julho 15, 2010

Capítulo 28 - DESFAZER O MEDO

Capítulo 28 - DESFAZER O MEDO

I. A memória presente

1. O milagre nada faz. Tudo o que ele faz é desfazer. E assim anula a interferência naquilo que foi feito. Ele não acrescenta, apenas retira. E o que retira já se foi há muito, mas tendo sido guardado na memória, parece ter efeitos imediatos. Esse mundo acabou há muito tempo. Os pensamentos que o fizeram já não estão mais na mente que os pensou e os amou por um breve período de tempo. O milagre apenas mostra que o passado se foi e o que se foi verdadeiramente não tem efeitos. A lembrança de uma causa só pode produzir ilusões da sua presença, não efeitos.

2. Todos os efeitos da culpa já não estão mais aqui. Pois a culpa terminou. Com a sua passagem, foram-se também as suas conse­qüências, deixadas sem uma causa. Por que irias prender-te a ela na memória se não desejasses os seus efeitos? O lembrar é tão seletivo quanto a percepção, sendo o tempo passado da percep­ção. É a percepção do passado como se ele estivesse ocorrendo agora e ainda estivesse presente para ser visto. A memória, como a percepção, é uma habilidade inventada por ti para tomar o lu­gar do que Deus te deu na tua criação. E, como todas as coisas que fizeste, pode ser usada para servir a outro propósito e para ser um meio para alguma outra coisa. Ela pode ser usada para curar e não para ferir, se desejares que assim seja.

3. Nada do que é empregado para curar representa um esforço para fazer qualquer coisa que seja. É um reconhecimento de que não tens quaisquer necessidades que signifiquem que alguma coi­sa tenha que ser feita. É uma memória não-seletiva, que não é usada para interferir com a verdade. Todas as coisas que o Espíri­to Santo pode empregar para curar foram dadas a Ele, sem o con­teúdo e os propósitos para os quais foram feitas. Elas são apenas habilidades sem uma aplicação. Elas aguardam para serem usa­das. Elas não são dedicadas à coisa alguma e não têm nenhum objetivo.

4. O Espírito Santo, de fato, pode fazer uso da memória, pois o próprio Deus está lá. Entretanto, essa não é uma memória de eventos passados, mas apenas de um estado presente. Estás ha­bituado há tanto tempo a acreditar que a memória guarda apenas o que é passado, que é difícil para ti compreender que ela é uma habilidade capaz de lembrar o agora. As limitações que o mundo impõe à lembrança são tão grandes quanto aquelas que permitis­te que o mundo te impusesse. Não existe nenhum elo da memó­ria com o passado. Se quiseres que haja, então há. Mas apenas o teu desejo fez o elo, e só tu a prendeste a uma parte do tempo onde a culpa ainda parece pairar.

5. O uso que o Espírito Santo faz da memória está bem à parte do tempo. Ele não busca usá-la como um meio de reter o passado, mas ao invés disso, como um modo de permitir que ele se vá. A memória guarda a mensagem que recebe e faz o que lhe é dado fazer. Ela não escreve a mensagem, nem aponta para quê serve. Como o corpo, ela não tem qualquer propósito em si mesma. E se parece servir para cultivar o ódio antigo e fazer para ti retratos das cenas de injustiças e ferimentos que estavas guardando, essa foi a mensagem que lhe pediste e assim ela é. Comprometida com as cavernas da memória, a história de todo o passado do corpo lá se esconde. Todas as estranhas associações feitas para manter o passado vivo, o presente morto, estão armazenadas den­tro dela, esperando pela tua ordem para que te sejam trazidas e revividas. E assim os seus efeitos parecem ser aumentados pelo tempo, que levou consigo o que as causou.

6. No entanto, o tempo não é senão uma outra fase do que nada faz. Ele trabalha de mãos dadas com todos os outros atributos com os quais buscas manter oculta a verdade acerca de ti mesmo. O tempo não leva nada embora, nem é capaz de restaurar. E, no entanto, fazes um estranho uso dele, como se o passado tivesse causado o presente, que não é senão uma conseqüência na qual não se pode fazer mudança alguma, posto que a sua causa se foi. Entretanto, a mudança tem que ter uma causa que dure, ou ela não permanecerá. Nenhuma mudança pode ser feita no presente se a sua causa é o passado. Tal como usas a memória, nela tu só manténs o passado e assim ela constitui uma maneira de manter o passado contra o agora.

7. Não te lembres de nada do que ensinaste a ti mesmo, pois foste mal ensinado. E quem manteria uma lição sem sentido em sua mente, quando pode aprender e preservar outra melhor? Quan­do as antigas memórias de ódio aparecem, lembra-te de que a sua causa se foi. E assim não podes compreender para que servem. Não permitas que a causa que queres dar a elas agora seja aquilo que fez com que fossem o que eram ou pareciam ser. Fica con­tente porque ela se foi, pois é disso que terias que ser perdoado. E vê, no seu lugar, os novos efeitos de uma, causa aceita agora, com conseqüências aqui. Elas te surpreenderão com sua beleza. As novas idéias antigas que trazem consigo serão as felizes con­seqüências de uma Causa tão antiga que em muito excede o al­cance da memória que a tua percepção pode ver.

8. Essa é a Causa que o Espírito Santo tem lembrado para ti quan­do queres esquecer. Ela não é uma causa passada porque Ele não permite que Ela deixe de ser lembrada. Ela nunca mudou, por­que nunca houve um tempo em que Ele não A mantivesse a salvo em tua mente. Suas conseqüências, de fato, parecerão novas por­que pensavas que não te lembravas da Causa. No entanto, Ela nunca deixou de estar na tua mente, pois não foi a Vontade do teu Pai que Ele não fosse lembrado pelo Seu Filho.

