caindo e rodopian­do até que desapareçam de vista, longe, longe, fora de ti. E volta-­te para a nobre calma do lado de dentro, onde em quietude santa habita o Deus vivo Que nunca deixaste e Que nunca te deixou. O Espírito Santo te toma gentilmente pela mão e retraça contigo a tua louca jornada para fora de ti mesmo, conduzindo-te com gentileza de volta à verdade e à segurança dentro de ti. Ele traz à verdade todas as tuas projeções insanas e as substituições absur­das que colocaste do lado de fora. Assim Ele reverte o curso da insanidade e te restitui a razão.

9. No teu relacionamento com o teu irmão, onde Ele se responsa­bilizou por tudo a pedido teu, Ele estabeleceu o curso em direção ao que está dentro, a verdade que vós compartilhais. No mundo louco que está lá fora, nada pode ser compartilhado, mas somen­te substituído e o compartilhar e o substituir nada têm em co­mum na realidade. Dentro de ti, amas a teu irmão com um amor perfeito. Aqui é a terra santa, na qual substituição alguma pode entrar e onde só a verdade em teu irmão pode habitar. Aqui vós estais unidos em Deus, tão unidos quanto estão unidos a Ele. O erro original não entrou aqui, nem jamais entrará. Aqui está a verdade radiante, à qual o Espírito Santo entregou o teu relacio­namento. Deixa que Ele o traga aqui, onde tu queres que ele esteja. Dá ao Espírito Santo apenas um pouco de fé em teu irmão para ajudá-Lo a te mostrar que nenhum substituto que tenhas feito para o Céu pode excluir-te dele.

10. Em ti não há separação e nenhum substituto pode manter-te afastado do teu irmão. A tua realidade foi criação de Deus e não tem substituto. Vós estais tão firmemente unidos em verdade, que apenas Deus está presente. E Ele jamais aceitaria alguma outra coisa em teu lugar. Ele ama os dois igualmente e como um só. E assim como Ele te ama, assim tu és. Vós não estais unidos em ilusões, mas no Pensamento que é tão santo e tão perfeito que ilusões não podem permanecer para obscurecer o local santo no qual vos encontrais juntos. Deus está contigo, meu irmão. Vamos nos unir a Ele em paz e gratidão e aceitar a dádiva de Deus como nossa mais santa e perfeita realidade, realidade essa que nós compartilhamos Nele.

11. O Céu é restaurado a toda a Filiação através do teu relaciona­mento, pois nele esta a Filiação íntegra e bela, a salvo em teu amor. O Céu entrou em quietude, pois todas as ilusões foram gentilmente trazidas à verdade em ti e o amor brilhou sobre ti abençoando o teu relacionamento com a verdade. Deus e toda a Sua criação entraram juntos nesta relação. Como é belo e como é santo o teu relacionamento, com a verdade brilhando sobre ele! O Céu o contempla e se alegra por teres deixado que ele viesse a ti. E o próprio Deus está contente que o teu relacionamento seja assim como foi criado. O universo dentro de ti está contigo, jun­to com o teu irmão. E o Céu olha com amor para o que está unido nele, junto com o seu Criador.

12. Aquele a quem Deus chamou não deve ouvir quaisquer substi­tutos. O chamado desses substitutos não passa de um eco do erro original que despedaçou o Céu. E o que veio a ser da paz naqueles que o ouviram? Volta comigo para o Céu, caminhando junto com o teu irmão para fora desse mundo e através de um outro, para a beleza e a alegria que o outro contém dentro de si. Queres enfraquecer e separar ainda mais o que já está partido e sem esperança? É aqui que queres procurar a felicidade? Será que não preferes curar o que está partido e unir-te para tornar integro o que foi devastado pela separação e pela doença?

13. Foste chamado, junto com o teu irmão, para a função mais santa que esse mundo contém. É a única que não tem limites e alcança cada elemento fragmentado da Filiação com a cura e o consolo unificador. Isso te é oferecido em teu relacionamento santo. Aceita-o aqui e darás assim como aceitaste. A paz de Deus te é dada com o brilhante propósito no qual te unes ao teu irmão. A luz santa que trouxe a ti e a ele para a união tem que estender-se assim como tu a aceitaste.


II. A base do sonho

1. Não é fato que nos sonhos surge um mundo que parece ser bastante real? Entretanto, pensa sobre o que é esse mundo. Claramente não é o mundo que viste antes de dormir. É mais uma distorção do mundo planejada somente em torno daquilo que terias preferido. Aqui estás “livre” para refazer qualquer coisa que aparentemente te tenha atacado e fazer dela um tributo ao teu ego, que foi ultrajado pelo “ataque”. A não ser que tenhas visto a ti mesmo como se fosses um com o ego, que sempre olha para si próprio e, portanto, para ti como alvo de ataque e alta­mente vulnerável a esse ataque, tal não seria o teu desejo.

2. Os sonhos são caóticos porque são governados pelos teus dese­jos conflitantes e não têm, portanto, qualquer preocupação com o que é verdadeiro. Eles são o melhor exemplo que poderias ter de como a percepção pode ser usada para substituir a verdade por ilusões. Não os levas a sério quando acordas, porque o fato da realidade neles ser violada de forma tão ultrajante passa a ser evidente. No entanto, são uma maneira de olhar para o mundo e de mudá-lo para agradar mais ao ego. Eles provêem exemplos gri­tantes tanto da incapacidade do ego de tolerar a realidade, quanto da tua disponibilidade para mudar a realidade a favor dele.

3. Não achas perturbadoras as diferenças entre o que vês durante o sono e ao despertares. Reconheces que o que vês quando acor­das é obliterado nos sonhos. Entretanto, ao acordares, não espe­ras que tenha desaparecido. Nos sonhos, tu arranjas tudo. As pessoas vêm a ser o que queres que sejam e o que fazem é o que tu ordenas. Nenhum limite em termos das substituições que po­des fazer te é imposto. Durante um certo tempo, é como se o mundo te fosse dado para que faças dele o que desejas. Não reconheces que o estás atacando, tentando triunfar sobre ele e fazer com que sirva a ti.

4. Os sonhos são cenas temperamentais da percepção, nos quais literalmente gritas: “Quero que seja assim!” E assim parece ser. E, no entanto, o sonho não pode fugir da sua origem. A raiva e o medo o perpassam e, em um instante, a ilusão de satisfação é invadida pela ilusão do terror. Pois o sonho de que tens a capaci­dade de controlar a realidade substituindo-a por um mundo que preferes é aterrador. As tuas tentativas de obliterar a realidade são muito amedrontadoras, mas isso não estás disposto a aceitar. E assim as substituis pela fantasia de que é a realidade que é amedrontadora e não o que queres fazer dela. E desse modo a culpa se faz real.

5. Os sonhos te mostram que tens o poder de fazer o mundo con­forme queres que ele seja e, porque o queres, tu o vês. E enquan­to o vês, não duvidas de que ele seja real. Contudo, aqui está um mundo, é óbvio que ele está dentro da tua mente, mas aparenta estar do lado de fora. Não respondes a ele como se o tivesses feito e nem reconheces que as emoções que o sonho produz ne­cessariamente vêm de ti. São as figuras no sonho e o que fazem que parecem fazer o sonho. Tu não reconheces que estás fazendo com que representem para ti, pois se reconhecesses, a culpa não seria delas e a ilusão de satisfação desapareceria. Nos sonhos, essas características não são obscuras. Pareces despertar e o so­nho se foi. Entretanto, o que falhas em reconhecer e que aquilo que causou o sonho não se foi com ele. O teu desejo de fazer um outro mundo que não é real permanece contigo. E aquilo para o qual pareces despertar, não é senão uma outra forma desse mes­mo mundo que vês nos sonhos. Todo o teu tempo é gasto em sonhar. Os teus sonhos, quando estás dormindo, e os teus so­nhos, quando estás acordado, têm formas diferentes e isso é tudo. Seu conteúdo é o mesmo. Eles são o teu protesto contra a reali­dade e a tua idéia fixa e insana de que podes mudá-la. Nos teus sonhos quando estás acordado, o relacionamento especial tem um lugar especial. Ele é o meio pelo qual tentas fazer com que os teus sonhos, enquanto estás dormindo, venham a ser verda­deiros. Disso, tu não despertas. O relacionamento especial é a tua determinação de manter-te apegado à irrealidade e impedir a ti mesmo de despertar. E enquanto deres maior valor ao sono do que ao despertar, não abrirás mão dele.

