julho 15, 2010

Capítulo 26 - A TRANSIÇÃO

Capítulo 26 - A TRANSIÇÃO


I. O ‘sacrifício’ da unicidade

1. Na ‘dinâmica’ do ataque o sacrifício é uma idéia chave. O pivô em cima do qual todas as transigências, todas as tentativas desesperadas de ganhar com uma barganha e todos os conflitos conseguem um aparente equilíbrio. É o símbolo do tema central segundo o qual alguém tem que perder. Ele evidentemente focaliza o corpo, pois é sempre uma tentativa de limitar a perda. O corpo é um sacrifício em si mesmo, uma desistência do poder em nome de salvar um pouco para si mesmo. Ver um irmão em outro cor­po, separado do teu, é a expressão do desejo de ver uma pequena parte dele e sacrificar o restante. Olha para o mundo e tu nada verás ligado a nenhuma outra coisa além de si mesma. Todas as entidades aparentes podem chegar um pouco mais perto ou afas­tar-se um pouco, mas não podem se unir.

2. O mundo que vês é baseado no ‘sacrifício’ da unicidade. Um retrato da desunião completa e da total falta de encontro. Em torno de cada entidade é construída uma muralha aparentemente tão sólida, que se tem a impressão de que o que se encontra do lado de dentro nunca poderá alcançar o que está do lado de fora c o que está fora jamais poderá alcançar e se unir ao que está tran­cado lá dentro. Cada parte tem que sacrificar a outra para man­ter-se completa. Pois se elas se unissem, cada uma perderia a sua própria identidade e os seus seres são preservados através da sua separação.

3. O pouco que o corpo cerca torna-se o ser, preservado com o sacrifício de todo o resto. E todo o resto tem que perder essa pequena parte, permanecendo incompleto para manter intacta essa identidade. Nessa percepção de ti mesmo, a perda do corpo seria de fato um sacrifício. Pois ver corpos vem a ser o sinal de que o sacrifício é limitado e alguma coisa ainda continua sendo só para ti. E para que esse pouco te pertença, são traçados limites para todas as coisas do lado de fora, assim como há limites em todas as coisas que pensas que são tuas. Pois dar e receber são a mesma coisa. E aceitar os limites de um corpo é impor esses limites a cada irmão que vês. Pois não podes deixar de vê-lo assim como vês a ti mesmo.

4. O corpo é uma perda e pode ser sacrificado. E enquanto vês o teu irmão como um corpo, à parte de ti e separado em sua cela, estás exigindo um sacrifício dele e de ti mesmo. Que sacrifício maior se poderia pedir do que fazer com que o Filho de Deus se perceba sem seu Pai? E seu Pai sem Seu Filho? No entanto, todo sacrifício exige que eles estejam separados, um sem o outro. A memória de Deus tem que ser negada se alguém pede qualquer sacrifício de qualquer pessoa. Que testemunho da integridade do Filho de Deus é visto dentro de um mundo de corpos separa­dos, por mais que ele testemunhe a verdade? Ele é invisível em tal mundo. Do mesmo modo não se pode ouvir nada da sua canção de união e de amor. No entanto, é dado a ele fazer o mundo retroceder diante da sua canção e vê-lo substitui os olhos do corpo.

5. Aqueles que querem ver os testemunhos da verdade ao invés dos testemunhos das ilusões, meramente pedem que sejam capa­zes de ver um propósito no mundo que lhe dê sentido e que o torne significativo. Sem a tua função especial, esse mundo não tem significado para ti. Entretanto, ele pode vir a ser a casa do tesouro tão rica e ilimitada quanto o próprio Céu. Nenhum ins­tante se passa aqui sem que a santidade do teu irmão possa ser vista, para acrescentar um estoque sem limites a todo mísero res­to ou migalha de felicidade que tu te permites.

6. Podes perder de vista a unicidade, mas não podes sacrificar a sua realidade. E nem podes perder aquilo que queres sacrificar, nem impedir que o Espírito Santo realize a Sua tarefa de te mos­trar que aquilo não foi perdido. Ouve, então, a canção que o teu Irmão canta para ti, deixa que o mundo retroceda e aceita o des­canso que o seu testemunho te oferece em nome da paz. Mas não o julgues, pois não ouvirás nenhuma canção de liberação para ti mesmo, nem verás o que é dado a ele testemunhar para que pos­sas vê-lo e regozijar-te com ele. Não faças da sua santidade um sacrifício à tua crença no pecado. Sacrificas a tua inocência junto com a sua e morres a cada vez que vês nele um pecado que mere­ça a morte.

7. Entretanto, a cada instante tu podes renascer e receber a vida outra vez. A sua santidade te dá vida, pois não podes morrer porque a sua impecabilidade é conhecida por Deus e não pode ser sacrificada por ti do mesmo modo que a luz em ti não pode se apagar porque ele não a vê. Tu, que queres fazer da vida um sacrifício e farias com que os teus olhos e ouvidos testemunhassem a morte de Deus e de Seu Filho santo, não penses que tens poder para fazer Deles o que não é a Vontade de Deus para Eles. No Céu, o Filho de Deus não está aprisionado em um corpo, nem é sacrificado para o pecado na solidão. E assim como ele é no Céu, assim tem que ser eternamente e em toda parte. Ele é o mesmo e o será para sempre. Nascido de novo a cada instante, intocado pelo tempo e muito além do alcance de qualquer sacrifício de vida ou morte. Pois ele não fez nenhuma das duas e só uma lhe foi dada por Aquele Que sabe que Suas dádivas jamais poderão sofrer qualquer sacrifício ou qualquer perda.

8. A justiça de Deus repousa gentilmente em Seu Filho e o man­tém a salvo de toda injustiça que o mundo quer colocar sobre ele. Seria possível fazeres com que os seus pecados fossem realidade e sacrificares a Vontade do seu Pai para ele? Não o condenes vendo-o dentro de uma prisão que está apodrecendo, aonde ele se vê. É tua função especial garantir que a porta seja aberta para que ele possa dar um passo à frente e derramar sua luz sobre ti devolvendo-te a dádiva da liberdade por recebê-la de ti. Qual é a função especial do Espírito Santo, senão a de liberar o Filho santo de Deus da prisão que ele fez para manter-se afastado da justiça? Seria possível que a tua função fosse uma tarefa à parte e separada da Sua?


II. Muitas formas, uma correção

1. Não é difícil compreender as razões pelas quais não pedes ao Espírito Santo que solucione todos os problemas para ti. Ele não tem maior dificuldade para resolver alguns do que para resolver outros. Todo problema é o mesmo para Ele, porque cada um é resolvido exatamente com o mesmo enfoque e através da mesma abordagem. Os aspectos que necessitam de solução não mudam, qualquer que seja a forma que o problema pareça tomar. Um problema pode aparecer em várias formas e o fará enquanto o problema persistir. Não serve a propósito algum tentar resolve­-lo em uma de suas formas especiais. Ele ocorrerá e depois recor­rerá uma e outra vez, até que tenha sido respondido para todo o sempre e então não surgirá de novo em forma alguma. E só nes­se caso estás liberado.

2. O Espírito Santo te oferece liberação de qualquer problema que pensas que tens. Eles são o mesmo para Ele porque cada um, independentemente da forma que parece tomar, é um pedido para que alguém sofra alguma perda e faça algum sacrifício de modo que tu ganhes. E quando a situação é trabalhada de forma tal que ninguém perca, o problema se vai, porque era um erro na percepção que foi agora corrigido. Um equívoco não pode ser mais difícil de ser conduzido à verdade por Ele do que um outro. Pois não existe senão um equívoco: toda a idéia de que a perda é possível e poderia resultar em ganho para alguém. Então, se isso fosse ver­dadeiro, Deus seria injusto, o pecado seria possível, o ataque justificado e a vingança justa.