9. Aquilo de que tu te lembras nunca foi. Veio da ausência de causalidade, que confundiste com uma causa. Quando aprendes que te lembraste de conseqüências que não tiveram causa e ja­mais poderiam ter efeitos não podes deixar de rir. O milagre te recorda uma Causa para sempre presente, perfeitamente intoca­da pelo tempo e por qualquer interferência. Essa causa jamais foi alterada em relação ao que Ela é. E tu és o Seu efeito, tão imutá­vel e perfeito quanto Ela. A memória dessa Causa não está no passado nem aguarda o futuro. Não é revelada nos milagres. Elas apenas te lembram que Ela não se foi. Quando tu A per­doares pelos teus pecados, Ela não será mais negada.

10. Tu, que tens buscado fazer um julgamento a respeito do teu próprio Criador, não és capaz de compreender que não foi Ele quem julgou o Seu Filho. Queres negar-Lhe os Seus Efeitos, no entanto, Eles nunca foram negados. Nunca houve um tempo no qual Seu Filho pudesse ser condenado pelo que carece de causa e é contra a Sua Vontade. O que a tua lembrança quer testemunhar é apenas o medo de Deus. Ele não fez o que temes. Nem tu o fizeste. E assim a tua inocência não foi perdida. Não necessitas de cura para ser curado. Em quietude, vê no milagre uma lição em permitir que a Causa tenha os Seus Efeitos Próprios e em não fazer qualquer coisa que possa interferir.

11. O milagre vem em quietude à mente que pára um instante e fica quieta. A partir daquele tempo passado em quietude e da mente que ele então curou em silêncio, o milagre alcança gentil­mente outras mentes para compartilhar sua quietude. E elas unir­-se-ão em nada fazer para impedir a radiante extensão deste mila­gre de volta à Mente Que deu origem a todas as mentes. Como o milagre nasceu de um ato de compartilhar, não pode haver pausa no tempo que cause o adiamento do milagre em sua ida apressada para todas as mentes inquietas, trazendo-lhes um instante de sere­nidade, quando a memória de Deus retorna a elas. O que que­riam lembrar está em quietude agora, e o que veio para tomar o seu lugar não será depois completamente esquecido.

12. Ele, a Quem o tempo é dado, agradece por cada instante de quietude que Lhe é dado. Pois nesse instante se permite à me­mória de Deus oferecer todos os seus tesouros ao Filho de Deus, para quem foram guardados. Como Ele os oferece alegremente àquele a quem eram destinados quando Lhe foram dados! E o Seu Criador compartilha os seus agradecimentos porque Ele não quer ficar privado dos seus Efeitos. O silêncio de um instante que o seu Filho aceite, dá boas-vindas à eternidade e a Ele e per­mite que Eles entrem onde querem habitar. Pois nesse instante o Filho de Deus nada faz que o amedronte.

13. Como surge instantaneamente a memória de Deus na mente que não tem nenhum medo que a mantenha afastada! Sua pró­pria lembrança se foi. Não há nenhum passado para manter sua imagem amedrontadora impedindo o alegre despertar para a paz presente. As trombetas da eternidade ressoam através da sereni­dade, entretanto, não a perturbam. E o que é lembrado agora não é o medo, mas a Causa e o medo foi feito para não deixar que Ela fosse lembrada e para desfazê-La. A serenidade fala em sons gentis do amor que o Filho de Deus recorda de um tempo ante­rior, antes que a sua própria lembrança se interpusesse entre o presente e o passado tomando-os inaudíveis.

14. Agora, o Filho de Deus está afinal ciente da Causa presente e de seus Efeitos benignos. Agora ele compreende que o que fez não tem causa, não tendo quaisquer efeitos. Ele nada fez. E ao ver isso compreende que nunca teve necessidade de fazer coisa algu­ma e nunca fez. A sua Causa é os seus Efeitos. Nunca houve uma outra causa além Dessa que pudesse gerar um passado ou um futuro diferentes. Os Seus Efeitos são imutavelmente eternos, além do medo e inteiramente além do mundo do pecado.

15. O que foi perdido quando se deixa de ver o que não tem cau­sa? E onde está o sacrifício quando a memória de Deus veio para tomar o lugar da perda? Que melhor maneira de fechar a peque­na brecha entre as ilusões e a realidade senão permitir que a me­mória de Deus flua através dela, fazendo com que venha a ser uma ponte que se atravessa em apenas um minuto para alcançar o que está além? Pois Deus a fechou com Ele Mesmo. A Sua memória não foi embora deixando um Filho para sempre perdi­do em uma das margens de onde ele vislumbra a outra que nun­ca pode atingir. Seu Pai quer que ele seja erguido e gentilmente carregado até lá. Ele construiu a ponte e será Ele Quem irá trans­portar seu Filho através dela. Não tenhas medo que Ele possa falhar no que é a Sua Vontade. Nem tenhas medo de ser excluído da Vontade que existe para ti.


II. Revertendo efeito e causa

1. Sem uma causa não é possível efeitos e, ao mesmo tempo, sem efeitos não existe causa. A causa torna-se causa devido a seus efeitos; o Pai é Pai devido a Seu Filho. Os efeitos não criam a própria causa, mas estabelecem a sua causalidade. Assim o Filho dá a Paternidade a seu Criador e recebe a dádiva que deu a Ele. E porque ele é o Filho de Deus tem que ser também um pai, que cria como Deus o criou. O círculo da criação não tem fim. Seu início e seu fim são o mesmo. Mas, em si, ele contém todo o universo da criação sem começo e sem fim.

2. Paternidade é criação. O amor tem que ser estendido. A pure­za não se confina. Faz parte da natureza do inocente jamais estar contido, sem barreira ou limitação. Assim, a pureza não é do corpo. Também não é possível achá-la onde existe limitação. O corpo pode ser curado pelos efeitos da pureza, que são tão ilimi­tados quanto ela, própria. No entanto, toda cura tem que vir a ser porque se reconhece que a mente não está dentro do corpo e a inocência da mente está bem separada do corpo, está lá onde reside a cura. Onde, então, se encontra a cura? Só onde está a causa da cura são dados os seus efeitos. Pois a doença é uma tentativa sem significado de dar efeitos a algo que carece de cau­sa e de fazer dele uma causa.