6. O Espírito Santo, sempre prático em Seu juízo, aceita os teus sonhos e os usa como um meio de fazer com que despertes. Tu os terias usado para permaneceres adormecido. Eu disse ante­riormente que a primeira mudança, antes dos sonhos desapare­cerem, é que os teus sonhos de medo são transformados em sonhos felizes. É isso o que o Espírito Santo faz no relacionamen­to especial. Ele não o destrói, nem o arranca de ti. Mas Ele o usa de um modo diferente, como uma ajuda para fazer com que o Seu propósito seja real para ti. O relacionamento especial perma­necerá, não como uma fonte de dor e culpa, mas como uma fonte de alegria e liberdade. Ele não será apenas para ti, pois é aí que está a sua miséria. Assim como a sua não-santidade o manteve como uma coisa a parte, a sua santidade virá a ser um ofereci­mento para todas as pessoas.

7. O teu relacionamento especial será um meio de desfazer a cul­pa em todas as pessoas abençoadas através do teu relacionamen­to santo. Será um sonho feliz e um sonho que irás compartilhar com todos aqueles que vierem a estar diante da tua vista. Através dele, a benção que o Espírito Santo derramou sobre ele será estendida. Não penses que Ele se esqueceu de pessoa alguma no propósito que te deu. E não penses que Ele se esqueceu de ti, a quem deu a dádiva. Ele usa todas as pessoas que O chamam como meios para a salvação de todos. E Ele despertará a todos através de ti, que ofereceste o teu relacionamento a Ele. Se ape­nas reconhecesses a Sua gratidão! Ou a minha através da Sua! Pois nós estamos unidos em um único propósito, sendo uma só mente com Ele.

8. Não permitas que o sonho assuma o controle a ponto de te fechar os olhos. Não é estranho que os sonhos possam fazer um mundo que não é real. É o desejo de faze-lo que é inacreditável. O teu relacionamento com o teu irmão agora veio a ser um relacio­namento no qual esse desejo foi removido, porque o seu propósito foi mudado de um propósito de sonhos para um propósito de verdade. Não estás certo disso, porque pensas que talvez esse seja o sonho. Estás tão habituado a escolher entre sonhos, que não vês que finalmente fizeste a escolha entre a verdade e todas as ilusões.

9. No entanto, o Céu é garantido. Isso não é um sonho. Que ele tenha vindo significa que escolheste a verdade e ela veio porque tens estado disposto a deixar que o teu relacionamento especial satisfaça as suas condições. No teu relacionamento, o Espírito Santo gentilmente colocou o mundo real, o mundo dos sonhos felizes, dos quais o despertar é tão fácil e tão natural. Pois, assim como os teus sonhos, quando estás dormindo, e os teus sonhos, quando estás acordado, representam os mesmos desejos em tua mente, também assim o mundo real e a verdade do Céu se unem na Vontade de Deus. O sonho do despertar é facilmente transfe­rido para a realidade de estares desperto. Pois esse sonho reflete a tua vontade unida à Vontade de Deus. E o que essa Vontade quer que se realize nunca deixou de estar feito.


III. Luz no sonho

1. Tu, que tens gasto a tua vida trazendo verdade a ilusões, reali­dade a fantasias, tens andado pelo caminho dos sonhos. Pois passaste do despertar ao sono e penetraste cada vez mais em um sono ainda mais profundo. Cada sonho levou a outros sonhos e cada fantasia que parecia trazer uma luz à escuridão só fez com que as trevas fossem mais profundas. A tua meta era a escuridão onde nenhum raio de luz pudesse entrar. E buscaste uma negru­ra completa para que pudesses nela esconder-te da verdade para sempre, em completa insanidade. O que esqueceste foi simples­mente que Deus não pode destruir a Si mesmo. A luz está em ti. As trevas podem encobri-Ia, mas não podem apagá-la.

2. À medida que a luz vem para mais perto, correrás para a escuridão encolhendo-te com medo da verdade, às vezes recuan­do para as formas menos intensas do medo e às vezes para o terror mais absoluto. Mas avançarás, porque a tua meta e avançar do medo à verdade. A meta que aceitaste é a meta do conhe­cimento, para a qual manifestaste a tua disponibilidade. O medo parece viver na escuridão e, quando sentes medo, deste um passo para trás. Vamos, então, unir-nos rapidamente em um instante de luz e isso será o suficiente para lembrar-te que a tua meta é a luz.

3. A verdade tem corrido ao teu encontro desde que a chamaste. Se conhecesses Quem caminha a teu lado no caminho que esco­lheste, o medo seria impossível. Não conheces porque a jornada para a escuridão foi longa e cruel e entraste profundamente nela. Um leve piscar dos teus olhos, há tanto tempo fechados, ainda não foi suficiente para te dar confiança em ti mesmo, há tanto tempo desprezado. Vais ao encontro do amor ainda odiando-o e terrivelmente temeroso do seu julgamento sobre ti. E não reco­nheces que não tens medo do amor, mas apenas do que fizeste do amor. Estás avançando rumo ao significado do amor e te distan­ciando de todas as ilusões com as quais o cercaste. Quando re­cuas para a ilusão o teu medo aumenta, pois lá há poucas dúvidas de que o que pensas que ele significa é amedrontador. No entan­to, o que é isso para nós que viajamos em segurança e velozmente para longe do medo?

4. Tu, que seguras a mão do teu irmão, seguras também a minha, pois quando vos unistes não estáveis sozinhos. Acreditas que eu te deixaria na escuridão, que tu concordaste em deixar comigo? No teu relacionamento está a luz do mundo. E o medo tem que desaparecer diante de ti agora. Não sejas tentado a arrancar a dádiva da fé que ofereceste ao teu irmão. Terás sucesso em assus­tar a ti mesmo. A dádiva é dada para sempre, pois o próprio Deus a recebeu. Tu não podes tomá-la de volta. Aceitaste a Deus. A santidade do teu relacionamento está estabelecida no Céu. Não compreendes o que aceitaste, mas lembra-te de que a tua com­preensão não é necessária. Tudo o que foi necessário foi simples­mente o desejo de compreender. Esse desejo era o desejo de ser santo. A Vontade de Deus te foi concedida. Pois desejas a única coisa que sempre tiveste ou sempre foste.

5. Cada instante que passamos juntos vai te ensinar que essa meta é possível e fortalecerá o teu desejo de alcançá-la. E no teu desejo está a sua realização. O teu desejo está agora em completo acordo com todo o poder da Vontade do Espírito Santo. Nenhum dos pequenos passos em falso que possas dar é capaz de separar o teu desejo da Sua Vontade e da Sua força. Eu seguro a tua mão com tanta segurança quanto tu concordaste em tomar a mão do teu irmão. Vós não vos separareis, pois eu estou convosco e caminho convosco em vosso progresso rumo à verdade. E aonde nós va­mos carregamos Deus conosco.