3. Esse único equívoco, em qualquer forma, tem uma única correção. Não há perda; pensar que há é um equívoco. Tu não tens problemas, embora penses que tens. E no entanto, não pensaria, assim se os visses sumir um por um, sem levar em conta seu ta­manho, complexidade, local ou tempo, ou qualquer outro atributo que percebas que faz cada um parecer diferente do outro. Não penses que os limites que impões ao que tu vês podem limitar Deus de alguma forma.

4. O milagre da justiça pode corrigir todos os erros. Todo proble­ma é um erro. É uma injustiça para com o Filho de Deus e, portanto, não é verdadeiro. O Espírito Santo não avalia as injustiças como grandes ou pequenas, maiores ou menores. Elas não têm nenhuma característica para Ele. São equívocos dos quais o Filho de Deus está sofrendo, mas sem necessidade. E assim Ele remo­ve os espinhos e os cravos. Ele não faz uma pausa para julgar se o ferimento é grande ou pequeno. 9Faz apenas um julgamento ferir o Filho de Deus é necessariamente injusto e, portanto, isso não é assim.

5. Tu, que acreditas que é seguro entregar apenas alguns equívo­cos para serem corrigidos, enquanto guardas outros para ti mes­mo, lembra-te disso: a justiça é total. Justiça parcial não existe. Se o Filho de Deus é culpado, então ele é condenado e não mere­ce misericórdia do Deus da justiça. Mas não peças a Deus para puni-lo pelo fato de tu o considerares culpado e quereres que ele morra. Deus te oferece os meios para ver a sua inocência. Seria justo puni-lo porque tu não queres olhar para o que lá está para ser visto? Cada vez que guardas um problema para resolvê-lo por ti mesmo, ou julgas que não tem solução, fazes dele um gran­de problema, além da esperança da cura. Negas que o milagre da justiça possa ser justo.

6. Se Deus é justo, então não podem existir problemas que a justiça não possa solucionar. Mas acreditas que algumas injustiças são justas, boas e necessárias para preservar-te. São esses os problemas que consideras grandes e sem solução. Pois existem aquelas pessoas que queres que sofram alguma perda e ninguém que queiras preservar inteiramente do sacrifício. Considera uma vez mais a tua função especial. Uma pessoa te é dada para que vejas nela a sua perfeita impecabilidade. E tu não vais lhe pedir nenhum sacrifício, porque não poderias querer que ela sofresse qualquer perda. O milagre da justiça que invocas virá pousar em ti com tanta certeza quanto nela. O Espírito Santo também não estará contente enquanto não for recebido por todos. Pois o que dás a Ele pertence a todos e, através da tua doação, Ele pode garantir que todos a recebam igualmente.

7. Pensa, então, em como será grande a tua liberação quando estiveres disposto a receber a correção de todos os teus problemas. Não guardarás nenhum deles, pois não irás querer dor em forma alguma. E verás cada pequeno ferimento sanado diante da vista gentil do Espírito Santo. Pois todos eles são pequenos na Sua vista e não valem mais do que um diminuto suspiro antes de desaparecerem para serem desfeitos para sempre e nunca mais relembrados. O que antes parecia ser um problema especial, um equívoco sem remédio ou uma aflição sem cura, foi transformado em uma bênção universal. O sacrifício se foi. E no seu lugar, o Amor de Deus pode ser lembrado e brilhará afastando toda a memória de sacrifício e perda.

8. Deus não pode ser lembrado enquanto a justiça não for amada, ao invés de temida. Ele é incapaz de ser injusto para com qual­quer pessoa ou coisa, porque sabe que tudo o que existe pertence a Ele e para sempre será conforme Ele o criou. Nada do que Ele ama pode deixar de ser sem pecado e estar além do ataque. A tua função especial abre de par em par a porta além da qual está a memória do Seu Amor, mantida perfeitamente intacta e sem mancha. E tudo o que precisas fazer é desejar que o Céu te seja dado no lugar do inferno e cada tranca ou barreira que parece manter a porta trancada com firmeza impedindo a passagem me­ramente se desfará e desaparecerá. Pois não é a Vontade do teu Pai que ofereças ou recebas menos do que Ele deu, quando te criou, em perfeito amor.


III. A zona da fronteira

1. A complexidade não é de Deus. Como poderia ser, quando tudo o que Ele conhece é uno? Ele conhece uma criação, uma realidade, uma verdade e apenas um Filho. Nada entra em con­flito com a unicidade. Como poderia, então, haver complexida­de Nele? O que há para decidir? Pois é o conflito que faz com que a escolha seja possível. A verdade é simples, ela é una, sem opostos. E como poderia a discórdia se introduzir em sua sim­ples presença e trazer complexidade aonde está a unicidade? A verdade não toma quaisquer decisões, pois não há opções entre as quais decidir. E só se houvesse é que a escolha poderia ser um passo necessário para avançar rumo à unicidade. O que é tudo não deixa espaço para nenhuma outra coisa. Entretanto, essa magnitude está além do alcance deste currículo. Também não há necessidade de tratarmos de algo que não pode ser imediata­mente apreendido.

2. Existe uma região fronteiriça do pensamento que se encontra entre esse mundo e o Céu. Não é um lugar e quando a alcanças, ela está à parte do tempo. Aqui é o ponto de encontro onde os pensamentos são trazidos para se encontrarem, onde os valores conflitantes se encontram e onde todas as ilusões são largadas ao lado da verdade, onde são julgadas como não sendo verdadeiras. Essa terra fronteiriça situa-se logo depois da porta do Céu. Aqui, todo pensamento se faz puro e totalmente simples. Aqui, o peca­do é negado e tudo que existe é recebido no seu lugar.

3. Esse é o fim da jornada. Temos nos referido a ele como o mun­do real. No entanto, existe aqui uma contradição, pelo fato de que as palavras implicam uma realidade limitada, uma verdade par­cial, um segmento do universo que se tomou verdadeiro. Isso se dá porque o conhecimento não ataca a percepção de forma algu­ma. Eles são levados a se encontrar e só um dos dois continua além da porta onde está a Unicidade. A salvação é uma fronteira onde o lugar, o tempo e a escolha ainda têm significado e, apesar disso, pode-se ver que são temporários, deslocados e que todas as escolhas já foram feitas.

4. Nada daquilo em que o Filho de Deus acredita pode ser des­truído. Mas, o que é verdade para ele tem que ser trazido à última comparação que ele jamais fará, à última avaliação possível, ao julgamento final a respeito desse mundo. É o julgamento da ilu­são pela verdade, da percepção pelo conhecimento: ‘Isso não tem significado e não existe.’ Essa não é a tua decisão. É apenas uma simples afirmação de um fato simples. Mas nesse mundo não existem fatos simples, porque o que é o mesmo e o que é diferente ainda não é claro. A única coisa essencial para se fazer qualquer escolha é essa distinção. E nisso está a diferença entre os mundos. Nesse, a escolha se fez impossível. No mundo real, escolher é simplificado.

5. A salvação pára bem perto do Céu, pois só a percepção neces­sita de salvação. O Céu nunca foi perdido e, portanto, não pode ser salvo. Entretanto, quem é capaz de tomar uma decisão entre o desejo do Céu e o desejo do inferno, a não ser que reconheça que eles não são o mesmo? Essa diferença é a meta do aprendi­zado que esse curso estabeleceu. Ele não irá além deste objetivo. Seu único propósito é ensinar o que é o mesmo e o que é diferen­te, abrindo espaço para que seja feita a única escolha que se pode fazer.