3. Na doença, o Filho de Deus sempre procura fazer de si mesmo a sua própria causa e não se permitir ser o Filho de seu Pai. Com esse desejo impossível, ele não acredita que é o efeito do Amor e ele mesmo tem que ser a própria causa devido ao que ele é. A causa da cura é a única Causa de todas as coisas. Ela tem apenas um efeito. E nesse reconhecimento não se dá quaisquer efeitos ao que carece de causa e nenhum efeito é visto. Uma mente dentro de um corpo e um mundo de outros corpos, cada um com mentes separadas, são as tuas “criações”, sendo tu a “outra” mente, que cria com efeitos que não são como tu és. E enquanto “pai” dessas criações, tens que ser como elas.

4. Não aconteceu absolutamente nada, exceto o fato de que tu te puseste a dormir e tiveste um sonho no qual eras um estranho para ti mesmo e apenas uma parte do sonho de alguma outra pessoa. O milagre não te desperta, mas te mostra quem é o sonhador. Ele te ensina que existe uma escolha de sonhos enquanto ainda estás adormecido, dependendo do propósito do teu sonhar. Desejas sonhos de cura ou sonhos de morte? O sonho é como uma memória na qual se retrata aquilo que quiseste que te fosse mostrado.

5. Dentro de um armazém vazio, com portas abertas, estão guar­dados todos os teus retalhos de memórias e sonhos. Entretanto, se tu és aquele que sonha, pelo menos isso percebes: que causaste o sonho e podes igualmente aceitar um outro sonho. Mas para que se dê essa mudança no conteúdo do sonho, é preciso que se reconheça que foste tu aquele que sonhou o sonho do qual não gostas. Ele não passa de um efeito que tu causaste, e não queres ser a causa desse efeito. Nos sonhos de assassinato e de ataque, és a vítima em um corpo abatido, à morte. Mas nos sonhos de perdão, não se pede a ninguém que seja vítima e sofredor. Estes são os sonhos felizes pelos quais o milagre substitui o teu. Ele não pede que faças outro; só que vejas que fizeste aquele que queres substituir por esse.

6. Esse mundo não tem causa, assim como qualquer sonho que qualquer pessoa tenha sonhado dentro dele. Não existem planos possíveis e não se pode achar nenhum projeto que seja compreen­sível. Que outra coisa se poderia esperar de algo que carece de causa? Ao mesmo tempo, se não tem causa, não tem propósito. Podes causar um sonho, mas nunca darás a ele efeitos reais. Isso mudaria a causa do sonho, e é isso o que não podes fazer. O sonhador de um sonho não está desperto, mas não sabe que dor­me. Ele vê ilusões de si mesmo como estando doente ou bem, deprimido ou feliz, mas sem uma causa estável com efeitos garan­tidos.

7. O milagre estabelece que tu estás sonhando um sonho e que o seu conteúdo não é verdadeiro. Esse é um passo crucial para se lidar com ilusões. Ninguém tem medo delas quando percebe que as inventou. O medo mantinha-se em seu lugar porque ele não havia visto que era o autor do sonho e não uma de suas figuras. Ele dá a si mesmo as conseqüências que sonha ter dado a seu irmão. E é apenas isso o que o sonho juntou e ofereceu a ele, para mostrar-lhe que os seus desejos foram realizados. Assim ele teme o próprio ataque, mas o vê nas mãos de outrem. Como vítima, sofre em função dos efeitos do ataque, mas não do que o causou. Ele não foi o autor do próprio ataque, e é inocente em relação ao que causou. O milagre nada faz senão mostrar-lhe que ele não fez nada. O que ele teme é uma causa sem as conseqüências que fariam dela uma causa. E, portanto, isso nunca existiu.

8. A separação teve início com o sonho de que o pai foi destituído de Seus Efeitos e ficou impotente para mantê-las, já que não era mais o seu Criador. No sonho, o sonhador fez a si próprio. Mas o que ele fez voltou-se contra ele tomando o papel de seu criador, como tinha feito o sonhador. Assim como ele odiou o seu Cria­dor, as figuras no sonho o odiaram. O seu corpo é escravo dessas figuras, do qual abusam porque os motivos que ele conferiu ao corpo elas adotaram como seus próprios. E odeiam o corpo pela vingança que ele quer fazer com que recaia sobre elas. Mas é a vingança dessas figuras em relação ao corpo que parece provar que o sonhador não poderia ter sido o autor do sonho. O efeito e a causa são, em primeiro lugar, separados e depois revertidos de tal modo que o efeito vem a ser uma causa e a causa um efeito.

9. Esse é o passo final da separação, com o qual a salvação, que procede no sentido oposto, começa. Esse passo final é um efeito do que aconteceu anteriormente, mas aparece como causa. O mi­lagre é o primeiro passo na devolução à Causa da função da cau­salidade, não do efeito. Pois essa confusão produziu o sonho e enquanto ela durar o despertar será temido. O chamado para o despertar também não será ouvido, porque parece ser o chamado para o medo.

10. Como toda lição que o Espírito Santo solicita que aprendas, o milagre é claro. O milagre demonstra o que Ele quer que apren­das e que os seus efeitos são aquilo que tu queres. Nos Seus so­nhos de perdão os efeitos dos teus são desfeitos e inimigos odiados são percebidos como amigos com intenção misericordio­sa. 4A sua inimizade é vista agora como não tendo causa porque eles não a fizeram. E podes aceitar o papel de autor do seu ódio, porque vês que ele não tem quaisquer efeitos. Agora estás livre dessa parte do sonho; o mundo é neutro e os corpos que ainda parecem se movimentar como coisas separadas não precisam ser temidos. E assim eles não estão doentes.