6. No teu relacionamento tu te uniste a mim trazendo o Céu ao Filho de Deus, que se escondia na escuridão. Tens estado dispos­to a trazer a escuridão à luz e essa tua disponibilidade tem dado força a todos os que queriam permanecer na escuridão. Aqueles que querem ver verão. E se unirão a mim transportando a sua luz à escuridão, quando a escuridão dentro deles for oferecida à luz e removida para sempre. A minha necessidade de ti, unido a mim na luz santa do teu relacionamento, é a tua necessidade da salvação. Não te daria eu o que deste a mim? Pois quando te uniste ao teu irmão, respondeste a mim.

7. Tu que és agora o portador da salvação, tens a função de trazer a luz à escuridão. A escuridão em ti foi trazida à luz. Transporta-a de volta à escuridão, partindo do instante santo ao qual a trou­xeste. Nós nos tomamos íntegros no nosso desejo de tornar íntegro. Não permitas que o tempo te preocupe, pois todo o medo que tu e teu irmão experimentam é realmente passado. O tempo foi reajustado para nos ajudar a fazer juntos aquilo que os vossos passados separados impediriam. Vós ultrapassastes o medo, pois duas mentes não se podem unir no desejo do amor sem que O amor se una a elas.

8. Não há no Céu nem uma única luz que não vá convosco. Nem um único Raio que brilhe para sempre na Mente de Deus deixa de vos iluminar. O Céu está unido a vós no vosso avanço rumo ao Céu. Quando grandes luzes tais como estas estão unidas a vós para dar a pequena centelha do vosso desejo o poder do próprio Deus, será possível permanecerdes nas trevas? Tu e o teu irmão estão voltando ao lar juntos, após uma longa jornada sem significado que empreenderam um à parte do outro e que não levou a lugar nenhum. Tu achaste o teu irmão e vos iluminareis o caminho um para o outro. E a partir dessa Luz, os Grandes Raios estender-se-ão para trás em direção às trevas e para frente em direção a Deus, para desvanecer o passado com seu resplen­dor e assim abrir espaço para a Sua Presença eterna, na qual to­das as coisas são radiantes na luz.


IV. Um pouco de boa vontade

1. O instante santo é o resultado da tua determinação de ser san­to. É a resposta. O desejo e a disponibilidade para permitir que ele venha precedem a sua vinda. Preparas a tua mente para ele apenas na medida em que reconheces que o queres acima de to­das as outras coisas. Não é necessário fazer mais; na verdade, é necessário que reconheças que não podes fazer mais. Não tentes dar ao Espírito Santo aquilo que Ele não pede, ou estarás adicio­nando o ego a Ele e confundindo os dois. Ele só pede pouco. É Ele que adiciona a grandeza e o poder. Ele une-se a ti para fazer com que o instante santo seja muito maior do que podes com­preender. É o teu reconhecimento de que precisas fazer tão pou­co que permite a Ele dar tanto.

2. Não confies nas tuas boas intenções. Elas não são suficientes. Mas confies implicitamente na tua disponibilidade, não importa o que mais possa entrar nisso. Concentra-te apenas nela e não te perturbes pelas sombras que a cercam. É por isso que vieste. Se pudesses vir sem elas, não terias necessidade do instante santo. Vêm a ele, não em arrogância, presumindo que tens que conse­guir o estado que ele traz com sua vinda. O milagre do instante santo está na tua disponibilidade para permitir que ele seja o que é. E na tua disponibilidade para isso está também a tua aceitação de ti mesmo tal como foste criado.

3. A humildade jamais pedirá que fiques contente com a peque­nez. Mas requer que não fiques contente com menos do que a grandeza que não vem de ti. A tua dificuldade com o instante santo surge da tua convição firme de que não és digno dele. E o que é isso, senão a determinação de seres assim como queres fa­zer a ti mesmo? Deus não criou a Sua própria morada indigna de Si Mesmo. E se acreditas que Ele não pode entrar onde é Sua Vontade estar, tens que estar interferindo com a Sua Vontade. Não necessitas que a força da tua vontade venha de ti mesmo, mas só da Sua Vontade.

4. O instante santo não vem só da tua boa vontade que é pouca. Resulta sempre desse pouco de boa vontade combinado com o poder ilimitado da Vontade de Deus. Tens estado errado ao pen­sar que é necessário preparar-te para Ele. É impossível fazer pre­parativos arrogantes para a santidade e não acreditar que depende de ti estabelecer as condições para a paz. Deus as esta­beleceu. Elas não aguardam a tua disponibilidade para serem o que são. A tua disponibilidade só é necessária para possibilitar que te seja ensinado quais são elas. Se insistes em seres indigno de aprender isso, estás interferindo com a lição, por acreditares que tens que fazer com que o aprendiz seja diferente. Não fizeste o aprendiz e nem podes fazê-lo diferente. Queres em primeiro lugar fazer um milagre por tua própria conta e depois esperar que um seja feito para ti?

5. Tu meramente fazes a pergunta. A resposta é dada. Não bus­ques responder, mas apenas receber a resposta assim como é dada. Ao preparar-te para o instante santo, não tentes fazer-te santo para estar pronto para recebê-lo. Isso é apenas confundir o teu papel com o de Deus. A Expiação não pode vir para aqueles que pensam que, em primeiro lugar precisam expiar, mas só para aqueles que nada mais oferecem senão a simples disponibilidade de abrir caminho para ela. A purificação é só de Deus e, portan­to, é para ti. Ao invés de buscar preparar-te para Ele, tenta pen­sar deste modo:

Eu, qué sou anfitrião dé Deus, sou digno Dele.

Ele, Qué estabeleceu em mim a Sua morada, criou-a como Elé queria qué fosse.

Não é preciso qué eu a apronté para Ele, mas apenas qué eu não interfira no Seu plano para restituir-mé a minha própria consciência dé estar pronto, qué é eterna.

Eu nada tenho qué adicionar ao piano dé Deus.

Mas para recebê-lo, tenho qué estar disposto a não substituí-lo pelo meu.

6. E isso é tudo. Adiciona mais e estarás simplesmente retirando o pouco que te é pedido. Lembra-te de que fizeste a culpa e que o teu plano para escapar da culpa tem sido o de trazer a ela a Expiação e fazer com que a salvação seja amedrontadora. E é apenas medo o que adicionaras ao preparar-te para o amor. A preparação para o instante santo pertence Àquele Que o dá. Libera-te para Ele, Cuja função é a liberação. Não assumas por Ele a Sua função. Dá-Lhe apenas o que Ele pede, de modo que pos­sas aprender como é pequena a tua parte e como é grande a Sua.

7. É isso o que faz com que o instante santo seja tão fácil e tão natural. Tu o tornas difícil, porque insistes que tem que haver mais coisas que precisas fazer. Achas difícil aceitar a idéia de que precisas dar tão pouco para receber tanto. E é muito difícil para ti reconhecer que não é um insulto pessoal que a tua contribuição e a do Espírito Santo sejam tão extremamente desproporcionais. Ainda estás convencido de que a tua compreensão é uma contribuição poderosa para a verdade e faz dela o que ela é. Entretanto, nós já enfatizamos que nada precisas compreender. A salvação é fácil exatamente porqué nada pede que não possas dar agora mesmo.