6. Não existe nenhuma base para qualquer escolha nesse mundo complexo e super-complicado. Pois ninguém compreende o que é o mesmo e parece escolher onde, na realidade, não existe nenhu­ma escolha. O mundo real é a área na qual a escolha se faz real, não no resultado, mas na percepção das alternativas para a esco­lha. Que exista escolha é uma ilusão. Entretanto, dentro dessa única está o desfazer de todas as outras, inclusive essa.

7. Não vês que isso é como a tua função especial, onde a separa­ção é desfeita através da mudança do propósito naquilo que antes era especialismo e agora é união? Todas as ilusões são apenas uma só. E no reconhecimento de que isso é assim, está a capaci­dade de desistir de todas as tentativas de escolher entre elas para fazer com que sejam diferentes. Como é simples a escolha entre duas coisas tão claramente distintas. Não há conflito aqui. Ne­nhum sacrifício é possível no abandono de uma ilusão reconheci­da como tal. Quando toda a realidade tiver sido retirada de tudo o que nunca foi verdadeiro, pode ser difícil desistir disso e esco­lher o que não pode deixar de ser verdadeiro?


IV. O espaço que o pecado deixou

1. O perdão é o equivalente que existe nesse mundo para a justiça no Céu. Ele traduz o mundo do pecado em uma simples palavra, onde se pode ver o reflexo da justiça que vem de além da porta atrás da qual está a ausência total de limites. Nada no amor sem limites poderia necessitar de perdão. E o que é caridade dentro desse mundo cede lugar à simples justiça depois da porta que se abre para o Céu. Ninguém perdoa a não ser que tenha acredita­do no pecado e ainda acredite que tem muito a ser perdoado. O perdão assim vem a ser o meio pelo qual ele aprende que nada fez que precise ser perdoado. O perdão sempre está naquele que o oferece, até que ele se veja como não tendo mais necessidade de ser perdoado. E deste modo ele é devolvido à sua função real de criar, que o seu perdão lhe oferece de novo.

2. O perdão faz com que o mundo do pecado venha a ser um mundo de glória, maravilhoso de se ver. Cada flor brilha na luz e cada pássaro canta a alegria do Céu. Não existe tristeza e não existe separação aqui, pois todas as coisas são totalmente perdoa­das. E o que foi perdoado tem que se unir, pois nada se interpõe entre eles para mantê-los separados e à parte. Os que não têm pecado não podem deixar de perceber que são um só, pois nada existe entre eles que empurre o outro para longe. E no espaço que o pecado deixou vazio, eles se unem como um só em conten­tamento, reconhecendo que o que é parte deles não foi mantido à parte nem separado.

3. O local santo onde tu estás é simplesmente o espaço que o pecado deixou. E aqui vês a face de Cristo, surgindo em seu lugar. Quem poderia contemplar a face de Cristo e não se lem­brar de Seu Pai como Ele realmente é? Quem poderia ter medo do amor e estar no lugar onde o pecado deixou um espaço para que o altar do Céu se erga em torres bem acima do mundo e alcance o que está além do universo para tocar o Coração de toda n criação? O que é o Céu senão uma canção de agradecimento, de amor e de louvor por todas as coisas criadas à Fonte da sua criação? O altar mais santo é erguido onde antes se acreditava que o pecado estivesse. E aqui vêm todas as luzes do Céu para se reabastecer e aumentar em alegria. Pois aqui, o que estava perdi­do é devolvido a elas e toda a sua radiância vem a ser íntegra outra vez.

4. Os milagres que o perdão traz para serem depositados diante da porta do Céu não são pequenos. Aqui, o próprio Filho de Deus vem receber cada uma das dádivas que o aproxima cada vez mais de sua casa. Nenhuma delas é perdida e nenhuma é mais valorizada do que outra. Cada uma lembra a ele o Amor do seu Pai com tanta certeza quanto as outras. E cada uma lhe ensina que o que ele temia é o que mais ama. Que outra coisa, além de um milagre, poderia fazer com que ele mudasse a sua mente de tal modo que passasse a compreender que o amor não pode ser temido? Que outro milagre existe além deste? E o que mais d preciso para fazer com que o espaço entre vós desapareça?

5. Onde o pecado antes era percebido surgirá um mundo que virá a ser um altar à verdade e lá unir-te-ás às luzes do Céu e cantarás a sua canção de gratidão e louvor. E na medida em que vêm a ti para serem completas, tu irás com elas. Pois ninguém ouve a canção do Céu e permanece sem uma voz que acrescente o seu poder à canção, fazendo com que ela seja ainda mais doce. E cada um se une ao canto no altar erguido dentro da mancha diminuta que o pecado proclamou ser propriedade dele. Se o que então era diminuto ressoa com a magnitude de uma canção no qual todo o universo se uniu com apenas uma única Voz.

6. O ponto diminuto de pecado que ainda se encontra entre tu e o teu irmão está impedindo a feliz abertura da porta do Céu. Como é pequeno o obstáculo que mantém a riqueza do Céu longe de ti. E como será grande a alegria no Céu quando te unires ao gran­dioso coro ao Amor de Deus!


V. O pequeno obstáculo

1. Um pequeno obstáculo pode parecer, de fato, grande para aqueles que não compreendem que todos os milagres são o mes­mo. Entretanto, esse curso existe para ensinar isso. Esse é o seu único propósito, pois isso é tudo o que existe para ser aprendido. E podes aprendê-lo de muitos modos diferentes. Todo aprendi­zado é uma ajuda ou um obstáculo para chegares à porta do Céu. Não existe nenhum intermediário que seja possível. Existem dois professores apenas que apontam para caminhos diferentes. E seguirás o caminho que o professor que tiveres escolhido te apontar. Não existem senão duas direções que possas tomar en­quanto o tempo permanece e a escolha tem significado. Pois nunca será feita uma outra estrada, exceto o caminho para o Céu. Tu apenas escolhes se deves ir na direção do Céu ou para longe dele, para lugar nenhum. Não há mais nada a escolher.

2. Nada jamais se perde a não ser o tempo, que no final não tem significado. Pois ele não é senão um pequeno obstáculo à eterni­dade, bastante insignificante para o Professor real do mundo. No entanto, uma vez que acreditas nele, por que deverias perdê-lo dirigindo-te a lugar nenhum, quando ele pode ser usado para alcançar a meta mais elevada que o aprendizado pode realizar? Não penses que o caminho até a porta do Céu seja difícil. Nada que empreendas com propósito certo, resolução firme e alegre confiança, segurando a mão do teu irmão e marcando passo no ritmo da canção do Céu, é difícil de fazer. Mas, de fato, é duro vagar sozinho e miserável, descendo uma estrada que não leva a nada e que não tem propósito.

3. Deus deu o Seu Professor para substituir o professor que fizes­te, não para entrar em conflito com ele. E o que Ele quer substi­tuir, foi substituído. O tempo não durou senão um instante em tua mente, sem nenhum efeito sobre a eternidade. E assim todo o tempo é o passado e todas as coisas são exatamente como eram antes que fosse feito o caminho para o nada. O diminuto tic-tac do tempo no qual foi feito o primeiro equívoco e todos eles den­tro desse único, também continha a Correção daquele equívoco e de todos os que vieram dentro do primeiro. E naquele instante diminuto o tempo desapareceu, pois isso foi tudo o que ele ja­mais foi. Aquilo a que Deus deu uma resposta foi respondido e desapareceu.