11. O milagre devolve a causa do medo a ti que a fizeste. Mas ele mostra também que, não tendo efeitos, não é uma causa, porque a função da causalidade é ter efeitos. E onde os efeitos se foram, não há causa. Assim o corpo é curado pelos milagres porque eles mostram que foi a mente que fez a doença e empregou o corpo como vítima ou efeito do que fez. Entretanto, meia lição não ensinará o todo. O milagre será inútil se aprenderes somente que o corpo pode ser curado, pois não é essa a lição que ele foi enviado a ensinar. A lição mostra que a mente que pensou que o corpo pudesse estar doente é que estava doente; a projeção da culpa da mente para fora nada causou e não teve quaisquer efeitos.

12. Esse mundo está cheio de milagres. Eles estão em silêncio ra­diante ao lado de cada sonho de dor e de sofrimento, de pecado e de culpa. Eles são a alternativa para o sonho, a escolha de ser o sonhador ao invés de negar o papel ativo na invenção do sonho. Eles são os efeitos felizes de trazer de volta a conseqüência da doença à sua causa. O corpo é liberado porque a mente reconhece: “Isso não está sendo feito a mim, mas eu estou fazendo isso.” E, desse modo, a mente está livre para fazer uma outra escolha. Tendo aqui o seu início, a salvação procederá para mudar o cur­so de cada passo na descida para a separação até que todos os passos tenham sido retraçados, a escada tenha desaparecido e todo o sonhar do mundo tenha sido desfeito.


III. O acordo de união

1. Aquilo que aguarda em certeza perfeita, além da salvação, não é nossa preocupação. Pois mal começaste a permitir que os teus primeiros passos incertos sejam dirigidos para subir a escada que a separação te fez descer. O milagre é a tua única preocupação no presente. É aqui que devemos começar. E, tendo começado, o caminho tornar-se-á sereno e simples na subida para o despertar e o fim do sonho. Quando aceitas um milagre, não acrescentas o teu sonho de medo a outro que já está sendo sonhado. Sem apoio, o sonho apagar-se-á, pois não tem efeitos. Pois é o teu apoio que o fortalece.

2. Nenhuma mente é doente enquanto outra mente não concorde que elas estão separadas. E assim, a decisão que tomam de se­rem doentes é conjunta. Se não dás o teu acordo e aceitas o papel que desempenhas para fazer com que a doença seja real, a outra mente não pode projetar a própria culpa sem a tua ajuda em permitir a ela que se perceba como separada e à parte de ti. Assim, o corpo não é percebido como doente por ambas as mentes, de pontos de vista separados. A união com a mente de um irmão impede a causa da doença e os efeitos percebidos. A cura é o efeito de mentes que se unem, assim como a doença vem de men­tes que se separam.

3. O milagre nada faz justamente porque as mentes estão unidas e não podem se separar. Entretanto, no sonho, isso foi revertido e mentes separadas são vistas como corpos, que são separados e não podem unir-se. Não permitas que o teu irmão seja doente, pois se ele for, tu o terás abandonado ao seu próprio sonho por compartilhá-lo com ele. Ele não viu a causa da doença onde ela está e tu ignoraste a brecha entre vós, onde a doença foi gerada. Assim, vós estais unidos na doença para preservar a pequena brecha sem cura, na qual a doença é mantida, cuidadosamente protegida, alimentada e apoiada por uma forte crença, contanto que Deus não venha fazer uma ponte sobre essa pequena brecha, ponte essa que conduz a Ele. Não lutes contra a vinda de Deus com ilusões, pois é a vinda de Deus que queres acima de todas as coisas que parecem cintilar no sonho.

4. O fim do sonho é o fim do medo e o amor nunca esteve no mundo dos sonhos. A brecha é pequena. Entretanto, guarda as sementes da pestilência e de toda forma de enfermidades porque é um desejo de manter à parte e não de unir. E desse modo apa­renta dar uma causa à doença, que não é o que a causou. O pro­pósito da brecha é toda a causa da doença. Pois ela foi feita para manter-te separado, em um corpo que vês como se fosse a causa da dor.

5. A causa da dor é a separação, não o corpo, que é apenas o seu efeito. No entanto, a separação não passa de um espaço vazio, que nada engloba, que nada faz, tão sem substância quanto o vazio entre as ondas que um navio faz ao passar. E é preenchido com a mesma rapidez com que a água corre para fechar a brecha e as ondas se juntam para cobri-la. Onde está a brecha entre as ondas depois que elas se unem e cobrem o espaço que parecia mantê-las separadas por um breve momento? Onde estão as jus­tificativas para a doença quando as mentes se uniram para fechar a pequena brecha entre elas, onde as sementes da doença aparen­temente cresciam?

6. Deus constrói a ponte, mas só no espaço deixado limpo e vago pelo milagre. As sementes da doença e a vergonha da culpa Ele não pode fazer passar por Sua ponte, pois Ele não pode destruir a vontade alheia que não criou. Deixa que os seus efeitos desapareçam e não te agarres a eles com mãos ansiosas para guardá-los para ti mesmo. O milagre os varrerá todos e assim abrirá espaço para Ele, Que tem Vontade de vir e fazer uma ponte para que o Seu Filho retome a Ele Mesmo.

7. Conta, então, os milagres de prata e os sonhos dourados de felicidade como todo o tesouro que queres guardar dentro do armazém do mundo. A porta está aberta, não para os ladrões mas para os teus irmãos famintos, que se enganaram e viram ouro cintilar em uma pedrinha e armazenaram um punhado de neve que brilhava como se fosse prata. Eles nada têm, não so­brou nada atrás da porta aberta. O que é o mundo senão uma pequena brecha que é percebida com o fim de rasgar a eternidade e fragmentá-la em dias, meses e anos? E o que és tu que vives dentro do mundo, senão um retrato do Filho de Deus partido em pedaços, cada um escondido dentro de uma porção separada e incerta feita de barro?