8. Não te esqueças de que foi decisão tua fazer com que tudo o que é natural e fácil para ti seja impossível. Se acreditas que o instante santo é difícil para ti, é porque te tomaste o árbitro do que é possível e permaneces sem vontade de ceder o lugar Àquele Que tem o conhecimento. Toda a crença em ordens de dificulda­des em milagres está centrada nisso. Tudo aquilo que é Vontade de Deus não só é possível como já aconteceu. E é por isso que o passado se foi. Ele nunca aconteceu na realidade. Só na tua men­te, que pensou que tudo isso aconteceu, é necessário desfazê-lo.


V. O sonho feliz

1. Prepara-te agora para o desfazer do que nunca existiu. Se já compreendesses a diferença entre verdade e ilusão, a Expiação não teria nenhum significado. O instante santo, o relacionamento santo, o ensinamento do Espírito Santo e todos os meios pelos quais se realiza a salvação não teriam nenhum propósito. Pois todos não são senão aspectos do plano de mudar os teus sonhos de medo para sonhos felizes, dos quais facilmente despertas para o conhecimento. Não te encarregues disso, pois não podes distin­guir entre progresso e retrocesso. Alguns dos teus maiores pro­gressos julgaste como fracassos e alguns dos piores retrocessos avaliaste como sucesso.

2. Nunca te aproximes do instante santo depois que tiveres tenta­do remover todo o medo e todo o ódio da tua mente. Essa é a sua função. Nunca tentes não ver a tua culpa antes de pedir ajuda ao Espírito Santo. Essa é a função Dele. A tua parte consiste apenas em oferecer a Ele um pouco de boa vontade para deixar que Ele remova todo medo e todo ódio, e para seres perdoado. Com a tua pequena fé, unida à Sua compreensão, Ele construirá a tua parte na Expiação e garantirá que tu a cumpriras facilmente. E com Ele construirás uma escada, plantada na sólida rocha da fé que se ergue ate o Céu. E tampouco a usarás para ascender ao Céu sozinho.

3. Através do teu relacionamento santo, renascido e abençoado a cada instante santo que não programaste, milhares subirão ao Céu contigo. Tu és capaz de planejar isso? Ou poderias te pre­parar para tal função? No entanto, isso é possível porque é Von­tade de Deus. E nem ira Ele mudar a própria Mente a respeito disso. O início e o propósito, ambos pertencem a Ele. Um tu aceitaste, o outro te será provido. Um propósito tal como esse, sem um meio, é inconcebível. Ele provoca o meio a qualquer um que compartilhe o Seu propósito.

4. Os sonhos felizes vêm a ser verdadeiros, não porque sejam so­nhos, mas porque são felizes. E assim têm que ser amorosos. A sua mensagem é: “Faça-se a Tua Vontade”, e não: “Eu quero de outra forma.” O alinhamento do meio e do propósito é um em­preendimento impossível na tua compreensão. Nem sequer te dás conta de que aceitaste o propósito do Espírito Santo como teu e só poderias trazer meios não-santos para a sua realização. A pequena fé que foi necessária para mudar o propósito é tudo o que te é pedido para que possas receber o meio e usa-lo.

5. Não é um sonho amar o teu irmão como a ti mesmo. E nem é um sonho o teu relacionamento santo. Tudo o que permanece de sonhos dentro dele é que ainda é um relacionamento especial. No entanto, é muito útil para o Espírito Santo, Que tem uma função especial aqui. Ele se tomará o sonho feliz através do qual o Espírito Santo poderá espalhar a alegria a milhares e milhares de pessoas que acreditam que o amor é medo e não felicidade. Permite que Ele cumpra a função que deu ao teu relacionamento aceitando-a para ti e nada ficará faltando para fazer dele o que Ele quer que seja.

6. Quando sentes a santidade do teu relacionamento ameaçada por qualquer coisa, pára imediatamente e oferece ao Espírito San­to a tua disponibilidade, apesar do medo, para permitir que Ele troque esse instante pelo instante santo que preferes ter. Ele ja­mais falhará nisso. Mas não te esqueças de que o teu relaciona­mento é uno e, portanto, necessariamente aquilo que ameaça a paz de um, seja lá o que for, ameaça a paz do outro igualmente. O poder de unir-te à benção do teu relacionamento está no fato de que agora é impossível para ti ou para o teu irmão sentir medo sozinho ou tentar lidar com o medo sozinho. Nunca acre­dites que isso é necessário ou mesmo possível. Entretanto, assim como isso é impossível, também é igualmente impossível que o instante santo venha a qualquer um de vós sem vir ao outro. E ele virá a ambos, a pedido de qualquer um dos dois.

7. Aquele que for o mais são no momento em que a ameaça é percebida, deve lembrar-se de quanto é profundo o seu débito para com o outro e de quanta gratidão lhe é devida e deve ale­grar-se por poder pagar a sua dívida trazendo felicidade a am­bos. Que ele se lembre disso e diga:

Eu desejo essé instanté santo para mim, para qué eu possa com partilhá-lo com o meu irmão, a quem eu amo.

Não mé é possível tê-lo sem elé é nem elé sem mim.

No entanto, é totalmenté possível para nós com partilhá-lo agora.

É assim eu escolho essé instanté como aquelé qué ofereço ao Espírito Santo, para qué a Sua benção possa descer sobré nós é manter-nos em paz.


VI. Além do corpo

1. Não há nada fora de ti. Isso é o que tens que aprender em ultima instância, pois é o reconhecimento de que o Reino do Céu foi restaurado para ti. Pois Deus criou apenas isso e não foi em­bora nem te deixou separado de Si Mesmo. O Reino do Céu é a morada do Filho de Deus, que não deixou o seu Pai e nem habita à parte Dele. O Céu não é um lugar nem uma condição. É meramente uma consciência da perfeita unicidade e o conhecimento de que nada além disso existe, nada fora dessa unicidade e nada mais dentro dela.

2. O que poderia Deus dar além do conhecimento de Si Mesmo? O que mais existe para ser dado? A crença em que poderias dar ou ganhar qualquer outra coisa, alguma coisa fora de ti, custou-te a consciência do Céu e da tua Identidade. E fizeste uma coisa ainda mais estranha do que reconheces no momento. Deslocaste a tua culpa da tua mente para o teu corpo. No entanto, um corpo não pode ser culpado, pois nada pode fazer por si mesmo. Tu, que pensas que odeias o teu corpo, enganas a ti mesmo. Odeias a tua mente, pois a culpa a penetrou e ela quer permanecer separa­da da mente do teu irmão, o que não pode fazer.

3. As mentes estão unidas, os corpos não. Só atribuindo à mente as propriedades do corpo é que a separação parece ser possível. E é a mente que parece ser algo privado, estar fragmentada e sozinha. A culpa, que a mantém separada, é projetada para o corpo, que sofre e morre porque é atacado para manter a separação na mente e não permitir que ela conheça a sua Identidade. A mente não pode atacar, mas pode fabricar fantasias e dirigir o corpo para encená-las. No entanto, o que parece satisfazer nunca é o que o corpo faz. A não ser que a mente acredite que o corpo, de fato, esteja encenando as suas fantasias, ela atacará o corpo aumentando a projeção da sua culpa sobre ele.

4. Nisso, a mente é claramente delusória. Ela não pode atacar, mas insiste em que pode e usa o que faz para ferir o corpo e provar que pode. A mente não pode atacar, mas pode enganar a Si mesma. E isso é tudo o que faz quando acredita que atacou o corpo. Ela pode projetar a própria culpa, mas não a perderá através da projeção. E embora esteja claro que pode interpretar equi­vocadamente a função do corpo, não pode mudar a função que o Espírito Santo estabelece para ele. O corpo não foi feito pelo amor. No entanto, o amor não o condena e é capaz de usa-lo amorosamente, respeitando o que o Filho de Deus fez e usando-o para salvá-lo das ilusões.