4. A ti, que ainda acreditas que vives no tempo e não sabes que ele se foi, o Espírito Santo ainda guia através do labirinto infinita­mente pequeno e sem sentido que ainda percebes no tempo, em­bora ele tenha desaparecido há muito. Pensas que vives no que é passado. Cada coisa-que olhas, não viste senão por um instante, há muito tempo atrás, antes que a sua irrealidade desse lugar à verdade. Nenhuma ilusão permanece ainda sem resposta na tua mente. A incerteza foi trazida à certeza há tanto tempo que é, de fato, duro mantê-la junto ao teu coração como se ainda estivesse diante de ti.

5. O instante diminuto que queres guardar e fazer com que seja eterno passou e sumiu no Céu depressa demais para que se pu­desse notar que ele tivesse vindo. O que desapareceu tão rápido que nem pôde afetar o simples conhecimento do Filho de Deus dificilmente pode ainda encontrar-se lá, para que tu o escolhas como teu professor. Só no passado – um passado remoto, por demais curto para fazer um mundo em resposta à criação – esse mundo pareceu surgir. Há tanto, tanto tempo atrás, por um intervalo de tempo tão diminuto, que nenhuma nota na canção do Céu se perdeu. No entanto, em cada ato ou pensamento sem perdão, em cada julgamento e em toda a crença no pecado esse único instante ainda é chamado de vo1ta, como se ele pudesse ser reconstituído no tempo. Guardas diante dos olhos uma memória antiga. E aquele que vive apenas em memórias não está ciente de onde está.

6. O perdão é o grande liberador do tempo. É a chave para se aprender que o passado se foi. A loucura não fala mais. Não nenhum outro professor e nenhum outro caminho. Pois o que foi desfeito já não mais existe. E quem pode se encontrar em uma costa distante e sonhar consigo mesmo como se estivesse do ou­tro lado do oceano, em um tempo e lugar que há muito já desapareceram? Em que medida esse sonho pode ser um obstáculo real para o lugar aonde ele realmente está? Pois isso é fato e não muda quaisquer que sejam os sonhos que ele tenha. Contudo, ele ainda pode imaginar que está em outro lugar e em outro tem­po. Nas formas extremas, ele pode se deludir a ponto de acredi­tar que isso é verdadeiro e passar de mera imaginação a ser algo no qual ele acredita e depois à loucura, extremamente convenci­do de que está aonde prefere estar.

7. Isso é um obstáculo para o lugar onde ele se encontra? Qual­quer eco do passado que ele possa ouvir por acaso é um fato no que existe para ser ouvido onde ele está agora? E em que medi­da podem as suas ilusões acerca de tempo e espaço efetuar uma mudança aonde ele realmente está?

8. O que não foi perdoado é uma voz que chama de um passado que se foi para sempre. E todas as coisas que apontam para ele como se fosse real não passam de um desejo de que o que passou possa tomar-se real outra vez e ser visto como aqui e agora, no lugar do que é realmente agora e aqui. É isso um obstáculo à ver­dade de que o passado se foi e não pode voltar para ti? E queres guardar aquele instante amedrontador, quando o Céu aparente­mente desapareceu e Deus foi temido e veio a ser feito como um símbolo do teu ódio?

9. Esquece o tempo do terror que há tanto tempo foi corrigido e desfeito. É possível que o pecado enfrente a Vontade de Deus? Pode depender de ti ver o passado e colocá-lo no presente? Não podes voltar atrás. E todas as coisas que apontam o caminho na direção do passado apenas colocam para ti uma missão cuja realização só pode ser irreal. Tal é a justiça que o teu Pai, que é Todo Amor, garantiu que tem que vir a ti. E da tua própria falta de eqüidade contigo mesmo, Ele te protegeu. Não podes perder o teu caminho porque não existe caminho que não seja o Seu e nenhum lugar a que possas ir a não ser a Ele.

10. Permitiria Deus que Seu Filho perdesse o seu caminho em uma tenda muito tempo depois da memória do tempo ter passado? Esse curso só vai te ensinar o que é agora. Um instante terrível no passado distante, agora perfeitamente corrigido, não causa preocupação nem tem valor. Permite que os mortos que se foram sejam esquecidos em paz. A ressurreição veio para tomar o seu lugar. E agora fazes parte da ressurreição e não da morte. Ne­nhuma ilusão passada tem o poder de te manter em um lugar de morte, uma câmara mortuária em que o Filho de Deus penetrou por um instante para ser instantaneamente devolvido ao Amor perfeito de seu Pai. E como é possível que ele seja mantido em correntes que há muito foram removidas e desapareceram para sempre da sua mente?

11. O Filho, a quem Deus criou, é tão livre quanto era quando Deus o criou. Ele renasceu no instante em que escolheu morrer da invés de viver. E tu não irás perdoá-lo agora porque ele fez um erro no passado, do qual Deus não Se lembra e que não está presente? Agora estás te deslocando para trás e para frente entre o passado e o presente. Algumas vezes o passado parece real, como se fora o presente. Vozes do passado são ouvidas e, então, se duvida. Tu te pareces com alguém que ainda tem alucinações, mas a quem falta convição naquilo que percebe. Essa é a zona fronteiriça entre os mundos, a ponte entre o passado e o presente. Aqui, a sombra do passado permanece, mas ainda assim uma luz presente é vagamente reconhecida. Uma vez que é vista, essa luz não pode nunca ser esquecida. Ela não pode deixar de atrair-te do passado para o presente, onde realmente estás.

12. As vozes das sombras não mudam as leis do tempo nem da eternidade. Elas vêm daquilo que é passado e se foi e não obs­truem a verdadeira existência do aqui e agora. O mundo real é a segunda parte da alucinação segundo a qual o tempo e a morte são reais e têm uma existência que pode ser percebida. Essa ter­rível ilusão foi negada em nada mais do que o tempo que Deus levou para dar a Sua Resposta à ilusão por todos os tempos e em quaisquer circunstâncias. E a partir e então ela não mais existiu para ser vivenciada como se fosse o presente.

13. A cada dia e em cada minuto de cada dia e em cada instante que cada minuto contém, tu apenas revives o único instante em que o tempo do terror tomou o lugar do amor. E assim morres a cada dia para viver outra vez, até que atravesses a brecha entre o passado e o presente, que não é absolutamente uma brecha. Assim é cada vida: um aparente intervalo do nascimento à morte e mais uma vez à vida, uma repetição de um instante que se foi há muito e que não pode ser revivido. E tudo o que existe do tempo não passa da crença louca segundo a qual o que passou ainda está aqui e agora.

14. Perdoa o passado e deixa-o ir, pois ele já se foi. Tu já não te encontras na terra que está entre os dois mundos. Foste adiante e alcançaste o mundo que está na porta do Céu. Não existe ne­nhum obstáculo para a Vontade de Deus, nem existe necessidade alguma de que mais uma vez repitas a jornada que terminou há tanto tempo atrás. Olha gentilmente para o teu irmão e contem­pla o mundo no qual a percepção do teu ódio foi transformada em um mundo de amor.


VI. O Amigo indicado

1. Qualquer coisa nesse mundo que acredites seja boa, de valor e digna de se lutar por ela, pode te ferir e o fará. Não porque tenha o poder de ferir, mas apenas porque negaste que ela não passa de uma ilusão e fizeste com que fosse real. E é real para ti. Ela dei­xou de ser nada. E através da realidade que é percebida nela introduziu-se todo o mundo das ilusões doentias. Toda crença no pecado, no poder do ataque, no ferimento e no dano, no sacrifício e na morte, veio a ti. Pois ninguém pode fazer com que uma única ilusão seja real e escapar ao resto. Pois quem pode escolher manter aquelas que prefere e achar a segurança que só a verdade pode dar? Quem pode acreditar que todas as ilusões são a mesma e ainda assim afirmar que uma delas é melhor?