8. Não temas, minha criança, mas deixa que o teu mundo seja gentilmente iluminado por milagres. E onde a pequena brecha foi vista, entre tu e o teu irmão, lá une-te a ele. E assim a doença agora será vista sem causa alguma. O sonho da cura está no perdão e gentilmente te mostra que nunca pecaste. O milagre não deixará nenhuma prova de culpa capaz de te trazer o testemunho daquilo que nunca foi. E no teu armazém ele abrirá um espaço de boas-vindas para o teu Pai e para o teu Ser A porta está aberta para que todos aqueles que não querem mais morrer de fome possam vir e usufruir da festa da abundância posta dian­te deles ali. E encontrar-se-ão com os teus Hóspedes, que o mila­gre convidou para que viessem a ti.

9. Essa é uma festa que, de fato, é diferente daquelas que o sonho do mundo tem mostrado. Pois aqui, quanto mais cada um rece­be, mais fica para todos os outros compartilharem. Os Hóspedes trouxeram com Eles um suprimento ilimitado. E ninguém é pri­vado de nada nem é capaz de privar. Aqui está uma festa que o Pai coloca diante do Seu Filho e compartilha com ele igualmente. E no Seu compartilhar não pode existir nenhuma brecha à qual falte a abundância ou na qual ela se reduza. Aqui não entram os anos magros, pois o tempo não afeta essa festa que não tem fim. Pois o Amor pôs a sua mesa no espaço que parecia manter os teus Hóspedes à parte de ti..


IV. A união maior

1. Aceitar a Expiação para ti mesmo significa não dar apoio ao sonho de doença e morte de ninguém. Significa que não compar­tilhas o seu desejo de separar-se e permitir que ele dirija ilusões contra si mesmo. Tu também não desejas que essas ilusões, ao invés disso, sejam dirigidas contra ti. Assim, elas não têm efeitos. E estás livre de sonhos de dor porque permitiste que ele estives­se. A não ser que o ajudes, sofrerás dor com ele, porque esse é o teu desejo. E vens a ser uma figura no seu sonho de dor, assim como ele no teu. Dessa forma, tu e o teu irmão, ambos vêm a ser ilusões sem identidade. Tu poderias ser qualquer pessoa ou qualquer coisa, dependendo de quem é o sonho mau que com­partilhas. Só podes estar certo de uma coisa: de que és mau, porque compartilhas sonhos de medo.

2. Existe um caminho para encontrar a certeza exatamente aqui e agora. Recusa-te a ser parte de quaisquer sonhos de medo seja qual for a forma que tomem, pois neles perderás a identidade. Tu te achas por não aceitá-los como a tua causa, capaz de produ­zir efeitos em ti. Tu estás à parte deles, mas não à parte daquele que os sonha. Assim, separas o sonhador do sonho, e te unes a um, mas deixas que o outro se vá. O sonho não é senão uma ilusão na mente. E com a mente queres unir-te, mas nunca com o sonho. É o sonho que temes e não a mente. Tu os vês como o mesmo porque pensas que tu és apenas um sonho. E o que é real e o que em si mesmo é apenas uma ilusão tu não sabes e nem és capaz de distinguir entre um e outro.

3. Como tu, o teu irmão pensa que ele é um sonho. Não compar­tilhes a sua ilusão a respeito de si próprio, pois a tua identidade depende da sua realidade. Ao invés disso, pensa nele como uma mente na qual as ilusões ainda persistem, mas uma mente que é tua irmã. Ele não é teu irmão em função daquilo que sonha, nem é o corpo o “herói” do sonho, o teu irmão. É a sua realidade que é o teu irmão, assim como a tua para com ele. A tua mente e a sua estão unidas em fraternidade. O seu corpo e os seus sonhos apenas parecem fazer uma pequena brecha, onde os teus uniram­-se aos seus.

4. No entanto, entre as vossas mentes não existe nenhuma brecha. Unir-te aos sonhos do teu irmão é, na verdade, não encontrá-lo, porque os seus sonhos separar-se-iam de ti. Portanto, libera-o, simplesmente reivindicando a fraternidade, ao invés dos sonhos de medo. Permite que ele reconheçam quem ele é, não dando apoio às ilusões do teu irmão por meio da tua fé, pois se o fizeres, terás fé nas tuas. Com fé nas tuas ilusões, ele não será liberado c tu és mantido em cativeiro, preso aos seus sonhos. E sonhos de medo assombrarão a pequena brecha habitada apenas por ilusões, que tu apoiaste na mente do teu irmão.

5. Fica certo de que se fizeres a tua parte ele fará a sua, pois ele se unirá a ti aonde tu estás. Não chames por ele para que venha encontrar-te na brecha que está entre vós, ou terás que acreditar que a brecha é a tua realidade bem como a sua. Não podes fazer a parte do teu irmão, mas é isso o que fazes quando te tornas uma figura passiva nos seus sonhos em vez de ser o sonhador do teu próprio sonho. A identidade nos sonhos não tem significado, porque o sonhador e o sonho são um só. Quem compartilha um sonho tem que ser o sonho que compartilha, porque pelo com­partilhar se produz uma causa.

6. Tu compartilhas a confusão e és confuso, pois nessa brecha não existe nenhum ser estável. O que é o mesmo parece ser diferen­te, porque o que é o mesmo parece ser distinto. Os seus sonhos são teus porque permites que sejam. Mas, se removesses os teus, ele ficaria livre deles e dos seus próprios também. Os teus so­nhos são testemunhas dos seus e os seus atestam a verdade dos teus. Entretanto, se vês que não existe verdade nos teus, os seus desaparecerão e ele compreenderá o que deu origem ao sonho.