5. Não gostarias de ter os instrumentos para a separação re-inter­pretados em meios para a salvação e usados com os propósitos do amor? Não receberias com boas-vindas e não darias o teu apoio para fazer das fantasias de vingança uma liberação em relação a elas? A tua percepção do corpo pode ser claramente doente, mas não projetes isso sobre o corpo. Pois o teu desejo de tornar destru­tivo o que não podes destruir não pode ter qualquer efeito real. O que Deus criou é apenas o que Ele quer que seja, sendo a Sua Vontade. Não podes fazer com que a Sua Vontade seja destrutiva. Podes fabricar fantasias nas quais a tua vontade entra em conflito com a Sua, mas isso é tudo.

6. É insano usar o corpo como o bode expiatório da culpa, diri­gindo os seus ataques e acusando-o pelo que desejaste que ele fizesse. E impossível encenar fantasias. Pois ainda são as fanta­sias que tu queres e elas nada têm a ver com o que o corpo faz. Ele não sonha com elas e elas apenas fazem dele um débito quando poderia ser um crédito. Pois as fantasias fizeram do teu corpo teu inimigo: fraco, vulnerável, traiçoeiro, merecedor do ódio que investes nele. Como isso te serviu? Tu te identificaste com essa coisa que odeias, o instrumento da vingança e a fonte que percebes para a tua culpa. Isso tu fizeste com uma coisa que não tem significado, proclamando-a a morada do Filho de Deus e voltando-a contra ele.

7. Esse é o anfitrião de Deus que tu fizeste. E nem Deus e nem o Seu santíssimo Filho podem entrar em uma habitação que abriga o ódio e onde semeaste as sementes da vingança, da violência e da morte. Essa coisa que fizeste para servir à tua culpa interpõe­-se entre ti e outras mentes. As mentes estão unidas, mas não te identificas com elas. Tu te vês trancado em uma cela separada, retirado e inacessível, incapaz de alcançar o exterior assim como de ser alcançado. Odeias essa prisão que fizeste e queres destruí-la. Mas não queres escapar deixando-a ilesa, sem a tua culpa sobre ela.

8. No entanto, e só assim que podes escapar. O lar da vingança não é o teu, o lugar que separaste para abrigar o teu ódio não é uma prisão, mas uma ilusão de ti mesmo. O corpo é um limite imposto à comunicação universal que é uma propriedade eterna da mente. Mas a comunicação é interna. A mente alcança a si mesma. Ela não é feita de partes diferentes que alcançam umas às outras. Ela não sai para o lado de fora. Dentro de si mesma não tem limites e nada há fora dela. Ela abrange todas as coisas. Abrange inteiramente a ti, tu dentro dela e ela dentro de ti. Não há nenhuma outra coisa, em lugar nenhum ou tempo algum.

9. O corpo está fora de ti e apenas parece cercar-te, fechando-te para os outros e mantendo-te à parte deles e eles à parte de ti. Ele não existe. Não existe nenhuma barreira entre Deus e o Seu Filho e nem pode o Filho estar separado de Si mesmo, exceto em ilusões. Essa não é a sua realidade, embora ele acredite que seja. No entanto, só poderia ser assim no caso de Deus estar errado. Deus teria tido que criar de forma diferente e teria que ter separado a Si Mesmo de Seu Filho para fazer com que isso fosse possível. Ele teria tido que criar coisas diferentes e estabelecer ordens de reali­dade diferentes, somente algumas das quais seriam amor. Entretanto, o amor tem que ser para sempre igual a si mesmo, imutável para sempre e para sempre sem alternativa. E assim ele é. Não podes colocar uma barreira em torno de ti porque Deus não colocou nenhuma entre Ele e ti.

10. Podes estender a tua mão e alcançar o Céu. Tu, cuja mão está unida à mão de teu irmão, começaste a alcançar o que está além do corpo, mas não fora de ti, para alcançar a vossa Identidade que é compartilhada. Poderia Isso estar fora de ti? Onde Deus não está? Seria Ele um corpo e teria Ele criado a ti como Ele não é e onde Ele não pode estar? Estás cercado apenas por Ele. Que limites podem existir em ti, a quem Ele abrange?

11. Todos já experimentaram o que poderia ser descrito como uma sensação de estar sendo transportado além de si mesmo. Esse sentimento de libertação em muito excede o sonho de liberdade algumas vezes esperado nos relacionamentos especiais. E uma sensação de ter, de fato, escapado das limitações. Se considerares o que esse “transporte” realmente envolve, reconhecerás que é uma súbita ausência de consciência do corpo e uma união de ti mesmo com alguma outra coisa na qual a tua mente cresce para abrangê-la. Ela vem a ser parte de ti na medida em que te unes a ela. E ambos vêm a ser íntegros, já que nenhum dos dois é perce­bido como separado. O que realmente acontece é que renuncias­te à ilusão de uma consciência limitada e perdeste o teu medo da união. O amor que instantaneamente o substitui se estende àquilo que te libertou e une-se a ele. E enquanto isso dura, não estás incerto da tua Identidade e não queres limitá-la. Escapaste do medo para a paz, sem fazer perguntas à realidade, mas mera­mente aceitando-a. Aceitaste isso ao invés do corpo e te deixaste ser uno com alguma coisa além dele, simplesmente por não per­mitires que a tua mente seja limitada por ele.

12. Isso pode ocorrer independentemente da distância física que parece existir entre tu e aquilo a que te unes, das suas respectivas posições no espaço e das suas diferenças em tamanho e aparente qualidade. O tempo não é relevante, isso pode ocorrer com algo passado, presente ou antecipado. Essa “alguma coisa” pode ser qualquer coisa e em qualquer lugar: um som, uma vista, um pen­samento, uma memória e até mesmo uma idéia geral sem referência específica. Entretanto, em cada caso, tu te unes a ela sem reservas porque a amas e queres estar com ela. E assim corres ao seu encontro, deixando que os teus limites se dissolvam, suspendendo todas as “leis” a que o teu corpo obedece e gentilmente deixando-as de lado.

13. Não existe absolutamente nenhuma violência nesta libertação. O corpo não é atacado, mas simplesmente percebido de maneira adequada. Ele não te limita meramente porque não queres que ele o faça. Não és realmente “elevado além” dele, ele não pode conter-te. Vais aonde queres estar, ganhando e não perdendo o senso do Ser. Nestes instantes de liberação das restrições físicas, experimentas muito do que acontece no instante santo: a suspen­são das barreiras do tempo e do espaço, a experiência repentina da paz e da alegria e acima de tudo, a falta de consciência do corpo e do questionamento acerca da possibilidade ou impossibi­lidade de tudo isso.

14. É possível porque tu o queres. A repentina expansão da cons­ciência que tem lugar com o teu desejo por isso é o apelo irresistível que o instante santo contém. Ele te chama para ser quem és, em seu abraço seguro. Lá as leis dos limites são suspensas para ti, para te dar as boas-vindas na abertura da mente e na liberdade. Vem a esse lugar de refúgio, onde podes ser quem és em paz. Não através da destruição, nem através do rompimento, mas me­ramente através de uma serena fusão. Pois lá a paz irá unir-se a ti, meramente porque estás disposto a abrir mão dos limites que im­puseste ao amor e unir-te a ele no lugar onde ele está e aonde ele te conduziu, em resposta ao gentil chamado que ele te fez para estares em paz.