2. Não leves a tua pequena vida em solidão, com uma ilusão como teu único amigo. Essa amizade não é digna do Filho de Deus e nem poderia ele permanecer contente. Entretanto, Deus deu a ele um Amigo melhor, no qual descansa todo o poder na terra e no Céu. Aquela única ilusão que consideras amiga, obscu­rece a Sua graça e a Sua majestade para ti e afasta a Sua amizade e o Seu perdão do teu abraço de boas-vindas. Sem Ele, não tens amigos. Não busques outro amigo para tomar o Seu lugar. Não existe nenhum outro amigo. O que Deus designou não tem substitutos, pois que ilusão é capaz de substituir a verdade?

3. Aquele que habita com as sombras está sozinho, de fato, e a solidão não é a Vontade de Deus. Permitirias que uma sombra usurpasse o trono que Deus designou para o teu Amigo, se apenas conhecesses que por ele estar vazio o teu ficou vago e desocupa­do? Não faças de nenhuma ilusão um amigo, pois se o fizeres, ela não pode deixar de tomar o lugar Daquele Que Deus chamou teu Amigo. E é Ele o teu único Amigo na verdade. Ele te traz dádi­vas que não são desse mundo e somente Ele, a Quem elas foram dadas, pode garantir que tu as receba. Ele as colocará no teu tro­no quando deres lugar a Ele no Seu.


VII. As leis da cura

1. Esse é um curso em milagres. Como tal, as leis da cura têm que ser compreendidas antes que o propósito do curso possa ser realizado. Vamos rever os princípios que colocamos e organiza-­los de uma forma que resuma tudo o que é preciso que aconteça para que a cura seja possível. Pois uma vez que é possível, ela não pode deixar de ocorrer.

2. Toda doença vem da separação. Quando a separação é negada, ela se vai. Pois se vai assim que a idéia que a trouxe é curada e substituída pela sanidade. A doença e o pecado são vistos como conseqüência e causa, em um relacionamento que é mantido fora da consciência para que ele possa ser cuidadosamente preservado da luz da razão.

3. A culpa pede punição e o seu pedido é concedido. Não na verdade, mas no mundo de sombras e ilusões construído sobre o pecado. O Filho de Deus percebeu o que ele queria ver porque a percepção é um desejo realizado. A percepção muda, tendo sido feita para tomar o lugar do conhecimento imutável. No entanto, a verdade não muda. Ela não pode ser percebida, mas apenas conhecida. O que é percebido toma muitas formas, mas nenhu­ma tem significado. Trazido à verdade, a sua falta de sentido é bem evidente. Mantido à parte da verdade, parece ter significa­do e ser real.

4. As leis da percepção são opostas à verdade e o que é verdadeiro com relação ao conhecimento não é verdadeiro com relação a coisa alguma que esteja à parte dele. Entretanto, Deus deu uma resposta ao mundo da doença que se aplica a todas as suas formas. A resposta de Deus é eterna, embora trabalhe no tempo, onde é necessária. Entretanto, porque ela é de Deus, as leis do tempo não afetam as suas obras. Ela está nesse mundo, mas não é parte dele. Pois é real e habita onde toda a realidade tem que estar. Idéias não deixam a sua fonte e os seus efeitos apenas parecem estar à parte delas. Idéias são da mente. O que é projetado para fora parece ser externo à mente, não está fora em absoluto, mas é um efeito do que está dentro e não deixou a sua fonte.

5. A resposta de Deus está onde a crença no pecado tem que estar, pois só lá os seus efeitos podem ser completamente desfeitos e deixar de ter causa. As leis da percepção têm que ser revertida., pois são reversões das leis da verdade. As leis da verdade serão verdadeiras para sempre e não podem ser revertidas; no entanto, podem ser vistas de cabeça para baixo. E isso tem que ser corrigido exatamente onde está a ilusão da reversão.

6. É impossível que uma ilusão seja menos passível de ser condu­zida à verdade do que as outras. Mas é possível que a algumas seja dado maior valor, e essas tens menos disposição de oferecer à verdade para serem curadas e ajudadas. Nenhuma ilusão contém qualquer verdade em si mesma. No entanto, algumas parecem ser mais verdadeiras do que outras, embora isso claramente não faça sentido algum. Tudo o que uma hierarquia de ilusões pode revelar é preferência, não realidade. Que relevância tem a prefe­rência para a verdade? Ilusões são ilusões e são falsas. A tua preferência não lhes confere realidade. Nenhuma delas é verdadeira em nenhum aspecto e todas têm que se render com a mesma facilidade àquilo que Deus deu como resposta para todas elas. A Vontade de Deus é uma só. E qualquer desejo que pareça ir contra a Sua Vontade não tem fundamento na verdade.

7. O pecado não é erro, pois ele vai além da correção para a impossibilidade. Entretanto, a crença em que o pecado é real fez com que alguns erros parecessem estar para sempre além da esperança de serem curados, sendo justificativas permanentes para o inferno. Se isso fosse assim, ao Céu se oporia a própria oposi­ção celeste, tão real quanto ele. E então a Vontade de Deus estaria partida em duas e toda a criação estaria sujeita às leis de dois poderes opostos, até que Deus se tornasse impaciente, partisse o mundo em dois e relegasse o ataque a Si Mesmo. Nesse caso, Ele de fato teria enlouquecido*, proclamando que o pecado usurpou a Sua realidade e afinal trouxe o Seu Amor para ser depositado aos pés da vingança. Para um retrato de tal modo insano, se espera uma defesa insana, mas ela não pode determinar que tal retrato seja necessariamente verdadeiro.

8. Nada confere significado onde não há significado. E a verdade não necessita de defesas que façam com que ela seja verdadeira. As ilusões não têm testemunhas e não têm efeitos. Quem olha para elas apenas se ilude. O perdão é a única função aqui e serve para trazer a alegria que esse mundo nega a cada aspecto do Filho de Deus onde se pensava que o pecado reinasse. Talvez não vejas o papel que o perdão desempenha no término da morte de todas as crenças que surgem das névoas da culpa. Os peca­dos são crenças que impões entre tu e o teu irmão. Eles te limi­tam ao tempo e ao lugar e deixam um espaço pequeno para ti e outro espaço pequeno para ele. Essa separação é simbolizada, na tua percepção, por um corpo que é claramente separado, uma coisa à parte. Entretanto, o que esse símbolo representa não é senão o teu desejo de ser separado e à parte.

9. O perdão retira aquilo que está entre tu e o teu irmão. Ele é o desejo de que estejas unido a ele e não à parte. Nós o chamamos ‘desejo’ porque ele ainda concebe outras escolhas e ainda não alcançou o que está inteiramente além do mundo das opções. Entretanto, esse desejo está de acordo com o estado do Céu e não se opõe à Vontade de Deus. Embora ele ainda não te dê a tua herança plena, remove os obstáculos que colocaste entre o Céu, onde estás, e o reconhecimento de onde estás e do que és. Os fatos não mudam. Contudo, fatos podem ser negados e assim desconhecidos, embora fossem conhecidos antes de terem sido negados.