7. O Espírito Santo está nas mentes de ambos e Ele é Um porque não existe nenhuma brecha que separe a Sua Unicidade de Si pró­pria. A brecha entre os vossos corpos não importa, pois o que é unido Nele é sempre uno. Ninguém é doente se alguém aceita a própria união com ele. O seu desejo de ser uma mente doente e separada não pode continuar sem uma testemunha ou uma causa. E ambas se vão se alguém quer ser unido a ele. Ele tem sonhos nos quais estava separado do seu irmão, o qual, ao não comparti­lhar o seu sonho, deixou vago o espaço entre eles. E o Pai vem para unir-Se a Seu Filho, a quem o Espírito Santo Se uniu.

8. A função do Espírito Santo é tomar o retrato quebrado do Filho de Deus e colocar as partes no lugar outra vez. Esse retrato san­to, inteiramente curado, Ele estende a cada pedaço separado que pensa ser um retrato em si mesmo. A cada um deles, Ele oferece a Identidade que lhe é devida, Aquela que o retrato total repre­senta ao invés de apenas uma pequena parte quebrada que ele insistia ser ele próprio. E quando ele vir esse retrato reconhecerá a si mesmo. Se não compartilhas o sonho mau do teu irmão, esse é o retrato que o milagre irá colocar dentro da pequena brecha, limpa de todas as sementes de doença e pecado. E aqui o Pai irá receber o Seu Filho, porque o Seu Filho foi benevolente para con­sigo mesmo.

9. Graças Te dou, Pai, sabendo que virás para fechar cada peque­na brecha que existe entre os pedaços quebrados do Teu Filho santo. A Tua santidade, completa e perfeita, está em cada um deles. E eles estão unidos porque o que está em um está em todos. Como é santo o menor dos grãos de areia quando ele é reconhecido como parte do retrato completo do Filho de Deus! As formas que os pedaços quebrados parecem tomar nada signi­ficam. O todo está em cada um. E cada aspecto do Filho de Deus é exatamente o mesmo que qualquer outra parte.

10. Não te unas aos sonhos do teu irmão, mas une-te a ele, e aonde te unes ao Seu Filho, lá está o Pai. Quem busca substitutos quan­do percebe que nada perdeu? Quem iria querer os “benefícios” da doença quando recebeu a felicidade simples da saúde? O que Deus deu não pode ser perda e o que não pertence a Ele não tem efeitos. O que, então, irias tu perceber dentro dessa brecha? As sementes da doença vêm da crença em que existe alegria na sepa­ração e desistir dela seria um sacrifício. Mas, quando não insis­tes em ver na brecha o que não está lá, os milagres” são o resultado. A tua disponibilidade para deixar que as ilusões desa­pareçam é tudo o que Aquele Que cura o Filho de Deus requer. Ele colocará o milagre da cura aonde estavam as sementes da doença. E não haverá nenhuma perda, apenas ganho.


V. A alternativa para os sonhos de medo

1. Qual é o sentido da doença senão um sentido de limitação? De um rompimento e de uma separação? Uma brecha que é percebida entre tu e o teu irmão e o que é agora visto como saúde? E assim o que é bom é visto como se estivesse do lado de fora, o mal do lado de dentro. E assim a doença separa o ser do que é bom e mantém o mal dentro dele. Deus é a Alternativa para os sonhos de medo. Aqueles que os compartilham não podem nunca com­partilhar em Deus. Mas aqueles que recusam que as suas mentes compartilhem esses sonhos, estão compartilhando-O. Não existe nenhuma outra escolha. A não ser que tu compartilhes de algo, nada pode existir. E existes porque Deus compartilhou a Sua Vontade contigo para que a Sua criação pudesse criar.

2. É o compartilhar dos sonhos maus de ódio e malícia, amargura e morte, pecado e sofrimento, dor e perda que faz com que eles sejam reais. Sem o compartilhar, são percebidos como sem signi­ficado. O medo retira-se deles porque tu não lhes deste o teu apoio. No amor não existe medo, porque não existem outras al­ternativas além destas. Onde um aparece, o outro desaparece. E aquele que compartilhas vem a ser o único que tens. Tu tens aquele que aceitas porque é o único que desejas ter.

3. Tu não compartilhas nenhum sonho mau se perdoas o sonha­dor e percebes que ele não é o sonho que fez. E assim ele não pode ser uma parte do teu, do qual ambos estão livres. O perdão separa o sonhador do sonho mau e assim o libera. Lembra-te que, se compartilhas um sonho mau, acreditarás que és o sonho que compartilhas. E temendo-o, não quererás conhecer a tua própria Identidade, porque pensas que Ela é amedrontadora. E negarás o teu Ser e caminharás sobre uma terra estranha que o teu Criador não fez, onde parecerás ser algo que não és. Tu farás uma guerra com o teu Ser Que parece ser teu inimigo; e atacarás o teu irmão, como parte daquilo que odeias. Não há meio-termo. És o teu Ser ou uma ilusão. O que pode haver entre a ilusão e a verdade? Uma terra intermediária, onde tu podes ser uma coisa que não és, tem que ser um sonho e não pode ser a verdade.

4. Concebeste uma pequena brecha entre as ilusões e a verdade para ser o lugar onde reside toda a tua segurança e onde o teu Ser está cuidadosamente escondido pelo que tu fizeste. Aqui se esta­belece um mundo que é doente, e esse é o mundo que os olhos do corpo percebem. Aqui estão os sons que ele ouve, as vozes que seus ouvidos foram feitos para ouvir. Entretanto, as cenas e os sons que o corpo pode perceber são sem significado. Ele não pode ver nem ouvir. Ele não sabe o que é ver, para quê serve ouvir. Ele é tão pouco capaz de perceber como de julgar, com­preender ou conhecer. Seus olhos são cegos, seus ouvidos sur­dos. Ele não é capaz de pensar e, portanto, não pode ter efeitos.