VII. Eu não preciso fazer nada

1. Ainda depositas fé excessiva no corpo como uma fonte de for­ça. Que planos fazes que não envolvam o seu conforto, a sua proteção ou o seu divertimento de alguma forma? Isso faz com que o corpo seja um fim e não um meio na tua interpretação e isso sempre significa que ainda achas o pecado atraente. Ninguém aceita a Expiação para si mesmo se ainda aceita o pecado como sua meta. Assim sendo ainda não correspondeste à tua única res­ponsabilidade. A Expiação não é bem-recebida por aqueles que preferem a dor e a destruiçao.

2. Existe uma coisa que nunca fizeste: nunca te esqueceste com­pletamente do corpo. Talvez algumas vezes ele tenha se apagado da tua vista, mas ainda não desapareceu completamente. Não te é pedido para deixar que isso aconteça por mais de um instante, no entanto, é nesse instante que o milagre da Expiação acontece. Depois, verás o corpo outra vez, mas nunca exatamente o mes­mo. E cada instante que passas sem a consciência do corpo te dá uma perspectiva diferente a seu respeito quando retornas.

3. Em nenhum instante o corpo existe de forma alguma. Ele é sempre lembrado ou antecipado, mas nunca vivenciado apenas agora. Só o seu passado e o seu futuro o fazem parecer real. O tempo o controla inteiramente, pois o pecado nunca está total­mente no presente. Em qualquer instante, a atração da culpa poderia ser experimentada como dor e nada mais e poderia ser evitada. Ela não tem atração agora. Toda a sua atração é imagi­nária e, portanto, tem que ser pensada no passado ou no futuro.

4. É impossível aceitar o instante santo sem reservas a não ser que, por apenas um instante, estejas disposto a não ver passado nem futuro. Não podes te preparar para ele sem colocá-lo no futuro. A liberação te é dada no instante em que a desejas. Muitos passa­ram toda a vida em preparação e de fato, atingiram os seus ins­tantes de sucesso. Esse curso não pretende ensinar mais do que o que eles aprenderam no tempo, mas tem como objetivo economi­zar tempo. Podes estar tentando seguir uma estrada muito longa para a meta que aceitaste. É extremamente difícil atingir a Expiação lutando contra o pecado. Um esforço enorme é gasto na ten­tativa de tornar santo o que é odiado e desprezado. Nem há necessidade de toda uma vida de contemplação e de longos perío­dos de meditação com o objetivo de desapegar-te do corpo. Todas essas tentativas, em ultima instância, terão sucesso devido a seu propósito. No entanto, os meios são tediosos e consomem uma grande quantidade de tempo, pois todos procuram a liberação no futuro a partir de um estado de presente indignidade e inadequação.

5. O teu caminho será diferente, não em relação ao propósito, mas ao meio. Um relacionamento santo é um meio de ganhar tempo. Um instante passado junto com o teu irmão restaura o universo para ambos. Vós estais preparados. Agora, só precisam lembrar-­vos de que não precisais fazer nada. Seria muito mais proveitoso agora apenas vos concentrardes nisso do que considerar o que deveríeis fazer. Quando a paz chega afinal àqueles que comba­tem a tentação e lutam contra abandonar-se ao pecado, quando a luz chega afinal à mente entregue à contemplação, ou quando a meta é finalmente alcançada por qualquer um, ela vem sempre acompanhada de apenas uma conscientização feliz: “Eu não preci­so fazer nada”.

6. Está aqui a liberação final que cada um algum dia achará em seu próprio caminho, em seu próprio momento. Não precisas desse tempo. O tempo foi economizado para ti, porque tu e o teu irmão estão juntos. Esse é o meio especial que esse curso está usando para te fazer ganhar tempo. Não estás fazendo uso do curso se insistes em usar meios que serviram bem a outros, negli­genciando aquilo que foi feito para ti. Ganha tempo para mim através dessa única preparação e pratica não fazendo nenhuma outra coisa. “Eu não preciso fazer nada” é uma afirmação de fidelidade, uma lealdade verdadeiramente sem divisão. Acredita nisso por apenas um instante e realizaras mais do que é dado a um século de contemplação ou de luta contra a tentação.

7. Fazer qualquer coisa envolve o corpo. E se reconheces que não precisas fazer nada, terás retirado o valor do corpo da tua mente. Aqui está a porta aberta e rápida através da qual deslizas por séculos de esforço e escapas do tempo. Esse é o caminho no qual o pecado perde toda a atração agora mesmo. Pois aqui o tempo é negado e o passado e o futuro se vão. Quem nada precisa fazer não necessita de tempo. Fazer nada é descansar e fazer um lugar dentro de ti onde a atividade do corpo deixa de exigir atenção. A esse lugar o Espírito Santo vem e lá habita. Ele permanecerá quando tu te esqueceres e quando as atividades do corpo voltarem a ocupar a tua mente consciente.

8. No entanto, sempre haverá esse lugar de descanso para o qual podes retornar. E estarás mais ciente deste centro de quietude no meio da tempestade do que de toda a atividade furiosa que ela desencadeia. Esse centro de quietude, no qual tu nada fazes, per­manecerá contigo, dando-te repouso em meio a todas as tarefas trabalhosas as quais fores enviado. Pois a partir deste centro se­rás dirigido quanto ao modo como deves usar o teu corpo sem pecado. É esse centro, do qual o corpo esta ausente, que o manterá assim na tua consciência.


VIII. O pequeno jardim

1. É apenas a consciência do corpo que faz o amor parecer limita­do. Pois o corpo é um limite para o amor. A crença no amor limitado foi a sua origem e ele foi feito para limitar o ilimitado. Não penses que isso é apenas alegórico, pois ele foi feito para limitar a ti. E possível que tu, que te vês dentro de um corpo, conheças a ti mesmo como uma idéia? Tudo o que reconheces identificas com coisas externas, algo fora de ti. Não podes sequer pensar em Deus sem um corpo ou alguma forma que pensas re­conhecer.

2. O corpo não pode conhecer. E enquanto limitas a tua cons­ciência aos seus sentidos diminutos, não verás a grandeza que te cerca. Deus não pode vir a um corpo, nem tu podes unir-te a Ele lá. Os limites ao amor sempre parecerão deixá-lo de fora e man­ter-te a parte Dele. O corpo é uma cerca diminuta em torno de uma pequena parte de uma idéia gloriosa e completa. Ele dese­nha um círculo, infinitamente pequeno, em tomo de um segmen­to diminuto do Céu, desintegrado do todo, proclamando que aí dentro se encontra o teu reino, onde Deus não pode entrar.

3. Dentro desse reino o ego governa e cruelmente. E para defen­der esse pequeno monte de poeira, ele te pede para lutar contra o universo. Esse fragmento da tua mente é uma parte tão diminuta dela que, se apenas pudesses avaliar o todo, imediatamente ve­rias que ele é como o menor dos raios de sol é para o sol ou como a mais leve onda na superfície do oceano. Em sua surpreendente arrogância, esse diminuto raio de sol decidiu que é o sol, essa onda quase imperceptível aclama a si mesma como se fosse o oceano. Pensa em quão solitário e assustado é esse pequeno pen­samento, essa ilusão infinitesimal, mantendo-se à parte, contra o universo. O sol passa a ser o “inimigo” do raio de sol, aquele que quer devorá-lo, e o oceano aterroriza a pequena onda e quer en­goli-la.

4. Entretanto, nem o sol e nem o oceano estão sequer conscientes de toda essa estranha atividade sem significado. Meramente con­tinuam, inconscientes de estarem sendo temidos e odiados por um diminuto segmento deles mesmos. Mesmo esse segmento não esta perdido para eles, pois não poderia sobreviver à parte. E o que ele pensa ser, de forma alguma muda a sua total dependência em relação a eles para ser o que é. Toda a sua existência ainda permanece neles. Sem o sol, o raio de sol desapareceria e a onda sem o oceano é inconcebível.