10. A salvação, perfeita e completa, não pede senão um pequeno desejo de que o que é verdadeiro seja verdadeiro, um pouco de boa vontade para não ver o que não está presente, um pequeno suspiro que fale em favor do Céu como uma preferência em vez desse mundo no qual a morte e a desolação parecem reinar. Em alegre resposta a isso a criação surgirá dentro de ti para substituir o mundo que vês pelo Céu totalmente perfeito e completo. O que é o perdão senão uma disposição da vontade para que a verdade seja verdadeira? O que pode permanecer incurado e quebrado em uma Unidade Que contém em Si todas as coisas? Não existe pecado. E todo milagre é possível no instante em que o Filho de Deus percebe que seus desejos e a Vontade de Deus são um só.

11. O que é a Vontade de Deus? A Sua Vontade é que Seu Filho tenha tudo. E isso Ele garantiu quando o criou sendo tudo. É impossível que qualquer coisa seja perdida, se o que tens é o que és. Esse é o milagre pelo qual a criação veio a ser a tua função, compartilhando-a com Deus. Ela não é compreendida à parte Dele e, portanto, não tem significado nesse mundo. Aqui, o Filho de Deus não pede muito, mas pouco demais. Ele sacrificaria a sua própria identidade com todas as coisas, para achar um pe­queno tesouro só seu. E isso ele não pode fazer sem sentir isolamento, perda e solidão. Esse é o tesouro que ele buscou achar. E só poderia temê-lo. É o medo um tesouro? É possível que a incerteza seja o que queres? Ou isso é um equívoco a respeito da tua vontade e do que realmente és?

12. Vamos considerar o que é o erro, para que ele possa ser corrigi­do e não protegido. O pecado é a crença em que o ataque pode ser projetado para fora da mente onde surgiu essa crença. Aqui a firme convição de que idéias podem deixar a sua própria fonte se faz real e significativa. E desse erro surge o mundo do pecado e do sacrifício. Esse mundo é uma tentativa de provar a tua ino­cência, enquanto valorizas o ataque. O seu fracasso está no fato de que ainda te sentes culpado, embora não compreendas por quê. Os efeitos são vistos como se fossem separados de sua fonte e parecem estar além do teu poder de controlá-los ou impedi-los. O que é assim mantido à parte nunca pode unir-se.

13. Causa e efeito não são duas coisas separadas, mas uma só. Deus quer que aprendas o que sempre foi verdadeiro: que Ele te criou como parte Dele e isso ainda tem que ser verdadeiro por­que idéias não deixam a sua fonte. Tal é a lei da criação: que cada idéia que a mente concebe apenas adiciona à sua abundância, nunca tira coisa alguma. Isso é tão verdadeiro em relação ao que é desejado de maneira vã, quanto ao que a vontade quer verda­deiramente, porque a mente pode desejar se enganar, mas não pode fazer de si própria o que não é. E acreditar que idéias são capazes de deixar a sua fonte é convidar ilusões a serem verdadeiras, sem sucesso. Pois nunca será possível ter sucesso na tentativa de enganar o Filho de Deus.

14. O milagre é possível quando causa e conseqüência são reuni­das e não mantidas separadas. A cura dos efeitos sem a causa apenas pode deslocar os efeitos para outras formas. E isso não é liberação. O Filho de Deus jamais poderia contentar-se com me­nos do que a salvação plena e o escape da culpa. De outro modo, ele ainda exige ter que fazer algum sacrifício e assim nega que tudo é seu, ilimitado por qualquer tipo de perda. Um sacrifício diminuto é exatamente a mesma coisa, em seus efeitos, que toda a idéia de sacrifício. Se qualquer forma de perda é possível, en­tão o Filho de Deus se faz incompleto e não é ele mesmo. E ele também não conhecerá a si mesmo nem reconhecerá a sua vontade. Ele renegou o seu Pai e a si mesmo e fez de ambos seus inimigos no ódio.

15. Ilusões servem ao propósito para o qual foram feitas. E de seu propósito deriva qualquer significado que pareçam ter. Deus deu a todas as ilusões que foram feitas outro propósito, que justi­ficaria um milagre, qualquer que seja a forma que tenham toma­do. Em todo milagre está toda a cura, pois Deus respondeu a todas como uma só. E o que é um para Ele tem que ser o mesmo. Se acreditas que o que é o mesmo é diferente, tu apenas te enga­nas. O que Deus chama como um só será para sempre um, não separado. Seu Reino é unido, assim foi criado e assim será para sempre.

16. O milagre apenas te chama pelo teu antigo Nome, o qual reco­nhecerás porque a verdade está na tua memória. E por esse Nome o teu irmão te chama, para a sua liberação e a tua. O Céu está brilhando sobre o Filho de Deus. Não o negues, para que possas ser liberado. A cada instante o Filho de Deus renasce até que escolha não morrer mais. Em cada desejo de ferir ele escolhe a morte em vez daquilo que é a Vontade do seu Pai para ele. Porém, cada instante lhe oferece a vida porque a Vontade do seu Pai é que ele viva.

17. Na crucificação está depositada a redenção, pois a cura não é necessária onde não existe dor nem sofrimento. O perdão é a resposta para qualquer espécie de ataque. Assim, o ataque é pri­vado de seus efeitos e o ódio é respondido em nome do amor. A ti, a quem foi dado salvar o Filho de Deus da crucificação, do inferno e da morte, toda a glória seja dada para sempre. Pois tens poder para salvar o Filho de Deus porque foi essa a Vontade do seu Pai. E nas tuas mãos está toda a salvação, para ser tanto oferecida a ele quanto recebida por ti como uma única coisa.

18. Usar o poder que Deus te deu do mesmo modo como Ele o usaria é natural. Não é arrogante ser como Ele te criou, nem fazer uso do que Ele deu para responder a todos os equívocos do Seu Filho e libertá-lo. Mas é arrogante deixar de lado o poder que Ele te deu e escolher um pequeno desejo sem sentido no lugar da Sua Vontade. A dádiva de Deus a ti é sem limites. Não existe nenhuma circunstância à qual ela não possa responder e não existe nenhum problema que não se resolva dentro da sua luz amável.

19. Habita em paz, onde Deus quer que estejas. E sejas tu o meio pelo qual o teu irmão ache a paz na qual os teus desejos se realizem. Vamos nos unir para trazer bênçãos ao mundo do pecado e da morte. Pois o que pode salvar cada um de nós pode salvar a todos. Não há diferença entre os Filhos de Deus. A unidade que o especialismo nega irá salvá-los todos, pois o que é um não pode ter especialismo. E tudo pertence a cada um. Não existem dese­jos que se interponham entre um irmão e o que lhe é próprio. Tirar de um é destituir a todos. E, no entanto, abençoar apenas um dá a benção a todos em um só.

20. O teu Nome antigo pertence a todos, assim como o de todos te pertence. Chama pelo nome do teu irmão e Deus responderá, pois O chamas. Poderia Ele recusar-Se a responder quando já respondeu a todos os que chamam por Ele? Um milagre não pode fazer mudança alguma. Mas pode fazer com que o que sempre foi verdadeiro seja reconhecido por aqueles que não têm conhecimento disso e, através dessa pequena dádiva da verdade, se permite que o que sempre foi verdadeiro seja o que é, que o Filho de Deus seja ele mesmo e que toda a criação seja libertada para invocar o Nome de Deus como um só.


VIII. A iminência da salvação

1. O único problema que permanece para ti é o fato de veres um intervalo entre o momento em que perdoas e o momento em que vais receber os benefícios de confiar em teu irmão. Isso apenas reflete o pouco que tu queres manter entre tu e o teu irmão, de maneira que tu e ele possam ser um pouco separados. Pois o tempo e o espaço são uma ilusão única, que toma formas diferen­tes. Se foi projetada além da tua mente, pensas nela como tempo. Quanto mais é trazida para perto de onde está a tua mente, tanto mais pensas nela em termos de espaço.