5. Existe algo que Deus tenha criado para ser doente? E o que pode existir que Ele não tenha criado? Não deixes que os teus olhos contemplem um sonho, que os teus ouvidos testemunhem uma ilusão. Eles foram feitos para contemplar um mundo que não está presente, para ouvir vozes que não podem produzir som algum. Entretanto, existem outros sons e outras cenas que podem ser vistos, ouvidos e compreendidos. Pois os olhos e os ouvidos são sentidos sem sentido, e o que vêem ou ouvem, eles apenas relatam. Quem ouve e vê não são eles, mas tu, que juntas cada peça recortada, cada fiapo sem sentido e cada farrapo de evidên­cia e fazes um testemunho do mundo que queres. Não permitas que os olhos e ouvidos do corpo percebam esses fragmentos in­contáveis vistos dentro da brecha que imaginaste e que eles per­suadam seu autor de que as suas imaginações são reais.

6. A criação prova a realidade porque compartilha a função que toda criação compartilha. Ela não é feita de estilhaços de vidro, um pedaço de pau, talvez um fio ou dois, tudo isso reunido para atestar a sua verdade. A realidade não depende disso. Não exis­te nenhuma brecha que separe a verdade dos sonhos e das ilu­sões. A verdade não deixou qualquer espaço para eles em lugar algum e em tempo algum. Pois ela preenche todo lugar e todo tempo e faz com que sejam totalmente indivisíveis.

7. Tu, que acreditas que existe uma pequena brecha entre tu e o teu irmão, não vês que é aqui que ambos estão como prisioneiros, em um mundo percebido como se estivesse existindo aqui. O mundo que vês não existe, porque o lugar onde o percebes não é real. A brecha é cuidadosamente escondida na névoa e retratos nebulosos surgem para cobri-la com formas vagas e incertas e figuras mutáveis, para sempre sem substância e sem segurança. Entretanto, na brecha não há nada. Se não existem segredos terrí­veis e túmulos escuros onde o terror surge dos ossos da morte. Olha para a pequena brecha e contempla a inocência e o espaço vazio onde não há nenhum pecado, pois é isso o que verás dentro de ti mesmo quando tiveres perdido o medo de reconhecer o amor.


VI. Os votos secretos

1. Quem pune o corpo é insano. Pois aqui a pequena brecha é vista e apesar disso, não está aqui. O corpo não julgou a si mes­mo, e também não fez com que ele próprio fosse o que não é. Ele não busca fazer da dor uma alegria, nem procura prazer duradou­ro no pó. Ele não te diz qual é o seu propósito e não é capaz de compreender para que serve. Ele não faz vítimas porque não tem vontade, não tem preferências e não tem dúvidas. Ele não tenta imaginar o que ele é. E, portanto, não tem necessidade de ser competitivo. Ele pode ser vitimizado, mas não pode, ele próprio, sentir-se vítima. Ele não aceita nenhum papel, mas faz apenas o que lhe é dito, sem ataque.

2. De fato, não faz sentido tornar algo que é incapaz de ser res­ponsável pelo que é visto e culpá-lo pelos sons dos quais tu não gostas, apesar do corpo não poder ouvir. Ele não sofre pela puni­ção que lhe impões porque não tem sentimento. Ele se comporta como tu queres, mas nunca faz a escolha. Ele não nasce e não morre. Ele não pode fazer outra coisa senão seguir sem objetivo o caminho no qual foi colocado. E se esse caminho é mudado, ele caminha com a mesma facilidade por outro. Ele não toma parti­dos e não julga a estrada pela qual viaja. Ele não percebe nenhu­ma brecha porque não odeia. Ele pode ser usado para o ódio, mas não pode se fazer odioso por isso.

3. A coisa que tu odeias e temes, abominas e queres, o corpo não conhece. Tu o envias adiante para buscar a separação e ser sepa­rado. E então o odeias, não pelo que ele é, mas pelo uso que tens feito dele. Tu te retrais em função do que ele vê e do que ele ouve, e odeias a sua fragilidade e pequenez. E desprezas os seus atos, mas não os teus próprios. Ele vê e age por ti. Ele ouve a tua voz. E ele é frágil e pequeno pelo teu desejo. Ele parece te punir e assim merece o teu ódio pelas limitações que ele te traz. Entre­tanto, foste tu que fizeste dele um símbolo das limitações que queres que a tua mente tenha, veja e mantenha.

4. O corpo representa a brecha entre a pequena parte da mente que chamas de tua e todo o resto do que é realmente teu. Tu o odeias, no entanto, pensas que ele é o teu ser, e que sem ele, o teu ser perder-se-ia. Esse é o voto secreto que fizeste com cada irmão que quer caminhar à parte. Esse é o juramento secreto que reto­mas sempre que te percebes sendo atacado. Ninguém pode so­frer se não se vê atacado e perdendo com o ataque. Cada brinde feito à doença não é declarado nem ouvido na consciência. No entanto, esse brinde é uma promessa a um outro, para ser ferido por ele e atacá-lo de volta.

5. A doença é a raiva descarregada no corpo de tal modo que ele sofra dor. É o efeito óbvio do que foi feito em segredo, de acordo com o desejo secreto de um outro de estar à parte de ti, assim como desejas estar à parte dele. A não ser que ambos concordem que esse é o vosso desejo, ele não pode ter efeitos. Qualquer um que diga: “Não existe nenhuma brecha entre a minha mente e a tua” manteve a promessa de Deus, não o seu diminuto juramento de ser para sempre fiei à morte. Só através da sua cura o seu irmão é curado.