5. Tal é a estranha posição em que aqueles que vivem em um mundo habitado por corpos parecem estar. Cada corpo aparenta abrigar uma mente separada, um pensamento desconectado, vi­vendo solitário e de nenhuma forma ligado ao Pensamento pelo qual foi criado. Cada fragmento diminuto parece estar contido em si mesmo e precisar de outros para algumas coisas, mas sem ser de modo algum dependente do seu único Criador, já que ne­cessita do todo para lhe dar. E nem tem qualquer vida à parte e por conta própria.

6. Como o sol e o oceano, o teu Ser continua sem ter em mente que essa parte diminuta considera a si mesma como se fosse tu. Ela não está perdida, não poderia existir se estivesse separada nem o todo seria um todo sem ela. Não é um reino separado, governado por uma idéia de separação do resto. E nem existe uma cerca em torno dela, impedindo-a de unir-se ao resto e man­tendo-a afastada do seu Criador. Esse pequeno aspecto não é diferente do todo, sendo contínuo em relação a ele e um com ele. Ele não leva uma vida separada, porque a sua vida é a unicidade na qual o que ele é foi criado.

7. Não aceites esse aspecto cercado e separado como se isso fosse o que tu és. O sol e o oceano são como o nada diante do que tu és. O raio de sol só brilha à luz do sol e a onda dança à medida em que descansa sobre o oceano. No entanto, nem no sol, nem no oceano, está o poder que descansa em ti. Irias querer perma­necer dentro do teu reino diminuto, um triste rei, um amargo ditador de tudo o que ele supervisiona, alguém que olha para o nada e, no entanto ainda quer morrer para defendê-lo? Esse pe­queno ser não é o teu reino. Em arco bem alto acima dele e cer­cando-o de amor está o todo glorioso, que oferece toda a sua felicidade e o seu profundo contentamento a todas as partes. O pequeno aspecto que pensas ter colocado à parte não é nenhuma exceção.

8. O amor não conhece corpos e alcança todas as coisas criadas como ele próprio. Sua total falta de limites é o seu significado. Ele é completamente imparcial no que dá, abrangendo apenas para preservar e manter completo aquilo que quer dar. No teu reino diminuto tu tens tão pouco! Nesse caso, não deveria ser para lá que deverias chamar o amor para que ele entre? Olha para o deserto —seco e improdutivo, alquebrado e sem alegria — que compõe o teu pequeno reino. E reconhece a vida e a alegria que o amor traria a ele do lugar de onde vem e para onde retornaria contigo.

9. O Pensamento de Deus cerca o teu pequeno reino, aguardando na barreira que tu construíste para vir para dentro e brilhar sobre a terra estéril. Vê como a vida brota em toda parte! O deserto vem a sem um jardim, verde e profundo e quieto, oferecendo des­canso àqueles que perderam o seu caminho e vagam no pó. Dá-lhes um local de refúgio, preparado pelo amor para eles onde antes havia um deserto. E cada um a quem dás boas-vindas trará amor com ele do Céu para ti. Eles entram um por um nesse lugar santo, mas não partirão como vieram, sozinhos. O amor que trouxeram consigo ficará com eles, assim como ficará contigo. E sob a sua beneficência, o teu pequeno jardim se expandirá e alcançará a todos os que tem sede da água viva, mas estão por demais cansados para seguirem adiante sozinhos.

10. Sai e acha-os, pois trazem consigo o teu Ser. E conduze-os gentilmente ao teu jardim de quietude e lá recebe a sua benção. Assim ele crescerá e se espalhará através do deserto, sem deixar nem sequer um pequeno reino isolado, trancado para o amor, contigo lá dentro. E reconhecerás a ti mesmo e verás o teu pe­queno jardim gentilmente transformado no Reino do Céu com todo o amor do seu Criador brilhando sobre ele.

11. O instante santo é o teu convite para que o amor entre em teu reino desolado e sem alegria e o transforme em um jardim de paz e boas-vindas. A resposta do amor é inevitável. Ela virá porque tu vieste sem o corpo e não interpuseste nenhuma barreira que interferisse com a sua vinda alegre. No instante santo, só pedes ao amor o que ele oferece a todas as pessoas, nem mais nem me­nos. Pedindo tudo, tu o receberás. E o teu Ser resplandecente elevará o aspecto diminuto que tentaste ocultar do Céu diretamente para o Céu. Nenhuma parte do amor chama pelo todo em vão. Nenhum Filho de Deus permanece fora da Sua Paternidade.

12. Tem certeza disso: o amor entrou no teu relacionamento espe­cial e entrou inteiramente a teu débil pedido. Não reconheces que o amor veio porque ainda não abriste mão de todas as barrei­ras que manténs contra o teu irmão. Tu e ele não sereis capazes de dar boas-vindas ao amor separadamente. Não serias mais ca­paz de conhecer a Deus sozinho, do que Ele de conhecer a ti sem o teu irmão. Mas juntos, vós já não poderíeis estar inconscientes do amor, assim como seria impossível o amor não vos conhecer ou falhar em reconhecer a si mesmo em vós.

13. Vós alcançastes o final de uma antiga jornada sem ainda reco­nhecer que ela terminou. Ainda estais desgastados e cansados e o pó do deserto ainda parece enevoar os vossos olhos e mantê-los sem ver. No entanto, Aquele a Quem destes as boas-vindas veio a vós e quer dar-vos as boas-vindas. Ele esperou muito para dar-­vos isso. Recebei agora Dele, pois Ele quer que O conheçam. Só uma pequena parede de poeira ainda se interpõe entre tu e teu irmão. Soprai-a de leve, com um riso alegre, e ela cairá. E cami­nhai para dentro do jardim que o amor preparou para vós.


IX. Os dois mundos

1. Foi dito a ti que trouxesses as trevas à luz e a culpa à santidade. E também te foi dito que o erro tem que ser corrigido em sua fonte. Portanto, é essa diminuta parte de ti, o pequeno pensamen­to que parece cortado e separado, aquilo de que o Espírito Santo necessita. O resto esta inteiramente nas Mãos de Deus e não pre­cisa de nenhum guia. No entanto, esse selvagem e delusório pen­samento necessita de ajuda, porque em suas delusões pensa que e o Filho de Deus, total e onipotente, único governante do reino que mantém a parte para tiranizar através da loucura a obediência e a escravidão. Essa é a pequena parte que tu pensas que roubaste do Céu. Devolve-a ao Céu. O Céu não a perdeu, mas tu perdeste o Céu de vista. Permite que o Espírito Santo a remova do reino moribundo no qual tu a largaste cercada pela escuridão, guardada pelo ataque e reforçada pelo ódio. Dentro das suas barricadas ainda há um segmento diminuto do Filho de Deus, completo, santo, sereno e inconsciente do que pensas que o cerca.

2. Não sejas tu separado, pois Aquele que de fato o rodeia te trouxe a união, devolvendo a tua pequena oferta de escuridão à luz eterna. Como isso é feito? E extremamente simples, estando baseado no que esse pequeno reino realmente é. As areias esté­reis, a escuridão e a ausência de vida são vistas apenas através dos olhos do corpo. Sua vista desolada é distorcida e as mensa­gens que ele transmite a ti, que o fizeste para limitar a tua cons­ciência, são pequenas e limitadas e, assim fragmentadas, são sem significado.