2. Há uma distância que queres manter em relação ao teu irmão, e esse espaço tu percebes como o tempo porque ainda acreditas que és exterior a ele. Isso faz com que a confiança seja impossí­vel. E não podes acreditar agora que a confiança resolveria todos os problemas. Assim, pensas que é mais seguro continuar sendo um tanto cuidadoso, velando um pouco pelos interesses que são percebidos como separados. A partir dessa percepção, não podes conceber ganhar o que o perdão oferece agora. O intervalo que pensas que existe entre o dar e o receber da dádiva parece ser um intervalo no qual tu te sacrificas e sofres com a perda. Vês uma salvação eventual, não resultados imediatos.

3. A salvação é imediata. A não ser que a percebas assim, terás medo da salvação, acreditando que o risco de perda é grande en­tre o momento em que o seu propósito passa a ser o teu e o mo­mento em que os seus efeitos virão a ti. Nessa forma, o erro que é a fonte do medo ainda está obscuro. A salvação iria apagar o es­paço que ainda vês entre vós e permitiria que viésseis a ser um instantaneamente. E é aqui que temes que a perda possa estar. Não projetes esse medo no tempo, pois o tempo não é o inimigo que percebes. O tempo é tão neutro quanto o corpo, exceto em termos da função que vês para ele. Se ainda queres manter um pequeno espaço entre tu e o teu irmão, então queres um pequeno intervalo no qual o perdão é negado por algum tempo. E isso só faz com que o intervalo entre o momento em que o perdão é nega­do a ti e o momento no qual ele é dado pareça perigoso, justifican­do o terror.

4. No entanto, o espaço entre tu e o teu irmão só é aparente no presente, agora, e não pode ser percebido no tempo futuro. E também não pode deixar de ser visto, exceto dentro do presente. O teu medo não é a perda futura. Ao contrário, o que te aterrori­za é a união presente. Quem pode sentir desolação a não ser agora? Uma causa futura ainda não tem efeitos. E, portanto, se tens medo é preciso que exista uma causa presente. E é isso o que necessita de correção, não um estado futuro.

5. Os planos, que fazes para ter segurança são colocados no futu­ro, onde não podes planejar. Nenhum propósito foi ainda dado a ele e o que irá acontecer ainda não tem causa. Quem pode pre­ver efeitos sem uma causa? E quem poderia temer efeitos a não ser que pense que já foram causados e os tenha julgado desastrosos agora? A crença no pecado faz surgir o medo e ele, assim como a sua causa, olha para frente, olha para trás, mas não vê o que está aqui e agora. No entanto, é só aqui e agora que a sua causa tem que estar, se seus efeitos já foram julgados amedronta­dores. E não vendo isso, ela fica protegida e separada da cura. Pois um milagre é agora. Ele já está aqui, em graça presente, dentro do único intervalo de tempo que o pecado e o medo não viram, mas que é tudo o que existe do tempo.

6. A realização de toda correção não toma tempo algum. Entre­tanto, a aceitação disso pode parecer durar para sempre. A mu­dança de propósito que o Espírito Santo trouxe para o teu relacio­namento tem em si todos os efeitos que verás. Eles podem ser contemplados agora. Por que esperar até que se desdobrem no tempo e temer que possam não vir, embora já estejam aqui? Foi dito a ti que todas as coisas que vêm de Deus trazem o bem. E no entanto parece que não é assim. É difícil dar crédito antecipado ao bem que se apresenta de forma desastrosa. Não há realmente sentido nessa idéia.

7. Por que deveria o bem aparecer em forma de mal? E não é um engano, se aparece assim? A sua causa está aqui, se ele se mani­festa de qualquer maneira que seja. Por que, então, não são apa­rentes os seus efeitos? Por que no futuro? E buscas te contentar com suspiros, ‘raciocinando’ que não compreendes isso agora, mas irás compreender algum dia. E então o seu significado fica­rá claro. Isso não é razão, pois é injusto e claramente sugere uma punição enquanto o momento da liberação não chega. Dado que houve uma mudança de propósito para o bem, não há razão para um intervalo no qual um desastre se abate sobre ti, para ser um dia percebido como ‘bem’, mas agora em forma de dor. Isso é um sacrifício do agora, que não pode ser o custo que o Espírito Santo cobraria pelo que Ele deu sem qualquer custo.

8. Entretanto, essa ilusão tem uma causa que, embora falsa, não pode deixar de já estar na tua mente. E essa ilusão não é senão um efeito que ela engendra e uma forma na qual o seu resultado é percebido. Esse intervalo no tempo, quando a punição é perce­bida como a forma na qual o ‘bem’ aparece, não é senão um aspecto do pequeno espaço que se interpõe entre vós, mas que ainda não foi perdoado.

9. Não te contentes com a felicidade futura. Ela não tem significa­do e não é a recompensa justa para ti. Pois tens uma causa para ter liberdade agora. Que proveito tem a liberdade na forma de um prisioneiro? Por que a liberação deve se disfarçar em morte? O adiamento não faz sentido e o ‘raciocínio’, segundo o qual os efeitos de uma causa presente têm que ser adiados para um tempo futuro, simplesmente é uma negação do fato de que a conseqüên­cia e a causa têm que vir juntas como uma só. Não olhes para o tempo, mas para o pequeno espaço que ainda está entre vós, do qual ambos têm que ser libertados. E não permitais que ele seja disfarçado em tempo e assim preservado porque sua forma mu­dou e o que ele é não pode ser reconhecido. O propósito do Espí­rito Santo agora é o teu. A Sua felicidade não deveria ser tua também?


IX. Pois Eles vieram

1. Pensa em como tens que ser santo, já que a partir de ti a Voz que fala por Deus chama pelo teu irmão amorosamente, de tal modo que possas despertar nele a Voz que responde ao teu chamado! E pensa em como ele tem que ser santo, quando nele dorme a tua própria salvação unida à sua liberdade! Por mais que desejes que ele seja condenado, Deus está nele. E nunca saberás que Deus também está em ti, enquanto atacares a casa que Ele escolheu e lutares contra o Seu anfitrião. Considera-o com gentileza. Olha com olhos amorosos para aquele que carrega Cristo dentro de si, de modo que possas contemplar a sua glória e regozijar-te porque o Céu não está separado de ti.

2. É muito pedir um pouco de confiança naquele que carrega Cris­to para ti, para que possas ser perdoado por todos os teus pecados sem excluir nenhum que ainda queiras valorizar? 2Não te esque­ças de que uma sombra mantida entre ti e o teu irmão obscurece a face de Cristo e a memória de Deus. 3E tu Os trocarias por um antigo ódio? 4A terra em que estás é terra santa por causa Deles, Que estando nela contigo a abençoaram com a Sua inocência e Sua paz.

3. O sangue do ódio se desvanece para deixar que a grama verde cresça outra vez e as flores sejam todas brancas e resplandecentes no sol de verão. O que foi um lugar de morte agora veio a ser um templo vivo em um mundo de luz. Por causa Deles. É a Presença Deles que elevou a santidade para retomar o seu antigo lugar sobre um antigo trono. Por causa Deles, milagres brotaram como grama e flores na terra árida que o ódio havia queimado e deixado desolada. O que o ódio engendrou, Eles desfizeram. E agora estás em uma terra tão santa que o Céu se inclina para unir-se a ela e fazer com que ela seja como ele próprio. A sombra de um antigo ódio se foi e todas as pragas e toda a aridez deixaram para sempre a terra à qual Eles vieram.