6. Permite que seja esse o teu acordo com cada um: que sejas um com ele e não um ser à parte. E ele manterá a promessa que fizeste para com ele porque é essa a promessa que ele fez a Deus, assim como Deus fez a ele. Deus cumpre as Suas promessas; o Seu Filho cumpre as suas. Ao criá-lo assim disse o seu Pai: “Tu és meu amado e Eu o teu para sempre. Sê pois perfeito como Eu sou, pois nunca poderás estar à parte de Mim.” Seu Filho não se lembra de que ele Lhe respondeu “Assim serei”, embora ele tenha nascido nesta promessa. No entanto, Deus lhe lembra dessa pro­messa todas as vezes que ele não compartilha uma promessa de ficar doente, mas deixa a sua mente ser curada e unificada. Os seus votos secretos são impotentes diante da Vontade de Deus, Cujas promessas ele compartilha. E aquilo que ele usa para subs­tituí-las não é sua vontade, ele que se prometeu a Deus.


VII. A arca da segurança

1. Deus nada pede e o Seu Filho assim como Ele nada precisa pedir. Pois nele não existe nenhuma falta. Um espaço vazio, uma pequena brecha, seria uma falta. E é somente lá que ele poderia querer alguma coisa que não tem. Um espaço onde Deus não está, uma brecha entre o Pai e o Filho não é a Vontade de Nenhum dos Dois, Que prometeram ser um só. A promessa de Deus é uma promessa a Si Mesmo, e não existe ninguém que possa ser infiel ao que é Vontade de Deus como parte do que Ele é. A promessa de que não existe nenhuma brecha entre Ele e o que Ele é não pode ser falsa. Que vontade pode intervir entre o que é necessa­riamente uno e em Cuja Integridade não pode haver nenhuma brecha?

2. A bela relação que manténs com todos os teus irmãos é uma parte de ti mesmo porque é uma parte do próprio Deus. Acaso tu não estás doente, se negas a ti mesmo a tua integridade e a tua saúde, a Fonte da ajuda, o Chamado para a cura e o Chamado para curar? O teu salvador espera pela cura e o mundo espera com ele. E tu também não estás à parte do mundo. Pois a cura será una ou simplesmente não será, pois a cura está na unicidade. O que poderia corrigir a separação além do seu oposto? Não existe uma terra intermediária em qualquer aspecto da salvação. Tu a aceitas totalmente, ou não a aceitas. O que não está separa­do necessariamente está unido. E o que está unido não pode ser separado.

3. Ou existe uma brecha entre tu e o teu irmão ou vós sois como um só. Não existe nada intermediário, nenhuma outra escolha e nenhuma fidelidade a ser dividida entre os dois. Uma fidelidade dividida é apenas ausência de fé para com ambos e apenas te coloca num turbilhão, a agarrar-te incertamente a qualquer palha que pareça conter uma promessa de alívio. Entretanto, quem pode construir sua casa sobre a palha e contar com ela como abri­go contra o vento? O corpo pode tornar-se um abrigo como esse, porque a ele falta o fundamento na verdade. Contudo, porque é assim, esse abrigo não pode ser visto como uma casa para ti, mas apenas como um recurso para te ajudar a alcançar a Casa onde Deus habita.

4. Com esse propósito, o corpo é curado. Ele não é usado para testemunhar o sonho da separação e da enfermidade. Nem é ele condenado em vão pelo que não fez. Ele serve para ajudar a cura do Filho de Deus e para esse propósito não pode estar doente. Ele não irá unir-se a um propósito que não seja o teu próprio, e tu escolheste que ele não fique doente. Todos os milagres se ba­seiam nesta escolha e te são dados no instante em que ela é feita. Nenhuma forma de doença está imune, porque a escolha não pode ser feita em termos de forma. A escolha da doença parece ser uma escolha de forma, no entanto, ela é uma só, assim como o seu oposto. E tu estás doente ou saudável correspondentemente.

5. Mas nunca estás sozinho. Esse mundo é apenas um sonho se­gundo o qual podes estar sozinho e podes pensar sem afetar aqueles que estão à parte de ti. Estar sozinho necessariamente significa estar à parte, e se estás, só podes estar doente. Isso pare­ce provar que não podes deixar de estar à parte. No entanto, tudo o que isso significa é que tentaste manter uma promessa de ser fiel à ausência de fé. Apesar disso, a ausência de fé é doença. É como a casa construída sobre a palha. Ela parece ser bastante sólida e ter substância em si mesma. No entanto, a sua estabili­dade não pode ser julgada à parte do seu fundamento. Se ela se baseia na palha, não há necessidade de bloquear a porta e de trancar as janelas, fechando os ferrolhos. O vento soprará, a chuva cairá e ela será carregada para o esquecimento.

6. Qual é o sentido de se buscar estar a salvo naquilo que foi feito para o perigo e para o medo? Por que sobrecarregá-lo com mais cadeados e correntes, com âncoras pesadas, se a sua fraqueza não está nele mesmo, mas na fragilidade da pequena brecha feita do nada sobre a qual ele se encontra? O que pode estar seguro ba­seado em uma sombra? Irias tu construir a tua casa sobre algo que desmoronaria sob o peso de uma pluma?

7. A tua casa é construída sobre a saúde do teu irmão, sobre a sua felicidade, a sua impecabilidade, e sobre tudo o que o seu Pai prometeu a ele. Nenhuma promessa secreta que tenhas feito no lugar daquela abalou o Fundamento da sua casa. Os ventos so­prarão sobre ela e a chuva cairá, mas sem efeito algum. O mun­do será levado pelas águas e, no entanto, essa casa não cairá, pois a sua força não está apenas em si mesma. Ela é uma arca de segurança, que se baseia na promessa de Deus de que o Seu Filho está para sempre a salvo Nele. Que brecha pode interpor-se en­tre a segurança deste abrigo e a sua Fonte? Daqui, o corpo pode ser visto como é, nada mais e nada menos do que o valor que ele tem na medida, em que pode- ser usado para liberar o Filho de Deus para a sua própria casa. E com esse propósito santo ele vem a ser um lar de santidade por um momento breve, porque compartilha a Vontade do teu Pai para contigo.