3. Do mundo dos corpos, feito pela insanidade, mensagens insa­nas parecem retornar à mente que o fez. E essas mensagens tes­temunham esse mundo, proclamando-o verdadeiro. Pois tu enviaste esses mensageiros para que te trouxessem isso de volta. Tudo o que essas mensagens te transmitem é bastante externo. Não há mensagens que falem daquilo que está abaixo da superfície, pois não é o corpo que poderia falar sobre isso. Seus olhos não o percebem, seus sentidos permanecem bastante inconscien­tes de tudo o que lá esta, sua língua não pode transmitir suas mensagens. No entanto, Deus pode levar-te ate lá, se estiveres disposto a seguir o Espírito Santo através de aparente terror, con­fiando em que Ele não te abandonará e não te deixará lá. Pois não é o Seu propósito amedrontar-te, mas apenas o teu. Tu és profundamente tentado a abandoná-Lo no primeiro círculo do medo, mas Ele quer conduzir-te em segurança através disso e muito além.

4. O círculo do medo está exatamente abaixo do nível que o corpo vê e parece ser todo o fundamento no qual o mundo se baseia. Aqui estão todas as ilusões, todos os pensamentos distorcidos, todos os ataques insanos, a fúria, a vingança e a traição que fo­ram feitos para manter a culpa no lugar de forma que o mundo pudesse surgir dela e mantê-la oculta. Sua sombra ergue-se à superfície, apenas o suficiente para manter as suas manifestações mais externas na escuridão e para trazer desespero e solidão a ele, mantendo-o sem alegria. Entretanto, sua intensidade é vela­da por suas pesadas cobertas e mantida a parte do que foi feito para mantê-la oculta. O corpo não pode ver isso, pois o corpo surgiu disso para protegê-la, e essa proteção depende de mantê-­la sem ser vista. Os olhos do corpo nunca olharão para ela. No entanto, verão o que ela dita.

5. O corpo permanecerá como o mensageiro da culpa e agirá con­forme a sua direção enquanto acreditares que a culpa é real. Pois a realidade da culpa é a ilusão que parece fazer com que ela seja pesada, opaca, impenetrável e um fundamento real para o siste­ma de pensamento do ego. Sua transparência e pouca consistência não são evidentes até que vejas a luz por trás dela. E então tu a vês como um frágil véu diante da luz.

6. Essa barreira aparentemente pesada, esse solo artificial que pa­rece uma rocha, é como um bloco de nuvens escuras e baixas que parece ser uma parede sólida diante do sol. Sua aparência impenetrável é totalmente ilusória. Ela dá passagem suavemente aos topos das montanhas que se erguem acima dela e não tem qual­quer poder para impedir qualquer pessoa disposta a escalá-las e ver o sol. Não é forte o suficiente para impedir a queda de um botão, nem para segurar uma pluma. Nada pode se basear nela, pois é apenas a ilusão de um fundamento. Tenta apenas tocá-la e ela desaparece, tenta agarrá-la e nada terás em tuas mãos.

7. No entanto, nesse bloco de nuvens é fácil ver todo um mundo que surge. Uma sólida cadeia de montanhas, um lago, uma cida­de, tudo surge em tua imaginação e, das nuvens, os mensageiros da tua percepção retornam a ti assegurando-te que tudo isso lá está. Figuras destacam-se e movimentam-se, ações aparentam sem reais e formas aparecem e variam do belo ao grotesco. E para frente e para trás elas vão, enquanto quiseres infantilmente brin­car de faz-de-conta. No entanto, por mais que brinques e por mais imaginação que tragas a isso, tu não o confundes com o mundo lá embaixo e nem buscas fazer com que seja real.

8. O mesmo deveria acontecer com as nuvens escuras da culpa, que não são mais impenetráveis e nem mais substanciais. Não irás ferir a ti mesmo viajando através delas. Permite que o teu Guia te ensine a sua natureza sem substância à medida que Ele te conduz além delas, pois lá embaixo há um mundo de luz, sobre o qual não projetam sombra alguma. As suas sombras se projetam sobre o mundo que está além, ainda mais distante da luz. No entanto, essas sombras não podem cair sobre a luz.

9. Esse mundo de luz, esse circulo de resplendor radiante, é um mundo real onde a culpa se encontra com o perdão. Aqui, o mun­do do lado de fora é visto de forma nova, sem a sombra da culpa sobre si mesmo. Aqui tu és perdoado, pois perdoaste todas as pessoas. Aqui está a nova percepção, onde tudo é brilhante e res­plandece com inocência, lavado nas águas do perdão e limpo de qualquer pensamento mau que tenhas colocado nele. Aqui não há nenhum ataque ao Filho de Deus e tu és bem-vindo. Aqui está a tua inocência, aguardando para vestir-te, proteger-te e preparar­-te para o último passo da jornada interior. Aqui, as vestimentas escuras e pesadas da culpa são deixadas de lado e gentilmente substituídas pela pureza e pelo amor.

10. No entanto, mesmo o perdão não é o fim. O perdão, de fato, faz com que tudo seja belo, mas não cria. É a fonte da cura, mas é o mensageiro do amor e não a Fonte do amor. Até aqui tu és conduzido, de modo que o próprio Deus possa dar o passo final sem obstáculos, pois aqui nada interfere com o amor, deixando-o ser ele mesmo. Um passo além deste lugar santo do perdão, um passo ainda mais para dentro, mas um passo que tu não podes dar transporta-te para algo completamente diferente. Aqui está a Fonte da luz, nada é percebido, perdoado ou transformado. Mas apenas conhecido.

11. Esse curso conduzirá ao conhecimento, mas o conhecimento em si mesmo ainda está além do alcance do nosso currículo. E nem existe nenhuma necessidade de tentarmos falar daquilo que não pode deixar de estar para sempre além das palavras. Nós precisamos apenas lembrar que qualquer um que atinja o mundo real, além do qual o aprendizado não pode ir, irá além dele, mas em um caminho diferente. Onde o aprendizado termina, lá Deus começa, pois o aprendizado termina diante Dele, Que é completo onde começa e onde não fim. Não devemos parar no que não pode ser atingido. Há muito a aprender. A prontidão para conhecimento ainda está por ser atingida.

12. O amor não é aprendido. O sentido do amor está dentro dele. E o aprendizado termina quando tiveres reconhecido tudo o que ele não é. Essa é a interferência, é isso o que precisa ser desfeito. O amor não é aprendido porque nunca houve um tempo em que tu não o conhecesses. O aprendizado é inútil na Presença do teu Criador, Cujo reconhecimento de ti, ao lado do teu reconhecimen­to Dele transcendem de tal modo todo o aprendizado que tudo o que aprendeste é sem significado e é para sempre substituído pelo conhecimento do amor e por seu significado único.

13. O teu relacionamento com o teu irmão foi desenraizado do mundo das sombras e seu propósito não santo foi transportado com segurança através das barreiras da culpa, lavado com o per­dão, e depositado radiante no mundo da luz onde foi firmemente enraizado. De lá ele te chama, para que sigas o curso que ele tomou, sendo elevado muito acima das trevas e gentilmente colo­cado diante das portas do Céu. O instante santo no qual tu e teu irmão foram unidos não é senão o mensageiro do amor, enviado de além do perdão para lembrar-vos tudo o que esta além. No entanto, é através do perdão que tudo isso será lembrado.

14. E quando a memória de Deus tiver vindo a ti no lugar santo do perdão, não te lembrarás de nenhuma outra coisa e a memória será tão inútil quanto o aprendizado, pois o teu único propósito será criar. Entretanto, não podes ter o conhecimento disso en­quanto todas as percepções não forem limpas e purificadas e final­mente removidas para sempre. O perdão apenas remove o que não é verdadeiro, erguendo as sombras do mundo e carregando-o são e salvo dentro da sua gentileza para o mundo resplandecente da percepção nova e limpa. Lá está o teu propósito agora. E é lá que a paz te espera.