4. O que são cem ou mil anos para Eles, ou dezenas de milhares de anos? Quando Eles vêm, o propósito do tempo está cumpri­do. O que nunca existiu, some no nada quando Eles vêm. O que o ódio reivindicava para si é entregue ao amor e a liberdade ilu­mina cada coisa viva elevando-a até o Céu, onde as luzes se tor­nam cada vez mais brilhantes à medida em que cada uma retoma ao lar. O incompleto se faz completo outra vez e a alegria do Céu foi aumentada porque o que lhe é próprio foi restituído a ele. A terra ensangüentada está limpa e os insanos despiram-se de suas vestes de insanidade para unirem-se a Eles na terra onde tu estás.

5. O Céu é grato por essa dádiva do que foi por tanto tempo negado. Pois Eles vieram para reunir o que é Deles. O que estava enclausurado, está aberto; o que era mantido à parte da luz é entregue para que a luz possa brilhar sobre tudo isso, sem deixar espaço ou distância alguma entre a luz do Céu e o mundo.

6. O mais santo de todos os lugares da terra é aquele onde um antigo ódio veio a ser um amor presente. E Eles vêm rapidamen­te para o templo vivo, onde um lar para Eles foi preparado. Não há lugar mais santo no Céu. E Eles vieram para habitar dentro do templo que Lhes foi oferecido, para que esse seja um lugar de descanso para Eles assim como para ti. Aquilo que o ódio liberou para o amor vem a ser a luz mais brilhante na radiância do Céu. E todas as luzes no Céu são mais brilhantes agora, em gratidão pelo que foi restaurado.

7. Em torno de ti anjos pairam amorosamente para manter dis­tantes todos os pensamentos escuros de pecado e manter a luz aonde ela penetrou. As marcas dos teus passos iluminam o mun­do, pois onde caminhas, o perdão vai alegremente contigo. Nin­guém na terra deixa de dar graças àquele que restaurou a sua casa e a abrigou do inverno amargo e do frio que congela. E será que o Senhor do Céu e Seu Filho darão menos em gratidão por tanto mais?

8. Agora, o templo do Deus vivo está reconstruído outra vez como anfitrião para Aquele por Quem foi criado. Onde Ele habi­ta, o Seu Filho habita com Ele, nunca separado. E Eles dão graças porque afinal são bem-vindos. Onde estava uma cruz, agora está o Cristo ressurgido e antigas cicatrizes são curadas pelo que Ele vê. Um antigo milagre veio para abençoar e para substituir uma antiga inimizade que tinha vindo para matar. Em gentil gratidão a Deus, o Pai e o Filho retornam ao que é Deles e será para sempre. Agora o propósito do Espírito Santo está consumado. Pois eles vieram! Pois Eles vieram afinal!


X. O fim da injustiça

1. Nesse caso o que permanece ainda por ser desfeito para que reconheças a Presença Deles? Apenas isso: tens uma perspectiva diferenciada quando pensas que o ataque é justificado, e quando pensas que ele não é justo e não deve ser permitido. Quando o percebes como injusto, pensas que uma resposta raivosa agora é justa. E assim vês o que é o mesmo como diferente. A confusão não é limitada. Se ela ocorre, seja como for, será total. E a sua presença, em qualquer forma que seja, esconderá a Presença De­les. Eles são conhecidos com clareza ou simplesmente não são. A percepção confusa irá bloquear o conhecimento. A questão não é o tamanho da confusão ou quanto ela interfere. A sua simples presença fecha a porta à Presença Deles e Os mantém desconhecidos.

2. O que significa perceber que o ataque em certas formas é injus­to para contigo? Significa que devem existir formas nas quais pensas que ele é justo. Pois, de outro modo, como poderiam al­gumas ser avaliadas como injustas? Portanto, dás significado a algumas e essas são percebidas como razoáveis. E só algumas são vistas como sem significado. E isso nega o fato de que todas são sem sentido, igualmente sem causa ou conseqüência e não podem ter efeitos de qualquer espécie. A Presença Deles é obscu­recida por qualquer véu que se interponha entre a brilhante ino­cência Deles e a tua consciência de que essa inocência é tua e pertence igualmente a todas as coisas vivas junto contigo. Deus não limita. E o que é limitado não pode ser o Céu. Portanto, tem que ser o inferno.

3. A injustiça e o ataque são um único equívoco, tão firmemente unidos que onde um deles é percebido, o outro tem que ser visto. Não podes tratado de forma injusta. Se acreditas que és, isso é apenas uma outra forma da idéia segundo a qual és destituído por alguém que não é o teu próprio ser. A projeção da causa ao sacrifício está na raiz de todas as coisas que percebes como injustas para ti e não como as recompensas que te são devidas. No entanto, tu pedes isso a ti mesmo, em profunda injustiça para com o Filho de Deus. Não tens inimigos exceto tu mesmo e, de fato, és um inimigo para ele porque não o conheces como a ti mesmo. O que poderia ser mais injusto do que ele ser destituído do que ele é, que o direito de ser ele mesmo lhe seja negado e que lhe seja pedido para sacrificar o amor do seu Pai e o teu, como se não lhe fossem devidos?

4. Que estejas atento para a tentação de perceberes a ti mesmo sendo tratado injustamente. Nessa perspectiva, buscas achar uma inocência que não é Deles, mas apenas tua e ao custo da culpa de alguma outra pessoa. É possível que a inocência seja comprada se deres a tua culpa a uma outra pessoa? E é a inocência que o teu ataque a ela tenta obter? Não é a punição pelo teu próprio ataque ao Filho de Deus que buscas? Não é mais seguro acreditares que és inocente em relação a isso e estás sendo vitimado apesar da tua inocência? Qualquer que seja a forma na qual é jogado o jogo da culpa, tem que haver perda. Alguém tem que perder a própria inocência para que alguma outra pessoa possa tirá-la dele, fazen­do com que seja sua.

5. Pensas que o teu irmão é injusto para contigo porque pensas que alguém tem que ser injusto para fazer com que o outro seja inocente. E nesse jogo percebes o único propósito para todo o teu relacionamento. E isso buscas acrescentar ao propósito que foi dado a ele. O propósito do Espírito Santo é permitir que a Pre­sença dos teus Hóspedes santos seja conhecida por ti. E a esse propósito nada pode ser acrescentado, pois o mundo não tem nenhum propósito exceto esse. Acrescentar ou retirar dessa úni­ca meta não é senão retirar todo o propósito do mundo e de ti mesmo. E cada injustiça que o mundo aparentemente coloca so­bre ti, tu colocaste sobre ele tornando-o sem propósito, sem a função que o Espírito Santo vê. E a simples justiça foi assim ne­gada a todas as coisas vivas sobre a terra.

6. O que essa injustiça faz a ti, que julgas injustamente e que vês de acordo com o teu julgamento, não és capaz de calcular. O mundo torna-se obscuro e ameaçador e nenhum vestígio de todo o cintilar feliz que a salvação traz para iluminar o teu caminho tu és capaz de perceber. E assim te vês privado de luz, abandonado no escuro, largado injustamente sem nenhum propósito em um mundo fútil. O mundo é justo porque o Espírito Santo trouxe a injustiça para a luz interior e lá toda a injustiça foi sanada e substituída pela justiça e pelo amor. Se percebes injustiça em qualquer lugar, só precisas dizer:

Através disso eu nego a Presença do Pai e do Filho. E prefiro tomar conhecimento Deles do que ver a injustiça, que se desvanece diante da luz da Sua Presença.